Tuesday, March 31, 2015

Um poema de Rafael Alberti

El farolero y su novia                             

Rafael Alberti Merello

-Bien puedes amarme aquí,
Que la luna yo encendí,
Tú, por ti, sí, tú, por ti.
-Sí, por mí.
-Bien puedes besarme aquí,
Faro, farol farolera,
La más álgida que vi.
—Bueno, sí.
—Bien puedes matarme aquí,
Gélida novia lunera
Del faro farolerí.
—Ten. ¿Te di?

O faroleiro e sua noiva

-Bem, podes me amar aqui,
Que a lua eu acendi,
Tu, por ti, sim, tu, por ti.
-Sim, por mim.
-Bem, podes beijar-me aqui,
Faro, farol, faroleira,
A mais gelada que já vi.
-Bem, sim.
-Bem podes matar-me aqui,
Gelada noiva luneira
do farol faroleira.
-Seja. Tu dirias?


Monday, March 30, 2015

Ainda Raymond Carver

 
The Scratch                                                        

Raymond Carver

I woke up with a spot of blood
 over my eye.
A scratch halfway across my forehead.

But I'm sleeping alone these days.
Why on earth would a man raise his hand
against himself, even in sleep?
It's this and similar questions
I'm trying to answer this morning.

As I study my face in the window.

O arranhão
 
Acordei com uma mancha de sangue
sobre meu olho.
Um arranhão no meio do caminho na minha testa.

Porém, eu estou dormindo sozinho estes dias.

Por que diabos um homem levantaria a mão
contra si mesmo, ainda mais no sono?
Isto tudo e questões similares
Estou tentando responder esta manhã.

Ao estudar o meu rosto na janela.




Saturday, March 28, 2015

Uma poesia de Rafael Humberto Lizarazo

 
PRETENSIÓN                                                                                

Rafael Humberto Lizarazo

¿Por qué eres tan esquiva morenita,
por qué eres tan arisca y retrechera?
Si solamente quiero esa cosita
que ocultas como si un tesoro fuera.

No me trates así, no seas malita,
no pongas a mi sueño talanquera;
escucha mi pedido, señorita,
no dejes impasible que me muera.

Tú bien sabes lo mucho que pretendo
tener ese tesoro, pero entiendo,
que no será posible mi quimera.

¡Por qué! Si no es pecado desearlo,
¡por qué! Si sólo anhelo contemplarlo:
tu retrato guardado en mi cartera.

Pretensão

Por que és tão esquiva moreninha,
por que és tão arisca e  e retraída?
Se somente quero essa coisinha
Que como um tesouro tens escondida.

Não me trate assim, não seja mázinha,
Não ponhas no meu sonho padecer;
Escuta o meu pedido, meninha,
Não me deixes impassível morrer.

Tu bem sabes o muito que pretendo
Ter este tesouro, porém, entendo,
Que não será a possível minha quimera.

Por que! Se não é pecado desejá-lo,
Por que! Se só anseio contemplá-lo:
Teu retrato guardado na minha carteira.


Ilustração: www.zazzle.com.br

Thursday, March 26, 2015

Outra poesia de Stephen Crane

God fashioned the ship of the world carefully                         

Stephen Crane

God fashioned the ship of the world carefully.
With the infinite skill of an All-Master
Made He the hull and the sails,
Held He the rudder
Ready for adjustment.
Erect stood He, scanning His work proudly.
Then -- at fateful time -- a wrong called,
And God turned, heeding.
Lo, the ship, at this opportunity, slipped slyly,
Making cunning noiseless travel down the ways.
So that, forever rudderless, it went upon the seas
Going ridiculous voyages,
Making quaint progress,
Turning as with serious purpose
Before stupid winds.
And there were many in the sky
Who laughed at this thing.

Deus criou o navio do mundo cuidadosamente

Deus criou o navio do mundo cuidadosamente
Com o infinito engenho de um grande mestre
Fez Ele o casco e as velas,
Criou Ele o leme
Pronto para ser ajustado.
Ereto estava ele, olhando seu trabalho com orgulho.
Então - no momento fatídico - um erro lhe chamou a atenção,
E Deus virou-se, ignorando.
Veja, o navio, nesta oportunidade, escorregou maliciosamente,
Fazendo, com astúcia, viagens silenciosas por baixos caminhos.
De modo que, para sempre sem rumo, ele vagou sobre os mares
Circulando em viagens ridículas,
Fazendo progressos pitorescos,
Passando como propósito sério
Antes  dos ventos estúpidoss.
E houve muitos no céu
Que riram desta coisa.        


