Tuesday, October 31, 2017

Dois poeminhas de José Antonio Funes

J. S. BACH                 
A Ramón Ramírez, músico.

José Antonio Funes

Todo era ruido y silencio.
Ningún sonido
que pudiera unir
las puntas rotas del universo.

Bostezaban los instrumentos
bajo el polvo de la monotonía.
Hasta que llegó Bach y dijo:
«Hágase la música».
Y renacieron vientos y cuerdas
para alegrar la luz en los ojos del agua.
Y el sonido de un piano
subió hasta el cielo
a despertar el oído casi muerto de Dios.

EUCLIDES PUDO HABERLO DICHO

José Antonio Funes

El amor es un punto
donde un hombre y una mujer
se unen.

El amor es un punto
donde un hombre y una mujer
se separan.

El amor es un punto.


J. S. BACH

Tudo era ruído e silêncio.
Nenhum som
que pudesse unir
as pontas quebradas do universo.

Bocejavam os instrumentos
Sob o pó da monotonia.
Até que chegou Bach e disse:
“Faça-se a música”.
E renasceram sopros e cordas
para alegrar a luz nos olhos de água.
E o som de um piano
subiu até o céu
para despertar o ouvido quase morto de Deus.


EUCLIDES PODIA TER DITO

O amor é um ponto
onde um homem e uma mulher
se unem.

O amor é um ponto
onde um homem e uma mulher
se separam.


O amor é um ponto. 

Ilustração: The Great Courses Plus. 

Sambinha da tua rosa

Sabe a rosa que te dei.. 
Tu plantastes..sei
e cresceu, floriu
muito mais do que sonhei.
Tua mão, sempre soube,
é tão boa
que qualquer coisa
que plantas à-toa
floresce.
Já é primavera,
por favor, meu bem,
vem plantar mais rosas
que o jardim já tens.
Rosa da minha vida,
coisa mais querida,  
vem, minha rosinha, 
vem florir meu coração
que vive na ilusão
de florir também.
Rosa do meu amor,
não demora, vem
que adubo de amor
tu bens sabes, tem!

Ilustração: EXILADO.



Monday, October 30, 2017

Mais uma poesia de Eduardo Lhanos Melussa

RECONCILIACIÓN        

Eduardo Llanos Melussa

Desnuda como un buen sentimiento,
acaso arrepentida,
cubres mi cuerpo sollozando
y me haces olvidar tantos rencores.

Y al fin, sin más cielo que tu rostro,
te perdono,
te perdono aunque no sé
si alguna vez me perdonarás este perdón.

RECONCILIAÇÃO

Nua como um bom sentimento,
acaso arrependida,
cobres meu corpo soluçando
e me fazes esquecer tantos rancores.

E, ao fim, sem mais céu que teu rosto,
te perdoo,
te perdoo mesmo sem saber
se alguma vez me perdoarás este perdão.

Ilustração: sexsafe.ro.


Saturday, October 28, 2017

DOIS POEMINHAS DE SILVINA OCAMPO

 
LA ESFINGE                                                                
Silvina Ocampo

El ser más inesperado es uno mismo:
hasta las esfinges nos miran con ojos asombrados.

*
ÚNICA SABIDURÍA

Silvina Ocampo

Lo único que sabemos
es lo que nos sorprende:
que todo pasa, como
si no hubiera pasado.


A ESFINGE

O ser mais inesperado é um mesmo:
até as esfinges nos olham com olhos assombrados.

*

ÚNICA SABEDORIA

A única coisa que sabemos
é o que nos surpreende:
que tudo passa, como
se não houvesse passado.


Ilustração: Caderno Digital Carol – blogger. 

Outra poesia de Eduardo Lhanos Melussa

 
AMAPOLA MARINA                                                                    
Eduardo Llanos Melussa

Ahora que fulguras desnuda en la penumbra
y me roza el murmullo de tu busto vibrante,
ahora que tus muslos son dos auriculares
latiendo en mis oídos como ríos de música;

ahora que en mis sienes siento dos mordeduras
y tu aliento me deja en la frente un tatuaje,
ahora que tu blusa y tu falda flameante
hieren mi mano ardiente como al diente la fruta:

deshojada ya yaces, amapola marina.
Pescador capturado, encallado velero,
yo también yazgo ahora en tu arena amarilla.

En silencio contemplo el templo de tu cuerpo,
me afano y me afino de oído y de tacto
y oigo bajo tu piel un canto gregoriano.

