Monday, May 31, 2021

Uma poesia de Bert Almon

 


SHOT TOWER

Bert Almon

I want to think of poems as if made in a shot tower,

a tall building where molten lead poured through a sieve

drops a long way, with surface tension forming

perfect spheres, annealed by the plunge

into the cold water tank of reality at the bottom.

 

Instead I confront a bored detective

digging a misshapen bullet out of a wall

after it missed the target. A leaden clot

dropped into a plastic bag but marked

by human choice. Pure gravity writes no poetry.

 

UMA TORRE DE TIRO

Quero pensar nos poemas como se feitos numa torre de tiro,

um prédio alto onde o chumbo derretido vazou, por uma peneira,

escorregando por um longo caminho, com a tensão superficial formando

esferas perfeitas, recozidas pelo mergulho

no fundo do tanque de água fria da realidade.

 

Não obstante, me confronto com um detetive entediado

escavando uma deformada bala de uma parede

depois que errou o alvo. Um coágulo de chumbo

caiu em uma bolsa de plástico, porém, marcado

pela escolha humana. A pura gravidade não escreve poesia.

Sonhos de mar


Os sonhos não morrem.

Independente do passar do tempo

ainda as noites me povoam.

É certo que alguns voam

como pássaros barulhentos 

 interrompem-me o sono 

me deixando vagar 

entre o real e o irreal 

como se estivesse no ar. 

Acordo e a vida continua

com seus mistérios, meu desejo de viver,

o sol, as estrelas, a lua 

e este amor, imenso como o mar, 

por você!

Ilustração: Teu Sonhar. 

Sunday, May 30, 2021

BALBÚRDIA

 

Bem mais novo e vaidoso

tive o desejo de ser 

o destruidor das certezas, 

o farol das verdades ocultas, 

o paladino da beleza

e a régua da verdade. 

Hoje, vejo na realidade,

quando as coisas andam tortas, 

que o previsivelzinho se tornou improvável

e que o certo, o desejável 

é ficar quieto, ter sombra e coco verde

para não brigar com línguas podres

e mentes deturpadas.

Assim me tornei covarde

até por não adiantar nada

desejar por ordem no caos.

Aprendi com muito estudo 

que o amor não vence tudo, 

mas, dá um prazer danado 

e a capacidade inigualável 

de rir de uma balburdia inimaginável. 

Outra poesia de P.K. Page


SINGLE TRAVELLER

 P.K. Page

 What is this love that is my life's companion?

Shape-changer, sometimes faceless, this companion.

 

Single traveller, I wander a wasting world

awaiting the much anticipated Companion.

 

A trillium covered wood one April day

served as a nearly consummate companion.

 

A horse, two dogs, some cats, a blue macaw

each in its turn became a loyal companion.

 

Behind the loved embrace, a face of light-

demon or angel-lures me from my companion.

 

The street of love is neither wide nor narrow.

Its width depends on me and my companion.

 

Am I too bound and blinded by coarse wrappings

ever to know true love as my companion?

 

O Poet, squanderer of time and talents

why do you search for love as your Companion?


VIAJANTE ÚNICO

Qual é este amor que é o meu companheiro de vida?

Variador de formas, às vezes sem rosto, este companheiro.

 

Viajante solitário, vagueio por um mundo perdido

Aguardando tua muito antecipada companhia.

 

Um tronco coberto de flores em um dia de abril

serviu como um companheiro quase consumado.

 

Um cavalo, dois cachorros, alguns gatos, uma arara azul

cada um por sua vez tornou-se um companheiro leal.

 

Atrás do amoroso abraço, um rosto de luz -

Demônio ou anjo - me atrai o meu companheiro.


A rua do amor não é ampla nem estreita.

Sua largura depende de mim e da minha companheira.

 

Eu também estou blindado e cego por embalagens grosseiras

Como conhecer o verdadeiro amor como companheiro?

 

O poeta, desperdíçador de tempo e talentos

Por que ainda procura o amor na sua companhia?

Ilustração: https://www.istockphoto.com/.


Névoa na Paulista

 


No meio da multidão

estamos sós.

Talvez me procures nos  céus,

numa matutina estrela,

enquanto tento alcançar a tua mão

de menina em vão

ainda que te carregue, 

a vida inteira, 

no meu coração. 

