Tuesday, February 28, 2023

Chorando por Você

 


Quando a noite cai,

com meu violão,

vou chorando por você

 

Vou chorando só por dentro

para ninguém saber

que cada canção que canto

é apenas pranto.

Vou chorando por você.

 

Sei que estou muito triste,

amargurado

neste amor que é do passado,

mas, que não posso esquecer

é por isto que neste chorinho

devagar, devagarinho

vou chorando por você

 

Vou levando a minha vida

e por mais que não aguente

a saudade que me arrasa

sigo em frente.

A vida passa,

lentamente

e aqui neste chorinho

vou chorando por você!

Ilustração: Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes.

Novamente Gabriel García Márquez

 


CANCIÓN

 Gabriel García Márquez

Llueve en este poema
Eduardo Carranza.

Llueve. La tarde es una
hoja de niebla. Llueve.
La tarde está mojada
de tu misma tristeza.
A veces viene el aire
con su canción. A veces
Siento el alma apretada
contra tu voz ausente.

Llueve. Y estoy pensando
en ti. Y estoy soñando.
Nadie vendrá esta tarde
a mi dolor cerrado.
Nadie. Solo tu ausencia
que me duele en las horas.
Mañana tu presencia regresará en la rosa.

Yo pienso cae la lluvia
nunca como las frutas.
Niña como las frutas,
grata como una fiesta
hoy esta atardeciendo
tu nombre en mi poema.

A veces viene el agua
a mirar la ventana
Y tú no estás
A veces te presiento cercana.

Humildemente vuelve
tu despedida triste.
Humildemente y todo
humilde: los jazmines
los rosales del huerto

y mi llanto en declive.
Oh, corazón ausente:
qué grande es ser humilde

CANÇÃO

chove neste poema

Eduardo Carrança.

 

Chove. A tarde é uma

folha de neblina. Chove.

A tarde está molhada

da sua própria tristeza

às vezes vem o ar

com sua canção. Às vezes

sinto a alma apertada

contra sua voz ausente

 

Chove. e estou pensando

em ti. E estou sonhando.

ninguém virá esta tarde

à minha dor fechada.

Ninguém. Só tua ausência

que me dói nas horas.

Amanhã tua presença retornará na rosa.

 

Eu penso que a chuva cai

nunca como frutas.

Menina gosta de frutas,

agradável como uma festa

hoje é pôr do sol

teu nome no meu poema

 

Às vezes a água vem

olhar para a janela

e tu não estás.

Às vezes me sinto perto de ti.

 

Humildemente volta

tua triste despedida

Humildemente e tudo

humilde: os jasmins

as roseiras no jardim

 

e meu pranto em declínio.

Ó coração ausente:

como é bom ser humilde.

Ilustração: Instituto Claro.

Um poema de Santee Frazier

 


HYPERACUSIS

Santee Frazier

The slow crawling light wilts

into the dark flat of asphalt.

 

The moon rings the dim-lit room.

The scraping. The fire.

 

Dust

in the deep flesh of ear.

 

Strike a match, watch the flame-

the scraping, the fire, ring

in unison,

 

the brain’s bent

fugue.

 

Yoked mica, deafened glint—

scrape and fire, the moon ringing

the dim-lit room.

 

A louse in the crevice

of brain—

wrinkle-scape

in knuckles flexed

lashed, etched,

around the steel—

the affliction

of squalor—a pummeling

—skull

 

and brain

smelted in a starless dark.

HIPERACUSIA

 

A lenta luz rastejante murcha

no plano escuro do asfalto.

 

A lua circunda o quarto mal iluminado.

A raspagem. O fogo.

 

na carne profunda da orelha.

 

Acendo um fósforo, olho a chama—

a raspagem, o fogo, anel

em uníssono,

 

o cérebro torto

em fuga.

 

Mica unida, brilho ensurdecido-

raspa e fogo, a lua tocando

a sala mal iluminada.

 

Um piolho na fenda

do cérebro-

escapo enrugado

nas juntas flexionadas

amarrado, gravado,

ao redor do aço-

a aflição

de miséria -uma surra

-crânio

 

e o cérebro

derretido num escuro sem estrelas.

Ilustração: ISBO.

Monday, February 27, 2023

E, mais uma vez, Ernesto Carrion

 


SEXTON

Ernesto Carriøn

 

Sabes por los huesos que vives en un país inmaterial, sumergido en el charco de tu propia sangre. Sabes por los huesos, tachados como la luz cúbica de tus ojos acumulando telas de ceniza más allá de sus órbitas, recortadas para siempre en la memoria, que no saborearás la felicidad en el bosque de otro cuerpo inexplorado. La verdad, eso no importa. Qué fue la felicidad sino un golpe de platos hipnotizados con fines de lucro. Qué fue la felicidad sino un colirio verdinegro empañando la obra en imágenes del cielo de Boston lleno de tramos blancos, como pomos políticos de nieve, sobre los árboles despellejados de una estación a otra. Tú vas a escribir –enferma y encorvada sobre una torre de libros– para comprender que nunca más la realidad estará frente a ti. Vas a escribir de este país inmaterial secuestrada como un lirio bajo un montón de hielo.

