Thursday, March 28, 2019

Mais uma poesia de Pierre Reverdy





MÉMOIRE

Pierre Reverdy

Une minute à peine
Et je suis revenu
De tout ce qui passait je n’ai rien retenu
Un point
Le ciel grandi
Et au dernier moment
La lanterne qui passe
Le pas que l’on entend
Quelqu’un s’arrête entre tout ce qui marche
On laisse aller le monde
Et ce qu’il y a dedans
Les lumières qui dansent
Et l’ombre qui s’étend
Il y a plus d’espace
En regardant devant
Une cage où bondit un animal vivant
La poitrine et les bras faisaient le même geste
Une femme riait
En renversant la tête
Et celui qui venait nous avait confondus
Nous étions tous les trois sans nous connaître
Et nous formions déjà
Un monde plein d’espoir

MEMÓRIA 

Só um minuto
E voltarei
De tudo o que passou nada retive
Um ponto
O céu se expandiu,
E, no último momento,
A lanterna que passa
O passo que se escuta
Alguém se detém entre tudo o que passa
Deixa ir o mundo
E o que tem dentro
As luzes que dançam
E a sombra que se estende
Há mais espaço
Olhando adiante
Uma jaula de onde salta um animal vivo
O peito e os braços fizeram o mesmo gesto
Uma mulher riu
girando a cabeça
E aquele que vinha nos havia confundido
Estávamos os três sem nos conhecermos
E já formávamos
Um mundo cheio de esperança

Ilustração: SeikyoPost.

Uma poesia de Eugenio Montale


POEMA Nº 65                                                       
Eugenio Montale

Porterai com te l'ultima ventata
di poesia; poi una nube gonfia
di presagi funesti oscurerà
la luce che ci fu concessa.
Non fosti un semplice bagliore,
giungesti inaspettata, voce di salvazione.
Un suono limpido emettono
i cristalli quando il vento
li sfiora, il chiarore li fa splendere
come incandescenti arcobaleni
che illuminano d'attorno.
Intorno il mondo scolora.
  
POEMA Nº 65

Levarás contigo o meu último sopro
de poesia; depois uma nuvem cheia
de presságios trágicos escurecerá
a luz que nos foi concedida.
Não fostes um simples brilho,
a selva inesperada, a voz de salvação.
Um som límpido de cristais
emitido pelo vento
toca-os e faz a luz brilhar
como incandescente arco-íris,
que iluminam em torno.
Em torno do mundo descolorido.

Ilustração: fabiana Queiroga.


Mais uma poesia de Manuel González Navarrete




BALANCE

  Manuel González Navarrete

...bien mirado,
no sé por qué me agrada la vida,
ilusión que yace en un bolso ajeno,
donde la muerte tira de mis cabellos.
Quizá por eso no me detengo,
quien echa raíces deja su pecho abierto.

Yo, que de tanto tener nada tengo,
miro mis manos,
mi rostro claro y el techo
donde habitan una mujer y su pueblo.
Una cama tengo también
(bueno, es un decir),
en ella fornico, leo y,
de cuando en cuando,
me amenazan los recuerdos.

EQUILÍBRIO

... bem olhado
não sei porque me agrada a vida
a ilusão que se acha no bolso alheio,
onde a morte tira de meus cabelos.
Talvez seja por isso não me detenho
quem cria raízes deixa o peito aberto.

Eu, que de tanto ter nada tenho,
olho para as minhas mãos
meu rosto claro e o teto
onde habitam uma mulher e seu povo.
Uma cama também tenho
(bem, é um ditado),
nela fornico, leio eu e,
de quando em quando,
as memórias me ameaçam.

Ilustração: José Roberto Marques.

Outra poesia de Luis Fernando Moran



Epilogo del monologo (lealo solo en una noche fria y con una 
veladora frente al espejo )
      
Luis Fernando Moran

Quien se quedara en la penumbra de tu vida ? 
cuando decida largarme por la puerta de servicio de 
tu alma  quien sera la llamada inconfesable ? 
cuando se pierda para siempre tu numeracion 
quien te quitara el temor de los monstruos bajo tu 
     cama ? 
cuando no este para que veamos despacio que no son 
monstruos sino dragones 
pero no puedo seguir jugando a ser nosotros sin ser 
        yo
 

Epílogo do monólogo (leia-o apenas em uma noite fria e com um vela na frente do espelho)
      
Quem ficará na penumbra de tua vida?
quando decidir largar-me pela porta de serviço de
tua alma, quem será a chamada inconfessável?
quando se perda para sempre tua numeração
quem tirará o medo de monstros debaixo de tua
      cama?
quando não esteja para vermos devagar que eles não são
monstros, sim dragões,
porém, não posso seguir julgando sermos nós sem ser
         eu

Ilustração: Sonhos e devaneios.


