Wednesday, June 27, 2007


DIÁLOGO

Federico Balart

El mar en su lengua
dice al manantial:
-"¿A qué corren y corren tus aguas
si en mí han de parar ?"
"No me importa" -responde
la fuente inmortal-."Esas aguas en nubes y lluvias
a mí volverán.
"Mutación perpetua,vida universal,
rueda inmensa que giras y giras,
¿en qué pararás ?
Diálogo
O mar em sua língua
disse ao manancial:
-"Para que correm e correm tuas
se em mim vão parar?"
"Não me importa"-responde
a fonte imortal-"Essas águas em nuvens e chuvas
a mim voltarão".
"Mutação perpétua, vida universal,
roda imensa que gira e gira,
Em que pararás?

Tuesday, June 26, 2007

OUTRO POETA CHILENO

Daría todo el oro del mundo

Jorge Teillier

Daría todo el oro del mundo
Por sentir de nuevo en mi camisa
Las frías monedas de la lluvia.

Por oír rodar el aro de alambre
En que un niño descalzo
Lleva el sol a un puente.

Por ver aparecer
Caballos y cometas
En los sitios vacíos de mi juventud.

Por oler otra vez
Los buenos hijos de la harina
Que oculta bajo su delantal la mesa.

Para gustar
La leche del alba
Que va llenando los pozos olvidados.

Daría no sé cuanto
Por descansar en la tierra
Con las frías monedas de plata de la lluvia

Cerrándome los ojos.

Daria todo o ouro do mundo

Daria todo o ouro do mundo
Por sentir de novo na minha camisa
As frias moedas da chuva outra vez.

Para ouvir rodar o rolo de fio de arame
Com que um menino descalço
Leva o sol a uma ponte.

Para ver aparecer
Cavalos e cometas
Nos lugares vazios de minha juventude.

Para cheirar outra vez
Os bons filhos da farinha
Ocultos sob o avental da mesa.

Para satisfazer
O leite do alvorecer
Que vai enchendo os poços esquecidos.

Daria não sei quanto
Por descansar na terra
Com as frias moedas de prata da chuva

Cerrando-me os olhos.

UMA POETISA DA COLÔMBIA

Pasa el viento

Meira Delmar

De aquel amor que nunca fuera mio
Y sin embargo se tomó mi vida,
Me queda esta nostalgia repetida
Sin fin, cuando sollozo e cuando rio.

A veces desde el fondo do estio,
Llega la misma música entre oída
En el tiempo gozoso, la encendida
Música que cayera en el vacío.

Y quiere asirla el corazón. Bebería
Como un vaso de vino. Retenerla
Para creer de nuevo en la dulzura.

Pero se escapa y huye con el viento,
Y me deja tán sólo este lamento
Donde esconde su rostro la amargura.


Passa o vento


Daquele amor que nunca foi meu
E, sem embargo, se tornou minha vida
Me ficou esta nostalgia repetida
Que nem quando soluço, ou rio, se perdeu.

Às vezes, desde o final do verão
Chega à mesma música entreouvida
Num tempo feliz, a incendiada
Música que cai no vazio, em vão,

Quando a queria no coração. Bebê-la
Como uma taça de vinho. Retê-la
Para saber de novo o que é doçura.

Porém me escapa e foge com o vento
E me deixa tão só com este lamento
Onde esconde seu rosto a amargura.

Monday, June 25, 2007

UMA POETISA DO CHILE

Dame la mano

Gabriela Mistral

A Tasso de Silveira

Dame la mano y danzaremos;
Dame la mano y me amarás.
Como una sola flor seremos,
Como una flor, y nada más…

El mismo verso cantaremos,
Al mismo paso bailarás.
Como una espiga ondularemos,
Como una espiga y nada más.

Te llamas Rosa y yo Esperanza;
Pero tu nombre olvidarás,
Porque seremos una danza
En la colina y nada más…


Dá-me tua mão

Me dá tua mão e dançaremos;
Me dá tua mão e me amarás.
Como uma só flor seremos,
Como uma flor e nada mais...

O mesmo verso cantaremos,
Ao mesmo passo bailarás.
Como uma espiga ondularemos,
Como uma espiga e nada mais.

Te chamas Rosa e eu Esperança;
Porém teu nome esquecerás,
Porque seremos uma dança
Na colina e nada mais.

Thursday, June 21, 2007

UM POETA NORTE-AMERICANO

The Desolate Field

William Carlos William

Vast and grey, the sky
is a simulacrum
to all but him whose days
are vast and grey and --
In the tall, dried grasses
a goat stirs
with nozzle searching the ground.
My head is in the air
but who am I . . . ?
-- and my heart stops amazed
at the thought of love
vast and grey
yearning silently over me.
(The Dial 69)

O CAMPO DESOLADO
Vasto e cinzento, o céu
é um simulacro
para todos com exceção dele naqueles dias
vastos e cinzentos e-
Nas gramas altas e secas
uma cabra agitada
com a boca procura a terra.
Minha cabeça está no ar
mas quem sou eu . . . ?
-e meu coração pára espantado
Com o pensamento do amor
vasto e cinzento
acontecendo silenciosamente sobre mim.

