Thursday, July 26, 2012

Eterno aprendiz

Só os teus olhos me consolam                        
De pouco ter visto o belo, o bonito.
Só o teu sorriso me conforta
ao atravessar tempos e portas
me mostrando que se pode ser feliz.
Só o teu jeito de menina
com todo teu conhecimento de mulher
a este pobre professor ensina
que viver é sempre tentar ser feliz
e continuar a ser um eterno aprendiz.

Ilustração: http://poetaeliasakhenaton.blogspot.com.br

E ainda Jiménez


Miguel Antonio Jiménez


Húmedo el movimiento de la rosa que silba
goteando desde el alba su vacío.

Fábula rosa  

Úmido o movimento da rosa que assobia
gotejando desde’ o amanhecer o seu vazio.







Ilustração:
wilmabarsotti.blogspot.com

De volta Miguel Antonio Jiménez


Miguel Antonio Jiménez

Tibia el alma arde en la brisa
afina el viento su breve latir
en tu cintura sueño a flor de agua
donde una luz seduce
el íntimo retozo de tu vuelo.

Morna na alma

Morna a alma arde na brisa
afina o vento no seu breve passar
na tua cintura sonho a flor de água
onde uma luz seduz
o íntimo volteio do teu voo.

Tuesday, July 24, 2012

E novamente Manuel Machado



Manuel Machado

Era un suspiro lánguido y sonoro
la voz del mar aquella tarde... El día,
no queriendo morir, con garras de oro
de los acantilados se prendía.

Pero su seno el mar alzó potente,
y el sol, al fin, como en soberbio lecho,
hundió en las olas la dorada frente,
en una brasa cárdena deshecho.

Para mi pobre cuerpo dolorido,
para mi triste alma lacerada,
para mi yerto corazón herido,

para mi amarga vida fatigada...
¡el mar amado, el mar apetecido,
el mar, el mar, y no pensar nada...!

Pôr do sol

Ele era um suspiro lânguido e sonoro
a voz do mar naquela tarde ... O dia,
não querendo morrer, com garras douradas
nos rochedos se prendia.

Porém,  seu seio o mar ergueu potente
e o sol, enfim, como em soberbo leito
afundou-se nas ondas douradas em frente
como  uma brasa em carvão desfeito.

Para o meu pobre corpo dolorido,
para a minha triste alma lacerada,
para meu duro coração ferido

para a minha vida amarga fatigada ...
O mar amado, o mar apetecido,
o mar, mar, e não pensar mais nada ...!

Ilustração: paraloucoseraros.blogspot.com

De volta Miguel Antonio Jiménez



Miguel Antonio Jiménez

Este sueño sin párpados es un rumor herido
y este aire de vida es un redondo sueño
donde tus ojos ruedan y me siento su dueño
en el agua que juega consumiendo el gemido

Eres mi agua mi fuego mi primera noticia
la pregunta que envuelve la palabra que asoma
su voz hiela en el aire que toma
mi agudo fuego mi mirada en caricia

ESTE SONO

Este sono sem pálpebras é um rumor ferido
e este ar de vida é um redondo sono
onde teus olhos rodam e eu  me sinto dono
na água que brinca consumindo o gemido

És minha água, meu fogo minha primeira notícia
a pergunta que envolve a palavra que assoma
sua voz gela no ar que toma
meu agudo fogo meu olhar de carícia  

Ilustração:  paixaoeamor.com

Miguel Antonio Jimenez


Miguel Antonio Jiménez

Como ave parte y en señal de fuego llega
de su hueco brotan flores creciendo en brasas
en llama una paloma forma el aire
del sueño mi lengua incendia un astro.

En la flama su raíz conoce el mundo
girando sobre si la llama insiste
en esa música que canción de aire se vuelve.

O AMOR

Como ave parte e em sinal de fogo chega
de seu oco brotam flores crescendo em brasas
na chama de uma pomba forma no ar
de sonho minha língua incendeia uma estrela.

Na chama sua raiz conhece o mundo
girando sobre si a chama insiste
nessa música que canção no ar se torna.

Ilustração: http://josiescrevedora.blogspot.com.br

Manuel Machado



Manuel Machado

Calle del Betis. Triana.
El corazón del estío
penetra el escalofrío
de la fuente charlatana.

La Velada de Santa Ana
llena de música el río.
Con los ojos de Rocío
se ilumina la ventana.

