Wednesday, September 28, 2022

XXVII

 


Não te preocupes.

Nunca se sabe o que virá.

O amanhã é a lagarta da esperança,

o talvez da borboleta,

que, com o inesperado, baila e dança

jogando com os dados da ilusão.

Sossega, sossega o teu coração.

Amar

é como uma aposta no otimismo,

como viver na corda bamba:

sempre da queda há o perigo!

Ilustração: Jornal Rascunho. 

(De "Cem Poemas em Cem Dias", Maringá, Editora Viseu, 2021). 

Outra poesia de Jenaro Talens

 

Mirando unas fotografias

Jenaro Talens

                                                            A mi hijo Sergio

                                                            Only when the dock stops does time come to life
                                                                             W. Faulkner

De mi inconstancia bajo a ti,
igual que quien se adentra por un prado
con una libertad no del todo insumisa.
Una implacable duración golpea
el rostro de estas horas que no reconozco
porque cruzaron sobre mí sin verte,
sin comprender ni disipanne, sólo
con la desnuda terquedad de un aire desolado.
Te miro caminar hacia mi lejanía. Soy ya viejo
para unos ojos que aún esperan. Vienes,
frágil como la lluvia, entre las cosas
que la rutina implanta entre los dos. Querrías
ser como tú imaginas que yo soy.
Se me han ido los años. Si supieras
con qué avidez me acerco a tu ternura. Fluyo
entre libros extraños y lugares sin sol,
poblando su silencio con palabras
que no me implican ni me dicen, sólo
son un mero refugio
aunque para ti lleguen todavía
envueltas en el aura de un misterio,
de ese misterio absurdo por el que perdí

ver tu niñez creciéndome, hijo mío.


OLHANDO UMAS FOTOGRAFIAS

                                                           Ao meu filho Sérgio

                                                           Somente quando a doca para, o tempo ganha vida

                                                                                    W. Faulkner

Da minha inconstância eu desço até você,

Igual a quem anda por um campo

com uma liberdade não de todo insubmissa.

Uma implacável duração golpeia

o rosto dessas horas que não reconheço

porque cruzaram sobre mim sem te ver,

sem entender ou dissipar-me, só

com a nudez teimosa de um ar desolado.

Te vejo caminhar até distante. Sou já velho

para olhos que ainda esperam. Vens,

frágil como a chuva, entre as coisas

que a rotina implanta entre nós dois. Queria

ser como imaginas que sou.

Os anos se passaram. Se soubesses

com que avidez me aproximo de sua ternura. Fluo

entre livros estranhos e lugares sem sol,

povoando seu silêncio com palavras

que não me implicam ou me dizem, apenas

são só um mero refúgio

ainda que para ti cheguem, todavia

envoltas na aura de um mistério,

Desse mistério absurdo pelo qual deixei

de ver sua infância crescendo em mim, filho meu.

Um poema de Stacey Waite

 


Men Who Think I Am One of Them Speak

 

Stacey Waite

 

She really let herself go.

This story is hard to tell. 
When the men you love
insist a woman hold on
never 
let herself go 
never 
let herself loose
never 
let herself leave
never 
let herself depart
never 
let herself mobilize
never 
let herself imagine
never 
let herself grow
big enough to lift off
the runway 
like a jet
full of fuel.

HOMENS QUE PENSAM QUE SOU UM DELES

                              Ela realmente se deixou levar.

Esta história é dura de contar.

Quando os homens que você ama

insistem em segurar uma mulher

Nunca

deixe-se ir

Nunca

deixe-se perder

Nunca

deixe-se sair

Nunca

deixe-se partir

Nunca

deixe-se mobilizar

Nunca

deixe-se imaginar

Nunca

deixe-se crescer

muito o suficiente para decolar

na pista

como um jato

cheio de combustível.

Ilustração: Universal.org.

Monday, September 26, 2022

De volta Alfonso Larrea


I

Alfonso Larrea

El viento que llama a la puerta,
a esta hora tan rara, es paciente y soberbio.

Los golpes de tos que recibo,
que solitariamente encajo,
sin saliva, sin sed, sin agua,
delatan silencios de sombra
en la luz derramada bajo la puerta.

