Thursday, November 13, 2025

Eu Não Daqui Giorgio Caproni

 


BIGLIETTO LASCIATO PRIMA DI NON ANDAR VIA

Giorgio Caproni

Se non dovessi tornare,

sappiate che non sono mai
partito.
Il mio viaggiare
È stato tutto un restare
qua, dove non fui mai.

BILHETE DEIXADO ANTES DE NÃO PARTIR

Se nunca mais voltar,

saiba que nunca

parti.

 

A minha viagem

tem sido toda sobre ficar

aqui, onde nunca estive.


HORA DE ORAR



Se Deus não responde às tuas orações

reflita

quantas coisas tem para cuidar, 

todo o universo que tem para dar atenção. 

Provavelmente 

esquece, justamente, os mais fiéis

por tentar mudar os que lhe desafiam,

as ovelhas desgarradas, 

os que não creem

mesmo no que veem. 

E por que fazer algo ou te escutar

quando basta esperar,

imóvel e silencioso,

que o tempo escorra, 

se torne passado,  

e se cumpra o esperado? 

Faz o que deve: ora e crê.

Deus, é certo, não tem tempo para você 

e deve estar cansado de tanta oração! 

Ilustração: Hora de Orar-Devocional Diário. 

Monday, November 10, 2025

Uma poesia de Luisa de Carvajal y Mendoza

 


AMOR Y AUSÊNCIA

Luisa de Carvajal y Mendoza

¿Cómo vives, sin quien vivir no puedes;
ausente, Silva, el alma, tienes vida;
y el corazón aquesa misma herida
gravemente atraviesa, y no te mueres?

Dime, si eres mortal, o inmortal eres.
¿Hate cortado amor a su medida,
o forjado en sus llamas derretida,
que tanto el natural límite excedes?

Vuelto a tu corazón, cifra divina,
de extremos mil, amor, en que su mano
mostrar quiso destreza peregrina,

y la fragilidad del pecho humano
en firmísima piedra diamantina,
con que quedó hecho alcázar soberano.

AMOR E AUSÊNCIA

Como vives, sem quem viver não podes?

Ausente, chora, a alma, e assim tens vida;

e no teu coração, essa mesma ferida,

perfura-te gravemente, e não morres?

 

Diga-me, és mortal ou imortal?

Acaso o amor te talhou à sua medida,

ou te forjou em suas chamas derretidas,

de modo que ultrapassas tanto o limite natural?

 

Retornou ao teu coração, cifra divina,

de mil extremos, o amor, em que sua mão

quis mostrar a destreza peregrina,

 

e a fragilidade do peito humano

na mais firme pedra diamantina,

com a qual se tornou um forte soberano.

 

Uma sábia apóstrofre de Giorgio Caproni

 


Saggia apostrofe a tutti i caccianti

Giorgio Caproni

Fermi! Tanto
non farete mai centro.
La Bestia che cercate voi,
voi ci siete dentro

SÁBIA APÓSTROFE A TODOS OS CAÇADORES

Pare! Você 

nunca acertará o alvo. 

A Besta que você procura 

a tens dentro de si. 

Ilustração: Flickr. 

FELIZ INOCÊNCIA



A coerência é muito boa

quando se trata de lógica. 

A vida, meu bem, porém é diferente. 

Fico muito contente

que, até que enfim, entendeu

o destino seu. 

O teu amor 

sempre foi meu.

Ilustração: Revista Oeste. 

 

Thursday, October 30, 2025

BICHOS


Há bichos e bichos. 

Bichos amigáveis, inimagináveis, estranhos.

Os que só aparecem nos sonhos. 

Bichos que não podemos pensar 

que não são bichos

por nos iludir e aparentar

uma forma humana. 

Há o bicho feroz, 

o manso, o triste, o da semana. 

Há os bichos pré-históricos, 

os extintos, os de ficção. 

Há os bichos invisíveis 

que os olhos não veem não. 

Há os bichos terríveis 

como dizem ser o dragão 

e bichinhos fiéis 

como a cachorrinha da Rute, 

que vive aos seus pés. 

