Tu amor, ayer tan firme
Antonio Gala
Tu amor, ayer tan firme, es tan ajeno,
tan ajenas tu boca y tu cintura,
que me parece poca la amargura
de que hoy mi alrededor contemplo lleno.
El mal que hiciste lo tomé por bueno;
por agasajo tu desgarradura:
ni yo abro el pecho a herida que no dura
ni con vinos de olvido me sereno.
Mi corazón te tiene tan presente
que a veces, porque vive, desconfío
que sienta el desamor como lo siente.
Yo he ganado en el lance del desvío:
de nuestra triste historia únicamente
el arma es tuya; todo el dolor, mío.
Teu amor que ontem era tão forte
Teu amor, ontem tão forte, é tão estranho,
tão estranhas tua boca e tua cintura,
que me parece pouca a amargura
que hoje, ao meu redor, tão pleno olho.
O mal que me fizestes por bom vendo;
por agasalho tua ausência que perdura
e nem abro a ferida
no peito que não dura
nem com vinhos esquecer pretendo.
Meu coração te tendo tão presente
que, às vezes, porque vive, desconfio
que sinta o desamor como o sente.
Eu só ganhei no lance do desvio:
da nossa triste história unicamente
a arma é tua, toda esta dor e frio.
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