Tuesday, February 27, 2007

UMA POETISA DO EQUADOR

POEMA DE AMOR

Jennie Carrasco Molina

No es cierto que los amores se pierden
en la oscuridad del cielo cibernético
aquí estamos
más unidos que nunca
mientras más nos apegamos
a la pantalla virtual

Así te amo
releyendo tus ojos en cada frase entrecortada
que me llega desde tu ordenador
en cada guiño de colores
que envías por el Chat

Saboreo tus besos de letra Times new roman
y cuando cierro los ojos
imagino el satélite llevándote mi eterno abrazo
de energía eléctrica
de magnetismo y relatividad

Los años no han apagado
nuestro profundo amor de lejos
la fildelidad de nuestros cuerpos
de cibernautas desnudos

Tal vez cuando nos encontremos
las pieles se detengan en un corto circuito
tal vez nuestras voces metálicas
y nuestras miradas de webcam
se quiebren como mercurio
cuyos pedazos tengamos que recoger
para reconstruirnos
humanos, entonces, sí,
y llenarnos de fuego y agua
hombre y mujer de carne y hueso

POEMA DE AMOR

Não é certo que os amores se perdem
na obscuridade do céu que cibernético
aqui estamos
mais unidos que nunca
quanto mais nos apegamos
ao mundo virtual

Assim te amo
relendo os teus olhos em cada frase entrecortada
que me chega de seu computador
em cada mensagem colorida
que me emites pelo bate-papo

Saboreio a teus beijos de letras Roman New Roman
e quando fecho os olhos
imagino o satélite levando-te meu eterno abraço
de energia elétrica
de magnetismo e de relatividade

Os anos não apagaram
o nosso amor profundo amor distante
a fidelidade de nossos corpos
de cibernautas despidos

Talvez quando nos encontrarmos
as peles se detenham num curto-circuito
talvez nossas vozes metálicas
e nossos olhares de webcam
se quebrem como o mercúrio
cujos pedaços devemos recolher
para nos reconstruirmos
como humanos, então, sim,
plenos de fogo e de água
homem e mulher de carne e osso

Monday, February 26, 2007

UM POETA CHILENO DO MÉXICO


ARTE NEURÓTICA

HERNÁN LAVIN CERDA

Abra usted hoy cualquier cartera de cualquier mujer,
y verá en el fondo, en media dei desorden,
un frasco con píldoras para los nervios:
neurotrasentina, Iibrium, melval, etc.

Es así, son estas años, neurótica mía.
Pero el tiempo pasa, el pelo crece ...
Tú sabes que yo -en el fondo- dentro de mi viejo portadocumentos, en medio del desorden, también, no llevo más que pa­labras
que producen en el que Ias toma un efecto muy parecido
al de la neurotrasentina, al dei librium, al dl melval, etc., etc.

Arte Neurótica

Abra qualquer bolsa de qualquer mulher,
e verá no fundo, em meio da desordem,
um frasco de pílulas para os nervos:
neurotrasentina, valium, melval, etc.

É assim, são estes anos, neurótica minha.
Porém o tempo passa, os pelos crescem...
Tu sabes que eu —no fundo— dentro de minha velha carteira,
no meio da desordem, também, não levo mais que palavras
que produzem em quem as ouve um efeito muito parecido
ao da neurotrasentina, ao do valium, ao do melval, etc., etc.

Sunday, February 25, 2007

AINDA BORGES

DE QUE NADA SE SABE
Jorge Luis Borges


La luna ignora que es tranquila y clara
Y ni siquiera sabe que es la luna;
La arena, que es la arena. No habrá una
Cosa que sepa que su forma es rara.
Las piezas de marfil son tan ajenas
Al abstracto ajedrez como la mano
Que las rige. Quizá el destino humano
De breves dichas y de largas penas
Es instrumento de otro. Lo ignoramos;
Darle nombre de Dios no nos ayuda.
Vanos también son el temor, la duda
Y la trunca plegaria que iniciamos.
¿Qué arco habrá arrojado esta saeta que soy?
¿Qué cumbre puede ser la meta?


