Saturday, June 01, 2024

Uma poesia de Gerardo Diego

 


INSOMNIO

Gerardo Diego

Tú y tu desnudo sueño. No lo sabes.

Duermes. No. No lo sabes. Yo en desvelo,

y tú, inocente, duermes bajo el cielo.

Tú por tu sueño, y por el mar las naves.

 

En cárceles de espacio, aéreas llaves

te me encierran, recluyen, roban. Hielo,

cristal de aire en mil hojas. No. No hay vuelo

que alce hasta ti las alas de mis aves.

 

Saber que duermes tú, cierta, segura

-cauce fiel de abandono, línea pura-,

tan cerca de mis brazos maniatados.

 

Qué pavorosa esclavitud de isleño,

yo, insomne, loco, en los acantilados,

las naves por el mar, tú por tu sueño.

INSONE

Tu e teu sonho nu. Tu não o sabes.

Dormes. Não. Não o sabes. Eu em insônia,

e tu, inocente, sob o céu, dormes.

Tu pelo teu sonho, e pelo mar as naves.

 

Nas prisões espaciais, aéreas chaves

me prendem a ti, recolhem, roubam. Gelo,

cristal de ar em mil folhas. Não. Não há voo

que alce até tu as asas das minhas aves.  

 

Saber que dormes tu, certa, segura

-canal fiel de abandono, linha pura-,

tão perto dos meus braços amarrados.

 

Do insular, a escravidão de tão tristonho,

Eu, insone, louco, nos escarpados,

os navios pelo mar, tu pelo teu sonho.

Ilustração: Lovepik.

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