Wednesday, March 27, 2019

Outra poesia de Raymond A. Foss


SIMPLE LESSONS         
Raymond A. Foss

Pure distillation
Living words
informing our understanding
Human existence

Reclaiming the relationship
lost at the fall and each failing of fealty
Purity of faith
Agape love

Living the law
as Jesus fulfilled
One God
Abiding love.

SIMPLES LIÇÕES

Destilação pura.
As palavras vivas
informando nossa compreensão
da existência humana

Recuperando o relacionamento
perdido no outono e cada falha de fidelidade.
Pureza da fé.
Amor ágape.

Vivendo a lei
como Jesus cumpriu.
Um Deus
Permanente de  amor.

Ilustração: www.lyonengenharia.com.br

TRANSFORMAÇÃO


O corpo não parece corpo no mar de corpos.            
De repente, porém, o corpo se anima,
a partir de um movimento do rosto.
Ao olhar para cima, e ver os prédios,
desvia toda a atenção da multidão,
das pessoas caminhando na rua,
e o mover os braços, de um lado para o outro,
na ação de andar, faz tudo mudar.
E, quando se aproximas, avulta
a graça, o passo leve, a beleza
da mulher que, com um sorriso,
dá linhas ao impreciso,
transforma o cimento dos edifícios
em base para os jardins em flor;
os vidros em espelhos de formas e cores. 
E, sem palavras, num dialogo mudo,
como uma feiticeira que mimetiza tudo,
os teus olhos profundos me falam de amor.


Ilustração: Saia do lugar.

Tuesday, March 26, 2019

Uma poesia de Goliarda Sapienza




Goliarda Sapienza 

È compiuto. È concluso. È terminato.
È consumato l’incendio. S’è fermato.
S’è chiuso il cerchio pietrificato.
Il tempo s’è fermato. È consumato
il delitto. S’è bruciato
il ricordo. L’ansia è cessata.
Una coltre di lava ha sigillato
ogni cranio ogni orbita svuotata.
Ogni bocca nel grido ha sigillato.
S’è chiuso il cerchio. Niente osa varcare
il silenzio di lava. Le formiche
girano intorno al rogo spento impazzite.


Está completado. Concluído. Terminado.
Consumado o incêndio. Está findo.
Está fechado o círculo petrificado.
O tempo está findo. Consumado
o delito. Queimou-se
a recordação. A ânsia cessou.
Um manto de lava fez de sigilo
todo crânio toda órbita esvaziada.
Toda boca no grito fez sigilo.
O círculo está completo. Nada atreve-se a furar
o silêncio de lava. As formigas
giram em torno do fogo em extinção impacientes.

Uma poesia de Raymond A. Foss


A SINGLE BIRD          
Raymond A. Foss

An early morning drive
over the Merrimack
dark water from a lot of rain
a lone cormorant
down below the bridge above the dam
sending circles echoing out from its moving
a small creature it seemed from above
in the middle of the boiling water
stirred and darkened
by another storm

UM PÁSSARO ÚNICO

Um passeio matinal
sobre o Merrimack
de água escura por causa de muita chuva
um mergulhão solitário
abaixo da ponte sobre a barragem
criando círculos de ecos no seu movimento
uma pequena criatura que parecia de cima
estar no meio da água fervendo
agitada e escurecida
por outra tempestade

Ilustração: Pixabay.

Monday, March 25, 2019

Mais uma poesia de Olga Orozco


La Realidad y el Deseo                                 
A Luis Cernuda

Olga Orozco

La realidad, sí, la realidad,
ese relámpago de lo invisible
que revela en nosotros la soledad de Dios.

Es este cielo que huye.
Es este territorio engalanado por las burbujas de la muerte.
Es esta larga mesa a la deriva
donde los comensales persisten ataviados por el prestigio
de no estar.
A cada cual su copa
para medir el vino que se acaba donde empieza la sed.
Y cada cual su plato
para encerrar el hambre que se extingue sin saciarse jamás.
Y cada dos la división del pan:
el milagro al revés, la comunión tan sólo en lo imposible.
Y en medio del amor,
entre uno y otro cuerpo la caída,
algo que se asemeja al latido sombrío de unas alas
que vuelven desde la eternidad,
al pulso del adiós debajo de la tierra.