Sim, tenho medo de perdê-la

na névoa da Paulista,

que me dá frio, calafrio. 

E rio 

de procurar te esquecer

quando sei que viver é te buscar

para mitigar a solidão,

que sempre teremos se ficar assim:

eu, tão distante de ti;

tu, tão distante de mim. 

E as palavras sem dizer 

o que os corpo dizem 

nas carícias tão felizes. 

Ilustração: Veja. 

Com vocês Julio Cortázar


 EL BREVE AMOR

Julio Cortazar

Con qué tersa dulzura

me levanta del lecho en que soñaba

profundas plantaciones perfumadas,

me pasea los dedos por la piel y me dibuja

en le espacio, en vilo, hasta que el beso

se posa curvo y recurrente

para que a fuego lento empiece

la danza cadenciosa de la hoguera

tejiédose en ráfagas, en hélices,

ir y venir de un huracán de humo-

(¿Por qué, después,

lo que queda de mí

es sólo un anegarse entre las cenizas

sin un adiós, sin nada más que el gesto

de liberar las manos ?)

UM BREVE AMOR

Com que terna doçura

me levanto do leito em que sonhava

com profundas plantações perfumadas

me passeando pelos dedos pela pele e me desenha

no espaço, nos limites, até o beijo

pousar em curvas e recorrente

para que o fogo lento inicie

a dança cadenciada da fogueira

tecendo em rajadas, em hélices,

indo e vindo de um furacão de fumaça -

(Por que, depois,

o que sobra de mim

é apenas um afogamento nas cinzas

sem um adeus, sem nada além do gesto

de libertar as mãos?

Ilustração: BBC.

Friday, May 28, 2021

Poeminha dos teus olhos

 


Que é frágil a vida,

Bem sei, pois, temo tudo.

Mas, cheia de beleza,

Quanto mais te estudo.

Ó minha amiga, de olhos de mar,

de olhos que são dois céus,

que, nas carícias são, oceanos de veludo,

mais percebo que te amar é tudo-

e tudo quero e quero tudo

até nos teus olhos me afogar

única forma possível de sonhar. 

Ilustração: Pintarest. 

Uma poesia de Alejandro Latorre Quintanilla


ANSIAS

Alejanro Latorre Quintanilla

Háblame corazón de sol

háblame de tu profundidad de siglos

acógeme y apriétame en la luz de tu cuerpo

bésame los ojos y la frente

desnúdame en tu silencio

y asalta mis caminos desiertos.

 

Quiero acariciar tu puente

con pasos de medusa

dibujar con mis ojos una golondrina

en el desnudo trebol de tu piel

seguirte por caminos invisibles

hasta topar tus huellas subterráneas.

 

Y amanecer con lirios en los ojos

el tatuaje de tu boca en mi piel

y la bandera de tu nombre

cubriendo todos mis caminos

 

ÂNSIAS

 

Diga-me coração de sol

fale-me de tua profundidade de séculos

acolhe-me e aperta-me na luz do teu corpo

beija-me os olhos e a testa

Me despe no teu silêncio

e assalta meus caminhos desertos.

 

Quero acariciar tua ponte

com passos de águas-vivas

desenhar com meus olhos uma andorinha

no trebol nu da tua pele

segui-te por caminhos invisíveis

até encontrar tuas trilhas subterrâneas.

 

E amanhecer com lírios nos olhos

a tatuagem de tua boca na minha pele

e a bandeira do teu nome

cobrindo todos os meus caminhos.

Ilustração: https://lfmopinion.com/

Borges, pois, pois

 


DESPEDIDA

Jorge Luís Borges

Entre mi amor y yo han de levantarse

trescientas noches como trescientas paredes

y el mar será una magia entre nosotros.

 

No habrá sino recuerdos.

Oh tardes merecidas por la pena,

noches esperanzadas de mirarte,

campos de mi camino, firmamento

que estoy viendo y perdiendo...

Definitiva como un mármol

entristecerá tu ausencia otras tardes

 

DESPEDIDA

Entre meu amor e eu hão de se levantar

trezentas noites como trezentas paredes

e o mar será uma magia entre nós.