DE QUE NADA SE SABE

A lua ignora que és tranqüila e clara
E nem sequer sabe que és a lua.
A areia que és areia. Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstrato xadrez como a mão
Que as rege. Talvez o destino humano
De sorte breve e de longas penas
Seja instrumento de outro. Nós ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos ajuda.
Vãos também são o temor, a dúvida
e a briga ou a oração que nós iniciamos.
Que arco terá jogado este seta
que eu sou? Que alvo pode ser o objetivo?

Saturday, February 24, 2007

UM OLHAR PARA O PASSADO


1964

Jorge Luis Borges

I
Ya no es mágico el mundo. Te han dejado.
Ya no compartirás la clara luna
Ni los lentos jardines.
Ya no hay una Luna que no sea espejo del pasado,
Cristal de soledad, sol de agonías.
Adiós las mutuas manos y las cienes
Que acercaba el amor. Hoy solo tienes
La fiel memoria y los desiertos días.
Nadie pierde (repites vanamente)
Sino lo que no tiene y no ha tenido
Nunca, pero no basta ser valiente
Para aprender el arte del olvido.
Un símbolo, una rosa, te desgarra
y te puede matar una guitarra.
II
Ya no seré feliz. Tal vez no importa.
Hay tantas otras cosas en el mundo;
Un instante cualquiera es más profundo
Y diverso que el mar. La vida es corta
Y aunque las horas son tan largas, una
Oscura maravilla nos acecha, la muerte,
ese otro mar, esa otra flecha
Que nos libra del sol y de la luna
Y del amor. La dicha que me diste
Y me quitaste debe ser borrada;
Lo que era todo tiene que ser nada.
Sólo me queda el goce de estar triste,
Esa vana costumbre que me inclina
Al sur, a cierta puerta, a cierta esquina

1964
I
O mundo já não é mágico. Deixaram-te sair.
Já não compartilhas a lua clara
nem os jardins lentos. Já não há
uma lua que não seja espelho do passado,
Cristal da solidão, sol das agonias.
Adeus às mãos e os pares mútuos
que o amor aproximou. Hoje só tens
a fiel memória e os dias desertos.
Ninguém perde (repetes inutilmente)
Senão o que não tem e que tinha tido,
porém não é bastante ser bravo
aprender a arte do esquecimento.
Um símbolo, uma rosa, se desgarra
E te pode matar uma guitarra.
II
Já não serei feliz. Talvez não importa.
Há muitas outras coisas neste mundo;
Um instante qualquer é mais profundo
e diverso do que o mar. A vida é curta
embora as horas sejam assim tão largas,
uma obscura maravilha nos achega,
a morte, esse outro mar, essa outra seta
que nos livra do sol, da lua
e do amor. A felicidade que me destes
e me tomastes deve ser apagada;
O que era tudo não deve ser nada.
Só me resta o gozo de estar triste,
Este vão costume que me inclina
ao sul, para certa porta, para certa esquina.

Thursday, February 22, 2007

INSTANTÂNEOS


SÓ, SOMENTE SÓ


A flor azul solitária
No lago negro
Só tem a companhia
De parcos capins verdes.
Bela flor,
Tens mais sorte do que eu.
Não sentes,
Igual a mim,
Tanta falta de amor!

Wednesday, February 21, 2007

UM POETA CUBANO

UN LARGO LAGARTO VERDE

NICOLÁS GUILLÉN

Por el Mar de las Antillas
(que también Caribe llaman)
batida por olas duras
y ornada de espumas blandas,
bajo el sol que la persigue
y el viento que la rechaza,
cantando a lágrima viva
navega Cuba en su mapa:
un largo lagarto verde,
con ojos de piedra y agua.