La luz hebrada de momentos felices
debe encenderse: enciende ya,
rápido, o los monstruos inciertos
de vivir sin tu mano dada
desperezarán, como casas antiguas.

Como si pudiese sentir
la formación seca, ecoica de sus huesos.

I

O vento que bate na porta,

a esta hora tão rara, é paciente e arrogante.

 

Os golpes de tosse que recebo,

que solitariamente encaixo,

sem saliva, sem sede, sem água,

delatam silêncios de sombras

na luz derramada debaixo da porta.

 

A luz encalhada de momentos felizes

deve acender-se: acende já,

rápido, ou os monstros incertos

de viver sem tua mão dada

despertarão, como casas velhas.

 

como se eu pudesse sentir

a formação seca e ecóica de seus ossos.

Ilustração: https://temalguemassistindo.com.br/.

Um poema de Jos Charles

 


A POEM

Jos Charles

It is not normal, a woman says

Never has been, another said

Ordinary, the men women make

In parks, corners of street, rhyme Daily,

I shut the window I pass messages by

The so-called tender seed of birch blows quietly by

It will be crushed in the office of living

and still may take root So crush

what is given The tender too carry guns

Do not forgive the too forgiven

UM POEMA

Não é normal, uma mulher diz

Nunca foi, outra disse

De ordinário, os homens que as mulheres conseguem

Nos parques, esquinas de rua, rimam Diariamente,

Fecho a janela por onde passo mensagens para

A assim chamada tenra semente de bétula que silenciosamente sopra

Será esmagada no escritório do viver

e ainda pode criar raízes.  Então esmague

o que é dado. O afetuoso também carrega armas

Não perdoe o muito perdoado

Ilustração: https://maestrovirtuale.com/quais-sao-as-partes-de-um-poema-principal-estrutura/.

Sunday, September 25, 2022

Uma poesia de Juan Ramón Molina

 


DESPUÉS DE QUE MUERA

Juan Ramón Molina

Tal vez moriré joven… Los amigos
me vestirán de negro,
y entre dolientes y llorosos cirios
de pálidos reflejos,
colocarán con cuidadosas manos
mi ya rígido cuerpo,
poniendo mi cabeza en la almohada,
mis manos sobre el pecho.

DEPOIS QUE EU MORRER

Talvez morrerei jovem....Os amigos

me vestirão de preto,

e entre dolentes e chorosos círios

de pálidos reflexos

colocarão com mãos cuidadosas

meu já rígido corpo,

colocando minha cabeça no travesseiro,

minhas mão sobre o peito.

Ilustração: Kenyon Cox.

Poeminha do desejo de quase nada

 


Quero quase nada na vida…
O teu amor, que me parece sempre pouco;

poder passar uns tempos sem pensar em nada

em Porto Seguro

e ter certeza, que, ao dormir, no escuro

poderei segurar teu corpo,

no verão ou no inverno,

de um modo sempre terno.

E que se não quiser o meu amor

me beije e durma

sonhando que nossa vida será eterna,

como se o impossível pudesse ser realidade.

 


Um poema de Charles Bernstein

 


Why Do You Love the Poem?

Charles Bernstein

For the sentiment. — Then you don’t love the poem you love the sentiment.

For the message. — Then you don’t love the poem you love the message.

For the music. — Then you don’t love the poem you love the music.

For the spirit. — Then you don’t love the poem you love the spirit.

For the intelligence. — Then you don’t love the poem you love the intelligence.

For the courage. — Then you don’t love the poem you love the courage.

For the inspiration. — Then you don’t love the poem you love the inspiration.

For the emotion. — Then you don’t love the poem you love the emotion.

For the vocabulary. — Then you don’t love the poem you love the vocabulary.

For the poet. — Then you don’t love the poem you love the poet.

For the meaning. — Then you don’t love the poem you love the meaning.

For what it stands for. — Then you don’t love the poem you love what it stands for.

For the words. — Then you don’t love the poem you love the words.

For the syntax. — Then you don’t love the poem you love the syntax.

For the politics. — Then you don’t love the poem you love the politics.

For the beauty. — Then you don’t love the poem you love the beauty.

For the outrage. — Then you don’t love the poem you love the outrage.

For the tenderness. — Then you don’t love the poem you love the tenderness.

For the hope. — Then you don’t love the poem you love the hope.