Ilustração: Bicho de Antônio Bandeira. 

Outra poesia de Alejandra Arroyo

DOS GATOS  

Alejandra Arroyo

en el edificio de enfrente
hay dos gatos asomados a la ventana
nos preocupa la posibilidad
de que se caigan
en el supermercado de al lado
hay una señora que deja dos artículos
nos preocupa la posibilidad
de que no se haya equivocado

Ilustração: Pinterest. 


Uma nova poesia de Giorgio Caproni

 


ALBA

Giorgio Caproni

Amore mio, nei vapori d’un bar
all’alba, amore mio che inverno
lungo e che brivido attenderti! Qua
dove il marmo nel sangue è gelo, e sa
di rinfresco anche l’occhio, ora nell’ermo
rumore oltre la brina io quale tram
odo, che apre e richiude in eterno
le deserte sue porte? … Amore, io ho fermo
il polso: e se il bicchiere entro il fragore
sottile ha un tremitìo tra i denti, è forse
di tali ruote un’eco. Ma tu, amore,
non dormi, ora che in vece la tua già il sole
sgorga, non dirmi che da quelle porte
qui, col tuo passo, già attendo la morte.

AURORA

Meu amor, nos vapores de um bar

de madrugada, meu amor, que inverno

muito tempo e que emoção esperar! Aqui

onde a bola de gude no sangue é gelo, e sabe

o olho, agora no eremita, também se refresca

barulho além da geada eu que bonde

eu ouço, que abre e fecha para sempre

suas portas desertas? … Amor, eu parei

o pulso: e se o vidro dentro do acidente

magro tem um tremor nos dentes, talvez

um eco dessas rodas. Mas você, amor,

você não dorme, agora que no lugar do seu o sol já está brilhando

flui, não me diga que vem daquelas portas

aqui, com o seu passo, já aguardo a morte.

Ilustração: Adventure Club.

 

Wednesday, October 29, 2025

Modo de Ser

 


No Dia Nacional da Poesia

não saberei explicar,

nem por magia, 

esta minha insistência,

inútil persistência,  

em escrever poesias. 

Deve ser  para me sentir

lúcido ou vivo-

se bem que é um modo de ser fugitivo

da realidade. 

Mas, penso de verdade

que faz parte do meu ser. 

Sem poesia nem no espelho

me consigo ver.  

Ilustração: Editora Frutificando. 

Uma poesia de Alejandra Arroyo



 LA IDEOLOGIA 

Alejandra Arroyo

a veces no sé por qué escribo poemas

un poemario es la consecución de un idiolecto

el contenido ficción, las palabras escogidas la ideología

que sostiene

mis manos

esta noche

IDEOLOGIA

Às vezes não sei por que escrevo poemas.

Um livro de poemas é a consecução de um idioleto.

O conteúdo é ficção, as palavras são escolhidas, a ideologia que sustém
minhas mãos
esta noite.

O Sonho Familiar de Paul Verlaine

 


MON RÊVE FAMILIER

Paul Verlaine

Je fais souvent ce rêve étrange et pénétrant
D’une femme inconnue, et que j’aime, et qui m’aime,
Et qui n’est, chaque fois, ni tout à fait la même
Ni tout à fait une autre, et m’aime et me comprend.

Car elle me comprend, et mon coeur transparent
Pour elle seule, hélas! cesse d’être un problème
Pour elle seule, et les moiteurs de mon front blême,
Elle seule les sait rafraîchir, en pleurant.

Est-elle brune, blonde ou rousse? Je l’ignore.
Son nom? Je me souviens qu’il est doux et sonore,
Comme ceux des aimés que la vie exila.

Son regard est pareil au regard des statues,
Et, pour sa voix, lointaine, et calme, et grave, elle a
L’inflexion des voix chères qui se sont tues.

MEU SONHO FAMILIAR
Eu tenho frequentemente este sonho estranho e inquietante

Com uma mulher desconhecida, a quem amo e me ama,

E que, a cada vez, não é uma única mulher

Nem outra, de fato, e me compreende e sente.

