Wednesday, October 31, 2007

MUITAS VEZES É SÓ....

IDIOSSINCRASIA

As palavras pendem como pétalas mortas
Sem significados e sem perfume.
Até mesmo as paredes parecem tortas
Agora que esgotei o amor, a raiva, o ciúme.

Poderia, num acesso de enorme egoísmo,
Pedir, mais uma vez, que permaneça.
Seria, sei, um imenso ato de cinismo
Da mesma forma que pedir que esqueça.

No entanto nós sabemos muito além
De todas as palavras como nos queremos bem,
Mas também o quanto mais nos odiamos:
-Somos cônscios do ardor com que pecamos.

Nenhum de nós irá pensar em pedir perdão
Nem voltar atrás na maior motivação
Que é o de sermos, ambos, tão libertos
Que nem a quem amamos gostamos de ter perto.

Ilustração de http://www.perisse.com.br/

Tuesday, October 30, 2007

UM POETA DA VENEZUELA

BIEN FRITO EN EL PLATO

Gustavo Pereira

A mí que me dejen bien frito en el plato
Con mi ojo dorado, listo para el corte
Y con los dedos ensartados en el puré con adornos.

Después que condimenten, vainilla y vinagre
Hagan lo normal
y hablen todo el tiempo sobre el discurso del presidente
tan bien hecho
tan formidable.

A mí que me pongan un color de salsa de tomate
Me huelan profundo
y me dejen sonriendo sobre el plato
como una cabeza de puerco a la que todo el mundo
ve con deleite.

BEM FRITO NO PRATO

A eu que me deixem bem frito no prato
Com meu olho dourado, pronto para o corte
E com os dedos desfiados no purê com adornos.

Depois que condimentem, baunilha e vinagre
Façam o normal
E falem todo o tempo sobre o discurso do presidente
Tão bem feito
tão formidável.

A eu que me ponham a cor de extrato de tomate
Me cheirem profundamente
e me deixem sorrindo sobre o prato
como uma cabeça de porco a que todo mundo
vê com deleite.

Monday, October 29, 2007

OS DOCES CANTOS DA ANTIGUIDADE

AQUÍ SE DICE COMO DON SANCHO TORNÓ SU IRA EN GOZO Y SU TRISTURA EN CÁNTIGO, CÁNTIGA Y DULZOR DEL CIELO

Álvaro Miranda

Sea que sí, sea que no, brínquese por la cola,
cójase por el cuello, apriétese el pispirispi,
húndasele el gaznate, muérdasele el juanete,
aquíy allá, en la hora en que el sinsonte se vuelca
en el mar, silba la iguana, silba el carmín, arde
el cotudo, se amasa la bilis, come mi risa puerro y orín.

Va la vieja, viene la niña, vende que vende,
grita que grita, ofrécese aquí, desnúdase allá,
lluvia tras lluvia la mar no se va, sea que sí,
sea que no, váse la huella con el caracol y el
sueño que vela, infla la música, cristal
de la aurora, barco que aflora allá en el confín,
muralla que arpegia la luna y la aurora.

AQUI SE DIZ COMO DOM SANCHO TORNOU SUA IRA EM GOZO E SUA TRISTEZA EM CÂNTICO, CANTIGA E DOÇURA DE CÉU
Seja porque sim, seja porque não, brinca-se pelo rabo,
pega-se pelo colo, aperta-se a preciosinha,
junta-se a garganta, morde-se o joanete , aqui
e ali, na hora em que o pássaro se volta
do mar, silva a iguana, silva o carmin, arde
a papada, se amassa a bilís, come meu riso, amarga e oxida.

Vai a velha, vem a menina, vende que vende,
grita que grita, oferecesse aqui, desnudasse ali,
chuva após chuva o mar não se vai, seja porque sim,
seja porque não, siga a trilha com o caracol e
o sonho que guarda, infla a música, cristal
da aurora, barco que se levanta atrás da beira,
muralha que harmoniza a lua e o aurora.

Saturday, October 27, 2007

UM POETA DE COSTA RICA


DESTELLOS DE AMOR

[Abril de 1962]



José Eliseo Valverde Monge


Amada,esta noche
tu perfume en mi cuerpo,
derramará el amor
encarcelado.

En mi vida
disciernes alegremente;
tu seducción,
perdurará
las caricias.