For itself. — Then you love the poem.

POR QUE VOCÊ AMA O POEMA?

Pelo sentimento. -Então você não ama o poema, você ama o sentimento.

Pela a mensagem.- Então você não ama o poema, você ama a mensagem.

Pela música.- Então você não ama o poema, você ama a música.

Para o espírito.- Então você não ama o poema, você ama o espírito.

Pela inteligência.- Então você não ama o poema, você ama a inteligência.

Pela coragem. - Então você não ama o poema, você ama a coragem.

Pela inspiração.- Então você não ama o poema, você ama a inspiração.

Pela emoção. -Então você não ama o poema, você ama a emoção.

Pelo vocabulário. -Então você não ama o poema, você ama o vocabulário.

Pelo poeta.-Então você não ama o poema, você ama o poeta.

Pelo significado. -Então você não ama o poema, você ama o significado.

Pelo que representa. - Então você não ama o poema, você ama o que ele representa.

Pelas palavras.-Então você não ama o poema, você ama as palavras.

Pela a sintaxe. - Então você não ama o poema, você ama a sintaxe.

Pela política.- Então você não ama o poema, você ama a política.

Pela beleza. -Então você não ama o poema, você ama a beleza.

Pela indignação. - Então você não ama o poema, você ama a indignação.

Pela ternura. -Então você não ama o poema, você ama a ternura.

Pela esperança.- Então você não ama o poema, você ama a esperança.

Por si mesmo. -Então você ama o poema.

Ilustração: Medium.

Saturday, September 24, 2022

XXXIX

O luar ilumina vagamente a paisagem

que, parece, na sua quietude mansa,

como a minha vida 

onde nada balança,

nada parece sair do lugar.

Malgrado, tudo, no entanto,

do domínio da escuridão, 

a noite não deixa de ser encantada

quando penso na minha amada

e sinto vontade de cantar. 

Tanto que, de repente,

talvez vindo de um raio de esperança,

a vida ganha brilho e cor

como a lua,

igual na luminosidade sua,

aos olhos doces do meu amor.

Ilustração: Olhares. 

Friday, September 23, 2022

Uma poesia de Alfonso Larrea

 


XXIII

Alfonso Larrea

En todas las ciudades
encuentro el temor que me persigue.
Viene conmigo, lo siento siempre,
está a mi lado como un hermano muerto.
Le puedo contar las pulsaciones
con solo cerrar los ojos.

Se esconde sin aviso ni consciencia.
Se despega de mí cuando miro
un niño que pesca un cangrejo
o una flor naranja que hará sonreír a una mujer.

Sonrío con la sal secándose en los antebrazos;
en todo hay un espejo irreconocible.

Yo quisiera asustarme de verdad,
hacerme tiras de sangre con las uñas,
gritar toda la tristeza de las hojas rotas de un aloe vera.
Entonces el temor corre hacia mí
y me abraza, roto en mil supersticiones
como un lagarto mediterráneo.

Abro los ojos, lo miro, me veo.
Mi corazón es un pensamiento con alas grandes.

XXIII

Em todas as cidades

Encontro o temor que me persegue.

Vem comigo, o sinto sempre,

está ao meu lado como um irmão morto.

Eu posso contar as pulsações

só fechando os olhos.

 

Se esconde sem aviso ou consciência.

Sai de mim quando o olho

um menino pescando um caranguejo

ou uma flor de laranjeira que fará uma mulher sorrir.

 

Sorrio com o sal secando em meus antebraços;

em tudo há um espelho irreconhecível.

 

Eu quisera assustar-me de verdade

fazer tiras de sangue com minhas unhas,

gritar toda a tristeza das folhas quebradas de um aloe vera.

Então o temor corre para mim

e me abraça, quebrado em mil superstições

como um lagarto mediterrâneo.

 

Abro os olhos, o olho, me vejo.

Meu coração é um pensamento com grandes asas

 

 

Tuesday, September 20, 2022

Uma poesia de Jenaro Talens

 


AMANECER EN EL ESCORIAL

              Jenaro Talens       

                                       A Chús Visor       

Vuelve a tu nada,

dijo el sol a la noche

quebrando el alba.

AMANHECER NO ESCORIAL

      Para A Chús Visor

Volta a teu nada,

disse o sol à noite

quebrando o amanhecer.

