Wednesday, June 28, 2006

UMA POESIA DE DURAN

SE JUNTAN DESNUDOS

Jorge Gaitán Duran

Dos cuerpos que se juntam desnudos
Solos em la ciudad donde habitan los astros
Inventan sin reposo el deseo.
No se vem cuando se aman, bellos
O atroces arden como dos mundos
Que uma vez cada mil años se cruzan em el cielo.
Solo en la palabra, luna inútil, miramos
Cómo nuestros cuerpos son cuando se abrazan,
Se penetran, escupen, sangran, rocas que se destrozan,
Estrellas enemigas, impérios que se afrentan,
Se acarican efímeros entre mil soles
Que se despedazan, se besan hasta el fondo,
Saltan como dos delfines blancos en el dia,
Pasan como um solo incêndio por la noche.

AMANTES DESNUDOS

Dois corpos que se juntam despidos
Sós numa cidade onde vivem os astros
Inventam, sem descanso, o desejo.
Não vêem quando se amam, belos
Ou atrozes que ardem como dois mundos
Que uma vez a cada mil anos se cruzam no céu.
Só na palavra, lua inútil, nós olhamos
Como nossos corpos são quando nos abraçamos,
E penetrados, esculpem, sangram, como rochas destroçam,
Estrelas inimigas, impérios que se enfrentam,
E se acariciam efêmeros entre mil sóis
Que se despedaçam, se beijam até o fundo,
De onde saltam como dois golfinhos brancos no dia,
E passam como um só incêndio que ilumina a noite.

UM POEMA DE BUESA

LA SED INSACIABLE
José Angel Buesa
Decir adiós...La vida es eso.
Y yo te digo adiós, y sigo
Volver a amar es el castigo
De los que amaron con excesso.

Amar y amar toda la vida
Y arder em esa llama.
Y no saber por qué se ama...
Y no saber por qué se olvida...

Coger las rosas una a uma
Beber um vino y otro vino
Y andar y andar por um camino
Que no conduce a parte alguna.

Sentir más sed en cada fuente
Y ver más sombra em cada abismo,
En este amor que es siempre el mismo,
Pero que siempre es diferente.

Porque en el sordo desacuerdo
De lo soñado e lo vivido,
Siempre del fondo del olvido
Nace la muerte de um recuerdo.

Y en esta angustia que no cesa
Que toca el alma e no la toca
Besar la sombre de otra boca
Em cada boca que se besa.

A SEDE INSACIÁVEL

Dizer adeus...a vida é isto.
E eu te digo adeus, e sigo...
Voltar a amar é o castigo
Dos que amaram em excesso.

Amar e amar por toda vida
E arder nesta chama
E não saber por que se ama...
E não saber por que se esquece...

Colher as rosas, uma a uma,
Beber um vinho e outro vinho
E andar, andar por um caminho
Que não conduz a parte alguma.

Sentir mais sede em cada fonte
E ver mais sombra em cada abismo,
E neste amor que é sempre o mesmo
Ver sempre o que é diferente.

Porque em surda discussão
Entre o sonhado e o vivido
Sempre, do fundo do esquecido,
Nasce a morte de uma recordação.

E nesta angústia que não me deixa
Que toca na alma e não toca
Beijar a sombra de outra boca
Em cada boca que se beija.

Sunday, June 25, 2006

INCONSISTÊNCIA

Nada mais existe lá.
Nada mais existe aqui.
Se a vida é o procurar
Passou a ser o existir.

Não há procura
Nem encanto.
Só há um mundo de imagens
Ora de riso ou de pranto
Imagens.
São apenas imagens.

E eu que sonhava tanto
Com a paz e com o amor
Vivo fingindo que canto
Para não chorar de dor.

E as próprias imagens sofrem
Sua fria indiferença
Porém imagens (coitadas!)
não tem a menor consistência.
Aparecem e se dissolvem
No vazio se resolvem.

EXISTÊNCIA

Há lugares e coisas.
Há coisas e lugares
Ritmos, imagens, sons e sinais,
Estradas demais.
Sempre se chega e se parte
Sem sentido ou direção.

Há tempos e espaços.
Há espaços e tempos.
Câmaras, luzes e ação
O mundo é de celulóide.
Não tem cadeira ou bilhete
Roteiro nem diretor.

Há figuras e objetos.
Há objetos e figuras.
Formas, sombras, prismas, linhas.
Nada de certo ou de errado.
Todo presente é passado.
(De Imagens da Incerteza).

