Friday, May 31, 2019

Um poema de Francis Ponge


À la rêveuse matière                                      

Francis Ponge

Probablement, tout et tous – et nous-mêmes – ne sommes-nous que des rêves immédiats de la divine Matière.
Les produits textuels de sa prodigieuse imagination.
Et ainsi, en un sens, pourrait-on dire que la nature entière, y compris les hommes, n’est qu’une écriture; mais une écriture d’un certain genre; une écriture non significative, du fait qu’elle ne se réfère à aucun système de signification; qu’il s’agit d’un univers indéfini : â proprement parler immense, sans mesures.
Tandis que le monde des paroles est un univers fini.
Mais du fait qu’il est composé de ces objets très particuliers et particulièrement émouvants, les sons significatifs et articulés dont nous sommes capables, qui nous servent à la fois à nommer les objets de la nature et à exprimer nos sentiments,
Sans doute suffit-il de nommer quoi que ce soit – d’une certaine manière – pour exprimer tout de l’homme et, du même coup, glorifier la matière, exemple pour l’écriture et providence de l’esprit.

À MATÉRIA SONHADORA

Provavelmente, tudo e todos- e nós mesmos- não somos mais que sonhos imediatos da divina Matéria:
Os produtos textuais de sua prodigiosa imaginação.
E assim, num certo sentido, pode-se dizer que a natureza inteira, incluído nela os homens, não são mais que uma escrita; mais que uma escrita de uma certo gênero; uma escrita não-significativa, pelo fato de que não se refere a nenhum sistema de significação; que um agito de um universo indefinido: estritamente falando imenso, sem medidas.
Enquanto que o mundo das palavras é um universo finito.
Mais pelo fato de ser composto por esses objetos muito particulares e particularmente em movimentos, os sons significativos e articulados de que somos capazes, que nos servem tanto para nomear os objetos da natureza quanto para expressar nossos sentimentos,
São, indubitavelmente,  formas de nomear o que quer que seja -de uma certa maneira-para exprimir tudo do homem e, no mesmo lance, glorificar a matéria, exemplo para a escrita e a providência do espírito.

Ilustração: Quizur.

Thursday, May 30, 2019

Dois poeminhas de Joseph Campbell



1. Darkness.

Joseph Campbell

Darkness.
I stop to watch a star shine in the boghole –
A star no longer, but a silver ribbon of light.
I look at it, and pass on.


2. On the Top-Stone.

Joseph Campbell

On the top-stone.
A nipping wind blowing.
Winter dusk closing in from the south Ards.
The moon rising, white and fantastic, over the loch and the town below.
I take off my hat, salute her, and descend into the darkness.


1. Escuridão

Escuridão.
Eu paro para assistir uma estrela brilhar no brejo-
Uma estrela não mais, porém, uma fita prateada de luz.
Eu olho para isto e passo adiante.


2. Na pedra superior.

No topo da pedra.
Um vento soprando.
Crepúsculo do inverno que fecha-se dentro dos ares do sul.
A lua subindo, branca e fantástica, sobre o lago e a cidade abaixo.
Eu tiro meu chapéu, saúdo-a e desço na escuridão.

Ilustração: UOL Viagem.  




Uma poesia de Richard Aldington





INSOUCIANCE

 Richard Aldington

IN and out of the dreary trenches,  
Trudging cheerily under the stars,  
    I make for myself little poems    
    Delicate as a flock of doves.       

    They fly away like white-winged doves.        


DESPREOCUPAÇÃO

Dentro e fora das tristes trincheiras,
Marchando alegremente sob as estrelas,
     Eu faço para mim mesmo pequenos poemas
     Delicados como um bando de pombas.

     Eles voam para longe como pombos de asas brancas.

Wednesday, May 29, 2019

Uma poesia de Giorgio Caproni


A CERTUNI                  
Giorgio Caproni

Dite pure di noi
- se questo vi farà piacere -
che siamo dei rinunciatari.
Che non riusciamo a tenere
il passo con la Storia.

Le frasi fatte - sappiamo -
sono la vostra gloria.

Noi, noi non ve le contestiamo.

Essere in disarmonia
con l'epoca (andare
contro i tempi a favore
del tempo) è una nostra mania.

Crediamo nell'anacronismo.
Nel fulmine. Non nell'avvenirismo.


PARA ALGUNS

Podem dizer de nós
- se isto lhes dá prazer-
que somos desertores.
Que não conseguimos seguir
o passo da História.

