Thursday, April 29, 2021

Outra poesia de Cristian Alcaraz

 




SÍNDROME DE DIÓGENES

 Cristian Alcaraz

 pudrirse dentro de una habitación

cada vez más oscura

en este paraíso solo respiran los insectos

has aparecido con dos cajas

te llevas el desconsuelo y la levedad

solo dejas basura

entre mis dientes

y pasan los años

se desintegran los músculos la moqueta

los cuchillos

se oxidan

los pomos de las puertas

la palabra mudanza_futurosinti

duele tanto

los gusanos empiezan a tragarse todas tu fotos

mis piernas sin ti los ojos sin tus ojos

extraños

es un paraíso

en pasado felicidad en paredes juicios de vecinos

no querer olvidarte nunca

 

SÍNDROME DE DIÓGENES

 

apodrecer dentro de uma casa

cada vez mais escura

neste paraíso só respiram os insetos

apareces com duas caixas

tu levas a dor e a leveza

só deixas o lixo

entre meus dentes

e os anos passam

os músculos desintegram o tapete

as facas

se enferrujam

as maçanetas

a palavra mudança_futurosentir

dói tanto

os vermes começam a tragar todas as suas fotos

minhas pernas sem ti os meus olhos sem teus olhos

estranhos

és um paraíso

no passado de felicidade nas paredes julgamentos de vizinhos

não quero te esquecer nunca


Wednesday, April 28, 2021

O Sonho da madrugada

 

Que a noite pareça mágica

com o manto de luz da lua 

cobrindo a cidade

é incontestável. 

Notável 

a beleza do mundo, 

que não se mede pela solidão, 

nem se importa com a saudade

no meu coração. 

Choro. Talvez 

porque só de pensar 

na minha amada

me envolvo com a madrugada

e, de repente, a vida ganha

o brilho e a cor dos olhos do meu amor, 

mistura de céu e mar 

me fazendo sonhar 

sem dormir 

e, de tudo, rir. 

Ilustração: https://es.123rf.com/. 

Tuesday, April 27, 2021

E, de volta, Manuel Altolaguirre

 

AMOR OSCURO

Manuel Altolaguirre

Si para ti fui sombra

cuando cubrí tu cuerpo,

si cuando te besaba

mis ojos eran ciegos,

sigamos siendo noche,

como la noche inmensos,

con nuestro amor oscuro,

sin límites, eterno…

Porque a la luz del día

nuestro amor es pequeño.

AMOR ESCURO

Se, para ti, fui sombra

quando cobri teu corpo,

se quando te beijava

meus olhos eram cegos,

sigamos sendo noite,

como a noite imensos,

com nosso amor escuro,

sem limites, eterno....

Porque na luz do dia

Nosso amor é pequeno.

Ilustração: http://abiadarfernandes.blogspot.com/.

Monday, April 26, 2021

Sou sim um sapiossexual

 

Ah! Minha filha,

vou ter que me vacinar

(e, dá para imaginar?

duas vezes!).

Não, tu bens sabes,

com esta mente brilhante

que Deus te deu,

que não virarei jacaré.

Nada me garante,

Porém, que contigo adiante

não me acusem de sapiossexual.

E vou assumir

cheio de moral!

 

Ilustração: https://amenteemaravilhosa.com.br/sapiosexual/.

Uma poesia de Anna Rita Armati

 

 

 





IL TEMPO MIGLIORI

 Anna Rita Armati

Quant’è frettoloso il tempo

che passa

incurante di noi

mentre contiamo i giorni dell’anno

e ci domandiamo se

i ricordi di un tempo passato

siano nostri davvero

e nel trattenerli c’illudiamo

di possedere quel pezzo di vita

andato per sempre.

Il tempo non da confidenza né a ricchi

né a chi averi non ha

passa

senza un perché

e ci dona l’assoluta certezza

che solo

cogliendo l’eterno momento

respiriamo

il tempo migliore

che padroni non ha.

Il tempo ha un fiore

d’eterea bellezza

O MELHOR TEMPO

Quão apressado  o tempo

que passa

descuidado de nós

enquanto contamos os dias do ano

e nos indagamos se

as recordações de um tempo passado

realmente são nossas

e ao segurá-las nos iludimos

possuir aquele pedaço de vida

que se foi para sempre.

O tempo não dá confiança nem aos ricos

nem para os que não têm posses

passa

sem motivo

e nos dá certeza absoluta

que apenas

aproveitando o momento eterno

nós respiramos

o melhor tempo

que padrões não há.

O tempo tem uma flor

da etérea beleza. 

Ilustração: https://www.conquistesuavida.com.br/.

Sunday, April 25, 2021



MAN CARRYNG THING

Wallace Stevens

The poem must resist the intelligence

Almost sucessfully. Illustration:


A brune figure in winter evening resists

Identity. The thing he carries resists

 

The most necessitous sense. Accept them, then,

As secondary (parts not quite perceived

 

Of the obvious whole, uncertain particles

Of the certain solid, the primary free from doubt,

 

Things floating like the first hundred flakes of snow

Out of a storm we must endure all night,

 

Out of a storm of secondary things),

A horror of thoughts that suddenly are real.