De envidia, al verla, una estrella,
en las alturas sin fin,
estremecida rutila.

Y se apaga cuando ella
sale envuelta en el jardín
de su mantón de Manila.

Julho

Rua de Betis. Triana.
O coração do estio
penetra o  frio num arrepio
da fonte borbulhante.

A Vigília de Santa Ana
enche de música o rio.
Com os olhos de Rocio
se ilumina a janela.

Com inveja, ao vê-la, uma estrela,
nas alturas sem fim
estremecida brilha.

E se apaga quando ela
sai envolta  no jardim
na sua manta de Manila.

Ilustração: bokelberg.com

Monday, July 23, 2012

Edoardo Sanguineti



[in te dormiva come un fibroma asciutto...]


Edoardo Sanguineti

in te dormiva come un fibroma asciutto, come una magra tenia,
[un sogno;
ora pesta la ghiaia, ora scuote la propria ombra; ora stride,
deglutisce, orina, avendo atteso da sempre il gusto
della camomilla, la temperatura della lepre, il rumore della grandine,
la forma del tetto, il colore della paglia:
..........................senza rimedio il tempo
si è rivolto verso i suoi giorni; la terra offre immagini confuse;
saprà riconoscere la capra, il contadino, il cannone?
non queste forbici veramente sperava, non questa pera,
quando tremava in quel tuo sacco di membrane opache.


[em ti dormia como um fibroma enxuto...]

em ti dormia como um fibroma enxuto, como uma tênia magra,
[um sonho;
ora pisas as pedrinhas, ora espantas a própria sombra; ora gritas
deglutindo, urinas, obtendo o sempre esperado gosto
da camomila, a temperatura da lebre, o rumor do granizo,
a forma do teto, a cor da palha:
......................sem remédio o tempo
se torcem os versos e os seus dias; a terra oferece imagens confusas;
saberá reconhecer a cabra, o camponês, o canhão?
não questione as tesouras que deveras esperava, nem esta pêra,
quando tremia naquele teu saco de membranas opacas.

Sunday, July 22, 2012

QUALIDADE


É preciso inventar a vida, Margarida,        
com açucenas e jasmins
e o carinho de quem traça o caminho
sem pensar no fim.
Querida, muitas vezes, pensas
que não estar do teu lado
é o pior castigo-
o que se trata de ilusão, te digo.
Sou ótimo, justamente,
por estar distante,
afinal, de perto, ninguém é normal
e é, sempre, muito menos atraente.
Por menos que aceite,
o que faz maior o teu deleite,
é a ausência, que me faz essencial!

RAZÃO

Bebo como se o amanhã não existisse
e, algum dia, esta será toda a realidade.
Bebo para tornar a vida bela
e abrir uma janela de acertos
no tanto que errei.
Bebo porque feliz nunca serei.
Bebo por saber que o futuro
é sempre melhor distorcido
e por ter te amado
e por ter te perdido
num passado
que não tem como voltar.
E a ironia
é que vivo por te amar!

Poemas Mal Comportados

Eu sou (quase) normal 

Eu sou mesmo um cara descompensado:
pode ver,
pode olhar
que não sou normal
nem mesmo de lado.
É verdade que pareço lógico:
sou um mosquito que vibra com tóxico
e dança
e ri
e crê que vai resistir
sobrevivendo contra todas as chances.
Pode crer
sou capaz de me convencer
que você me amar é normal
como rezar no carnaval
ou sambar no espaço sideral.
Eu sempre fui,
eu sempre vou além.
Ainda hei de roubar
Nossa Senhora de Nazaré
em pleno Círio de Belém.
Quem sabe no ano que vem!

Rafael José Álvarez


Derrumbes

Rafael José Álvarez

Estas paredes ya no existen
y aún ocupan un lugar.
Cruzamos puertas, soportes, soleras,
y aún los olores desaparecidos
están allí con los derrumbes de este tiempo.

De su extinción derivan rastros, lagartijas.
La nada reservada a la estila, a los arcones,
los enseres que precedieron la maraña,
la humedad oculta donde ellos
(infusiones, aceites, duermevelas)
cavilan, resisten a la lama,
a la clausura, a evaporadas lluvias
que redujeron a polvo las vigas y los clavos.

Ahora sustentan el vacio,
opaco resplandor bajo un negado espacio
donde son apenas el secreto de los grillos,
esa maleza triste que trepa los tejados.

(Oikos, 1986).