 

SACRISTÃO

Sabes pelos ossos que vives em um país imaterial, submerso na poça de teu próprio sangue. Sabes pelos ossos, riscados como a luz cúbica dos teus olhos, acumulando teias de cinzas mais além das suas órbitas, cortadas para sempre na memória, que não saborearás a felicidade na floresta de outro corpo inexplorado. Na verdade, isso não importa. O que foi a felicidade senão um golpe de pratos hipnotizados com fins de lucro. O que foi a felicidade senão um colírio preto-esverdeado nublando a obra em imagens do céu de Boston cheio de trechos brancos, como pomos políticos de neve, sobre as árvores desfolhadas de uma estação para outra. Tu vais escrever- doente e curvado sobre uma torre de livros-para entender que a realidade nunca mais estará diante de ti. Vais escrever sobre este país imaterial isolado como um lírio sob uma pilha de gelo.

Ilustração: Spirit Fanfics e outras histórias.

Uma poesia de Bulleh Shah

 


THE ARROW OF LOVE

Bulleh Shah

I have been pierced by the arrow of love,

what shall I do ?

I can neither live, nor can I die.

Listen ye to my ceaseless outpourings,

I have peace neither by night, nor by day.

I cannot do without my Beloved even for a moment.

I have been pierced by the arrow of love,

what shall I do ?

The fire of separation is unceasing !

Let someone take care of my love.

How can I be saved without seeing him?

I have been pierced by the arrow of love,

what shall I do?

A FLECHA DO AMOR

Eu fui perfurado pela flecha do amor,

o que devo fazer?

Eu não posso viver, nem posso morrer.

Ouçam meus incessantes derramamentos,

Eu não tenho paz nem de noite, nem de dia.

Eu não posso ficar sem minha Amada nem por um momento.

Eu fui perfurado pela flecha do amor,

o que devo fazer?

O fogo da separação é incessante!

Deixe alguém cuidar do meu amor.

Como posso eu ser salvo sem vê-lo?

Eu fui perfurado pela flecha do amor,

o que devo fazer?

Ilustração: Pixabay.

Sunday, February 26, 2023

Poeminha para a minha deusa eterna

 


Ó minha deusinha abandonada,

minha encantada Despina,

senhora das sombras e das geadas,

que bem sabe que somos nada.

Minha deusinha branquela, desbotada, alva,

como se tivesse sido banhada de alvejante.

Minha deusinha fulgurante,

que me parece amarela, negra, cambiante,

furta-cor, arco-íris,

me socorre neste instante,

em que te pensas esquecida

sem saber que, por ti, rezo toda vida,

no meio desta loucura desinibida

dos homens insensatos

que bradam por motivos fúteis

e brigam como gatos.

Pode ser que minhas preces sejam inúteis,

mas, dai-me, minha deusinha,

teu amor, teus beijos, teus carinhos

muito além dos tempos esquisitos

do coronavírus, que enfrentamos agora.

Sei que não é hora

de dizer do meu amor por ti.

Minha deusinha,

o isolamento

não nos aproxima,

nem no pensamento,

porém, os deuses olham tudo de cima,

e sabem o que não sabemos.

Ah! Minha deusinha,

bebo minha tacinha

de vinho, bruto,

fumo um charuto,

e canto,

por engano um salmo,

como se fosse um canto gregoriano,

desafinado como sempre fui

diante de um mundo que parece rui.

Entretanto, tenho a fé dos teus fiéis,

bem sei,

que, sobreviverei,

para beijar teus pés!!!

Ilustração: Sons of Gods.

 

O Inesquecível Federico García Lorca

 


Soneto de la dulce queja

Federico García Lorca

Tengo miedo a perder la maravilla
de tus ojos de estatua, y el acento
que de noche me pone en la mejilla
la solitaria rosa de tu aliento.

Tengo pena de ser en esta orilla
tronco sin ramas; y lo que más siento
es no tener la flor, pulpa o arcilla,
para el gusano de mi sufrimiento.

Si tú eres el tesoro oculto mío,
si eres mi cruz y mi dolor mojado,
si soy el perro de tu señorío,

no me dejes perder lo que he ganado
y decora las aguas de tu río
con hojas de mi otoño enajenado.

SONETO DA DOCE QUEIXA

Tenho medo de perder a maravilha

de teus olhos estátua, e o acento

que de noite me põe no rosto

a rosa solitária de teu alento.  

 

Lamento estar nesta praia

tronco sem galhos; e o que mais sinto

é não ter flor, polpa ou areia,

pelo verme do meu sofrimento.

 

Se tu és o tesouro oculto meu,

se és minha cruz e dor molhada,

se sou o cachorro do senhorio teu,

 

não me deixe perder o que foi ganhado

e  as águas do seu rio torna decorada

com folhas do meu outono alienado.

Ilustração: Tolkien Talk.

Uma poesia de Georges Schehadé

 


Il y a des églises dont les Saints sont dehors...

