Friday, June 30, 2023

Canto de solidariedade



Que a noite pareça mágica

com o manto de luz da lua

estendido sobre a cidade é incontestável. 

A beleza do mundo

não se mede com a minha solidão 

nem se importa com minha saudade

ou a distância que se abate

sobre o meu coração. 

Chora, talvez, por sentir 

a tristeza humana.

Chove, quem sabe,

por ser a natureza solidária ao amor. 

Ilustração: Pinterest. 

Yes, Amy Lowell

 


THE GARDEN BY MOONLIGTH

Amy Lowell

A black cat among roses,

Phlox, lilac-misted under a first-quarter moon,

The sweet smells of heliotrope and night-scented stock.

The garden is very still,  

It is dazed with moonlight,

Contented with perfume,

Dreaming the opium dreams of its folded poppies.

Firefly lights open and vanish  

High as the tip buds of the golden glow

Low as the sweet alyssum flowers at my feet.

Moon-shimmer on leaves and trellises,

Moon-spikes shafting through the snow ball bush.  

Only the little faces of the ladies’ delight are alert and staring,

Only the cat, padding between the roses,

Shakes a branch and breaks the chequered pattern

As water is broken by the falling of a leaf.

Then you come,

And you are quiet like the garden,

And white like the alyssum flowers,  

And beautiful as the silent sparks of the fireflies.

Ah, Beloved, do you see those orange lilies?

They knew my mother,

But who belonging to me will they know

When I am gone.

 

UM JARDIM AO LUAR

Um gato preto entre rosas,

Phlox, com névoa lilás sob uma lua minguante,

Os cheiros doces de heliotrópio e ações perfumadas à noite.

O jardim está muito quieto,

É ofuscado pelo luar,

Contentado com o perfume,

Sonhando com o ópio com suas papoulas dobradas.

As luzes do vaga-lume brilham e desaparecem

Alto como os botões de ponta do brilho dourado

Baixa como as doces flores de mel aos meus pés.

Brilho da lua sobre folhas e treliças,

Espinhos lunares atravessando o arbusto de bolas de neve.

Apenas os rostinhos do deleite das damas estão alertas e olhando fixamente,

Só o gato, andando entre as rosas,

Sacode um galho e quebra o padrão quadriculado

Como a água é quebrada pela queda de uma folha.

Então você come

E você fica quieto como o jardim,

E brancas como as flores de mel,

E lindo como as faíscas silenciosas dos vaga-lumes.

Ah, amado, você vê aqueles lírios laranja?

Eles conheceram minha mãe,

Mas quem me pertence eles irão saber

Quando eu me for.

Ilustração: I Love Flores.

Sim, Claribel Alegría

 


DÍA DE LLUVIA

Claribel Alegría

Nunca más esta lluvia

ni esa mancha de luz

en el peñasco

ni el borde

de esa nube

ni tu inmóvil sonrisa

fugitiva.

Nunca más este instante

que ya me dice adiós

desde tus ojos.

DIA DE CHUVA

Nunca mais esta chuva

nem essa mancha de luz

no penhasco

nem nas bordas

dessa nuvem

nem teu sorriso imóvel

fugitivo.

Nunca mais este instante

que já me diz adeus

desde teus olhos.

Ilustração: Spotify.

Uma poesia de Juan López Maldonado

 


AL AMOR

Juan López Maldonado

¡Ay amor,

perjuro, falso, traidor!

Enemigo

de todo lo que no es mal:

desleal

al que tiene ley contigo

Falso amigo

al que te das por mayor,

¡Ay amor,

perjuro, falso, traidor!

Tus daños

nos dan claro a entender

que un placer

es pesar de cien mil años,

y en mis daños

esto se prueba mejor,

¡Ay amor,

perjuro, falso, traidor!

AO AMOR

Aí amor,

perjuro, falso, traidor!

Inimigo

de tudo que não é mal:

desleal

para o que tem lei contigo

Falso amigo

ao quem te dá por maior,

Aí amor,

perjuro, falso, traidor!

Teus danos

nos dão claro a entender

que um prazer

é o pesar de cem mil anos,

e em meus danos

isto se prova melhor,

Ai amor,

perjuro, falso, traidor!

Ilustração: Spirit Fanfics.

Uma poesia de Cynthia Arrieu King

 


MING THE CLAM  

Cynthia Arrieu King

Quahog two hooves clenched among two hundred brothers.

 

With an awl, someone counted your stairs

leading back to a dynasty:

five hundred years of tide,

near two thousand anvils of Sunshine-

 

and you, fat in the castanet you made,

a home calcium, dedicated room.

