Friday, June 30, 2017

A DOCE BATALHA




Há que se buscar o amor com a paixão possível
E o impossível querer, que faz da espada do guerreiro,
Quando enfim encontra a carne,
O cerne da realidade, sendo sonho inteiro,
E o fim de uma luta de afeto e de ternura
Que une em comunhão duas criaturas.

Há que se fazer do momento
O tecido real do fazimento dos sonhos
E avançar sobre o corpo da amada
Com uma volúpia insuspeitada,
Como se a batalha fosse favas contadas,
Mesmo sabendo que o combate
Será longo, demorado, pontuado
De idas e vindas, de choros e ais.

Há que se passear por seu corpo
Como quem navega por águas mansas
Com a certeza de que se enfrentará tempestades
E com a convicção de que só se colhe a flor
Com um feroz combate e intenso amor
E que, ainda que vitorioso e inebriado
Com a conquista do forte
Nada está garantido, exceto uma sensação
De gozo, cansaço e morte,
De querer muito mais.

Descoberto o poço do prazer,
A vida parece reviver
Quando tudo volta a se colorir,
O mundo sorrir
E se descobre, surpreso,
Que o amor é esta corrente invisível
Que nos deixa preso
Que nos faz sonhar
E andar, suspenso no ar,
A partir do momento em que se vê
Que sem o outro, sem o bem querer
Nunca mais se terá paz
E se quer sempre mais, e mais e mais...


Ilustração: AMOR X PAIXÃO ♥ uma batalha eterna. 

UMA POESIA DE MAURICIO MOLINA

LOS GATOS                                                               
Mauricio Molina

Seréis como ángeles sin alas
especies y no cuerpos solitarios
Desde dioses persas
hasta siluetas en el fuego
que saltan entre los focos de los autos

Llorando entre toruturas
pagando el pecado de ser hermosos

Habría deseado que volvierais a ser brujas
compartir con vosotras
vino y lecho.

OS GATOS

Sereis como anjos sem asas
espécies e não corpos solitários
Desde deuses persas
até silhuetas em fogo
que saltam entre os faróis dos carros

Chorando entre torturas
pagando o pecado de serem formosos

Havia desejado que voltassem a ser bruxas
para compartilhar com elas
o vinho e o leito.


Ilustração: Aventuras na História. 

UMA POESIA DE DINA POSADA


PLEGARIA AL ORGASMO

Dina Posada

Ajeno a mis pensamientos
huiste a un casto silencio

Hoy
que sedienta mi sangre te busca
ni a golpes ni a ruegos
te insinúas

enajenado prosigues
riguroso y oprimido y largamente oscuro
como pasillo de convento desolado

ángel de dura delicia
apático orgasmo rebelde
erizado temblor
pólvora vulnerable

regresa a mí
y aniquílame


ORAÇÃO AO ORGASMO

Alheio aos meus pensamentos
fugiste para um casto silêncio

Hoje
que sedento meu sangue te busca
nem a golpes nem a rogos
te insinuas

alienado prossegues
rigoroso e oprimido e profundamente escuro
como um corredor desolado de convento

Tu
anjo de delícia
apático orgasmo rebelde
tremor ouriçado
pólvora vulnerável

volta pra mim
e aniquila-me


Ilustração: Vix. 

Thursday, June 29, 2017

Um poema de Yolanda Pantin



SON TRES LOS ZOPILOTES

Yolanda Pantin

Mira volar los zopilotes son horrendos
Allí están en la cornisa del otro edificio

Mientras sirvo el café las aves negras
se han posado en la antena parabólica diríase atalaya
Cada uno conserva el equilibrio que es suyo y no del Otro
-¿De quién comen?

Ahora vuelan sin moverse no hacen ruido
Son tres los zopilotes ya lo he visto

una madre y dos de sus pequeños
o una pareja de amantes y su sombra


SÃO TRÊS OS URUBUS

Olhe os urubus voando são horríveis
Ali estão na borda de um outro edifício

Enquanto sirvo o café os pássaros pretos
pousaram na antena parabólica parecendo de atalaia
Cada um conservando o equilíbrio que é seu e não do outro
- O que comem?