Alta corona de azúcar
le tejen agudas cañas;
no por coronada libre,
sí de su corona esclava:
reina del manto hacia fuera,
del manto adentro, vasalla,
triste como la más triste,
navega Cuba en su mapa:
un largo lagarto verde,
con ojos de piedra y agua.

Junto a la orilla del mar,
tú que estás en fija guardia,
fíjate, guardián marino,
en la punta de las lanzas
y en el trueno de las olas
y en el grito de las llamas
y en el lagarto despierto
sacar las uñas del mapa:
un largo lagarto verde,
con ojos de piedra y agua.

UM LARGO LAGARTO VERDE

Pelo Mar das Antilhas
(que também Caribe chamam)
batida por duras ondas
e ornada de espumas brandas,
sob o sol que a persegue,
sob o vento que a rechaça,
cantando em lágrima viva
navega Cuba em seu mapa:
um largo lagarto verde,
com olhos de pedra e água.

Alta coroa de açúcar
lhe tecem esbeltas canas:
não coroada por livre,
mas de sua coroa escrava:
reina do manto para fora,
do manto para dentro, vassala,
tão triste como a mais triste
navega Cuba em seu mapa:
um largo lagarto verde,
com olhos de pedra e água.

Junto as orelhas do mar,
tu que em permanente guarda,
torna-te, guardião marinho,
na fina ponta das lanças
e no trono úmido das ondas
e no crepitar das chamas
e no lagarto desperto
rasgando as unhas do mapa:
um largo lagarto verde,
com olhos de pedra e água.

Tuesday, February 20, 2007

AINDA DAS MARCHAS SEM MÚSICA

AMOR DE PALHAÇO

Já fiz tudo que podia
Prá você voltar pra mim.
Até me vesti
De macaco e de mulher.
O que é que você quer?
O que é que você quer?


Se é me fazer de palhaço
Seu motivo é um fracasso.
Palhaço eu já sou!
Palhaço eu já sou!
Senão não seria o seu amor!

Monday, February 19, 2007

UMA MARCHINHA SEM MÚSICA

PROMISSÓRIA DE CARNAVAL

A verdade é que você brigou comigo
Somente pra brincar o carnaval
Me senti mal
Me senti mal
Um grande amor não se trata assim
Você devia ter pensado um pouco em mim.

Não faz mal não!
Não faz mal não!
Depois que passar toda a ilusão
Você volta pra comer na minha mão.

Não sou vingativo
Eu vou lhe perdoar sim,
Depois de lhe deixar de molho
Por um bom motivo:
Não tenho vocação pra tamborim.

Pode pular!
Pode dançar!
Pode beijar!
Se divirta à vontade
Que não me deve nada
Quem tem com que me pague!

Sunday, February 18, 2007

CARNAVAL, CARNAVAIS

OUTRA MÁSCARA

Nem a máscara é a mesma
Só é o mesmo sorriso encantador,
Porém o carnaval é outro, meu amor.

Vem, vamos pular,
Vamos dançar,
Sorrir, cantar
Que tudo é brincadeira
Mas saudade já não há
Toda que havia
Você me fez gastar
Desd’a última quarta-feira.

Posso até te abraçar
Pra relembrar,
Mas beijar não
Que seu beijo tem um gosto de traição!

Friday, February 16, 2007

DUAS POESIAS DE UM POETA BOLIVIANO


XXV

Homero Carvalho Oliva

Soñé palabras
Que abrían puertas
Desperté con un extraño manojo
Aún estoy buscando las cerraduras


XXV

Sonhei palavras
Que abriam portas
Despertei com um estranho molho de chaves
Ainda estou buscando as fechaduras.


X

Homero Carvalho Oliva


Nadie
Nada
Nunca
Conocía la puerta de entrada
Al jardín interior de la ciudad

No existe
No existe
La puerta no existe

La secreta entrada
Solo era compartida
Por aquellos elegidos
Que se perdían en las calles
Buscándose a sí mismos.