Ruínas

Estas paredesnão existem
e ainda ocupam um lugar.
Cruzamos portas, suportes, soleiras,
e até os aromas desaparecidos
estando ali como ruína deste tempo.

De sua extinção derivam rastros, lagartixas.
O nada reservado para o momento, os arcos,
os apetrechos que precederam a confusão e
a umidade oculta onde eles
(infusões, óleos, velas de despachos)
sofismam, resistir à lama,
à clausura de evaporadas chuvas
que reduziram a pó vigas e pregos.

Agora suportando o vácuo
o brilho opaco num espaço negado
que são apenas o esconderijo de grilos,
erva daninha que trepa nos telhados.

Ilustração:  patrimonioparatodos.wordpress.com

Friday, July 20, 2012

Outra vez Joaquin Pasos

CANCIÓN DE CAMA


Joaquin Pasos


Este gozo de alcoba, tan de lino, lleno de sábanas,

este palpitar de almohadas bajo las sienes dormidas,

este nuevo llegar hasta el corazón de la cama

y luego saber que el pie, la mano, lo que a uno le queda de

pecho, busca, dice, escribe, grita tu nombre,

y cualquiera siente el momento que se aproxima de morir

acostado.

¿Qué es esto sino la ausencia de tu sueño,

la pérdida de tu respiración a mi lado?

Se ha perdido ya el hueco de tu cuerpo

que era la voz de tu carne desnuda hablándole

íntimamente a la ropa planchada,

diciéndole a qué horas el brazo serviría de almohada

y cómo el tibio vientre palpitaría como otra almohada viva,

funda de seda de nervios y de sangre.


Canção da cama


Esta alegria de alcova, tão de linho, cheio de folhas,

este palpitar de almofadas sob os noites dormidas,

este novo chegar até o coração da cama

e logo saber que o pé, a mão, o que a quem lhe cai ao

peito, busca, diz, escreve, grita o teu nome,

e todos nós sentimos o momento de morrer que se

aproxima.

O que é isto senão a ausência de teu sonho

a perda de tua respiração do meu lado?

Se ha perdido o centro do teu corpo

que era a voz de tua carne nua falando

pressionada intimamente pela roupa,

dizendo-lhe a que horas o braço serviria de travesseiro

e como o ventre palpitaria como um outro travesseiro vivo

bainha de seda de nervos e de sangue.

Joaquin Pasos

CUATRO                                                                             
Joaquin Pasos


Cerrando estoy mi cuerpo con las cuatro paredes,

en las cuatro ventanas que tu cuerpo me abrió.

Estoy quedando solo con mis cuatro silencios:

el tuyo, el mío, el del aire, el de Dios.

Voy bajando tranquilo por mis cuatro escaleras,

voy bajando por dentro, muy adentro de yo,

donde están cuatro veces cuatro campos muy grandes.

Por adentro, muy adentro, ¡qué ancho que soy!

Y qué pequeña que eres con tus cuatro reales,

con tus cuatro vestidos hechos en Nueva York.

Vas quedando desnuda y pobre ante mis ojos;

cuatro veces te quise; cuatro veces ya no.

Estoy cerrando mi alma, ya no me asomo a verte,

ya no te veo el aire que te diera mi amor;

voy bajando tranquilo con mis cuatro cariños:

el otro, el mío, el del aire, el de Dios.


QUATRO


Fechando estou o meu corpo com as quatro paredes,

nas quatro janelas que teu corpo me abriu.

Estou ficando só com meus quatro silêncios:

o teu, o meu, o ar, o de Deus.

Vou baixando tranquilo por meus quatro passos,

vou descendo por dentro, para bem dentro de mim,

onde estão quatro vezes quatro grandes campos.

Lá dentro, muito dentro, quão largo que sou!

E quão pequeno que estais com teus quatro reais,

com teus quatro vestidos feitos em Nova York.

Estais ficando nua e pobre diante dos meus olhos;

quatro vezes eu te quis, quatro vezes não mais.

Estou fechando a minha alma, não mais desejo te ver,

já não te vê o ar que te dera o meu amor;

vou descendo tranquilo com meus quatro carinhos:

o outro, o meu, o ar, e o de Deus.