Ilustração: seuhistory.com

Tuesday, March 24, 2015

Pau que nasce torto....

                                                                                   
Madame, tenho que lhe esclarecer
que há certas coisas que são inúteis.
Investir em pau podre, por exemplo,
é perda de tempo.
Sei que sua intenção foi boa,
mas, tem certo tipo de pessoa
que, por experiência, sei
que, no máximo, pode ser
um bom poste
para se colocar uma placa
escrita em inglês: "Lost".
Tem certos filhos de Deus
que não tem salvação
e, até rezar por eles,
minha linda, é perda de oração!

Ilustração: pisicologiaadm.webnode.com.br 

Uma poesia de Stephen Crane

                                                                                 

In the desert

Stephen Crane

In the desert
I saw a creature, naked, bestial,
Who, squatting upon the ground,
Held his heart in his hands,
And ate of it.
I said: "Is it good, friend?"
"It is bitter - bitter," he answered;
"But I like it
Because it is bitter,
And because it is my heart."

No deserto

No deserto
Eu vi uma criatura, nua, bestial,
Que, de cócoras no chão,
Segurava seu coração em suas mãos,
E o comeu.
Eu disse: "Está bom, meu amigo?"
"É amargo - amargo", ele respondeu;
"Mas, eu gosto assim
Porque é amargo,
E porque é o meu coração. "


Monday, March 23, 2015

Uma poesia de Leonard Cohen

The Book of Longing                                            

Leonard Cohen

My page was too white
My ink was too thin
The day wouldn't write
What the night penciled in

O livro do desejo

Minha página estava muito branca
Minha tinta estava muito fina
O dia não poderia escrever
O que a noite desenhava.


Ilustração: 1.bp.blogspot.com 

Sunday, March 22, 2015

Mais um poema de García Lorca

El poeta pide a su amor que escriba                      
Federico García Lorca
Amor de mis entrañas, viva muerte,
en vano espero tu palabra escrita
y pienso, con la flor que se marchita,
que si vivo sin mí quiero perderte.

El aire es inmortal. La piedra inerte
Ni conoce la sombra ni la evita.
Corazón interior no necesita
la miel helada que la luna vierte.

Pero yo te sufrí. Rasgué mis venas,
tigre y paloma, sobre tu cintura
en duelo de mordiscos y azucenas.

Llena, pues, de palabras mi locura
o déjame vivir en mi serena
noche del alma para siempre oscura.
O poeta pede ao seu amor que escreva
Amor de minhas entranhas, viva a morte,
Em vão espero tua palavra escrita
E penso, como já murchou a flor bonita,
Que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
Não conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
O mel gelado que a lua verte.

Porém, eu te sofri. Rasguei minhas veias,
Tigre e pomba, sobre a tua cintura
Em duelo de mordidas e açucenas.

Enche, pois, de palavras minha loucura
Ou deixa-me viver em mim serena
Noite da alma para sempre escura.


Ilustração: prescreverpoesia.blogspot.com

Saturday, March 21, 2015

Poemas mal comportados



Canção malcriada anti-Bob Dylan                               

Não sei explicar
O fato de não gostar de Bob Dylan.
Não é não por sua cara de bobo
Ou por suas letras longas e bobocas.
Talvez a resposta
O vento esteja soprando
Na desolação das ruas,
Porém, se o vento,  
E nós, somos idiotas
E é um milagre que nos alimentemos
Sem termos sonhos
E sem ir a lugar nenhum
E não ter nenhuma canção para tocar
As deles são de amargar.
Somos sim uma pedra rolando-
O melhor é que continuamos a rolar.
Hey, Bob, faz tempo que você
Deixou de rolar.
Deita e fica esperando a tempestade passar
E, se tiver inspiração,
Faz uma canção
Do seu tamanho, por favor,
Bem pequenininha!


Ilustração: atl.clicrbs.com.br

Friday, March 20, 2015

Sempre Pablo Neruda



CUANDO YO MUERA QUIERO TUS MANOS EN MIS OJOS

Pablo Neruda

Cuando yo muera quiero tus manos en mis ojos:
quiero la luz y el trigo de tus manos amadas
pasar una vez más sobre mí su frescura:
sentir la suavidad que cambió mi destino.

Quiero que vivas mientras yo, dormido, te espero,
quiero que tus oídos sigan oyendo el viento,
que huelas el aroma del mar que amamos juntos
y que sigas pisando la arena que pisamos.

