Wednesday, August 29, 2007

A INDIADA CONTINUA A MESMA



MINHA CADELA DE TODOS NÓS


Na tina
Limpo a América Latina,
Minha cadela de pulgas douradas,
Certo de que, sobre seus ossos magros,
A pele maltratada que conduz
Ainda pode criar a luz da gordura.
Imagino-a no cio,
Pobre vira-lata,
Tantos cachorros a desejá-la,
Tantos
Buldogues americanos,
Pastores alemães
e cães vadios.
Sinto mesmo um arrepio
De vê-la tão nova e indefesa
Ante espadas de carne
Que lhe cospem
Com o desprezo imbecil dos dominadores.
Pobre América Latina!
Pobre prostituta de amostra grátis.
Por que não morde ?
Por que não late ?
Por que só se deixa penetrar assim
sem reação alguma ?
Ela só me olha
E lambe suas feridas
Com a mesma resignação e doçura
Com que enfrenta a vida
E, limpa e perfumada, corre novamente
Para sua servidão canina
Sem refletir
Que tem direito
de traçar sua própria sina.

Tuesday, August 21, 2007

UM POETA DO CHILE


CUENTO SOBRE UNA RAMA DE MIRTO

Jorge Tellier

Había una vez una muchacha
que amaba dormir en el lecho de un río.
Y sin temor paseaba por el bosque
porque llevaba en la mano
una jaula con un grillo guardián.
Para esperarla yo me convertía
en la casa de madera de sus antepasados
alzada a orillas de un brumoso lago.
Las puertas y las ventanas siempre estaban abiertas
pero sólo nos visitaba su primo el Porquerizo
que nos traía de regalo
perezosos gatos
que a veces abrían sus ojos
para que viéramos pasar por sus pupilas
cortejos de bodas campesinas.
El sacerdote había muerto
y todo ramo de mirto se marchitaba.
Teníamos tres hijas
descalzas y silenciosas como la belladona.
Todas las mañanas recogían helechos
y nos hablaron sólo para decirnos
que un jinete las llevaría
a ciudades cuyos nombres nunca conoceríamos.
Pero nos revelaron el conjuro
con el cual las abejas
sabrían que éramos sus amos
y el molino
nos daría trigo
sin permiso del viento.
Nosotros esperamos a nuestros hijos
crueles y fascinantes
como halcones en el puño del cazador.

CONTO DE UM RAMO DE MIRTA

Era uma vez uma moça
que adorava dormir no leito de um rio.
E sem temor passeava pelo bosque
porque levava na mão
uma jaula com um grilo guardião.
Para esperá-la eu me convertia
na casa de madeira de seus antepassados
erguida às margens de um cinzento lago.
As portas e as janelas sempre estavam abertas,
Porém nos visitava apenas o primo criador de porcos
que nos trazia de presente
preguiçosos gatos
que às vezes abriam seus olhos
para que pudéssemos ver passar por suas pupilas
cortejos de bodas caipiras.
O sacerdote havia morrido
e todo ramo de mirta murchava.
Tínhamos três filhas
descalças e silenciosas como a beladona.
Recolhiam ervas
e nos falavam para dizer
que um ginete as levaria
a cidades cujos nomes nunca conheceríamos.
Mas nos revelaram o conjuro
com o qual as abelhas
saberiam que éramos seus amos
e o moinho
nos daria trigo
sem permissão do vento.
Nós esperamos nossos filhos
cruéis e fascinantes
como falcões na mão do caçador.

Thursday, August 09, 2007

UM POETA DA VENEZUELA

LA TROMPETA CULPABLE
Gabriel Jiménez Emán
Hace una semana o tal vez más,
quizá hace dos, o un mes
sueño que toco la trompeta.
Una mujer me dice que no puede ser
que ella jamás imaginó un sonido tan sublime.
Pero yo la toco otra vez
y le demuestro que los sonidos salen
como flujo magnético
metiéndose en el almuerzo
y provocando exclamaciones
en los demás asistentes.
Mis dedos en los pistones
son pequeñas serpientes doradas.
Alguien que no veo me aplaude,
después mi mujer me golpea con una cuchara,
luego mi hijo me dice que le duele
el oído.

Yo sigo hasta formar parte de un conjunto
famoso por beber whisky en los ensayos.
después llega mi madre y me reprende
me dice que voy a despertar a los muertos de la cuadra.

Mi trompeta va a dar a su estuche de felpa.

Entonces la primera mujer me vuelve a decir
que ella no lo cree
que yo estoy soñando y que ella sin embargo
me ama.
Yo me despierto cansado,
viendo a mi almohada asustada
arañándome la cara.