Tuesday, July 17, 2012

Reynaldo Pérez Só


23

Reynaldo Pérez Só

los que soñamos

sentimos el sueño más hermoso

nos morimos temprano

porque no somos sueños

ni pájaros

y el aire nos pesa

sin embargo con todo

volvemos cada noche

para morirnos de otro sueño


23

Nós que sonhamos

sentimos o sonho mais belo

nós morremos cedo

porque não somos sonhos

nem pássaros

e  o ar nos pesa

sem embargo contudo

voltamos cada noite

para morrermos de outro sonho.

Ilustração: mlembran.blogspot.com



Guillermo Sucre


Los que piensan que les ha llegado la hora

Guillermo Sucre


Los que piensan que les ha llegado la hora
y se aprestan para asumir su destino
los que saben que siempre llegan a deshora
contra todo destino

los que escriben para sobresalir
no para encontrar la salida -¿hay salida?

los que sólo viven para poner la vida en palabras
los que escriben para poner la palabra en la vida

los que lo coleccionan todo para sentirse perdurables
los que han contemplado una sola vez la belleza
y ya ello les depara una riqueza un desamparo
para siempre

la vida no es avara ni para preservarla
hay que saber también arriesgarla
como en el amor: más fuerte cuando más lo alimenta
el desamor
más vívido cuando nace y se extingue cada día.



Os que pensam que sua hora chegou

Os que pensam que sua hora chegou
e se apressam para assumir o seu destino
os que sabem que sempre chegam fora de hora
contra todo o destino

os que escrevem para se sobressair 
não para encontrar a saída - há saída?

os que só vivem para colocar a vida em palavras
os que escrevem para colocar a palavra na vida

os que colecionam para se sentir duradouros
os que só viram a beleza uma vez
e aqueles que se depara  com a riqueza, um desamparo
para sempre

vida não é avara nem para preservá-la
há que saber também arriscá-la
como o amor: mais forte quanto mais o alimenta
o desamor
mais viva quando nasce e morre a cada dia.

Ilustração: laninhaa.spaceblog.com.br

Gustavo Pereira


En el mundo no quieren a los tristes

Gustavo Pereira

A Luis Camilo Guevara

Uno tiene derecho a acongojarse
a sentirse vencido

pero en el mundo no quieren a los tristes

Uno está en el deber de levantarse
agarrar su cayado
echar a andar
Optar por esconderse entre sí mismo
Irse a la misma mierda
Desamarrar sus diablos
O simplemente hacerse el monigote
el salsero mayor
el chicle más orondo de la fiesta.


No mundo não querem aos tristes


Qualquer um tem o direito de chorar
de sentir-se vencido

porém, no mundo não querem os tristes

Qualquer um tem o dever de levantar-se
pegar seu cajado
e começar a andar
Optar por  esconder-se de si mesmo
Ir-se a mesma lama
Desamarrar os seus demônios
Ou simplesmente fazer com seu boneco
o maior salseiro
o chiclete mais amassado da festa.

Ilustração:  sentimentosquetranscendemotempo.blogspot.c

Juan Calzadilla


Minimales (12 fragmento)

Juan Calzadilla

Los dioses de la zona tórrida
llevaban macanas.
Ahora llevamos macanas
pero no somos dioses.

La visita que a la pirámide Tikal iba a efectuar la
comitiva concluye en el desastre aéreo donde todos los pasajeros
de la nave perecen
sin que ninguno de
estos

acertara a divisar desde el aire, momentos antes,
cuando el avión sobrevolaba el aeropuerto de Santa
Elena en un último intento de aterrizar, la famosa
pirámide maya.

Por algo se le dice al hombre viajero: su misión
consiste en pasar. En cambio
la
pirámide
siempre queda.


Mínimas (12 fragmentos )

Os deuses da zona tórrida
levavam seus bastões.
Agora levamos bastões,
mas, nós não somos deuses.

A visita que a pirâmide Tikal faria a
comitiva termina no desastre de avião, onde todos os passageiros
do avião perecerem
sem que nenhum
deles

acertasse divisar do ar, momentos antes,
quando o avião sobrevoava o aeroporto de Santa
Elena na última tentativa de aterrisar, a famosa
pirâmide maia.

Por algo se die ao viajante: a sua missão
consiste em passar. Em contraste
a
pirâmide
sempre queda.

Friday, July 13, 2012

Adoum novamente

Fugaz Retorno


Jorge Enrique Adoum


La cocina estaba todavía salpicada

de harina y oraciones; la nodriza

arropaba al fantasma de la noche,

buscaba el itinerario de las naves

que trajeran de regreso a un vagabundo.