Agora voam sem mover-se não fazem barulho
São três urubus o que eu vi

uma mãe e dois filhotes

ou um par de amantes e sua sombra

Ilustração: O Globo. 

Uma poesia de Lila Calderón


EL CORAZÓN ES UN LUGAR COMÚN

Lila Calderón

Yo sólo veo un trance de árboles que van pasando
cargados de anuncios
Un violín en ruinas   un barco fantasma
aves descompaginadas en el truco del rumbo
Espejos que no tienen más historia
que la de los personajes que pasan y se reflejan
Una bandada de estatuas a ras de suelo
El planeta en donde nacerá el futuro
y los milagros que me proponga

Veo al verbo caminando inadvertido por las noches
en diversas fuentes de luz
Veo que amanece a cada vuelta del reloj
LA CIUDAD ES UN LUGAR COMÚN

O CORAÇÃO É UM LUGAR COMUM

Eu só vejo um trânsito de árvores que vão passando
carregadas de anúncios
Um violino em ruínas um navio fantasma
aves descompaginadas pássaros no truque de um rumo
Espelhos que não têm mais histórico
que os personagens que passam e se refletem
Um bando de estátuas no nível do solo
O planeta onde o futuro vai nascer
E os milagres que me proponha

Vejo o verbo caminhar despercebido pelas noites
em diversas fontes de luz
Vejo que amanhece a cada volta do relógio

A cidade é um lugar comum

Um poema de Antonio José Ponte

CANCIÓN                                                                                   Antonio José Ponte

Pasé un verano entero escuchando ese disco.
Para que la emoción no se le fuera
lo escuchaba una vez cada día.
Si me quedaba hambriento salía a caminar.

A su manera la luz cantaba esa canción,
la cantó el mar, la dijo
un pájaro.
Lo pensé en un momento:
todo me está pasando para que me enamore.

Luego se fue el verano.
El pájaro
más seco que la rama
no volvió a abrir el pico.

CANÇÃO

Passei um verão inteiro escutando este disco.
Para que a emoção não se fosse
o escutava uma vez por dia.
Se me encontrava faminto saía caminhando.

À sua maneira a luz cantava esta canção,
a cantou o mar, a disse
um passarinho.
Até pensei em um momento:
tudo está acontecendo para que me apaixone.

Logo se foi o verão.
O passarinho
mais seco que um galho

não voltou a abrir o bico. 

Ilustração: Blog do Tanlup.

Wednesday, June 28, 2017

Um poema de Armando Roa Vial



A LA MANERA DE JOHANNES BOBROWSKY

Armando Roa Vial

De par en par nos abrieron las palabras.
Las palabras, con sus lívidos desechos,
saltando de boca en boca,
dejándonos a la intemperie,
cambiándonos de soledad.
Nada cede su sitio a este frío,
a esta vasta sombra, a esta noche interminable
de palabras viciando las cosas.

Lo sonoro nos invade por todas partes.

Ahora que las palabras nos han arrebatado
la dicha de enmudecer.

À MANEIRA DE JOHANNES BOBROWSKY

De par em par se abriram as palavras.
As palavras com seus lívidos detritos,
saltando de boca em boca,
deixando-nos sob a intempérie,
trocando-nos de solidão.
Nada cede lugar a este frio,
à esta vasta sombra, esta noite interminável
de palavras viciando as coisas.

A sonoridade nos invade por todas as partes.

Agora que as palavras nos hão arrebatado
a sorte de emudecer.

Ilustração: Elegia do Amor. 


Dois poeminhas de Jorge Boccanera



ENSAYO BREVE SOBRE LA HONESTIDAD POÉTICA

Jorge Boccanera

No es que los poetas mientan.
Es que los mentirosos
quieren hacer poesia

ENSAIO BREVE SOBRE A HONESTIDADE POÉTICA

Não é que os poetas mintam.
É que os mentirosos
querem fazer poesia.