Ilustração: Pinterest.

PINBALL É VIDA

 


Montegue Redgrave

introduziu inovações leves 

no Bagatelle, 

com uma mola.

Não sabia que faria escola,

que mudaria o mundo,

quanto mais que fliperamas 

chegariam a ser coqueluche.

Ele, porém, se surpreenderia

ao ver como, hoje em dia,

estão sofisticados

com efeitos visuais, digitais

e até falas sintéticas

suas antigas máquinas.

O que não muda

é a necessidade de evitar

que as bolas caiam

e a emoção

que sempre dá

em se jogar.

E é bem melhor,

mexer as palhetas, 

apesar do custo das fichas,

em máquinas de bar!

Ilustração: Epic Game.

Uma poesia de Scott Hightower


LAST PRIVACY

Scott Hightower

Ancient kites, found in deserts

of the Middle East, are constructions

 

aimed at driving and trapping

game animals. They consist

 

of long dry stone walls

converging on a neck

 

which opens into a confined space

used as the killing floor.

 

The last night, unknowingly

I lovingly effervesced the long catalog

 

of my admirations for you into

your ear. Hammer strike

 

anvil. The last morning,

I studied you sitting

 

quietly studying the water

in the toilet bowl. I brushed

 

your hair. Gave you a kiss.

Told you, “I love you.” Minutes later,

 

we walked outside our door the final time,

rode the elevator down together. Crossed

 

the lobby and vestibule, out the front door

onto the wide sidewalk of our building.

 

All the while, unaware of the drive.

Your last moments under a bluebird sky.

 

Your last moment standing

at the end of the fatal kite.

ÚLTIMA INTIMIDADE

Antigas pipas, encontradas em desertos

do Oriente Médio, são construções

 

destinadas a dirigir e prender

animais de jogo. Elas consistem

 

de longos muros de pedra seca

convergindo num pescoço

 

que se abre em um espaço confinado

usado como o chão da matança.

 

Na última noite, sem saber

eu amorosamente efervesci o longo catálogo

 

das minhas admirações por você na

sua orelha. Golpe de martelo

 

bigorna. Na última manhã,

eu estudei você sentado

 

calmamente estudando a água

no vaso sanitário. Eu escovei

 

teu cabelo. Dei-te um beijo.

Disse-te: "Eu te amo". Minutos depois,

 

nós andamos do lado de fora de nossa porta pela última vez,

descemos juntos no elevador. Cruzamos

 

o saguão e o vestíbulo, pela porta da frente

na calçada larga do nosso prédio.

 

Todo o tempo, inconsciente da unidade.

Seus últimos momentos de pássaro sob um céu azul.

 

Seu último momento em pé

no fim da pipa fatal.

Ilustração: Freepike.

Monday, September 19, 2022

Poeminha para a Deusinha branca das geadas

 


Ó minha deusinha abandonada,

minha encantada Despina,

senhora das sombras e das geadas,

que bem sabe que somos nada.

Minha deusinha branquela, desbotada, alva,

como se tivesse sido banhada de alvejante.

Minha deusinha fulgurante,

que me parece amarela, negra, cambiante,

furta-cor, arco-íris,

me socorre neste instante,

em que te pensas esquecida

sem saber que, por ti, rezo toda vida,

no meio desta loucura desinibida

dos homens insensatos

que bradam por motivos fúteis

e brigam como gatos.

Pode ser que minhas preces sejam inúteis,

mas, dai-me, minha deusinha,

teu amor, teus beijos, teus carinhos

muito além dos tempos esquisitos

do coronavírus, que enfrentamos agora.

Sei que não é hora

de dizer do meu amor por ti.

Minha deusinha,

o isolamento

não nos aproxima,

nem no pensamento,

porém, os deuses olham tudo de cima,

e sabem o que não sabemos.

Ah! Minha deusinha,

bebo minha tacinha

de vinho, bruto,

fumo um charuto,

e canto,

por engano um salmo,

como se fosse um canto gregoriano,

desafinado como sempre fui

diante de um mundo que parece rui.

Entretanto, tenho a fé dos teus fiéis,

bem sei,

que, sobreviverei,

para beijar teus pés!!!


Ilustração: 
https://aminoapps.com/.