If it weren’t for us, you’d be living

calm as a dawn

 

That’s where witnessing you alive-

as gazes tilt away from your lip,

a glint, the flashbulb rings of Saturn

seen through a lens, its ice flying apart

 

there sit the ringst

a still, tilted hat-

here to find out

how to leave things alone

MING O MOLUSCULO

Quahog dois cascos cerrados entre duzentos irmãos.

 

Com um furador, alguém contou suas escadas

levando de volta a uma dinastia:

quinhentos anos de maré,

perto de duas mil bigornas de sol—

 

e tu, gordo na castanhola que fizeste,

uma casa de cálcio, quarto dedicado.

Se não fosse por nós, tu estaria vivendo

calmo como um amanhecer

 

É aí que testemunhar tu vivo-

enquanto os olhares se afastam de teus lábios,

um brilho, os anéis do brilho de Saturno

visto através de uma lente, seu gelo se desfazendo

 

lá está ao menos

um chapéu parado e inclinado-

aqui para descobrir

como deixar as coisas em paz

​Ilustração: Wikipedia.

A Complexidade de um Simples



Ser simples costuma ser complexo.

Agarro-me a ideias que me agarram

Enquanto só me valia saudável, o sexo,

que as conveniências todas barram.


Ultrapasso na mente os grilhões

que, na vida, realmente não ultrapasso.

 meu avanço se traduz em escorregões,

que são sem ritmo, melodia, compasso.


Se eu fosse simples com que alegria

não aceitaria o que me acontecia,

mas minha simplicidade é tão complexa

que, mesmo sem arco, disparo a flecha.


Na verdade sou toda a sabedoria

que, em dez mil anos, foi acumulada.

Sou o antes, a história, a pré-história,

um resumo de tudo que acaba em nada. 

Uma poesia de Elizabeth Acevedo

 


 

IRON

Elizabeth Acevedo

And although I am a poet, I am not the bullet;

I will not heat-search the soft points.

 

I am not the coroner who will graze her hand

over naked knees. Who will swish her fingers

 

in the mouth. Who will flip the body over, her eye a hook

fishing for government-issued lead.

 

I am not the sidewalk, which is unsurprised

as another cheek scrapes harsh against it.

 

             Although I too enjoy soft palms on me;

enjoy when he rests on my body with a hard breath;

                                                                                 I have clasped

this man inside me and released him again and again,

listening to him die thousands of little deaths.

 

What is a good metaphor for a woman who loves in a time like this?

 

I am no scalpel or high thread count sheet. Not a gavel, or hand-painted teacup.

I am neither           nor romanced by the streetlamp nor candlelight;

my hands are not an iron, but look, they’re hot, look

how I place them           in love           on his skin

and am still able to unwrinkle his spine.

FERRO

E embora eu seja poeta, não sou a bala;

Não vou procurar os pontos fracos.

 

Eu não sou o legista que vai arranhar sua mão

Sobre os joelhos nus. Quem vai balançar os dedos

 

na boca. Quem vai virar o corpo, seu olho um gancho

de pesca de chumbo emitido pelo governo.

 

Eu não sou a calçada, que não é surpresa

enquanto outra bochecha raspa duramente contra ela.

 

              Embora eu também goste de palmas macias em mim;

aproveito quando ele repousa sobre meu corpo com uma respiração forte;

                                                                                  eu apertei

este homem dentro de mim e o liberei de novo e de novo,

ouvindo-o morrer milhares de pequenas mortes.

 

Qual é uma boa metáfora para uma mulher que ama em um momento como este?

 

Não sou nenhum bisturi ou lençol de muitos fios. Não um martelo ou xícara de chá pintada à mão.

Não sou nem seduzida pelo poste nem pela luz das velas;

minhas mãos não são de ferro, mas olha, elas são quentes, olha

como as coloco apaixonadas em sua pele

e ainda sou capaz de desenrugar sua espinha.

​Ilustração: Mensagens de Reflexão.

Uma poesia de Ingrid Broschek López

 


UN FUGAZ MOMENTO

Ingrid Broschek López

 

 

Soñar contigo un fugaz momento,
Sentir tu piel respirando en la mía,
Escuchar tus susurros y acallar tus suspiros
Con una caricia y un beso de fuego.
Soñar madrugadas, volver a ser tuya,
Gozar con tu aroma y disfrutar tus osadías,
mantener viva la pasión tan querida,
y aun que hayas partido yo te palpo a mi lado,
te sonrío al oído y te abrazo por siempre..

 

UM FUGAZ MOMENTO

Sonhar contigo por um fugaz momento,

Sentir tua pele respirando na minha

                                   Escutar teus sussurros e silenciar teus suspiros

Com uma carícia e um beijo de fogo.