 

Não haverá senão recordações.

Oh! Tardes merecidas pela pena,

noites esperançosas de te olhar,

campos do meu caminho, firmamento

que estou vendo e perdendo...

Definitiva como um mármore

entristecerá tua ausência outras tardes.

Ilustração: Música do Brasil.

 

Uma poesia de John Bruce

 


MOTION

John Bruce

Most motion now is at a speed

No Roman or enlightened despot ever dreamed

As truth. The landscape we see we miss;

The oceans we cross we overlook;

The accelerations of word and style

Disguise the flat art we flirt with

The thoughts we dispose of after use.

Speed in this palliative world

Amounts to no executive privilege

Nor does the distance we devour

Sustain us. We dream faster

Than we travel, and the dreams

Speed back to what they meant

When sceptic, wise and mortal Socrates

Lay paralyzed at the apex of his argument.

MOVIMENTO

Os movimentos agora estão numa velocidade

Que nenhum romano ou esclarecido déspota havia sonhado

Como a verdade. A paisagem que vemos nos escapa;

Os oceanos que nós cruzamos nos ultrapassam;

As acelerações de palavra e do estilo

Disfarçam a planura da arte com que flertamos

Os pensamentos nos livramos depois do uso.

A velocidade neste paliativo mundo

Em quantidades não é privilégio de nenhum executivo

Nem a distância que nos devora

Nos sustenta. Nós sonhamos mais rápido

Do que nós viajamos, e os sonhos

Retornam velozes para o que eles significam

Quando o cético, sábio e mortal Sócrates

Foi paralisado no auge do seu argumento.

Ilustração: Spartancast. 

 

Uma poesia de P.K. Page

 


AUTUMN

P. K. Page

 

Whoever has no house now will never have one.

Whoever is alone will stay alone

Will sit, read, write long letters through the evening

And wander on the boulevards, up and down...

 

- from Autumn Day, Rainer Maria Rilke

 

 

Its stain is everywhere.

The sharpening air

of late afternoon

is now the colour of tea.

Once-glycerined green leaves

burned by a summer sun

are brittle and ochre.

Night enters day like a thief.

And children fear that the beautiful daylight has gone.

Whoever has no house now will never have one.

 

It is the best and the worst time.

Around a fire, everyone laughing,

brocaded curtains drawn,

nowhere-anywhere-is more safe than here.

The whole world is a cup

one could hold in one's hand like a stone

warmed by that same summer sun.

But the dead or the near dead

are now all knucklebone.

Whoever is alone will stay alone.

 

Nothing to do. Nothing to really do.

Toast and tea are nothing.

Kettle boils dry.

Shut the night out or let it in,

it is a cat on the wrong side of the door

whichever side it is on. A black thing

with its implacable face.

To avoid it you

will tell yourself you are something,

will sit, read, write long letters through the evening.

 

Even though there is bounty, a full harvest

that sharp sweetness in the tea-stained air

is reserved for those who have made a straw

fine as a hair to suck it through-

fine as a golden hair.

Wearing a smile or a frown

God's face is always there.

It is up to you

if you take your wintry restlessness into the town

and wander on the boulevards, up and down.

OUTONO

Quem não tem casa agora nunca terá uma.

Quem estiver sozinho ficará sozinho

Sente-se, leia, escreva longas cartas pela noite

E passeie nos bulevares, para cima e para baixo ...

- do Dia do outono, Rainer Maria Rilke

 

Sua mancha está em toda parte.

O ar de afiação

do final da tarde

agora é a cor do chá.

Folhas verdes uma vez glicerizadas

queimadas por um sol de verão

são frágeis e ocre.

A noite entra no dia como um ladrão.

E as crianças temem que a linda luz do dia tenha desaparecido.

Quem não tem casa agora nunca terá uma.

 

É o melhor e o pior momento.

Em volta de um fogo, todos estão rindo,

cortinas brocadas desenhadas,

em nenhum lugar - é mais seguro do que aqui.

O mundo inteiro é um copo

um poderia segurar em uma mão como uma pedra

aquecido pelo mesmo sol de verão.

Mas os mortos ou os mortos próximos

agora são todos dedos articulados.

Quem estiver sozinho ficará sozinho.