Amada!..
Tu preciosa existencia,
emotiva
el paso por esta tierra,

a veces sola,
a veces triste…

Centelhas de amor

Amada,
Esta noite,
Teu perfume em meu corpo,
Derramará o amor
Encarcerado.

Em minha vida
Discernes alegremente;
Tua sedução
Perdurará
As caricias.

Amada!
Tua preciosa existência
Emotiva
Passou por esta terra

Ás vezes só....
Às vezes triste....

SEMPRE BORGES

El laberinto

Jorge Luis Borges

Zeus no podría desatar las redes
de piedra que me cercan. He olvidado
los hombres que antes fui; sigo el odiado
camino de monótonas paredes
que es mi destino. Rectas galerías
que se curvan en círculos secretos
al cabo de los años. Parapetos
que ha agrietado la usura de los días.
En el pálido polvo he descifrado
rastros que temo. El aire me ha traído
en las cóncavas tardes un bramido
o el eco de un bramido desolador.
Sé que en la sombra hay Otro, cuya suerte
es fatigar las largas soledades
que tejen y destejen este Hades
y ansiar mi sangre y devorar mi muerte.
Nos buscamos los dos. Ojalá fuera
éste el último día de la espera.

O Labirinto

Zeus não podia desatar as redes
De pedra que me cercam. Ele há esquecido
Os homens que antes fui. Sigo o odiado
Caminho de monótonas paredes
Que é meu destino. Retas galerias
Que se curvam em círculos secretos
Ao cabo dos anos. Parapeitos
Que aprisionarama a usura dos dias.
Na pálida poeira há decifrado
Rastros que temo. O ar me há traído
Nas côncavas tardes um bramido
Ou o eco de um bramido desolado.
Sei que na sombra há outro, cuja sorte
É fatigar as solidões no eterno
Que tecem e destecem este inferno
E anseia por meu sangue e devorar minha morte.
Nós buscamos os dois. Que bom que era
Se fosse este o último dia da espera

Thursday, October 25, 2007

UM POETA CUBANO INDICADO POR SARAMAR


Poema a Capablanca

Nicolás Gullén


Así pues, Capablancano
está en su trono, sino que anda,
camina, ejerce su gobierno
en las calles del mundo.

Bien está que nos lleve
de Noruega a Zanzíbar,
de Cáncer a la Nieve.

Va en un caballo blanco,
caracoleando
sobre puentes y ríos
junto a torres y alfiles,

el sombrero en la mano
(para las damas)
la sonrisa en el aire
(para los caballeros)

y su caballo blanco
sacando chispas puras
del empedrado...

Poema para Capablanca

Assim Capablanca
não está em seu trono, mas anda,
caminha, exerce seu governo
nas ruas do mundo.

É bom que nos leve
da Noruega a Zanzíbar,
do Cancer à Nieve.

Que vá no seu cavalo branco,
caracoleando
sobre pontes e rios
junto das torres e dos bispos,

o chapéu na mão
(para as senhoras)
o sorriso no ar
(para os cavalheiros)

e seu cavalo branco
extrai chispas puras
do pavimento....

Retalhos

Não esperarei mais por tua volta.
A porta está aberta, a fechadura destravada,
Mas as dores do passado estão mortas.

Nem sei se terei mais alegria
Na tua companhia. E se chegas serás uma incógnita
Depois de tantos dias de silêncio e esquecimento.

Serás, por acaso, a mesma nos carinhos e beijos?
Ou, pelos caminhos, na busca de esperança,
Em imaginários desejos e lábios outra se fez?

Nem sempre depois da tempestade a vida recompõe
O que as águas e os ventos destruiu. São fatos.
A passagem pode não ser visível e ser mortal.

Na realidade do viver se afoga a utopia
E o ponto na distância some, ou se agiganta,
Dependendo do olhar. Talvez não haja o que restaurar...

Talvez quando voltares se rasgue a fantasia,
Todo o passado, seja um mundo fictício; o amor, um vício.
Nosso romance, uma mera ilusão.

Não esperarei tua chegada... partido estou na partida.