Habían enmohecido las imágenes, envejecido

el ruido. En las grandes tinajas

el eco de voces conocidas repetía

la cuenta del dinero. Se hablaba

de adulterios cercanos, de inversiones.

“Hay afuera un día de luz, de humana

paz y de manzanas. Hay canciones y avanza

una multitud que vive y crece. De ella

es el reino del futuro. El que sea digno

ahora merecerá ese día y será amado.

Yo sé qué hora es, cómo me llamo, a dónde

voy lleno de orgullo y de noticias.

Y no estaré mucho tiempo entre vosotros”.

No hubo sacrificio de vino o de cordero.

La madre, entre dos lágrimas severas,

me habló por mi bien, me indicó bondadosa

el buen camino, preguntó si tenía otro sombrero.

Mas mi hermano, el que solía fabricar delgadas

flautas para acompañar el canto de los sembradores

y que aún temía la dureza de la herencia

y la mirada del búho como un sacerdote,

no pudo dormir.



“Yo quiero merecer

el amor que tú has visto. ¿Cuándo

es la felicidad?”

“Mañana”.

Y corrimos, como dos fugitivos, hasta

la dura orilla donde se deshacían

las estrellas. Los pescadores nos hablaron

de victorias sucesivas en provincias cercanas.

Y nos mojó los pies una espuma del alba,

llena de raíces nuestras y de mundo.

De “Notas del hijo pródigo” 1953



Fugaz regresso

A cozinha estava, todavia, salpicada

de farinha e orações; a enfermeira

vestiu o fantasma da noite,

buscando a rota dos navios

que trouxeram de regresso a um vagabundo.



Haviam enferrujado as imagens, envelhecido

o ruído. Nos grandes vasos

o som de vozes familiares repetia

a conta de dinheiro. Se falava

de adultérios próximos, de investimentos.



"Há lá fora um dia de luz, de humana

paz e de maçãs. Há canções e avança

uma multidão que vive e cresce. Dela

é o reino do futuro. E quem for

digno agora merece este dia e ser amado.

Eu sei que hora é, como me chamo, aonde for

cheio de orgulho e de notícias.

E eu não estarei muito entre vós. "



Não houve sacrifício de vinho ou de cordeiro.

A mãe, entre duas lágrimas severas,

me falou por bem e gentilmente me indicou

o caminho, perguntou se tinha outro chapéu.

Mas, o meu irmão que costumava fabricar fina

flautas para acompanhar o canto dos plantadores

e ainda temia a dureza da propriedade

e olhar da coruja, como sacerdote,

não conseguia dormir.



"Eu quero merecer

o amor que tens visto. Quando

virá a felicidade? "

"Amanhã".



E nós corremos, como dois fugitivos para

a dura praia, onde se desintegraram

as estrelas. Os pescadores disseram-nos

das vitórias consecutivas em províncias vizinhas.

E nós molhamos os pés na espuma do amanhecer,

cheio de raízes nossas e do mundo.

"Notas do Filho Pródigo" 1953

Ilustração: prataepixel.blogspot.com

Jorge Enrique Adoum

Entonces, no hay olvido


Jorge Enrique Adoum


y no podré jamás confundirme de puerta

ya nunca equivocarme de rostro de tranvía

comenzar el destino en la otra mano

con una llave o un sombrero diferentes

sin recorrer la misma duda y a la misma hora

la misma calle con el mismo pie?