X

Ninguém
Nada
Nunca
Conhecia a porta de entrada
Ao jardim interno da cidade

Não existe
Não existe
A porta não existe

A sagrada porta
Somente era compartilhada
Pelos eleitos
Que se perdiam nas ruas
Buscando a si mesmos.

Thursday, February 15, 2007

AINDA O GRANDE NERUDA

POEMA XV

Pablo Neruda



Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma emerges de las cosas, llena del alma mía. Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.
Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

POEMA XV

Eu gosto quando te calas porque pareces ausente,
e me ouves de longe, e minha voz não te toca.
Parece que os olhos haviam voado
e parece que um beijo te calou a boca.
Como todas as coisas estão cheias de minha alma
Emerges das coisas, completamente cheia da alma minha.
Borboleta do sonho, tu pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.
Eu gosto quando calas e estais como distante.
E estais como se queixando, borboleta em arrulho.
E me olhas de distante, e minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.
Deixa-me que fale também com o teu silêncio
Claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, silenciosa e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão distante e sensível.
Eu gosto quando te calas porque estais como ausente.
Distante e dolorosa como se houvesses morrido.
Uma palavra então, ou um sorriso bastam.
E estou alegre, alegre de que seja assim.

TRAINDO NERUDA

SONETO XXV

Antes de amarte, amor, nada era mío:
vacilé por las calles y las cosas:
nada contaba ni tenía nombre:
el mundo era del aire que esperaba.

Yo conocí salones cenicientos,
túneles habitados por la luna,
hangares crueles que se despedían,
preguntas que insistían en la arena.

Todo estaba vacío, muerto y mudo,
caído, abandonado y decaído,
todo era inalienablemente ajeno,

Todo era de los otros y de nadie,
hasta que tu belleza y tu pobreza
llenaron el otoño de regalos.

Soneto XXV

Antes de te amar, meu amor, nada era meu:
vacilei pelas ruas e pelas coisas:
nada contava nem nome possuía:
o mundo era do ar que esperava.

Eu conheci salões cinzentos,
túneis habitados pela lua,
hangares cruéis que se despediam,
perguntas que insistiam pela areia.

Tudo estava vazio, morto e mudo,
caído, abandonado e decaído,
tudo era inalienavelmente ausente,

Tudo era dos outros e de ninguém,
até que tua beleza e pobreza vem
encher o outono de dádivas e presentes.

Tuesday, February 06, 2007

UMA POETISA DO CHILE

EL INVITADO
María Inés Zaldívar
Siempre habrá un verso de Vallejo flotando en mi tristeza
porque el anciano dolor ciego es el que más duele
el que más sabe
el que más dura.
Monta ágil y cabalga silencioso
tendido sobre tierras y mares, cerros y arenas
aferrado como lapa a siglos y segundos.
No hay retrato, fotografía, mapa ni aviso
luminoso que lo muestre.
Se esconde, se esconde,
siempre se esconde.
Se hace noche en lo oscuro,
se vuelve día al clarear
a medio día es puro sol
se confunde juguetón con el vientecillo de la tarde
canta al oído una canción de cuna mientras salen las estrellas.
Lo comes al desayuno
lo bebes con el agua, también con el vino,
se sienta sobre tus piernas, lo acunas en tu pecho,
te mira de reojo, te aguarda en cada esquina.
Al caer la noche y su cansancio te busca a tientas
y en la cama, se te cuela entre las sábanas gastadas.
Y, sólo a veces, con los ojos cerrados y con suerte,
lo divisas sonriente, lozano y despejado,
a lo lejos, a lo lejos, instalado en la cabecera de tu cuerpo.