Saturday, June 24, 2006

TEMPO

Te abandonas molemente aos afagos.
Percebo que teus seios são montanhas,
Teu ventre, um vale e, quando me apanhas,
Que teus olhos são dois enormes lagos.

Quando, então, danças no escuro
No ritmo febril de tua respiração
Teu sangue é uma lava, teu corpo, um vulcão
E no teu corpo o tempo está seguro.

Depois mais mole, e mesmo saciada,
Um sorriso, ou melhor, uma flor
Desabrocha como fruto do amor
E o tempo parece que não é mais nada!

Wednesday, June 21, 2006

SÓ, SOMENTE SÓ

Olhou o retrato da juventude,
Desgastado pelo tempo,
No porta-retrato
E suspirou lembrando
A beleza distante
Não sem um pouco de remorso,
Sem pensar que tudo havia passado em vão.
Por um momento
Recordou do bêbado ousado
Que a convidou para se iniciar
Nas delícias da carne por trás dos muros da igreja
Que reprimira com dureza e escárnio.
Tão seletiva tinha sido!
Tão orgulhosa!
E contemplando sua velhice só,
Sem pecado e sem gozo,
Sentiu uma lágrima escorrer
Por sua face, agora, rugosa,
Mas uma réstia de luz do sol,
Vinda lá de fora,
Prenunciava a noite
E o tanger do sino
Parecia dizer
Que era tarde...
Muito tarde.

Saturday, June 17, 2006

UMA VERSÃO PERSIVESCA PARA A POESIA

DE MIRIAN
Uma das minhas manias é a de navegar pela web a partir do site/blog de algum amigo. Fiz isto, desta vez a partir do Kafé Roçeiro, que é um blogueiro da pesada, ativo, inteligente, de bom gosto, de forma que tive sucesso logo da primeira vez e fui parar no Foto Falante da Miriam na qual pesquei a poesia em inglês abaixo e a foto. Claro que não resisti aos versos e, como estavam em inglês, traduzi. Ela que me desculpe, mas belezas raras são irresistíveis para mim.

THE OLD HOUSE

Mirian (http://www.fotofalante.blogspot.com/)

How many lives
And wives
And the lies and ties.

How many years
And tears

The superb walls
May recall.

The silent rocks
And bricks,
The openned windows
Do not tell -
You must feel.

In the quiet afternoon
Sings the bell -
The old church spell.

A CASA VELHA

Quantas vidas
E esposas
E as mentiras e os laços.

Quantos anos
E lágrimas

As excelentes paredes
Recordações de maio.

As pedras silenciosas
E os tijolos,
As janelas abertas
Não dizem-
Você precisa sentir.

Na quietude da tarde
O badalar do sino
A velha igreja soletra.

Thursday, June 15, 2006

MORTES


(A RELATIVIDADE DAS PERDAS)


Adorava insetos.
E criava uma aranha
Que chamou de Tânia
Em homenagem a uma mulher
que não esquecia.
E derramou mais lágrimas
Quando a aranha morreu
Do que pelo amor
Do qual não se lembrava mais.

(De POEMAS MAL-COMPORTADOS)

A GRANDE DAMA

Ela sabia que era apenas
Uma vadia abandonada
Que se refugiara
Nos braços de um paralítico mafioso,
Sempre ébrio
Ao qual jamais fora fiel.
Cumpria bem seu papel
De grande dama
E, no fundo, filosofava
Que a vida é assim mesmo
Enquanto se compensava,
Quando podia,
Com orgasmos múltiplos.

(De Poemas Mal-Comportados)
Ilustração de http://pokor.roger.free.fr

Tuesday, June 13, 2006

SUPERAÇÃO

A diferença entre a alegria
e a tristeza
È um toque certo, sutil,
No momento exato
Como a fala final no teatro.

O gol-supremo fato-
É a beleza do espetáculo
E, no futebol, a bola tocando
na rede
É o matar da sede
Que o grito saciado comemora.

Um é pouco.
Um é suficiente.
Um é demais.
Ganha quem faz
E não leva.
Só a vitória enleva, eleva.
Feliz é quem vence.
Só vencer satisfaz.

ESTE AMOR

Este amor que é tudo quanto resta
Me redime das culpas e pecados.
É uma árvore, contudo uma floresta,
Um deserto de oásis alagado.