CARTA DEL SUICIDA

Jorge Boccanera

Lo poco que he vivido,
me ha hecho perder
demasiado tiempo

CARTA DO SUICIDA

O pouco que hei vivido,
me há feito perder

demasiado tempo

Tuesday, June 27, 2017

POEMAS MAL COMPORTADOS

CÉTICA II                                                   
Ora, meu querido amigo,
Há coisas inexplicáveis
Ou que estão além do entendimento.
Muitas nem comento.
Veja, por exemplo,
Está na Bíblia
Que Adão e Eva só tiveram
Caim e Abel
Como explicar, ò céus!,
Que tenham tido filhos?
Nem te falo,
De verdade,
Que é incompreensível
A Santíssima Trindade,
Mas, menos ainda,
Por mais que seja grande o amor,
Hei de entender
Porque devemos comer
A carne e o sangue
Do nosso salvador! 

POEMAS MAL COMPORTADOS

 CÉTICA I                                                                                 
Oh! Não me perguntes
Qual a razão pela qual
Deus é meu personagem
De ficção favorito.
Com certeza,
Pode ser apenas
Porquê, desde que
Me entendo de gente
Nada tenha lido
Quanto mais escrito.

Ilustração: O Templo de Deus-WordPress.com.


Uma poesia de Mary E. Halliburton

THE POET                                                                  
Mary E. Halliburton

Will write
And through images live,
Gaining as he gives.     
..........................
Na artist paints the sky.
A poet moves the clouds.

O POETA

Há de escrever
E dar vida as imagens
E ganhar vida com elas.
...........................
Um artista pinta o céu.

Um poeta move as nuvens. 

Ilustração: Notícias de Itaúna. 

Thursday, June 22, 2017

NAVEGANDO NA INCERTEZA



O futuro, esta incógnita que nos estimula,
pode ter algum desvio imprevisível?
Sei lá!
Faço o que é possível.
Rio do provável.
Aceito o inevitável,
pois, dói menos
e dou os meus acenos
para o acaso
com ambição e gula.
Depois rezo,
e, finalmente, bebo.
Aqui o império do impulso
se impõe sobre o do desejo.
Deixo para depois saborear teu beijo-
um modo de na vida ter recurso-,
um prazer grandioso e previsível
que me salva, em qualquer percurso,
das topadas e da maldade
que não vejo,
enquanto na imaginação solfejo
uma música que não sei bem qual é
que lembra o amor de uma mulher.

Ilustração: "Imensidão" de Roberto Baeta


Wednesday, June 21, 2017

Outra poesia de Lauren Mendinueta


El espacio en su jardín                               

Lauren Mendinueta

Lo visible y lo invisible
están en eterna contradicción,
y esta lucha tiene por fuerza
el poder de matarme lentamente.
El triunfo de lo invisible,
carece de espectáculo,
mientras incluso en la derrota
lo visible gana en notoriedad.
Si la brevedad es el signo de la vida humana,
el tiempo es asunto mío, también.

Y la roca gritó, otra vez

El mundo habla en lengua extranjera,
al tiempo que en él la voluntad se cumple
portadora de exilio y soledad.
Creo en los signos secretos,
en las llamadas sin responder
y en ciertos árboles abandonados
en la orilla equivocada de los caminos.

Si se desnudara lo original,
se reflejaría en la superficie de la tierra
y no en la cara teatral de lo humano,
estoy segura.

En medio de tanto ruido,
el grito ignorado de la roca
dice lo que otra vez preferimos no entender:
si esto es vivir, la muerte es un jardín florido.

O espaço no seu jardim

O visível e o invisível
estão em eterna contradição,
e esta luta tem por força
o poder de me matar lentamente.
O triunfo do invisível,
carece de espetáculo,
enquanto inclusive na derrota
o visível ganha notoriedade.
Se a brevidade é o sinal da vida humana,
o tempo é assunto meu, também.

E a rocha gritou outra vez

O mundo fala em uma língua estrangeira,
ao tempo em que nela a vontade se cumpre
portadora de exílio e solidão.
Creio nos sinais secretos,
nas chamadas sem resposta
e em certas árvores abandonadas
no lado errado dos caminhos.

Se nos despimos do original,
Isto se reflete na superfície da terra
e não no rosto teatral da humanidade,
tenho certeza.

Em meio a tanto barulho,
o grito ignorado da rocha
diz outra vez o que nós preferimos não entender:

Se isso é viver, a morte é um jardim de flores.

Ilustração: Revista Total.