O CONVIDADO

Sempre haverá um verso de Vallejo flutuando em minha tristeza
porque a anciã dor cega é a que mais dói
a que mais sabe
a que mais dura.
Monta ágil e cavalga silencioso
Estendido sobre terras e mares, montes e areias
Agarrado como concha aos séculos e aos segundos.
Não há retrato, fotografias, mapa nem aviso
luminoso que o mostre.
Se esconde, se esconde,
Sempre esconde.
Se faz noite no escuro, volta de dia a clarear
ao meio-dia é puro sol
se confunde brincalhão com o ventinho da tarde
canta ao ouvido uma canção do berço quando saem as estrelas.
O comes na ceiazinha
O bebes com água, também com o vinho,
Se senta sobre tuas pernas, o agarras contra teu peito,
Olha-te de soslaio, te aguarda em cada esquina.
Ao cair a noite e sua fadiga te busca as tantas e
na cama, e se estica entre os lençóis gastos.
E, somente às vezes, com os olhos fechados e com sorte,
O encontras sorridente, robusto e despreocupado,
Longe, bem longe, tão distante de ti,
Instalado na cabeceira de teu corpo.

Monday, February 05, 2007

OUTRA VEZ BORGES


Ya no seré feliz

Jorge Luis Borges
I
Ya no es mágico el mundo. Te han dejado.
Ya no compartirás la clara luna
ni los lentos jardines. Ya no hay una luna
que no sea espejo del pasado,

cristal de soledad, sol de agonías.
Adiós las mutuas manos y las sienes
que acercaba el amor. Hoy sólo tienes
la fiel memoria y los desiertos días.

Nadie pierde (repites vanamente)
sino lo que no tiene y no ha tenido
nunca, pero no basta ser valiente

para aprender el arte del olvido.
Un símbolo, una rosa, te desgarra
y te puede matar una guitarra.

II
Ya no seré feliz. Tal vez no importa.
Hay tantas otras cosas en el mundo;
un instante cualquiera es más profundo
y diverso que el mar. La vida es corta

y aunque las horas son tan largas, una
oscura maravilla nos acecha,
la muerte, ese otro mar, esa otra flecha
que nos libra del sol y de la luna


y del amor. La dicha que me diste
y me quitaste debe ser borrada;
lo que era todo tiene que ser nada.


Sólo que me queda el goce de estar triste,
esa vana costumbre que me inclina
al Sur, a cierta puerta, a cierta esquina.

JÁ NÃO SEREI FELIZ

Já não é mágico o mundo. Só fostes deixado.
Já não compartilhas da clara lua
nem dos jardins lentos. Já não há uma lua
que não seja um espelho do passado,

cristal de solidão, sol das agonias.
Adeus das mútuas mãos e as temperas
que cercavam o amor. Hoje só guardas
a fiel memória e o deserto dos dias.

Nada se perde (repetes vãmente)
Senão o que não tem e não há tido,
porém não é bastante ser valente

para aprender a arte do esquecimento.
Um símbolo, uma rosa, te desgarra
e tu podes matar uma guitarra.

II

Já não serei feliz. Talvez não importa.
Há muitas outras coisas neste mundo;
um momento qualquer é mais profundo
e diverso do que o mar. A vida é curta

e ainda que as horas sejam tão largas, uma,
escura maravilha nos busca tão certa,
a morte, este outro mar, esta outra seta
que nos livra do sol e a lua, em suma,

e do amor. A felicidade que me destes
e tomastes deve ser apagada;
o que era tudo tem que ser nada.

Só o que me resta é o gozo de estar triste,
este costume vão que me inclina
para o sul, para certa porta, para certa esquina.

Sunday, February 04, 2007

FOI ASSIM...