Este amor que é tudo quanto tive
Me desculpa dos erros e desejos.
É tão grande que em todo espaço vive;
Tão pequeno que mora nos teus beijos.

Este amor que é tudo quanto levo
Me deixa de ilusão carregado
Feliz de me atrever o quanto atrevo.

Este amor que é tudo que me é dado
É muito mais do que solo e relevo;
É terra, é ar, é céu, canção, pecado!

(De Imagens da Incerteza, Editora Thesaurus, 1988).

Wednesday, June 07, 2006

A POESIA DO SHELLEY LATINO

Por Amor

Jaime Augusto Shelley

He aprendido de ti
Que no basta el gesto ni la acción
Que el amor no basta
Ni la inteligência
O el susurro exacto
Aun más
Que la ternura
Em ciertos casos sale sobrando
He aprendido
Que el cuerpo
La carne
El sexo no tiene mucho que ver
Com hacer el amor
Y seguir vibrante
Aprendido
Que unirse
Contigo
Es volver a ordenar una lucha
Conmigo
Que há de llegar a ti
Em la punta de los poros los lábios y los dedos
Al beber y al cantar
Al ver um árbol que crece y uma amapola que muere
En el ciclo normal
Esse que de alguna manera por humanos hemos perdido.

POR AMOR

Contigo aprendi
Que não é bastante o gesto nem a ação
Que o amor não basta
Nem a inteligência
Ou o sussurro exato
Ainda mais
Que a ternura
Em certos casos fica sobrando
Contigo aprendi
Que o corpo
A carne
O sexo
Não tem muito a haver
Com fazer o amor
E seguir vibrando
Aprendi
Que unir-se contigo
È voltar a brigar comigo
comigo
Para chegar a ti
Pela extremidade dos poros dos lábios e dos dedos
Ao beber e ao cantar
Ao ver uma árvore que cresce e uma amapola que morre
no ciclo normal,
Este que, de alguma maneira, por sermos humanos nós perdemos.

Sunday, June 04, 2006

EXAGERADA


Ela era mansa tal qual uma gata gorda.
Suave nos gestos, na fala e no carinho
Que prodigalizava sob qualquer pretexto.

Ela era doce, fofinha, real, inexistente
Na forma de amar e de querer amor
Que, em momentos, era um mágico rito.

Ela era de uma calma que acalmava a febre
A um só tempo que, incendiada de paixão,
Elevava a temperatura aos mais altos índices.

Ela era, ao fim, uma tigresa cruel, feroz
Que urrava, azunhava e todo sangue
Extraía ao se desmanchar em doces ais.

Ela era tudo isto e sempre um pouco mais.

(De A Alquimia da Vida, 1999).

DO PASSADO...

POEMINHA SOBRE A INCERTEZA DA VISÃO

De longe tudo parecia infinito
E as coisas pequenas.
De perto tudo surgiu enorme
E o mundo parecia finito, limitado,
Mas nenhuma das visões que tive
foi correta.
Inclusive porquê, nesta época,
Nem sabia que enxergava mal
E precisava de óculos de grau.

(De A Alquimia da Vida, 1999).

Saturday, June 03, 2006

ORAÇÃO INÚTIL

Entre as ruas e veículos,
Nas praias, parque, elas

São, sempre elas, visões,
Se vestindo ou se despindo,
As tentações que nos cercam.
E, com vinho, se completam?
Ou permanecerão miragens,
Embriagues que são?

Protegei-me, Senhor,
Protegei-me delas,
Tão lindas, tão belas!
Fazei-me sempre casto e santo
Livra-me das mulheres,
De seus feitiços,
De seus irresistíveis encantos.

E, se não puder, trata de me perdoar.

ROMEU E JULIETA

(NUMA VERSÃO POP NATURALMENTE)

Há gestos que nenhum
dinheiro paga.
Lembra aquele dia
em que me disse
que faria amor comigo
Até de graça?

Não teve a menor graça
o que tive de pagar.

As coisas são assim:
Todo mundo tem a sua vez de rir.
preciso avisar
que não posso mais lhe sustentar.

Meu advogado foi embora.
Meu contador
acabou de sacar
o resto do dinheiro que havia.
Meu bem, sei que seu amor
vai resistir
ao fato de que acabo de falir.

A casa? Não. Não precisa deixar.
É só esperar
que o banco vem tomar.
O carro que lhe dei de presente?
É passado.