Wednesday, October 24, 2007

SE NÃO FOR ASSIM, ASSIM FOI

What We Are

William Bronk

What we are? We say we want to become
what we are or what we have an intent to be.
We read the possibilities, or try.
We get to some. We think we know how to read.
We recognize a word, here and there,
a syllable: male, it says perhaps,
or female, talent -- look what you could do --
or love, it says, love is what we mean.
Being at any cost: in the end, the costis terrible
but so is the lure to us.
We see it move and shine and swallow it.
We say we are and this is what we are
as to say we should be and this is what to be
and this is how. But, oh, it isn’t so.
O Que Nós Somos

O que nós somos? Nós dizemos o que queremos ser
Aquilo que somos ou que temos intenção de ser.
Nós lemos as possibilidades, ou as tentativas.
Nós obtemos algumas. Julgamos saber ler.
Nós reconhecemos uma palavra, aqui e ali,
Uma sílaba: masculino, que diz talvez,
Ou feminino, talento - veja o que poderia fazer-
Ou amor, se diz, o amor é o que nós significamos.
Sendo a todo o custo: no final, o custo
É terrível, mas é assim que a isca para nós.
Nós a vemos se mover e brilhar e ser engolida.
Nós dizemos que somos e é isto que somos
Como se dizer o que deveríamos ser e ser fosse o mesmo
E é assim. Mas, ah, não é assim.

Tuesday, October 23, 2007

AINDA BORGES

AUSENCIA

Jorge Luis Borges

Habré de levantar la vasta vida
que aún ahora es tu espejo:
cada mañana habré de reconstruirla.
Desde que te alejaste,
cuántos lugares se han tornado vanos y sin sentido,
iguales a luces en el día.
Tardes que fueron nicho de tu imagen,
músicas en que siempre me aguardabas,
palabras de aquel tiempo,
yo tendré que quebrarlas con mis manos.
¿En qué hondonada esconderé mi alma
para que no vea tu ausencia
que como un sol terrible, sin ocaso,
brilla definitiva y despiadada?
Tu ausencia me rodea
como la cuerda a la garganta,
el mar al que se hunde.
Ausência

Haverei de levantar a vasta vida
Que ainda agora é teu espelho:
Cada manhã haverei de reconstruí-la.
Desde que te fostes
Quantos lugares se hão tornado vão
E sem sentido, iguais
As luzes do dia.
Tardes que foram nicho de tua imagem,
Musicas em que sempre me aguardavas,
Palavras daqueles tempos
Eu terei que quebrá-las com as minhas mãos.
Em que profundeza esconderei minha alma
Para que não veja tua ausência,
Que como um sol terrível, sem ocaso,
Brilha definitiva e desapiedada?
Tua ausência me rodeia
Como a corda à garganta
Como o mar ao que se derrete.

Monday, October 22, 2007

BORGES

CERCANÍAS

Jorge Luís Borges

Los patios y su antigua certidumbre,
los patios cimentados en la tierra y el cielo.
Las ventanas con reja
desde la cual la calle
se vuelve familiar como una lámpara.
Las alcobas profundas
donde arde en quieta llama la caoba
y el espejo de tenues resplandores
es como un remanso en la sombra.
Las encrucijadas oscuras
que lancean cuatro infinitas distancias
en arrabales de silencio.
He nombrado los sitios
donde se desparrama la ternura
y estoy solo y conmigo.

Vizinhanças

Os pátios e sua antiga certeza,
Os pátios cimentados
Na terra e no céu.
As janelas com grades
Desd’a qual a rua
Se faz familiar como uma lâmpada.
As alcovas profundas
Onde ardem em quieta chama o lampião
E o espelho de tênues resplendores
É como um remanso na sombra.
As encruzilhadas escuras
Que lançam quatro infinitas distâncias
Para os subúrbios de silêncio.
Ele nomeara os sítios
De onde se esparramara a ternura
E estou só eu comigo.

Tuesday, October 16, 2007

DE NOVO VALEJO


XXXIV

Cesar Valejo

Se acabó el extraño, con quien, tarde
la noche, regresabas parla y parla.
Ya no habrá quien me aguarde,
dispuesto mi lugar, bueno lo malo.

Se acabó la calurosa tarde;
tu gran bahía y tu clamor; la charla
con tu madre acabada
que nos brindaba un té lleno de tarde.

Se acabó todo al fin: las vacaciones,
tu obediencia de pechos, tu manera
de pedirme que no me vaya fuera.

Y se acabó el diminutivo, para
mi mayoría en el dolor sin fin,
y nuestro haber nacido así sin causa.