AMAPOLA MARINHA

Agora que brilhas desnuda na escuridão
e me roça o murmúrio de teus seios vibrantes,
agora que tuas coxas são dois fones de ouvido
latejando em meus ouvidos como rios de música;

agora que em meu peito sinto duas mordidas
e sua respiração me deixa, na testa, uma tatuagem,
agora que tua blusa e saia flamejantes
ferem minha mão ardente como um dente à fruta:

desfolhada já jazes, papoula do mar.
Pescador capturado, encalhado veleiro,
Eu também estaciono agora na tua areia amarela.

Em silêncio contemplo o templo do teu corpo,
trabalho duro para afinar o ouvido e o tato
e ouço, debaixo de tua pele, um canto gregoriano.


Ilustração: Amapola Oraculo – blogger. 

Friday, October 27, 2017

NEGRAS NOITES, NOITES NEGRAS

Vivo com medo dessas noites negras, 
desesperadoramente negras,
de violentas tempestades
em que o tempo arde
e o vento da chuva não refresca
e os clarões no céu
nos fazem ter mais temor ainda.
São noites em que não durmo.
São noites em que não sonho
e, no escuro do quarto,
na completa ausência de luz,
fico procurando em vão por você,
as mãos perdidas em lençóis amassados
e o coração batendo também desesperado. 
E, nessas noites, longas noites, 
que são muito mais do que pode parecer,
é que me convenço
que minhas noites serão sempre negras
sem você. 

Uma poesia de Alessio Brandolini

 
Piccola sinfonia per cani                                                           

 Alessio Brandolini

Staremo attenti a non mostrare i canini, il blu
placato tra le braccia, il silenzio trabocca, tira
la coda al lupo che prende coraggio, solleva
il collo e l’ululato avanza nell’aria del mattino.
Stella che scruti con un occhio soltanto invita
l’angelo a sollevarsi dalle spine! ne sapeva più
di noi il gatto stando al sole. Non addestrati
senza rispetto per l’udito altrui: padri maestri
amici, ce la fischiamo da soli variando il ritmo
e l’insonne sinfonia innalza città in miniatura.
Ho bruciato rami erba secca le scarpe dai tacchi
consumati che non sapevano più dove condurci.


Dondola la notte e nel fruscio si torna ad essere
ciò che non si è mai stati, barche calme in attesa
di precipitare nel mare in tempesta. Negli abissi
i pesci saldano gli occhi a palla sui nuovi spazi
dove potranno occultarsi, divertirsi. Quanto resta?
Avvisa la morte quando la cerchi potrebbe ignorarti
ama le sorprese, ti allunga la vita anche se non vuoi.
Il padre di mia madre prende le distanze, ribadisce
con foga che l’acqua in fiamme separa dal mondo
e il profilo del paese è solo un asilo per cani randagi.
Quel vecchio guerriero scuote le inferriate del tempo
risale la collina: non aggiunge altro, né torna indietro.


PEQUENA SINFONIA PARA CÃES

Tenhamos o cuidado de não mostrar os caninos, o azul
esmaecido entre os braços, o silêncio se desborda, e tira
a cauda do lobo que se arma de valor, levanta
o pescoço e o uivo avança no ar matinal
Estrela que escutas com olho somente convida
O anjo a levantar-se dos espinhos! Sabia mais
que nós, outros, e o gato quieto ao sol. Não treinados
sem respeito pelo ouvido alheiro: pais mestres
amigos, nos a entonamos só variando o ritmo
e a sinfonia insone levanta cidades em miniatura.

Havia queimado ramos erba seca os sapatos com tacos
consumidos que já não sabem aonde levarmos.
Oscila a noite e o sussurro volta a ser
o que nunca temos sido, tranquilas barcas sabendo
que se precipitaram no mar na tormenta. Nos abismos
os peixes fixam os olhos saltados nos espaços novos
onde poderão ocultar-se, divertir-se. Quanto fica?
Avisa a morte quando a buscas poder ignorar-te
ama as surpresas, te alarga a vida ainda que não queiras.
O pai de minha mãe guarda as distâncias, repete
com calor que a água iluminada separa o mundo
e o povo por seu aspecto é só um refúgio para os cães de rua.
Este velho guerreiro sacode as grelhas do tempo
sobe a colina: não agrega nada mais, nem regressa.


Ilustração: Blog do Dino Adestrador - WordPress.com. 