Wednesday, June 20, 2007

UM POETA DA VENEZUELA

TELOS

Alfredo Villanueva Collado

No existe tal cosa como la
eternidad. Lo que llamamos
eterno, sólo una sarta de tiempos
momentáneos, una cadena de
aguijonazos, nombres, fragancias
que la memoria recoge en sus fragmentos
y guarda, atesorando, un poniente, un bolero,
tantas manos sabihondas de llaves
que abrieran las compuertas
de innumerables cuerpos.

La engañifa de la divinidad perversa,
afanosa de orgasmos, a nuestra semejanza,
requiere el sacrificio de partes vitales,
la soledad llena de fantasmas.
Putrefacción, muertes, violaciones,
alimentan su insaciable apetito.
Lo incrementan porque sólo puede hacer suyo
lo que sus miembros embriagados perciben
a través del montaje de una ruina aparente,
el cambio incesante de la puesta en escena.

Y mientras tanto, cuánto desencantan
dragones, muchachas, morriñas, llantenes.
fantasías ingenuas que no confrontan
la inexorable oxidación de fibras.
Al que sabe lo que le espera a la vuelta
de cualquier día, ya no le queda
tiempo para pueriles exquisiteces.
Nuevas tareas le ocupan los sentidos.
Deja atrás un planeta. Lleva consigo instantes.
Tiembla mientras se entrega de nuevo al misterio.


FINALIDADE

Não existe tal coisa como a
eternidade. O que chamamos
eterno é só uma fileira de tempos
momentâneos, uma cadeia de
agulhadas, nomes, fragrâncias
que a memória recolhe em seus fragmentos
e guarda, entesourando, um poente, um bolero,
tantas mãos sabedoras de chaves
que abriram as comportas
de inumeráveis corpos.

A mistificação da divindade perversa,
desejosa de orgasmos, a nossa semelhança,
requer o sacrifício de partes vitais,
a solidão plena de fantasmas.
Putrefação, mortes, violações,
Que alimentam seu apetite insaciável.
Os incrementam porque só pode tornar seu
o que seus membros embriagados percebem
por meio da montagem de um ruína aparente,
da troca incessante dos atores em cena.

E ainda quanto, tanto desencantam
dragões, moças, melancolias, gemidos
fantasias ingênuas que não confrontam
a inexorável oxidação de fibras.
Quem sabe o que o aguarda na virada
de qualquer dia, já não tem
tempo para esquisitices pueris.
Novas tarefas ocupam seus sentidos.
Deixa para trás um planeta. Leva consigo instantes.

Treme enquanto se entrega de novo ao mistério.

Tuesday, June 19, 2007

TUDO É FIGURATIVO

MANIFESTO CUBISTA

Ah! Minha racionalidade sempre foi cubista.
Não que me considere um poeta abstrato.
Sou cubista pelo olhar, pelo olfato, pelo tato
Pelo prazer apenas de ser cubista.
É bem verdade que de Braque nada sei
E, até me tornar mais mundano,
Confundia outras coisas com Picasso.
Um cubo, um peixe, por exemplo,
Para eu, eram a mesma coisa,
Exceto, quando, de forma radical,
Jogava fora uma sílaba
E descobria, nu,
Que o orifício anal
Era melhor, ou igual,
Ao triângulo virginal
Na pintura original.

Sunday, June 17, 2007

HÁ UM TEMPO PARA TUDO

A DIVA ÁVIDA
Como os teus olhos são de diva
Bastou uma olhada furtiva
Para ficar preso na tua estonteante beleza.
Só pensava em roubar:
Um beijo,
Um abraço,
Uma carícia qualquer que fosse
Que me levasse aos teus braços,
Pensava mesmo era em dormir nos teus seios.
Só sabia dizer palavras de amor.
Enquanto com uma gota de perfume,
Com estudada indiferença,
Inundavas de perfume o ambiente
E com um sorriso iluminavas o mundo.
Era um feitiço profundo
Que teu perfume flutuasse pela brisa,
Mas meu romantismo nunca foi
De ficar olhando a lua
Só pensava em ti nua, nua...
Só planejava o dia
De colher a flor
E o tempo que passava
Só aumentava a fogueira
Que nem desconfiava
Era mais tua do que minha
Escondida na fumaça.
Qual a graça?
Hoje apenas num gesto teu
Compreendi todo o meu erro.
Adeus.

Não há mais satisfação,
Em colher o que já é meu.
Satisfazer a paixão
Que, no tempo, se perdeu!

Sunday, June 10, 2007

JORGE LUIS BORGES

DESPEDIDA
Entre mi amor y yo han de levantarse trescientas noches como trescientas paredes y el mar será una magia entre nosotros.
No habrá sino recuerdos. Oh tardes merecidas por la pena, noches esperanzadas de mirarte, campos de mi camino, firmamento que estoy viendo y perdiendo... Definitiva como un mármol entristecerá tu ausencia otras tardes.
DESPEDIDA
Entre meu amor e eu podem levantar-se
Trezentas noites como trezentas paredes
Que o mar será uma magia entre nós dois.
Não haverá senão recordações
Oh! Tardes merecidas pela pena,
Noites esperançosas de te olhar,
Campos do meu caminho, firmamento
Que estou vendo e perdendo....
Definitiva como um mármore
Entristecerá tua ausência outras tardes.