As frases feitas-sabemos-
são sua glória.

Nós, nós iremos contestar.

Estar em desarmonia
com a época (andar
contra os tempos e a favor
do tempo) é nossa mania.

Acreditamos no anacronismo.
No raio. Não no futurismo.

Ilustração: Mundo Educação.

Três poeminhas de Giorgio Caproni


NELL’AULA                                        
Giorgio Caproni

La legge è ugale per tutti.
(Farabutti)


NA AULA
A lei é igual para todos.
(Seus beócios)


DOMANDA E RISPOSTA

Giorgio Caproni

– C’è più libertà
in carcere o in città?

– Non ce n’ è, libertà.
É carcere l’intera città.

PERGUNTA E RESPOSTA



– Onde há mais liberdade
na prisão ou na cidade?

– Não há nenhuma liberdade.
É prisão a cidade inteira.


ALL’OMBRA DI TORQUATO

Giorgio Caproni

… Lascia che dolcemente
posi  la mia stanca guancia
sul tuo albeggiante ventre…


À SOMBRA DE TORQUATO
…Deixe que gentilmente
pouse meu rosto cansado
sobre teu ventre nascente…

Ilustração: visao.sapo.pt.

Outra poesia de Álvaro Mutis


NOCTURNO                     
Álvaro Mutis

Respira la noche,
bate sus claros espacios,
sus criaturas en menudos ruidos,
en el crujido leve de las maderas,
se traicionan.
Renueva la noche
cierta semilla oculta
en la mina feroz que nos sostiene.
Con su leche letal
nos alimenta
una vida que se prolonga
más allá de todo matinal despertar
en las orillas del mundo.
La noche que respira
nuestro pausado aliento de vencidos
nos preserva y protege
"para más altos destinos".


NOTURNO

Respira a noite
bate seus claros espaços,
suas criaturas em pequenos ruídos,
no leve ranger das madeiras da floresta,
se trai.
Renovar a noite
certa semente oculta
na mina feroz que nos sustenta.
Com seu leite letal
nos alimenta
uma vida que se prolonga
além de todo despertar matinal  
nas margens do mundo.
A noite que respira
nossa respiração pausada de vencidos
nos preserva e nos protege
"para os mais altos destinos".

Ilustração: Minilua.

Outra poesia de David López Sandoval

                                                                                                 
CANTA

David López Sandoval

Canta, oh Diosa, la luz estremecida
de esta mañana de febrero. Canta
su victoria final sobre el insomnio
y las últimas sombras. Canta el mundo
restituido a los hombres, los aromas
del lado más remoto de mi tiempo,
el brillo de las cosas diminutas
y los ojos que saben descubrirlas.
Canta el estar en el lugar exacto
en el momento justo de la vida.
Canta hasta que consiga comprender
y una voz sola sean nuestras voces.

CANTA

Canta, oh Deusa, a luz estremecida
desta manhã de fevereiro. Canta
sua vitória final sobre a insônia
e as últimas sombras. Canta o mundo
restituído aos homens, os aromas
do lado mais remoto do meu tempo,
o brilho das coisas diminutas
e os olhos que sabem descobri-las.
Canta o estar no lugar exato
no momento justo da vida.
Canta até que consiga compreender
e uma voz só seja nossas vozes.

Ilustração: Cristina Brandão Lavender.


Tuesday, May 28, 2019

Uma poesia de Patricia Benito


Cuestión de práctica     
Patricia Benito

Noches de esas en las que entiendes
que la teoría sin la práctica no sirve de nada
y en las que, durante un par de cervezas
y un poquito de jazz, te pides perdón
por no saberte cuidar lo suficiente,
mientras lo llenas todo de propósitos
defectuosos que volverás a no cumplir.

Lo de siempre:

falta de práctica
queriendo hacia dentro.


Questão de prática

Noites dessas em que entendes
que a teoria sem prática não serve de nada
e nelas que, durante um par de cervejas
e um pouquinho de jazz, te pedes perdão
por não saber cuidar o suficiente,
ainda que preenche toda de propósitos
defeituosos que voltarás a não cumprir.

O de sempre:

falta de prática
querendo por dentro.