Sonhar de madrugada, voltar a ser tua,

Gozar do teu aroma e desfrutar das tuas ousadias,

manter viva a paixão tão querida,

e ainda que hajas partido, eu te sinto ao meu lado,

te sorrio e ouço e te abraço para sempre..

Ilustração: https://originalgallery.com/.

Profecia

 


Uma vez mamãe me levou na macumba.

A macumba era de qualidade

e a mãe de santo

me chamou num canto

para profetizar:

-Você vai dirigir muito 

e trabalhar no exterior. 

Fiquei, na hora, muito contente

e, vi que acertou, posteriormente:

-Virei manobrista!!!

Ilustração: Delta Facilities. 

Sunday, June 25, 2023

Um poema de Chia-Lun Chang

 

 

VOTE YOUR WAY TO HELL

Chia-Lun Chang

 

It’s a long and arduous journey.
Starving with numbness.
Tired of mixing kindness and sabotage.
You can’t trust instinct.
After the election, you can’t believe the weather is wrong again.
The sky cheats on your speech.
The process is complicated and precarious.
Disappointed, there’s no word of a sad sneer.
Nothing has changed.

What else do you expect?
This is already a hell, paved by your blood and passion.
You’d rather go back to the womb, it’s warmer.
May other reckless souls be consumed.

Even so, I want everyone to vote.
Vote your way to an alternative hell.
Congratulations!
You’re part of the construction of our living inferno.

Here, keep cracking and burning bones as fuel.
The walls scream for mercy, sounding like your singing voice.
Many innocent young souls are recognized.
Vote! You deserve limbo, not war.
We need to keep walking in the dark, searching for hellfire and passing offspring an improbable spring and a maybe sunrise.

VOTE NO SEU CAMINHO PARA O INFERNO

É uma longa e árdua jornada.

Morrendo de fome com dormência.

Cansado de misturar bondade e sabotagem.

Você não pode confiar no instinto.

Depois da eleição, você não pode acreditar que o tempo está ruim de novo.

O céu engana sua fala.

O processo é complicado e precário.

Desapontado, não há palavras para um triste sorriso de escárnio.

Nada mudou.

 

O que mais você espera?

Isto já é um inferno, pavimentado com seu sangue e paixão.

Você prefere voltar para o útero, é mais quente.

Que outras almas imprudentes sejam consumidas.

Mesmo assim, quero que todos votem.

Vote no seu caminho para um inferno alternativo.

Parabéns!

Você faz parte da construção do nosso inferno vivo.

Aqui, continue quebrando e queimando ossos como combustível.

As paredes gritam por misericórdia, soando como sua voz cantando.

Muitas jovens almas inocentes são reconhecidas.

Vote! Você merece o limbo, não a guerra.

Nós necessitamos continuar caminhando no escuro, buscando o fogo do inferno e passando aos filhos uma primavera improvável e um talvez nascer do sol.

Ilustração: Patriot Software.

Um poema de Miguel Antonio Caro

 


HORA XIII

Miguel Antonio Caro

¡Soñé que de esa vega,

De esa tristeza íntima

Que en tus húmedos ojos

Descubres, Cintia, ah Cintia!

 

Tú las causas secretas

Revelándome ibas,

Y que a tus tibias lágrimas

Juntaba yo las mías;

 

Y que, puesta en mi hombro

Tu sien cándida y tímida,

Liviaban tu pena

Los sones de mi lira.

HORA XIII

Sonhei que dessa vega,

Dessa íntima tristeza

que em teus úmidos olhos

descobres, Cintia, ah Cintia!

 

Ti as causas secretas

Revelando-me que ias,

E tuas tépidas lágrimas

Junta-va eu as minhas;

 

E o que, posta no meu ombro

Teu templo cândido e tímido,

Aliviavam tuas penas

Os sons da minha lira.

Ilustração: All About Vision.

2023

 


Quando uma peça ruim se repete tanto e o teatro continua repleto tenho a sensação de que, em alguma hora, despertarei do pesadelo. Porém, não é assim. O tempo ri de mim, do que penso ser racional e real e, dia após dia, o teatro se repete, cada vez pior, não como farsa ou comédia e sim como uma repetição brutal de que a força, agora armada de tecnologia, impõe esta agonia sem saída. Nada é virtual-como desejaria. Tudo, porém é imagem, inconsistência, e, sem clemência, temos que dizer que se trata de um trabalho genial enquanto debulhamos o milho infindável sem um aí. A opinião, agora, não mais tolerada se torna crime. E temos que ouvir calados que roubar nossa liberdade é a melhor forma de nos proteger. Orwell, que ninguém sabe quem é, nos lembra que em um dia claro e frio pode ter borrões incompreensíveis e que, qualquer ano, pode terminar, ou não. As palavras são o que você quiser.