EXPLICAÇÃO INÚTIL
Se te amei
Sem a ternura devida
Sem o devido carinho e acerto
Não foi sem querer.
O desejo, o bem querer, minha filha,
Existia em mim
De uns tempos imemoriais, sem fim.
Eu não peço desculpas,
Mas explico:
O cansaço, a bebida, o corpo
e até a falta de jeito
São alíbis perfeitos
E, muitas vezes, verdades
E nos pregam peças assim.
Sei que não fizestes
Nenhuma reclamação no Procon-
o que já é bom-
E ainda guardo a vontade de aplacar
A sede de amor que ainda há
(e quer dar explicações inúteis)
E não vai nos largar
Sem outras noites que venham soterrar
O fracasso, o final chinfrim
De um amor que não chegou
a se realizar.

Saturday, February 03, 2007

E O QUE É QUE A GENTE NÃO FAZ POR AMOR..

SALDO AMOROSO

Eu quis beber o sol
Eu quis beber a lua
Eu quis secar todas as garrafas
De saudades tuas.

Fiquei sério em pleno o carnaval
Dancei frevo com o hino nacional
E até fui vestido de palhaço
No enterro do seu Inácio.

Vi o que ninguém estava vendo.
Acordei com o cachorro me lambendo
E, como cachaça não é água,
Só ganhei uma ressaca de tanta mágoa.

Friday, February 02, 2007

O TANGO É VIDA



ODE AO TANGO

O tango,
Arte inacreditável dos milongueiros,
Ecoa nas veias,
Seca a garganta,
Esquenta o sangue,
Explode
Nos passos eróticos,
Nos gestos sensuais,
Na pista iluminada
Onde os casais transformam a dança
em poesia,
Em poesia de corpos e suor.
O tango, o prazer maior, amor, ódio e vida.
O tango, igual a ti, querida,
Está além da explicação
Somente se sente
Se percebe na sensação de dançar
De quem se embriaga no salão
Como se participasse de um sonho eterno
E morre com o morrer da canção!

UM POETA CHILENO

Duelo de pájaros mudos

Bernardo Reyes


Somos un sueño imposible
que busca la noche.
Para olvidarse del mundo
del tiempo y de todo.

Mario Clavel


I

Bésame, le dije
y de su boca salió un brazo marino y fluvial ensartándose,
hundiéndose por mi hocico de bestia asustada.
Cuando quise hablar todo mi ser estaba anexado al suyo,
como si apenas me perteneciera la piel y los ojos,
que casi en la inconciencia intentaban decirle me muero.
Pero esos ojos ausentes de perra sin lamer
me permitieron esperar en la asfixia
el final de aquel beso de entrañas fagocitándose
hasta que triunfara una sola ameba ciega,
que no sabría de su triunfo, ni de su existencia, ni de su goce.
Cuando pude hablar le pregunté si acaso lo había hecho con un perro.
Y la verdad fue que se calentó.
-Este es mi perro - le dije sujetando del collar a mi bestia que gruñía y gemía.
Entonces ella abrió sus piernas para que la olisqueara.
En su orgasmo me miró a los ojos y lamió mi hocico de perro derrotado.
Me amas, le pregunté, pero ya era demasiado tarde para una respuesta,
pues ella ya rodaba cuesta abajo en su relámpago oscuro camino de la mar,
sin sospechar siquiera que esa era mi venganza.