XXXIV

Se acabou o estranho, com quem, tarde
A noite, regressavas a falar e falar.
Já não haverá quem me aguarde
Disposto meu lugar, bem ou mal.

Se acabou a calorosa tarde;
Tua grande baía e teu clamor, a conversa
Com a tua mãe terminada
Por nos brindar com um chá pleno de tarde.

Se acabou tudo ao fim: as férias,
Tua obediência de fachada, tua maneira
De pedir-me que não fosse embora.

E se acabou o diminutivo, para
Mim maioria na dor sem fim,
E nosso haver nascido assim sem causa.

UM POETA ESPANHOL

SE EQUIVOCÓ LA PALOMA

Rafael Alberti

Se equivocó la paloma.
Se equivocaba.
Por ir al norte, fue al sur.
Creyó que el trigo era agua.
Se equivocaba.

Creyó que el mar era el cielo;
que la noche, la mañana.
Se equivocaba.

Que las estrellas, rocío;
que la calor; la nevada.
Se equivocaba.

Que tu falda era tu blusa;
que tu corazón, su casa.
Se equivocaba.

(Ella se durmió en la orilla.
Tú, en la cumbre de una rama.)

Se Equivocou a Pomba

Se equivocou a pomba.
Se equivocava.
Queria ir ao norte, foi para o sul.
Acreditou que o trigo era água.
Se equivocava.

Acreditava que o mar era o céu;
Que a noite, manhã.
Se equivocava.

Que as estrelas, eram o orvalho;
Que o calor, era a nevada.
Se equivocava.

Que tua saia era tua blusa,
Teu coração, tua casa .
Se equivocava.

(Ela dormiu na praia.
Tu, no alto de um galho.)

UM POETA ARGENTINO

Soneto erótico

Julio Cortazar

A sonnet in a pensive mood.

Para C.C., que paseaba por las calles de Nairobi

Su mono azul le cine la cintura,
le amanzana las nalgas y los senos,
la vuelve um muchachito y le da plenos
poderes de liviana arquitectura.

Al viento va la cabellera oscura,
es toda fruta y es toda venenos;
el remar de sus musclos epicenos
inventa uma fugaz psicultura.

Amazona de mono azul, el arte
la fija en este rito paralelo,
cambiante estela a salvo de mudanza;

viejo poeta, mirala mirarte
con ojos que constelan otro cielo
donde no tiene puerto tu esperanza.

Soneto erótico

Um laço azul lhe cinge a cintura,
Amansando as nádegas e os seios
Numa fileira que lhe dá plenos
Poderes de cristalina arquitetura.

Ao vento a cabeleira escura,
É toda fruta e é toda venenos;
No remar de seus músculos epicenos
Inventa uma fugaz psicultura.

Amazona de laço azul, a arte
A fixa neste rito paralelo,
Estrela mutável sem mudança;

O velho poeta olha, e ao olhar-te,
Com olhos que imaginam outro céu
Aporta onde não tem sua esperança.

Saturday, October 13, 2007

DICKSON OUTRA VEZ

XXIV

Emily Dickson

WHETHER my bark went down at sea,
Whether she met with gales,
Whether to isles enchanted
She bent her docile sails;

By what mystic mooring
She is held to-day,—
This is the errand of the eye
Out upon the bay.


XXIV

SE meu barco foi ao fundo do mar,
Se soçobrou com vendavais,
Ou com ilhas encantadas
Que dobraram seus dóceis marinheiros.

Por qual mística amarração
Ela está presa hoje,
Com este errante olhar
Por fora e acima da baía.

Thursday, October 11, 2007

UMA POESIA DE TELLIER


CUENTO SOBRE UNA RAMA DE MIRTO

Jorge Tellier

Había una vez una muchacha
que amaba dormir en el lecho de un río.
Y sin temor paseaba por el bosque
porque llevaba en la mano
una jaula con un grillo guardián.
Para esperarla yo me convertía
en la casa de madera de sus antepasados
alzada a orillas de un brumoso lago.
Las puertas y las ventanas siempre estaban abiertas
pero sólo nos visitaba su primo el Porquerizo
que nos traía de regalo
perezosos gatos
que a veces abrían sus ojos
para que viéramos pasar por sus pupilas
cortejos de bodas campesinas.
El sacerdote había muerto
y todo ramo de mirto se marchitaba.
Teníamos tres hijas
descalzas y silenciosas como la belladona.
Todas las mañanas recogían helechos
y nos hablaron sólo para decirnos
que un jinete las llevaría
a ciudades cuyos nombres nunca conoceríamos.
Pero nos revelaron el conjuro
con el cual las abejas
sabrían que éramos sus amos
y el molino
nos daría trigo
sin permiso del viento.
Nosotros esperamos a nuestros hijos
crueles y fascinantes
como halcones en el puño del cazador.