Pois ela me compreende, e meu coração transparente

Só por ela, ai de mim!, deixa de ser um problema

Só por ela, e o orvalho em minha testa pálida,

Só ela sabe transformar em frescura envolvente.

Ela é morena, loira ou ruiva? Eu ignoro.

Seu nome? Lembro-me que é doce e sonoro,

Como das pessoas amadas que a vida levou para o além.

Seu olhar é como o olhar de estátuas,

E sua voz longínqua, e calma, e grave, tem
Certas inflexões emudecidas de vozes amigas.

Ilustração: Dreamstime.

Uma Canção na Cabeça


Não me aborreça!

Uma canção na cabeça

insiste em ficar grudada

como se fosse uma toada

que não se afasta por nada. 

Uma canção na cabeça

ecoa de forma infinda, 

ora triste, ora linda, 

mas num ritmo constante 

sem parar, indo adiante.

Uma canção na cabeça

não permite que me esqueça 

que a vida como o som 

vive subindo de tom 

até mesmo assim a esmo

feito uma canção na cabeça

que tantas coisas me causa, 

seja efeito ou prejuízo 

e me perturba o juízo.   

Ilustração: Uma Música na Mente: Causas, Efeitos, Prejuízos.

Friday, October 24, 2025

Uma poesia de Manuel Mata

JUNTOS

Manuel Mata

Todas las horas que pasamos juntos se han
convertido en apenas un
milímetro de mi cerebro pero
por ese milímetro acaba pasando
toda mi sangre.

JUNTOS
Todas as horas que passamos junto se hão
convertido em apenas um
milímetro de meu cérebro, porém
por esse milímetro acaba passando
todo o meu sangue. 
Ilustração: Palavra de amor, Palavra. 

Monday, October 20, 2025

Não Aprendi a Dizer Adeus

 


Talvez seja por sentir 

que o amor seja múltiplo e divisível.

Talvez a idade nos torne mais sensível 

ou nosso sonho não seja possível. 

Talvez seja somente por ser o fim

de um ciclo de amor e de felicidade

ou por serem as lágrimas 

o caminho da verdade. 

Talvez seja somente 

o fato de partir e a tristeza  

que, com certeza, vou sentir. 

O ter de optar

pela realidade

contra sua própria vontade. 

Talvez por serem as belas canções 

e os maiores amores 

frutos da inspiração em dores,

mesmo sabendo do poeta que, em mim, existe

não consigo sentir neste dia

nenhum fiapo de poesia. 

Dizer adeus é sempre muito triste. 

Uma poesia de José Eugenio Sanchez

 


SI NO ES CON TU PRESENCIA

(José Eugenio Sánchez)

esa canción se toma mi vida de un sólo trago

esa canción me detiene en los muelles de tus piernas

esa canción

es una esponja en tu mirada y me lleva

de tu sombra a tu bahía

esa canción

es una copa de nocturno tinto

y tengo sed de luz

cruda de estrelas

SE NÃO É COM A TUA PRESENÇA

essa canção engole minha vida de um só trago

essa canção me detém nas molas das tuas pernas

essa canção

é uma esponja no teu olhar e me leva

da tua sombra para a tua baía

essa canção

é uma taça noturna de vinho

e eu tenho sede da luz

crua das estrelas

Ilustração: Soundcloud.

Sunday, October 19, 2025

Outra poesia de Beatriz de La Vega

 


Beatriz de La Vega

Algunas noches cuando todos duermen
me escapo en silencio al monte
a llorarle a la luna.

Porque de día una madre es invencible
y no debe andar aullando por las esquinas.

Otras, sin embargo, salto por los tejados
con el arco y las flechas
buscando enemigos escondidos y batallas.

Alguien para salvar.
A cualquiera menos a una misma.

Algumas noites, quando todos dormem,

eu escapo em silêncio para ao monte

para chorar para a lua.

Porque de dia uma mãe é invencível

e não deveria andar uivando pelas esquinas.

Outras vezes, sem embargo, salto pelos telhados

com o arco e as flechas

buscando inimigos escondidos e batalhas.

Alguém para salvar.

Qualquer um, menos a mim mesmo.