La realidad, sí, la realidad:
un sello de clausura sobre todas las puertas del deseo.

A REALIDADE E O DESEJO

A Luis Cernuda

A realidade, sim, a realidade
esse relâmpago do invisível
que revela em nós, outros, a solidão de Deus.

É este céu que foge.
É este território enfeitado pelas borbulhas da morte.
É esta larga mesa à deriva
onde os comensais continuam paramentados pelo prestígio
de não estar.
A cada qual sua taça
para medir o vinho que se acaba onde começa a sede.
E a cada qual seu prato
para acabar com a fome que não se extingue sem saciar-se jamais.
E a cada dois a divisão do pão:
o milagre ao contrário, a comunhão tão somente no impossível.
E em meio ao amor,
entre um e outro corpo, a queda,
algo que se assemelha à batida sombria de umas asas
que voltam da eternidade,
ao toque do adeus debaixo da terra.

A realidade, sim, a realidade:
um selo de clausura sobre todas as portas de desejo.

Ilustração: Cachimbo de Água.

Uma poesia de Rosa Chacel


Los marineros   
           
Para Luis e Stanley

Rosa Chacel

Ellos son los que viven sin nacer a la tierra:
no les sigáis con vuestros ojos,
vuestra mirada dura, nutrida de firmezas,
cae a sus pies como impotente llanto.

Ellos son los que viven en el líquido olvido,
oyendo sólo el corazón materno que les mece,
el pulso de la calma o la borrasca
como el misterio o canto de un ámbito entrañable.

OS MARINHEIROS

Para Luis e Stanley

Eles são os que vivem sem nascer na terra:
não os siga com os teus olhos,
teu olhar duro, nutrido de firmezas,
cai a seus pés como impotente pranto.

Eles são os que vivem no esquecimento líquido,
ouvindo apenas o coração materno que os balança,
o pulso da calma ou a tempestade
como o mistério ou a música de um sentido cativante.

Ilustração: Conexão 351.


Friday, March 22, 2019

Uma poesia de Marisa Martínez Pérsico


I. La espera                                                  

Marisa Martínez Pérsico

No suele diluviar en mi desierto.
Si sucede,
tan violenta es el agua
que o te escapas
debajo de una piedra como una
lagartija, o te conviertes
en boca
de la lluvia.

La gente dice “qué mal tiempo”
aquí,
cuando llovizna.
Yo guardo luto, elevo
plegarias y canciones
de tormenta.
Pero tú eres
una gota de color tan densa
que volcándote en un lago pintarías
su cauce
por completo.

No me cansa esperar.

Yo siempre fui una boca de la lluvia,
también en el desierto.

I.                 A ESPERA

Não costuma chover no meu deserto.
Se isto acontece,
tão violenta é a água
o que o tu escapas
debaixo de uma pedra como um
lagarto, ou te convertes
em boca
da chuva.

As pessoas dizem "que mau tempo"
aqui
quando chuvisca.
Eu guardo, elevo
orações e músicas
de tempestade.
Porém, tu  és
uma gota de cor tão densa
que te virando um lago pintarias
seu canal
por completo.

Não me cansa esperar.

Eu sempre fui uma boca de chuva
também no deserto.

Ilustração: Igreja Ágape.


Poemas de Sonia Bueno



 


Sonia Bueno

labios cerrados. el rostro luce una costura-enhebrada a otra
costura en el envés del rostro :decir es escalarme por los nudos
de la hebra —tensada en la estrechura de los labios
*
soy el nudo de una hebra. un fragmento. soy el fragmento de
una hebra. lo dicho. un nudo
 *
una aguja de muchos ojos —cose con la fibra que me falta.
mi voz —un ovillo. siniestro es el calor
                                                             de la madeja

lábios fechados. o rosto mostra uma costura- segmentada em outra
costura na parte de baixo do rosto: dizer é escalar-me pelos nós
dos fios - tensionados na estreiteza dos lábios
*
sou o nó de um fio. um fragmento. sou o fragmento de
um fio. O dito. um nó
  *
uma agulha com muitos olhos – cose com a fibra o que me falta.
minha voz – um novelo. sinistro é o calor
                                                              da meada