Pode me xingar.
Não ligo não.
Sei que estarei para sempre
No seu coração.

Friday, June 02, 2006

UM POEMA DE CARDENAL


AL PERDERTE YO A TI

Ernesto Cardenal

Al perderte yo a ti tu y yo hemos perdido:
yo porque tu eras lo que yo más amaba
y tu porque yo era el que te amaba más.
Pero de nosotros dos tú pierdes más que yo:
Porque yo podré amar a otras como te amaba a ti
Pero a ti no te amarán como te amaba yo.


AO TE PERDER

Ao te perder tu e eu, ambos, perdemos:
Eu porque fostes o que eu mais amava
E tu porque eu fui o que te amava mais.
Porém de nós dois tu perdes mais que eu:
Porque eu poderei amar a outras como amava a ti
Porém a ti não te amarão jamais como eu te amava.

UM POEMA DE ARGUETA


DECLARACIÓN DE AMOR

Manlio Argueta

Porque te cansas de estar sola,
De encontrar em tu cama
La sombra de la noche anterior.
Porque te mueres de mirar
Las parejas de casados
Que de alguna parte vienen.
Porque te desmayas de soledad.
Porque la casa está vacia.
Porque tienes jaqueca.
Porque los sueños luctuosos.
Porque los gatos del vecino.
Porque los niños con cabeza de pajarito.
Porque lloras ao despertar.
Porque eres del sexo débil.
Porque crees ser hermosa
(y lo eres)
Como una puesta de sol.
Porque los ojos negros te vuelvan
Loca de remate.
Por eso quieres que sea tu marido.

DECLARAÇÃO DE AMOR

Porque te cansas de estar só.
De encontrar no teu leito
A sombra da noite anterior.
Porque morres de olhar
Os casais enamorados
Que acabaram de chegar.
Porque desmaias de solidão.
Porque a casa está vazia.
Porque tens enxaqueca.
Porque sonhas com enterros.
Porque os gatos são do vizinho.
Porque os meninos possuem cabeças de passarinho.
Porque és do sexo frágil.
Porque acreditas ser bonita
(E és)
Como uma réstia de sol.
Porque teus olhos negros
Quando se voltam
Enlouquecem qualquer um.
Por tudo isto queres que seja teu marido.

Thursday, June 01, 2006

AINDA GUTIÉRREZ


ROGUEMOS QUE MAÑANA

Rafael Gutiérrez

No hay remédio, compañera.

En este país
Hasta las hormigas confabulan contra la alegria.

Roguemos que mañana
Lluevan sobre nosotros
Bestias de amnésia
Para quedar, ahora si, soterrados todos
Bajo
Un alud de bruma
De la que nunca, oh efímeros, debimos haber salido.

ROGUEMOS POR AMANHÃ

Não há remédio, companheira.

Neste país
até as formigas conspiram contra à alegria.

Roguemos que amanhã
Chova sobre nós
Bestas de amnésia
Para que, então sim, sejamos soterrados todos
sob
uma avalanche de névoa
da qual nunca, oh efêmeros, nós devíamos ter saído.

UM POETA DA GUATEMALA


VERSOS DEL DES/ENCUBRIMIENTO

Rafael Gutiérrez

Ante el dentudo acoso de sus sabuesos,
Nosostros salíamos siempre em debandada.
Así,
Dejábamos coches, gallinas, chucchos
Y, ardiendo todavia sobre a leña,
La sagrada y redonda tortilla.
Asi andábamos: como pedazos despedazados
De un solo y único cuerpo
Que debe ser el pueblo.
Poco a poco sin embargo,
Las uñas están regresando a sus manos,
Las manos a sus brazos,
Los brazos a su cuerpo.
Y también los ojos, que cada vez vem más claro
Em médio de la noche más cerrada y llorosa.

VERSOS DO DES/COBRIMENTO

Ante os dentes afiados de seus cachorros
Nós saíamos sempre em debandada.
Assim,
Deixávamos carroças, galinhas, trecos
E, ardendo ainda sobre a lenha,
O sagrado e redondo pão.
Assim andávamos: como pedaços despedaçados
De um só e único corpo
Como deve ser o povo.
Pouco à pouco, sem embargo
As unhas estão regressando as mãos,
As mãos aos braços
Os braços ao corpo.
E também os olhos, que vêem cada vez mais claro
Em meio a noite mais escura e tenebrosa.