Quiero que lo que amo siga vivo
y a ti te amé y canté sobre todas las cosas,
por eso sigue tú floreciendo, florida,

Quando eu morrer quero tuas mãos em meus olhos

Para que alcances todo lo que mi amor te ordena,
para que se passe e mi sombra por tu pelo,
para que así conozcan la razón de mi canto.

Quando eu morrer quero as tuas mãos nos meus olhos:
Quero a luz e o trigo de tuas mãos amadas
Passando uma vez mais sobre mim seu frescor:
Sentir a suavidade que mudou o meu destino.

Quero que vivas enquanto eu, dormindo, te espero,
Quero que teus ouvidos sigam ouvindo o vento,
Que respires o aroma do mar que amamos juntos
e que sigas pisando a areia que pisamos.

Quero que o que amo siga vivo
E a ti te amei e cantei sobre todas as coisas,
Por isto segue tu florescendo, florida.

Para que alcances tudo que o meu amor te ordena,
Para que assim passe minha sombra por teus cabelos,
Para que assim conheçam a razão do meu canto. 


Ilustração: rede7webradiogospel.blogspot.com

Thursday, March 19, 2015

Uma poesia de Salvador Díaz Mirón


 Salvador Díaz Mirón

Para endulzar un poco tus desvíos
Fijas en mí tu angelical mirada
Y hundes tus dedos pálidos y fríos
En mi oscura melena alborotada.

¡Pero en vano, mujer! No me consuelas.
Estamos separados por un mundo.
¿Por qué, si eres la nieve, no me hielas?
¿Por qué, si soy el fuego, no te fundo?

Tu mano espiritual y transparente,
Cuando acaricia mi cabeza esclava,
Es el copo glacial sobre el ardiente
Volcán cubierto de ceniza y lava.

Copo de neve

Para adoçar um pouco teus desvios
Fixas em mim teu angelical olhar
E fundes teus dedos pálidos e frios
Nos meus cabelos escuros a se derramar

Porém, em vão, mulher! Não me consolas.
Estamos separados por um mundo.
Por que, se és a neve não me gelas?
Por que, se sou o fogo, não te fundo?

Tua mão espiritual e transparente,
Quando acaricia minha cabeça escrava,
É um copo gelado sobre o ardente
Vulcão coberto de cinza e lava.


Ilustração: http://makesecupcakes.com/

Wednesday, March 18, 2015

Outra poesia de Rosario Castellanos

Cotidiano                                                                         
Rosario Castellanos

Para el amor no hay cielo, amor, sólo este día;
Este cabello triste que se cae
Cuando te estás peinando ante el espejo.
Esos túneles largos
Que se atraviesan con jadeo y asfixia;
Las paredes sin ojos,
El hueco que resuena
De alguna voz oculta y sin sentido.

Para el amor no hay tregua, amor. La noche
Se vuelve, de pronto, respirable.
Y cuando un astro rompe sus cadenas
Y lo ves zigzaguear, loco, y perderse,
No por ello la ley suelta sus garfios.
El encuentro es a oscuras. En el beso se mezcla
El sabor de las lágrimas.
Y en el abrazo ciñes
El recuerdo de aquella orfandad, de aquella muerte.

Cotidiano

Para o amor não há céu, amor, só este dia;
Este cabelo triste que cai
Quando te penteias ante o espelho.
Estes túneis largos
Que se atravessam ofegante e asfixiado;
As paredes sem olhos,
O buraco que ressoa,
De alguma voz oculta e sem sentido.

Para o amor não há tregua, amor. A noite
Se volta, de pronto, respirável.
E quando um astro rompe suas cadeias
E o vês ziguezaguear, louco, perder-se,
Não por ele a lei solta seus ganchos.
O encontro é às escuras. No beijo se misturam
O sabor das lágrimas
E no abraço cinges
A recordação daquela orfandade, daquela morte.




Tuesday, March 17, 2015

Rosario Castellanos

                                                                                 
Falsa elegía

Rosario Castellanos

Compartimos sólo un desastre lento
Me veo morir en ti, en otro, en todo
Y todavía bostezo o me distraigo
Como ante el espectáculo aburrido.

Se destejen los días,
Las noches se consumen antes de darnos cuenta;

Así nos acabamos.

Nada es. Nada está.
Entre el alzarse y el caer del párpado.