Ilustração: Companhia das Letras.

Um poema de Mark Nowak

 


FROM “. . . AGAIN”

Mark Nowak

We walked toward the zenith not expecting a new rising sun, but satisfied with the Cheese Whiz, Zebra Cakes, and Zingers at the end of the aisle at Family Dollar. Maybe eat them with Prozac or Zoloft. Later, take in the pine trees rising behind the cinderblock walls of the Dollar Tree. The American alphabet ends like every American factory ends. Zombies wandering around on Zoom. The new zoology. In the Ocean State Job Lot parking lot, I put the words “cheap America lot” into Business Name Generator and got these results: Balaclava America, Zip Cheap, Burb Lot. Nothing much more needs to be said. Maybe there will be more zebras someday. More songs by a reconfigured ZZ Top (you will or will not listen to them on Amazon music). But for now, there are intermezzos, piazzas, and paparazzi for the elites on their mega-yachts, on their spaceship trips into outer space. Meanwhile, the working class orders a pizza delivered by the working class. Zero tolerance for everything and everyone else. Let the Dominoes fall.

A PARTIR DE....NOVAMENTE

Caminhamos em direção ao zênite sem expectativas de um novo sol nascente, porém satisfeitos com queijo cremoso, jujubas e piadas no final do corredor da família Dólar. Talvez comê-los com Prozac ou Zoloft. Depois, aprecie os pinheiros que se erguem atrás das paredes de blocos de concreto da Dollar Tree. O alfabeto americano acaba como toda fábrica americana acaba. Zumbis vagando pelo Zoom. A nova zoologia. No estacionamento da loja de descontos, coloquei as palavras “lote americano barato” no Business Name Generator e obtive estes resultados: Balaclava America, Zip Cheap, Burb Lot. Nada mais necessito dizer. Talvez haja mais zebras algum dia. Mais músicas de um ZZ Top reconfigurado (você vai ouvi-las ou não na Amazon Music). Porém, por enquanto, há intermezzos, piazzas e paparazzi para as elites em seus mega-iates, em suas viagens espaciais ao espaço sideral. Enquanto isso, a classe trabalhadora pede uma pizza entregue pela classe trabalhadora. Tolerância zero para tudo e todos. Deixe os dominós caírem.

Ilustração: Espaço Socialista. 

 

Friday, June 23, 2023

Ó Meu Brasil

 


O Brasil jamais irá à guerra.

É uma sina desta terra

somente fingir que luta,

aceitar a força bruta

e ser eternamente adormecida.

Nada faz o brasileiro

pegar em armas, 

exceto, no carnaval, de brincadeira, 

por nada defender a vida inteira, 

seja seus direitos, seja liberdade, 

sempre, para não brigar, 

aceita que distorçam a verdade. 

Há uma forma simples de explicar:

o cansaço tropical, 

que o faz despertar sempre tarde

e não fazer nada que dê trabalho. 

Assim é normal

que, no seu caso,

cada vez mais o futuro

seja o atraso

e se dançando voltar, na real, 

ao seu passado colonial. 

Agora, com o agravante, 

de que, doravante,  

não poderão mais culpar Portugal. 

Monday, June 19, 2023

Oscar Wilde, pois

 


THE NEW REMORSE

Oscar Wilde

The sin was mine; I did not understand.

        So now is music prisoned in her cave,

        Save where some ebbing desultory wave

Frets with its restless whirls this meagre strand.

And in the withered hollow of this land

        Hath Summer dug herself so deep a grave,

        That hardly can the leaden willow crave

One silver blossom from keen Winter’s hand.

But who is this who cometh by the shore?

(Nay, love, look up and wonder!) Who is this

        Who cometh in dyed garments from the South?

It is thy new-found Lord, and he shall kiss

        The yet unravished roses of thy mouth,

And I shall weep and worship, as before.

O NOVO REMORSO

O pecado foi meu; eu não entendi.

         Então agora é música aprisionada em sua caverna,

         Salva onde alguma onda inconstante vazante

Atrita com seus redemoinhos inquietos este fio magro.

E no vazio seco desta terra

         O verão cavou uma sepultura tão profunda para si mesmo,

         Isto dificilmente pode o salgueiro de chumbo desejar

Uma flor de prata da mão afiada do inverno.

Porém quem é este que vem pela praia?

(Não, amor, olhe para cima e se pergunte!) Quem é este?

         Quem vem em roupas tingidas do sul?

É o teu novo Senhor, e ele deve beijar

         As rosas ainda não violadas da tua boca,

E chorarei e adorarei, como antes.

Ilustração: Psicólogos em São Paulo.