MINHA CADELA DE TODOS NÓS
Na tina
Limpo a América Latina,
Minha cadela de pulgas douradas,
Certo de que, sobre seus ossos magros,
A pele maltratada que conduz
Ainda pode criar a luz da gordura.
Imagino-a no cio,
Pobre vira-lata,
Tantos cachorros a desejá-la,
Tantos
Buldogues americanos,
Pastores alemães
e cães vadios.
Sinto mesmo um arrepio
De vê-la tão nova e indefesa
Ante espadas de carne
Que lhe cospem
Com o desprezo imbecil dos dominadores.
Pobre América Latina!
Pobre prostituta de amostra grátis.
Por que não morde ?
Por que não late ?
Por que só se deixa penetrar assim
sem reação alguma ?
Ela só me olha
E lambe suas feridas
Com a mesma resignação e doçura
Com que enfrenta a vida
E, limpa e perfumada, corre novamente
Para sua servidão canina
Sem refletir
Que tem direito
de traçar sua própria sina.