 

We must endure our thoughts all night, until

The bright obvious stands motionless in cold.

O HOMEM CARREGANDO COISAS

O poema tem que resistir à inteligência

Até quase ter sucesso. 


Uma figura parda em tarde de inverno resiste

À identidade. A coisa que carrega resiste

 

Ao mais necessário senso. Aceite-os, então,

Como secundários (partes semi-percebidas

 

Do todo óbvio, partículas incertas

Do sólido certo, o primário livre de dúvidas,

 

Coisas flutuando como os cem primeiros flocos

Da nevasca que suportaremos durante toda a noite,

 

De uma tormenta de coisas secundárias),

O horror de pensamentos que, subitamente, são reais.

 

Temos que suportá-los a noite inteira, até

Que o brilho óbvio se mostre, imóvel, no frio.

Ilustração: Levy Leiloeiro.

E, de volta, a poesia de Eduardo Carranza

 


POESIA

Eduardo Carranza

Antonio, nuestro oficio es ir poniendo

las palabras, una tras otra,

como días y días, unos tras otros,

con su pausa nocturna de estrellas o silencio.

Trabajo que de pronto, tú lo sabes,

vuela de nuestras manos convertido

en radiante paloma o gerifalte.

La luz anda descalza en lo que hablamos,

pero también la noche y la tristeza.

Nuestra palabra, tú también los sabes,

suena a veces como un reloj

en una casa abandonada, oscura,

dando las horas para nadie.

Como la campanilla del teléfono

en la estancia vacía.

O como una campana en un desierto

tañendo para nadie.

Nuestro trabajo, Antonio, es ir cayendo

todos los días hacia el corazón.

Cierro tu libro y pienso: estamos solos

en el umbral de qué, de qué, Díos mío?

Y la noche nos lleva como un ciego

a otro ciego, del brazo, dulcemente.

POESIA

Antônio, nosso trabalho é ir colocando

as palavras, uma atrás da outra,

como dias e dias, uns atrás dos outros,

com sua pausa noturna de estrelas ou silêncio.

Trabalho que logo, tu o sabes,

voa de nossas mãos convertido

em radiante pomba ou girafa.

A luz anda descalça no que falamos,

porém também a noite e a tristeza.

Nossa palavra, tu também o sabes,

soa às vezes como um relógio

numa casa abandonada, escura,

marcando as horas para ninguém.

Como a campainha do telefone

na residência vazia.

Ou como um sino num deserto

badalando para ninguém.

Nosso trabalho, Antônio, é ir caindo

todos os dias rumo ao coração.

Fecho teu livro e penso: estamos sós

no umbral de quê? de quê, Deus meu?

E a noite nos leva como um cego

a outro cego, de braço, docemente.

Ilustração: MedioTejo.net. 

Retorna a poesia de Juan Ramón Jiménez

 

 MARES

Juan Ramón Jiménez

Siento que el barco mío

ha tropezado, allá en el fondo,

com algo grande.

İY nada

sucede! Nada... Quietud... Olas...

 – Nada sucede; o es que ha sucedido todo,

y estamos ya, tranquilos, en lo novo?

ARES

Sinto que o meu barco

tropeçou, ali no fundo,

com algo grande.

E nada

ocorre! Nada... Quietude... Ondas...

 – Nada ocorre; ou é que tudo ocorreu,

e já estamos, tranquilos, no novo?

Ilustração: https://fineartamerica.com/.

Saturday, April 24, 2021

Uma poesia de Lluís Llach


LA POESIA DELS TEUS ULLS

Lluís Llach

Molt sovint, quan ve la nit,

se m’emporta una fada:

la bellesa dels teus ulls

- negre intens sobre mar blanca -

sempre incerts a la mirada.

I així, gelós, vaig desfent

cançons que m’acostin a ella. Però...

 

La poesia dels teus ulls

sé que no la podré escriure,

cada vers que jo trobés

en el paper se’m moriria

del dolor de no ser prou fidel.

 

Però sé que no m’he de cansar

de buscar aquell llenguatge amic

que m’acosti a la poesia dels teus ulls,

malgrat que no la pugui escriure,

però així lluitaré amb mi,

esperant sempre una albada,

àvid de sorprendre la teva mirada.

 

A POESIA DOS TEUS OLHOS

 

Muitas vezes, quando vem à noite,

me leva uma fada:

a beleza dos teus olhos

- negro intenso no mar branco -

sempre incerto ante o olhar.

E assim, com ciúme, vou desfazendo

canções que me aproximam dela. Porém...

 

A poesia de teus olhos

sei que não posso escrevê-la,

cada verso que poderia fazer

no papel me morreriam

da dor de não lhes ser fiel.

 

Porém, sei que jamais me cansarei

de perseguir  essa linguagem amiga,

que me aproxime da poesia dos teus olhos,

ainda que não possa escrevê-la,

porém, assim mesmo vou lutar comigo

sempre esperando por um amanhecer,

ávido de surpreender o teu olhar.

