Tuesday, August 13, 2013

Antonio Gala


Tu amor, ayer tan firme

Antonio Gala
 

Tu amor, ayer tan firme, es tan ajeno,

tan ajenas tu boca y tu cintura,

que me parece poca la amargura

de que hoy mi alrededor contemplo lleno.

 
El mal que hiciste lo tomé por bueno;

por agasajo tu desgarradura:

ni yo abro el pecho a herida que no dura

ni con vinos de olvido me sereno.

 
Mi corazón te tiene tan presente

que a veces, porque vive, desconfío

que sienta el desamor como lo siente.

 
Yo he ganado en el lance del desvío:

de nuestra triste historia únicamente

el arma es tuya; todo el dolor, mío.

 
Teu amor que ontem era tão forte

 
Teu amor, ontem tão forte, é tão estranho,

tão estranhas tua boca e tua cintura,

que me parece pouca a amargura

que hoje, ao meu redor, tão pleno olho.

 
O mal que me fizestes por bom vendo;

por agasalho tua ausência que perdura

e nem abro  a ferida no peito que não dura

nem com vinhos esquecer pretendo.

 
Meu coração te tendo tão presente

que, às vezes, porque vive, desconfio

que sinta o desamor como o sente.

 
Eu só ganhei no lance do desvio:

da nossa triste história unicamente

a arma é tua, toda esta dor e frio.
 
                                                              
Ilustração: www.saltoquantico.blog.br 

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