Pero si alguno va a nacer (su anuncio,
La posibilidad de su inminencia
Y su peso de sílaba en el aire),
Trastorna lo existente,
Puede más que lo real
Y desaloja el cuerpo de los vivos.

Falsa elegia

Compartimos só um desastre lento
Me vejo morrer em ti, em outro, em tudo
E todavia bocejo  ou me distraio
Como ante um espetáculo aborrecido.

Se desfiam os dias,
As noite se consomem antes de nos darmos conta;

Assim nos acabamos.

Nada é. Nada está.
Entre o levantar e o cair das palpebras.

Porém, se alguém vai nascer (seu anúncio,
A possibilidade de sua iminência
E seu peso de sílaba no ar)
Transtorna o existente,
Pode mais que o real
E desaloja o corpo dos vivos.


Monday, March 16, 2015

Uma poesia de Francisco Luis Bernárdez

Soneto                                                               
Francisco Luis Bernárdez

Si para recobrar lo recobrado
Debí perder primero lo perdido,
Si para conseguir lo conseguido
Tuve que soportar lo soportado,
Si para estar ahora enamorado
Fue menester haber estado herido,
Tengo por bien sufrido lo sufrido,
Tengo por bien llorado lo llorado.
Porque después de todo he comprobado
Que no se goza bien de lo gozado
Sino después de haberlo padecido.
Porque después de todo he comprendido
Que lo que el árbol tiene de florido
Vive de lo que tiene sepultado.

Soneto

Se para recobrar o recobrado
Deve-se perder primeiro o perdido,
Se para conseguir o conseguido
Tive que suportar o suportado,
Se para estar, agora, enamorado
Foi mister haver sido ferido,
Tenho por bem sofrer o já sofrido,
Tenho por bem chorar o já chorado.
Porque depois de tudo hei comprovado
Que não se goza bem o já gozado
Senão depois de havê-lo padecido.
Porque depois de tudo hei compreendido
Que o que a árvore tem de já florido
Vive do que têm já sepultado.


Sunday, March 15, 2015

Mais uma poesia de José Ángel Buesa

CELOS                                                               

José Ángel Buesa

Ya sólo eres aquella
que tiene la costumbre de ser bella.
Ya pasó la embriaguez.
Pero no olvido aquel deslumbramiento,
aquella gloria del primer momento,
al ver tus ojos por primera vez.

Yo sé que, aunque quisiera,
no he de volverte a ver de esa manera.
Como aquel instante de embriaguez;
y siento celos al pensar que un día,
alguien, que no te ha visto todavía,
verá tus ojos por primera vez.

Ciúmes

Se somente és aquela
que tem por costume ser bela.
Já passou a embriaguez.
Porém, não esqueço aquele brilho,
aquela glória do primeiro momento,
ao ver os teus olhos pela primeira vez.

Eu sei que, ainda que quisesse,
não vou vê-la novamente desta maneira.
Como naquele instante de embriaguez;
e sinto ciúmes de pensar que um dia,
alguém, que nãote tenha visto, todavia,
olhar os teus olhos pela primeira vez.


Ilustração: bardeferreirinha.blogspot.com

Saturday, March 14, 2015

Para além da meditação


Nem me lembro quando aprendi a meditar,
Devo esclarecer para começar,
Que devo isto a Maharishi Mahesh Yogi,
Um mestre tocador de cítara,
Uma pessoa, certamente, rara
Que encantou até os The Beatles 
E, de quebra, uma cambada de outros biltres.
Penso que foi Maharishi ou sua sombra era,
Numa tarde de primavera,
Numa simples cerimônia iniciática,
De maneira simples e prática,
Ensinou-me a sua técnica de Dhyan Vidya,
Que numa forma de mantra yoga consistia,
Mas, nunca pequei pela fidelidade
E devo dizer que, na verdade,
Troquei o antigo mestre por Shantanand Saraswati,
Um seu discípulo que me pareceu melhor ao assistir.
Como, com o tempo, tudo vira chatice,
Um dia me deu na telha que meditar era uma tolice.
E, desde então, fiz uma prestidigitação
(Oh! Novos incultos isto não tem nada a haver com digitar)
Que foi, talvez, por inoperância, optar
E, devo ser sincero, por pura preguiça, em me deitar
Como uma nova forma de iluminação.
Se não tem dado certo, o que vale é a intenção.
Não tenho do que me queixar,
Pois, pelo menos, consegui comprovar
Que, para se ter uma vida boa, dormir muito é essencial
E que filosofia, mesmo de não fazer nada, é fundamental.