Uma poesia de Álvaro Mutis



EL DESEO

Álvaro Mutis

Hay que inventar una nueva soledad para el deseo. Una vasta  soledad de delgadas orillas
en donde se extienda a sus anchas  el ronco sonido del deseo. Abramos de nuevo todas las
venas del placer. Que salten los altos surtidores no importa hacia dónde.
Nada se ha hecho aún. Cuando teníamos algo andado, alguien se detuvo en el camino para ordenar sus vestiduras y todos se detuvieron tras él. Sigamos la marcha. Hay cauces secos
en donde pueden viajar aún aguas magníficas.
Recordad las bestias de que hablábamos. Ellas pueden ayudarnos antes de que sea tarde
y torne la charanga a enturbiar el cielo con su música estridente.

O DESEJO

Precisamos inventar uma nova solidão para o desejo. Uma vasta solidão de finas margens
onde se estenda livremente o som rouco do desejo. Abramos de novo todas
veias de prazer. Que saltem os jatos altos não importa onde.
Nada foi feito ainda. Quando tínhamos algo acontecendo, alguém se deteve no caminho para pedir suas roupas e todos se detiveram atrás dele. Sigamos  a marcha. Existem canais secos
onde ainda não se pode viajar em águas magníficas.
Lembre-se das feras de que estávamos falando. Elas podem nos ajudar antes que seja tarde demais
e volte a charanga para enlamear o céu com sua música estridente.

Ilustração: El País.

Um poeminha de David López Sandoval


 
TODOS ESOS ESPEJOS                                                             
 David López Sandoval

Todos esos espejos
en los que un día me miré, ¿qué imagen
guardan de mí?, ¿qué parte de mi vida
rebalsan? ¿Qué ocasiones
cabrillean aún sobre sus ondas?


TODOS ESSES ESPELHOS

Todos esses espelhos
em que um dia me mirei, que imagem
guardam de mim? Que parte de minha vida
represam? Que ocasiões
brilham ainda sobre suas ondas?


Ilustração: BBC.com

Dois poeminhas de Patricia Benito


Verano del 99                  
Patricia Benito

Hoy me he arrepentido
de todas las tormentas de verano
en las que me puse a cubierto.

VERÃO DE 99

Hoje me arrependo
de todas as tempestades de verão
em que me escondi.


Nuestro

Patricia Benito

Escribirte a ti en vez de hacerlo sobre ti.
Esa sutil diferencia que lo hace nuestro
o de todos los demás.

NOSSO

Escrever-te a ti invés de fazê-lo sobre ti.
Essa sutil diferença que o faz nosso
ou de todos os demais.



Ilustração: Central das Notícias.

Tuesday, May 21, 2019

Outra poesia de Carmen Sánchez Álvarez


Carmen Sánchez Álvarez                                             
Abrazar su estrato de mar.
Abrazar su piel de roca.
Sentir el enmascarado
paisaje del atardecer.
Sal, brisa, espuma
cuando aparecen
sus ojos de niño,
sus ojos de lobo,
sus ojos de amante.
Dejar los besos
en su cuello de arena
para los días de sombra.


Abraçar seu estrato marinho.
Abraçar sua pele de rocha.
Sentir a mascarada
paisagem do entardecer.
Sal, brisa, espuma
quando aparecem
seus olhos de menino
seus olhos de lobo
os olhos de amante
Deixar os beijos
no seu pescoço de areia
para os dias de sombra.


Ilustração: CONTI outra. 

Friday, May 17, 2019

Uma poesia de Araceli Mariel Arreche


Mi dichiaro colpevole  

Araceli Mariel Arreche

Mi dichiaro colpevole
di sognare a voce alta
di fidarmi dell’altro
di cercare la poesia.
Mi dichiaro colpevole
di dire quello che sento
di scommettere sul sentire
di credere nel detto.
Mi dichiaro colpevole
di sentire che è possibile
piangere un’assenza
lottare un incontro.
Mi dichiaro colpevole
di vivere un altro tempo
di fidarmi di un gesto
di insistere per la verità.
Mi dichiaro colpevole
Si.
Mi dichiaro colpevole.


ME DECLARO CULPADO

Me declaro culpado
de sonhar em voz alta
de confiar no outro
de me cercar de poesia.
Me declaro culpado
de dizer o que sinto
de apostar em sentir
de acreditar no ditado.
Me declaro culpado
de sentir que é possível
de lamentar uma ausência
de lutar por um encontro.
Me declaro culpado
de viver em outra tempo
de confiar em um gesto
de insistir na verdade.
Me declaro culpado
Sim.
Me declaro culpado.

Ilustração: Youtube.