Georges Schehadé

Il y a des églises dont les Saints sont dehors

Par amour de la solitude

- Mon amour ne disons pas ça

Ils sont loins par obéissance

Ils ont l'oeil bleu des voyages

Comme ces bergers qui dorment en souriant

 

Dans un ciel monotone comme une chambre

La lune triste avec sa famille

HÁ IGREJAS ONDE OS SANTOS ESTÃO  FORA

Há igrejas cujos santos estão fora

Por amor da solidão

- Meu amor não digamos isso

Estão longe por obediência

Eles têm o olho azul das viagens

Como esses pastores que dormem sorrindo

 

Em um céu monótono como um quarto

A lua triste com sua família

Ilustração: Istock.

Saturday, February 25, 2023

Anti-Fudêncio

 

Vou-me embora!

Vou-me embora!

Se for possível pra Oizumi

ou, talvez, pro Paraguai.

Vou-me embora!

Vou-me embora!

Sem um uí e sem um aí,

que o mimimi tá demais!

Vou-me embora!

Vou-me embora!

Só não fico por aqui.

Não aguento mais não. 

Volto até para o passado, 

pois preciso de ilusão.

Ilustração: tve.famosos.uol.com.br. 

Cecílio Acosta, pois

 


MADRIGAL

Cecilio Acosta

Echó de menos la Aurora

Una vez su luz que dora,

Y como día tras día

Pálida siempre salía,

Dando quejas lastimosas,

Lloró perdidas sus rosas,

Y en encontrarlas se aferra

Corriendo cielos y tierra...

Delia, ya sé que es robado

El esplendor con que brillas,

Y que la Aurora ha encontrado

Sus rosas en tus mejillas.

MADRIGAL

 

Jogou fora menos a Aurora

Uma vez que é luz que doura,

E como dia após dia

Pálida sempre saia,

Dando queixas lastimosas,

Chorou as perdidas rosas,

E em encontrá-las se aferra

Correndo os céus e a terra...

Delia, já sei que é roubado

O esplendor com que brilhas,

E que a Aurora encontrou

Suas rosas nas suas faces.

Ilustração: Arroba Nerd.


Outra poesia de Kenneth Slessor

 


THIEF OF THE MOON

Kenneth Slessor

Thief of the moon, thou robber of old delight,

Thy charms have stolen the star-gold, quenched the moon-

Cold, cold are the birds that, bubbling out of night,

Cried once to my ears their unremembered tune-

Dark are those orchards, their leaves no longer shine,

No orange's gold is globed like moonrise there-

O thief of the earth's old loveliness, once mine,

Why dost thou waste all beauty to make thee fair?

 

Break, break thy strings, thou lutanists of earth,

Thy musics touch me not-let midnight cover

With pitchy seas those leaves of orange and lime,

I'll not repent. The world's no longer worth

One smile from thee, dear pirate of place and time,

Thief of old loves that haunted once thy lover!

 

O LADRÃO DA LUA

O ladrão da lua, porém o ladrão do antigo deleite,

Teus encantos roubaram o dourado da estrela, extinguiram a lua-

Frios, frios são os pássaros que, borbulhando na noite,

Choraram uma vez em meus ouvidos sua melodia esquecida

Negros são esses jardins, suas folhas que já não brilham,

O ouro de nenhuma laranja é global como o nascer da lua lá-

Ó ladrão da velha beleza da terra, uma vez minha,

Por que desperdiças toda a beleza para te tornares belo?

 

Quebra, quebra tuas cordas, tu alaudistas da terra,

Tuas músicas não me tocam - deixa a meia-noite cobrir

Com mares agitados as folhas de laranjeira e lima,

Eu não vou me arrepender. O mundo não vale mais

Um sorriso teu, querido pirata do lugar e do tempo,

Ladrão de velhos amores que uma vez assombraram teu amante!

Ilustração: Sócientífica.

Friday, February 24, 2023

E de volta Gabriel García Márquez

 


SI ALGUIEN LLAMA A TU PUERTA

Gabriel García Márquez

Si alguien llama a tu puerta, amiga mía,

y algo en tu sangre late y no reposa

y en tu tallo de agua, temblorosa,

la fuente es una líquida de armonía.

 

Si alguien llama a tu puerta y todavía

te sobra tiempo para ser hermosa

y cabe todo abril en una rosa

y por la rosa desangra el día

 

Si alguien llama a tu puerta una mañana

sonora de palomas y campanas

y aún crees en el dolor y en la poesía

 

Si aún la vida es verdad y el verso existe.

Si alguien llama a tu puerta y estás triste,

abre, que es el amor, amiga mía.

SE ALGUÉM CHAMAR NA TUA PORTA

Se alguém chamar na tua porta, amiga minha,

e algo em teu sangue bate e não repousa

e em teu caule de água, temerosa,

a fonte é de uma líquida harmonia.

 

Se alguém chamar na tua porta e todavia

E sobra tempo para ser formosa

e cabe todo abril em uma rosa

e pela rosa sangra o dia.

 

Se alguém chamar na tua porta uma manhã

ao som de pombas e campainhas

e ainda acreditas na dor e na poesia

 

Se ainda a vida é verdade e o verso existe.

Se alguém chamar na tua porta e estás triste,

Abre, que é o amor, amiga minha.

Ilustração: G1.