II

Vamos a bailar,
le propuse para romper con el círculo de incertidumbre y de espanto.
Que nada detenga la sonrisa:
por algún costado del alma tendrá que brotar una especie de alegría.
Pero era tan de noche.
Tan de noche en el alma de la ciudad y en nuestras almas.
Todo parecía el ocaso.
Un ocaso premeditado y hostil.
Un ocaso de recriminaciones y silencios:
de países remotos venía al encuentro una música de carnaval.
Sólo que no sabíamos el camino hacia esa música, pájara muda.
Recordaba que hubo carnaval
incluso cuando un suicida desde su bañera
hacía una última mueca a la habitación callada,
cuando el gotear de las venas se confundía
con el gotear del agua del grifo y de la lluvia
que a esa hora también se deslizaba mansa por el techo.
Después recordamos aquella muerte,
muerte de pájaro mudo cantándole a la muerte.
Voz de poeta acaso,
rabiando en la aguerrida soberbia de los vencidos.
Eras, por decirlo de algún modo,
un presagio cargado de sonrisas,
aunque de nuestros corazones manara tanto llanto.
Después vino la lengua en su lengua buscando la asfixia.
La lengua en su sexo buscando partirla en dos mitades:
una sepia para añorarla
y otra carmesí para aprender de nuevo a recordarla.
En vano fue decirle que me cabalgara
o que se pusiera boca abajo
o que levantara las piernas.
Daba lo mismo.
El acto de ser nada tenía que ver con la hostilidad del placer:
apenas una consecuencia de la ternura escondida como una paloma en mi bolsillo.
Entonces puse a volar a la paloma, también muda como nosotros.
Con la diferencia que sabía o intuía el sitio del palomar,
allá en un horizonte indefinible aunque preciso.
Para nosotros era noche muda.
Mudos los vuelos.
Mudo nuestro amor.
Muda la espera.

III

El oficio de cantar en casas deshabitadas,
es por cierto de origen nómade.
La alegría expresada en la transitoriedad,
busca aferrarse a una estructura tridimensional,
en donde canción y cantante sientan,
también transitoriamente,
la permanencia de lo intangible reducida a materiales en bruto,
que suelen rodear todas las errancias propias del nomadismo.
Entonces el canto se adhiere
a una esperanza y una intransigencia
que obliga a un reduccionismo que lo hace comprensible.
Antes de ello,
lo monocorde latiendo al ritmo del corazón,
la guturalidad magistral de los monjes tibetanos,
la transumancia de la música celta,
el grito desgarrado de la machi implorando al océano,
el ulular de las ballenas,
en fin, el concierto de la vida desafiliado de las estructuras,
puede volverse etéreo o inmemorizable.
Pero que nada llame a error:
las casas deshabitadas,
guardan en sus paredes ecos
que los grillos torpemente intentan descifrar
a costa de hermanarse con fantasmas sin rostro, ni voz.
Tal vez sea por este olvidado oficio,
que aún sirva para los poetas
recomponer parte de esa tradición,
en la que callan las voces solamente
para que empiece a sonar
una voz múltiple y diversa,
en donde palpita una armonía inexpresable,
única, e insustituíble.


DUELO DE PASSÁROS MUDOS


Somos um sonho impossível
Que busca a noite.
Para esquecer-se do mundo
Do tempo e de tudo.



Mario Clavel


I

Beija-me, lhe disse
e a sua boca saiu como um braço marinho e fluvial intrometendo-se,
afundando-se por minha cabeça de besta assustada.
Quando eu quis falar todo meu ser estava grudado no seu,
como se apenas me pertencesse a pele e os olhos,
que, quase na inconsciência, tentavam lhe dizer que morro.
Mas estes olhos ausentes de cadela sem lamber
Me permitiram esperar na asfixia
O final daquele beijo de entranhas fagocitando-se
até que prevalecesse uma única ameba cega,
que não saberia de seu triunfo, nem de sua existência,
nem de seu gozo.
Quando consegui falar perguntei se, por acaso o havia feito com uma cadela.
E a verdade foi que se esquentou.
- Esta é minha cadela -
Disse sujeitando pelo colar a besta que grunhia e gemia.
Então ela abriu suas pernas para que a beijasse.
Em seu orgasmo me olhou nos olhos
e lambeu minha cabeça de cão derrotado.
Me amas lhe perguntei,
mas já era demasiado tarde para uma resposta,
pois já rolava encosta abaixo em sua maneira escura de relâmpago a caminho do mar,
sem suspeitar sequer
que esta era minha vingança.