Wednesday, October 25, 2017

Uma poesia de Albert Samain



DILECTION

Albert Samain

J'adore l'indécis, les sons, les couleurs frêles,
Tout ce qui tremble, ondule, et frissonne, et chatoie
Les cheveux et les yeux, l'eau, les feuilles, la soie,
Et la spiritualité des formes grêles ;

Les rimes se frôlant comme des tourterelles,
La fumée où le songe en spirales tournoie,
La chambre au crépuscule, où Son profil se noie,
Et la caresse de Ses mains surnaturelles ;

L'heure de ciel au long des lèvres câlinée,
L'âme comme d'un poids de délice inclinée,
L'âme qui meurt ainsi qu'une rose fanée,

Et tel cœur d'ombre chaste, embaumé de mystère,
Où veille, comme le rubis d'un lampadaire,
Nuit et jour, un amour mystique et solitaire.

ELEIÇÃO

Adoro os indecisos: rumor, matizes escuras:
o que treme e ondula, o que se torna torcido;
água, olhos, cabelos; seda, folhagens, asas,
e o leve ritmo das formas de fino tecido.

O fumo que ao devaneio empresta suas espirais;
de ninho dos arrulhos que o silencio acrisola;
a noite confidente que seu perfil imola,
e a sábia doçura de suas mãos astrais.

E as horas sem término de uma lenta carícia;
e a alma que se agonia com sua própria delícia
como rosa que morre vertendo seu néctar diário.

Alma de casta sombra que silenciosamente clama,
onde, como o rubi de declarada chama,

um amor arde insone, místico e solitário.

Uma poesia de Laura Victoria

CEGADA LUZ              
Laura Victoria

Te busco aún imagen ya perdida,
cegada luz, desorbitado viento,
esperanza tan sólo sostenida
por la ternura de mi pensamiento.

Algo tuyo quedase entre mi vida
como afilada flor de sufrimiento;
sangra mi llanto por tu propia herida
y sube tu canción por mi lamento.

Esa es la causa de mi mal cercano,
la certidumbre del inmenso hastío
que dobla las espigas de tu mano.

Porque tú eres la espuma de ese río
que nace en tus llanuras de verano
y muere en mis crepúsculos de frío.
  

LUZ CEGA

Te busco ainda imagem já perdida,
luz cega, desmedido vento,
esperança tão só sustentada
pela ternura de meu pensamento.

Algo teu queda-se entre minha vida
como afiada flor de sofrimento;
sangra meu pranto por tua própria ferida
e sobe tua canção por meu lamento.

Essa é a causa de meu mal abeirado
a certeza da imensa amolação
que as espigas de tua mão tem dobrado.

Porque tu és a espuma desse rio
que nasce nas planícies de verão
e morre em meus crepúsculos de frio.

Ilustração: www.luzcega.com



Tuesday, October 24, 2017

Outra poesia de Susan Randall

L'anima vola...               
Susan Randall

L'anima vola oltre i confini
si perde nello spazio universale,
canta, balla, sorride e ritorna
in sè allegra e leggera
come una piuma.

A ALMA VOA...

A alma voa para além das fronteiras
se perde no espaço universal,
canta, dança, sorri e retorna
em si alegre e ligeira
como uma pluma.


Ilustração: justquitthing.com. 

Sunday, October 22, 2017

Uma poesia de Elisa Díaz Castelo

GAVIOTAS SOBRE EL HUDSON               

Elisa Díaz Castelo

Pienso en sus huesos,
                                    huecos
como iglesias blancas,
          esas casas de viento
                  donde se columpia
el eco de las voces.

         Adentro
también el cielo, oblicuo,
         abismado en su encierro.
Se desgrana el aire,
         tiembla el espacio atenazado.
                   Adentro,
también,
                   hay solamente esto:

         una espera rotunda a que los límites quiebren,
         se desintegre el hueso

y quede, solo,

         el aire contra el aire.

GAIVOTAS SOBRE O RIO HUDSON

Penso em seus ossos,
                              ocos,
como igrejas brancas,
essas casas de vento
            onde se balançam
o eco das vozes.

Adentro
também o céu, oblíquo,
          abismado em seu confinamento.
          se desbulha o ar,
          treme o espaço desordenado.
                    Adentro,
também,
                    há apenas isso:
          uma espera imensa que os limites quebre,
          se desintegre o osso

e fique só,
o ar contra o ar.


Ilustração: freepik.es.