Ilustração: https://www.rodoinside.com.br/.

Sem Perdão


Impossível é pensar em ti

sem pensar em traição.

Assim mesmo

pego na tua mão

e sigo a teu lado

como se tudo fosse passado

e não é não.

Meu coração magoado

não pode esquecer

das longas noites sem você

e o teu perfume,

que me traz o despertar do desejo,

tem a memória dos beijos

que não foram os meus.

 

A sombra de outro amor tira o brilho dos dias

e escurece meu amor e a poesia.

 

Por mais que te ame é uma agonia.

Escorre, sem querer, da minha boca uma palavra: -Vadia!

Ilustração: https://paroquiadesaojudastadeu.org.br/.

 


Pedro Salinas de volta

 


FE MÍA

Pedro Salinas

No me fío de la rosa

de papel,

tantas veces que la hice

yo con mis manos.

Ni me fío de la otra

rosa verdadera,

hija del sol y sazón,

la prometida del viento.

De ti que nunca te hice,

de ti que nunca te hicieron,

de ti me fío, redondo

seguro azar.

 

MINHA FÉ

Não confio na rosa

de papel,

tantas vezes que a fiz

eu com as minhas mãos.

Não confio na outra

rosa verdadeira,

filha do sol e dos temperos,

a prometida do vento.

De ti que nunca te fiz

de ti que que nunca fizeram,

de ti confio, redondo

seguro, ao sabor da sorte.

Monday, April 19, 2021

E, mais uma vez, Ogden Nash

 


OLD MEN

 Ogden Nash

People expect old men to die,

They do not really mourn old men.

Old men are different. People look

At them with eyes that wonder when…

People watch with unshocked eyes;

But the old men know when an old man dies.


VELHO HOMEM

As pessoas esperam que os velhos morram,

Eles realmente não lamentam os velhos.

Os velhos homens são diferentes. As pessoas olham

Para eles com olhos que buscam saber quando ...

As pessoas observam com olhos sem espanto;

porém os velhos  homens sabem quando um velho homem morre.

Ilustração: Pixabay.

Sunday, April 18, 2021

Uma poesia Pedro Valle

 


MI LIBRO 

Pedro Valle

Lo escribo con el calendario de los árboles

y con los pasos de salvajes inocencias

y con un canto primigenio hecho de semillas y miel

Tiene hojas donde un río cabalga mis andares

y ortografías inventadas en la palabra amor

Tiene entierros madurando nuevos sueños

y lluvias que reclinan en mi sangre sus ventanas

Inconcluso de silencios risas y luciérnagas

lo abro a la vida y de la cintura de los días

nacen versos como pájaros

MEU LIVRO

Escrevo-o com o calendário das árvores

e com os passos das selvagens inocências

e com um canto primal feito de sementes e mel

Tem folhas onde um rio cavalga meus andares

e ortografias inventadas na palavra amor

Tem enterros amadurecendo novos sonhos

e chuvas que reclinam no meu sangue suas janelas

Inconclusos de silêncios, risos e vaga-lumes

abro-o para a vida e na cintura dos dias

versos nascem como pássaros

Ilustração: http://www.luizcarlosbill.com.br/.

 

Thursday, April 15, 2021

Outra poesia de Pedro Salinas

 


AYER TE BESÉ EN LOS LABIOS

Pedro Salinas

Ayer te besé en los labios.

Te besé en los labios. Densos,

rojos. Fue un beso tan corto,

que duró más que un relámpago,

que un milagro, más. El tiempo

después de dártelo

no lo quise para nada ya,

para nada

lo había querido antes.

Se empezó, se acabó en él.

 

Hoy estoy besando un beso;

estoy solo con mis labios.

Los pongo

no en tu boca, no, ya no…

-¿Adónde se me ha escapado?-.

Los pongo

en el beso que te di

ayer, en las bocas juntas

del beso que se besaron.

Y dura este beso más

que el silencio, que la luz.

Porque ya no es una carne

ni una boca lo que beso,

que se escapa, que me huye.

No.

Te estoy besando más lejos.

 

ONTEM TE BEIJEI NOS LÁBIOS

 

Ontem te beijei nos lábios.

Te beijei nos lábios. Densos

vermelhos. Foi um beijo tão rápido

que durou mais que um relâmpago,

que um milagre, mais. O tempo

de dá-lo

não o quis para nada já,

para nada querido antes.

Começou e se acabou nele.

 

Hoje estou beijando um beijo;

estou só com os meus lábios.

Os ponho

não em tua boca, não, já não...

Aonde me hão escapado?

Os ponho

no beijo que te dei

ontem, nas bocas juntas

do beijo que se beijaram.

E dura este beijo mais

que o silêncio, que a luz.

Porque já não és uma carne

nem uma boca o que beijo,

que se escapa, que me foge.

Não.

Te estou beijando mais longe.

Ilustração: https://www.hypeness.com.br/.