II

Vamos dançar,
Lhe propus para quebrar com o círculo de incerteza e de espanto.
Que nada detenha seu sorriso:
por algum lado da alma terá que brotar alguma espécie da alegria.
Porém era tarde da noite.
Tão noite na alma da cidade e em nossas almas.
Tudo parecia ser ocaso.
Um ocaso premeditado e hostil.
Um ocaso de recriminações e de silêncios:
de países remotos vinha ao nosso encontro uma música do carnaval.
Só que nós não sabíamos o caminho até esta música,
Galinha muda.
Recordava que houve um carnaval
mesmo quando um suicida desde sua banheira
fez uma última careta no seu quarto silencioso,
quando o gotejar das veias
se confundiu com o gotejar da água da torneira
e da chuva que a esta hora
deslizava também mansa pelo teto.
Mais tarde recordamos aquela morte,
morte de pássaro mudo cantando a morte.
Voz do poeta talvez,
Esbravejando o soberbo orgulho dos vencidos.
Era, para dizê-lo de algum modo,
um presságio carregado de sorrisos,
embora de nossos corações vertesse tanto pranto.
Mais tarde veio a língua em sua língua buscando a asfixia.
A língua no seu sexo buscando parti-lo em duas metades:
uma sépia para ter saudades
e outra carmesim para aprender de novo a recordar.
Em vão fui dizer que me cavalgara
que pusera sua boca lá pelo interior abaixo
que levantara minhas pernas.
Dava no mesmo.
O ato de ser nada tinha em comum com a hostilidade do prazer:
Apenas uma conseqüência da ternura
escondida como um pombo no meu bolso.
Então pus o pombo para voar,
também silencioso como nós.
Com a diferença que sabia ou intuía o local do pombal,
Além, muito além, num horizonte indefinível.
Para nós era a noite silenciosa.
Silenciosos os vôos.
Silencioso nosso amor.

III

O ofício de cantar em casas desabitadas,
É, por certo, de origem nômade.
A alegria expressa na transitoriedade
Busca se aferrar a uma estrutura tridimensional,
Na qual a canção e o cantor sentem,
também transitoriamente,
a permanência do intangível reduzida a materiais brutos,
que, geralmente, se cercam de todos os erros próprios do nomadismo.
Então o canto se adere
a uma esperança e a uma intransigência
que obriga a um reducionismo que o faz compreensível.
Antes dele,
o monocórdico batido no ritmo do coração,
a guturalidade magistral dos monges tibetanos,
a transumância da música celta,
o grito desgarrado do curandeiro implorando ao oceano,
o ulular das baleias,
no fim, o concerto da vida desfiliado das estruturas,
pode transformar-se no etéreo ou no imemorizável.
Porém que nada leve ao erro:
as casas desabitadas,
guardam em suas paredes ecos
que os grilos desajeitadamente tentam decifrar
ao custo de confraternizar-se com fantasmas sem rosto, nem voz.
Talvez seja por este ofício esquecido,
que ainda sirva aos poetas
recompor parte desta tradição,
em que se calam as vozes
somente para começar a soar
uma voz múltipla e diversa,
de onde surge uma harmonia inexpressável,
única, e insubstituível.

Thursday, February 01, 2007

DOIS POEMAS DE RUBÉN DARIO SOBRE A ESCRITA


BROCHE

Rubén Dario

Poeta! Nunca improvises
Improvisando, los vates
Cometen muchos deslices
Por un bueno verso que dices
hablas diez mil disparates.

BROCHE

Poeta! Nunca improvises
Improvisando, os vates
Cometem muitos deslizes
Por um bom verso que dizes
Falas dez mil disparates.


LATIGAZO

Rubén Dario

Los que escriben com decoro,
con pluma excelsa y no sierva,
esos tienen de Minerva
el casco de oro.

Los escritores cazurros
que insultan y causan ascos,
éso tienen cuatro cascos,
como los burros!

CHIBATADA

Os que escrevem com decoro,
com pena excelsa e não serva,
esses tem de Minerva
a taça de ouro.

Os escritores parvos
que insultam e causam asco
esses têm quatro cascos
como convém aos burros!