A TROMPETA CULPADA

Faz uma semana ou talvez mais,
talvez duas, ou um mês
que sonho que toco trompete.
Uma mulher me diz que não pode ser
que jamais imaginou um som assim tão sublime.
Porém volto a tocar
e demonstro que os sons saem
como um fluxo magnético
que se mete no almoço
e que provoca exclamações
nos outros ouvintes.
Meus dedos nos pistões
são serpentes douradas pequenas.
Alguém que não vejo me aplaude,
Depois minha mulher me golpeia com uma colher,
logo meu filho me diz que lhe fere
os ouvidos.

Eu sigo até fazer parte de um conjunto
famoso para beber uísque nos ensaios.
Depois minha mãe me repreende
Dizendo que vou despertar os mortos do bloco.

Meu trompete está indo para sua caixa de feltro.

Então a primeira mulher volta para me dizer
que não crê que estou sonhando e não obstante
me ama.
Eu acordo cansado,
vendo minha almofada assustada
me arranhando o rosto.

Tuesday, August 07, 2007

UM POETA DO HAITI


AGITER AVANT UTILISATION

George Castera


jusqu’à l’aube
hermétique de la pierre
je te livre à l’abandon
des ponctuations
à l’affût des dissonances

la connivence du vent
dans ma passion

l’éternité nous dénude

AGITE ANTES DE USAR

Até o alvorecer
hermético da pedra
te entrego ao abandono
das pontuações
à espreita das dissonâncias

na conivência do vento
da minha paixão

a eternidade nos desnuda.

Monday, August 06, 2007

A SOLIDÃO É UMA FERA

TRISTE LAMENTO

É quase ontem em mim
Quando não sei de ti.Temo olhar no espelho
Os cabelos brancos,
Os dedos, inúteis .
Os braços, o peito, como o olhar, vazios,
Depois de tanto tempo
Sem finalidade.

Escondo o sabor amargo da saudade,
O tremor dos lábios,
A solidão dos dias sem movimento
Que cabem num poema também lento,
Triste lamento.

A pouca fé que resta
Lembra da festa,
Do prazer, do sexo glorioso,
Que ficou para trás.

E tudo, hoje, tem um gosto insípido de nunca mais.

Sunday, August 05, 2007

E DE SAUDADES VOU MORRENDO....

CONSTATAÇÃO

Ah! Se tu estivesses aqui, agora,
Nem que fosse uma meia-hora
Como o tempo se desfaria no ar
Com esta saudade que não vai passar.
Se estivesses aqui ao meu alcance
Nesta manhã chuvosa...que belo lance!
Nós dois seríamos muito mais felizes
Rememorando os acertos e deslizes
Na cumplicidade que nunca se desfez
O prazer teria seu momento e vez
E apagaria toda esta imensa dor
Se expressando, como sempre, em amor

Hoje, que nem imagino onde estais,
Imito a chuva e choro muito mais
Enquanto o mundo minha dor ignora
E até a dor o tempo leva embora...

BOA POESIA PARA DOMINGO


AT THE BALL GAME

William Carlos Wiliam

The crowd at the ball game
is moved uniformly

by a spirit of uselessness
which delights them-

all the exciting detail
of the chase

and escape, the error
the flash of genius-

all to no end save beauty
the eternal-

So in detail they, they crowd,
are beautiful

for this
to be warned against

saluted and defied-
It is alive, venomous

it smiles grimly
its words cut-

The flashy female with her
mother, get it-

The Jew get it straitght-it
is deadly, terrifying-

It is the Inquisition, the
Revolution

It is beauty it itself
that lives

Day by day in them
idly-


This is
the power of their faces

It is summer, it is the solstice
the crowd is

cheering, the crowd is laughing
in detail

permanently, seriously
without thought

No Jogo de Futebol

No jogo de futebol a torcida
Se move entusiasmada

Pelo espírito da inutilidade
Que a todos delicia-

Da excitante visão
Da perseguição da bola

E dos dribles, dos erros,
Do lampejo de gênio-

Tudo sem outro fim que não a beleza
Eterna de uma jogada-

Assim, no conjunto, as torcidas
São belas

Por isto
Convém nos prevenirmos contra

Sua força oculta na aparente fraqueza-
Ela vive e sua beleza é perigosa

Alegremente faz olá,
Mas suas palavras ferem

A bela mulher ao lado
De sua mãe, entende isto-

O judeu entende, de imediato-
Seu poder mortal, aterrador-

É a Inquisição, a
Revolução

É a própria beleza
Que emana

Minuto a minuto
Na sua força ociosa-

Este é o poder
Que mostram os rostos-

No calor, no apogeu
Da torcida

Que gritando, na alegria, explode
Inconsciente,

Uníssona e dioniásica
De um grito de gol!