no entrar de nuevo al cuarto de uno

donde uno se espera y nunca sale

esperando al teléfono llamadas de una voz

que antes se escuchaba con el vientre

noticias de ojalá

el horóscopo para ayer que no acierta tampoco

y se mira crecerle los adioses en la cara

y no hay gillette para el recuerdo

no hay jabón para lo sido lo cernido

de las ruinas de uno mismo argamasa de la edad

como un templo donde ya no sucede nada cierto

y tantas moscas rondándome

simple muñón de ti mi antes

y en la mirada también queda lo sucio de estos dolores

puesto su sucio a remojar a fondo

por lo menos con esto me distraigo

me corrijo la vida como debió haber sido

hago cuentas de cuánto debo irme

para no estar conmigo en otra parte

escondiendo analgésicas teorías

olvidando soluciones criminalmente justas

manuscritos de la tempestad al fin y al cabo

con lo demás no hay cómo son las piedras honestas

del que no fui y seguí siendo otras veces

del que quise nacerme sin mancha de pasado

y si remueven un poco me verían debajo

echando una lagrimita por aquello

atónitos con melanosis

santos retorcidos por la sabiduría

equilibristas con espasmo y catalepsia

raquíticos hipertróficos enfisematosos

lánguidos místicos agónicos

esqueletos forrados de pergamino pardo

esqueletos envueltos con mosquitero

dos rodillas recuerdo de otra pierna dos dientes

reliquia de la vieja religión en la mejilla

De “Yo me fui con tu nombre por la tierra” 1964


Então, não há esquecimento
Então, não há esquecimento

e eu não poderei jamais confundir-me de porta

e nunca mais equivocar-me de rosto, errar o bonde

e iniciar o destino, por outro lado

com uma chave ou um chapéu diferente

sem recorrer a mesma dúvida e, ao mesmo tempo,

a mesma rua com o mesmo pé?



Não retornarei ao quarto de um

onde um se espera e nunca sai

esperando o telefone de uma voz

que antes se ouvia na barriga

notícias oxalá

horóscopos para ontem que não acerta tampouco

e se olha crescer os adeuses no rosto

e não há navalhas para as recordações

não há sabão para o que foi cerzido

das ruínas de uma argamassa da mesma idade

como um templo, onde nada sucede de certo

e rondam muitas moscas

um toco de ti antes de mim

e no olhar também cai o sujo dessas dores

posta a sujeira a embeber a fundo



Pelo menos com isto me distraio

Eu corrigo a vida como deveria ter sido

faço para contas de como devo ir

para não estar comigo em outro lugar

escondendo analgésicas teorias

esquecendo soluções criminalmente justas

manuscritos da tempestade ao fim e ao cabo

como os demais não existem como são as pedras honestas

do que não fui e segui sendo outras vezes

do que quis nascer sem manchas do passado

e se removem um pouco abaixo

achariam uma lágrimazinha por aqueles

atordoados com melanose

sanos retorcidos pela sabedoria

equlibristas com espasmo e catalepsia

raquíticos hipertróficos enfisematosos

lânguidos místicos agonicos

esqueletos forrados de pergaminhos marrons

esqueletos envoltos mosquiteiros

de rodinhas lembrando outra perna de dentes

relíquia da velha religião na bochecha

“Eu me fui com teu nome pela terra” 1964

Ilustração: maeporacidente.blogspot.com

Idea Vilariño


Ya no

Idea Vilariño

Ya no será,
ya no viviremos juntos, no criaré a tu hijo
no coseré tu ropa, no te tendré de noche
no te besaré al irme, nunca sabrás quién fui,
por qué me amaron otros.
No llegaré a saber por qué ni cómo, nunca
ni si era de verdad lo que dijiste que era,
ni quién fuiste, ni qué fui para ti
ni cómo hubiera sido vivir juntos,
querernos, esperarnos, estar.
Ya no soy más que yo para siempre y tú
Ya no serás para mí más que tú.
Ya no estás en un día futuro
no sabré dónde vives, con quién
ni si te acuerdas.
No me abrazarás nunca como esa noche, nunca.
No volveré a tocarte. No te veré morir.

Já não

Já não será,
já não viveremos juntos, não criarei os teus filhos
não costurarei suas roupas, não te terei à noite
não te beijarei ao ir-me, nunca saberás quem fui,
porque me amaram outros.
Não chegarei a saber por que nem como, nunca
nem se era verdade o que dissestes que era,
nem quem fostes, nem o que fui para ti
nem como seria se tivessemos vivido juntos
amar-nos, esperarmo-nos, ser.
não sou mais que eu para sempre e tu.
Já não serás para mim, mais que tu.
Já não estais num dia futuro
Eu não saberei onde vives, nem com quem
nem se tu acordas.
Não me abraçaras nunca como esta noite, nunca.
Nunca me segurar como aquela noite, nunca.
Não voltarei a te tocar. Não te verei morrer.