 

Nada para fazer. Nada para realmente fazer.

O brinde e o chá não são nada.

Fervuras de chaleira secas.

Feche a noite ou entre,

é um gato no lado errado da porta

em qualquer lado em que esteja. Uma coisa negra

com seu rosto implacável.

para evitar você

vai te dizer que és alguma coisa,

vai sentar, ler, escrever longas cartas durante a noite.

 

Embora exista uma recompensa, uma colheita completa

aquela doçura afiada no ar manchado de chá

é reservado para aqueles que fizeram uma palha

bem como um cabelo para aspirar,

bem como um cabelo dourado.

Vestindo um sorriso ou uma carranca

O rosto de Deus está sempre lá.

É com você

se levar tua inquietação invernal para a cidade

e vagueiar nos bulevares, para cima e para baixo.

Ilustração: Claudia. 

Outra poesia de Rafael Alberti Merello

 


TE DIGO ADIÓS 

Rafael Alberti Merello

Te digo adiós, amor, y no estoy triste.

Gracias, mi amor, por lo que ya me has dado,

un solo beso lento y prolongado

que se truncó en dolor cuando partiste.

No supiste entender, no comprendiste

que era un amor final, desesperado,

ni intentaste arrancarme de tu lado

cuando con duro corazón me heriste.

Lloré tanto aquel día que no quiero

pensar que el mismo sufrimiento espero

cada vez que en tu vida reaparece

ese amor que al negarlo te ilumina.

Tu luz es él cuando mi luz decrece,

tu solo amor cuando mi amor declina.

 

TE DIGO ADEUS

Te digo adeus, amor, e não estou triste.

Graças, meu amor, pelo que hás dado,

Um só beijo lento e prolongado

Que se desfez em dor quando partistes.

Não soubestes entender, não compreendestes

Que era um amor final, desesperado,

Nem tentastes arrancar-me de teu lado

Quando com duro coração me feristes.

Chorei tanto aquele dia que não quero

Pensar que o mesmo sofrimento espero

Cada vez que em tua vida reaparece

Esse amor que ao negá-lo te ilumina.

Tua luz é maior quando a minha luz decresce

Teu amor só aumenta quando o meu declina.

Ilustração: Agora Babou. 

Wednesday, May 26, 2021

Perdendo mais um dia

 

A tua formosura,

A tua formosura

Provém de coisas que sei

E que não sei.

Provavelmente nunca saberei

Porque te amo, ó doce criatura.

 

A tua formosura,

A tua formosura,

Que tento explicar é inexplicável.


E só sinto como é tanta e notável

Quando descubro

Que me roubaram mais um dia

Em que fiquei sem tua companhia.

Ilustração: Deu na Telha.


Uma poesia de Sarah Valle



VI

Sarah Valle

Your small hands, precisely equal to my own-

only the thumb is larger, longer-in these hands

I could trust the world, or in many hands like these,

handling power-tools or steering-wheel

or touching a human face. . . Such hands could turn

the unborn child rightways in the birth canal

or pilot the exploratory rescue-ship

through icebergs, or piece together

the fine, needle-like sherds of a great krater-cup

bearing on its sides

figures of ecstatic women striding

to the sibyl’s den or the Eleusinian cave-

such hands might carry out an unavoidable violence

with such restraint, with such a grasp

of the range and limits of violence

that violence ever after would be obsolete.


VI

Tuas mãos pequenas, tão iguais às minhas próprias-

só o polegar é mais largo, longo-nestas mãos

Eu poderia confiar o mundo ou em muitas mãos como estas,

manuseando ferramentas ou volantes de automóveis

ou tocando um rosto humano. . . Tais mãos poderiam recolocar

a criança não nascida no canal do parto

ou pilotar o navio explorador de resgate

por entre icebergs, ou reunir

os pedaços finos feito agulhas de uma grande cratera grega

sustentando à sua volta

figuras de mulheres em êxtase caminhando

rumo à gruta da sibila ou à caverna de Elêusis—

tais mãos poderiam carregar uma violência inevitável

com tal contenção, com um tal domínio

da extensão e dos limites da violência

que toda violência, depois, poderia ser obsoleta.

 Ilustração: https://dradanielafigueiredo.com.br/.