Ilustração: nerdsferas. blogspot.com 

Giovanni Goméz


UNA PALABRA COMO CASA

Giovanni Goméz

Señor dame una palabra
que tenga la forma de un barco
un barco de velas inextinguibles
donde pueda ir a conocer el mar
Dame esta palabra por casa
por vestido por amante
deja que ella sea mi soledad
mi alimento y no pueda sobrevivirla
Aquí estoy tan vacío de formas
y silencio…
Toda mi inspiración semeja
el ruido de unas manos atadas
necesito un barco por cuerpo
y el amor por mar
Escúchame por estas alucinaciones
y la vastedad de las cosas que vuelven
a su lugar

Uma palavra por casa

Senhor, dá-me uma palavra
Que tenha a forma de um barco
Um barco de velas inextinguíveis
Com o qual possamos conhecer o mar
Dá-me esta palavra por casa
Por vestido por amante
Deixa que ela seja minha solidão
Meu alimento e que não possa sobrevívê-la

Aqui estou tão vazio de formas
E silencio...
Toda minha inspiração se assemelha
Ao ruído de mãos atadas
Necessito de um barco por corpo
E o amor por mar

Escuta-me por essas alucinações
E a vastidão das coisas que voltam
Ao seu lugar

Ilustração: manasedesenhos.blogspot.com

Thursday, July 12, 2012

Ainda Cruchaga


Haruko Sam

Juan Guzmán Cruchaga


Amante silenciosa de una noche,
fina muñeca de marfil antiguo,
cuando mi cuerpo duerma el sueño largo
recuerda al extranjero que te quiso.

Mi alma estará en la sombra, solitaria,
y en la neblina viviré perdido.
Entreabre las ventanas, y tu lámpara
será como una estrella en el camino.

Entonces en las alas de los pájaros
y en el rayo de luz vendrá mi espíritu
a reír en el agua de la fuente
y a encender la mañana de mis hijos.

Haruko Sam

Amante silenciosa de uma noite,
fina boneca de marfim antigo,
quando meu corpo dorme o seu sono largo
recorda o estrangeiro que te quis.

Minha alma estará na sombra, solitária,
e na neblina viverei perdido.
Entreabre as janelas, e tua lâmpada
será como uma estrela no caminho.

Em seguida, as asas dos pássaros
e o raio de luz virá do meu espírito
rir na água da fonte
e acender a manhã dos meus filhos.

Ilustração: deusexfetus.deviantart.com

Cruchaga




Claro de Luna

Juan Guzmán Cruchaga

La luna entre los árboles
ennobleció el silencio de la noche armoniosa
y tomaron las fuentes vaguedad de pupilas,
y hubo meditaciones albm en las magnolias.
El misterio nocturno se aromó de azucenas,
conmovidas palabras vinieron de la sombra
Los amores antiguos, -seda triste, oro turbio,-
vivían en la voz helada de las hojas.


Luar

A lua por entre as árvores
enobreceu o silêncio harmonioso da noite
e ficaram as fontes com a vaguidade de pupilas,
e houve meditações sobre as magnólias.
O mistério noturno se aromou de lírios,
comovidas palavras vieram das sombra
Os amores antigos-seda triste, ouro turvo, -
viviam na voz velada das folhas.

Ilustração: marciamaninha1.blogspot.com

Monday, July 02, 2012

David Preiss


(Sobre Majdanek)

David Preiss

¿Qué hay, Dios mío, más allá de la chimenea que se estira?
¿Homero al decir de Sócrates?
¿El polvo para darle a mis huesos trocados en ceniza?
¿Dios como la bruma?

Devuelve mi polvo, oh Señor del polvo,
antes del intacto blanco de mis huesos,
no quiero rasgarme en las ramas de Polonia,
no quiero este vértigo sin tumba, sin rocío
allá sobre la tierra,
no quiero desafiar al eco y crecer en su distancia hasta vaciarme,
oh Señor del vértigo,

amenazo con anudarme en una estrella, demorar la llegada de la tarde
y persistir en plena luz del día
                                              tristemente intacto.   

¿Quién pudiera recoger el crepúsculo de mis pies?

E ao pó voltarás

(Em Majdanek)

O que há, meu Deus, mais além da chaminé que se estende?
Homero no dizer de Sócrates?
O pó para dar-lhe os meus ossos transformados em cinzas?
Deus como bruma?

Devolve meu pó, ó Senhor de poeira,
antes do intacto branco dos meus ossos,
não quero rasgar-me entre os ramos na Polônia,
não quero esta vertigem sem tumba, sem orvalho
caindo sobre a terra,
Eu não quero desafiar o eco e crescer na distância até esvaziar-me,
ò Senhor da vertigem,

 ameaço aninhar-me em uma estrela, a demorar a chegada da tarde
e persistir em plena luz do dia
                                               tristemente intacto.

Quem poderá recolher no crepúsculo os meus pés?

Ilustração:  manditacello.blogspot.com