CONTO DE UM RAMO DE MIRTA

Era uma vez uma moça
que adorava dormir no leito de um rio.
E sem temor passeava pelo bosque
porque levava na mão
uma jaula com um grilo guardião.
Para esperá-la eu me convertia
na casa de madeira de seus antepassados
erguida às margens de um cinzento lago.
As portas e as janelas sempre estavam abertas,
Porém nos visitava apenas o primo criador de porcos
que nos trazia de presente
preguiçosos gatos
que às vezes abriam seus olhos
para que pudéssemos ver passar por suas pupilas
cortejos de bodas caipiras.
O sacerdote havia morrido
e todo ramo de mirta murchava.
Tínhamos três filhas
descalças e silenciosas como a beladona.
Recolhiam ervas
e nos falavam para dizer
que um ginete as levaria
a cidades cujos nomes nunca conheceríamos.
Mas nos revelaram o conjuro
com o qual as abelhas
saberiam que éramos seus amos
e o moinho
nos daria trigo
sem permissão do vento.
Nós esperamos nossos filhos
cruéis e fascinantes
como falcões na mão do caçador.

Wednesday, October 10, 2007

UM POETA NORTE-AMERICANO

MILL-DOORS

Carl Sandburg

You never come back.
I say good-by when I see you going in the doors,
The hopeless open doors that call and wait
And take you then for--how many cents a day?
How many cents for the sleepy eyes and fingers?


I say good-by because I know they tap your wrists,
In the dark, in the silence, day by day,
And all the blood of you drop by drop,
And you are old before you are young.
You never come back.

from Chicago Poems (1916)


Moinho

Você nunca mais volta.
Eu digo adeus-por lhe ver saindo pelas portas,
Pelas desesperançadas portas abertas que chamam e não esperam
E tento guardar sua imagem-por quantas centenas de dias?
Quantas centenas levarei para esquecer seus olhos e dedos?

Eu digo adeus-porque eu sei que batem seus pulsos,
Na escuridão, no silêncio, dia após dia,
E todo o sangue que cai gota à gota,
E você ficará velha depois de ter sido nova.
Você nunca mais volta.
Obs.: Esperando que a imensa traição não doa muito.

Tuesday, October 09, 2007

UM POETA DO PERU

EL DESTERRADO

Manuel Sforza

Cuando éramos niños,
y los padres nos negaban diez centavos de fulgor,
a nosotros nos gustaba desterrarnos a los parques,
para que viéramos que hacíamos falta,
y caminaran tras su corazón
hasta volverse más humildes y pequeños que nosotros.
Entonces era hermoso regresar!
Pero un día parten de verdad los barcos de juguete,
cruzamos corredores, vergüenzas, años;
y son las tres de la tarde
y el sol no calienta la miseria.
Un impresor misterioso
pone la palabra tristeza
en la primera plana de todos los periódicos.
Ay, un día caminando comprendemos
que estamos en una cárcel de muros que se alejan...
Y es imposible regresar.

O Exilado

Quando éramos crianças,
e nossos pais
nos negavam dez centavos de atenção,
nós gostávamos de nos exilar nos parques,
para que sentissem nossa falta,
e nos procurassem com o coração apertado
que os tornava mais humildes e pequenos do que nós.
Então era bonito regressar!
Porém, um dia
Partem de verdade os barcos de brinquedo,
Cruzamos corredores, vergonhas, anos
e são três da tarde
e o sol não aquece a miséria.
Um impressor misterioso
põe a palavra tristeza
na primeira página de todos os jornais.
E, um dia andando, nós compreendemos
que estamos numa cadeia de paredes que se afastam...
E é impossível regressar.

Monday, October 08, 2007

UM POETA CHILENO

Siempre el adiós

Gonzalo Rojas

Tu llorarás a mares
três negros dias, ya pulverizada
por mi recuerdo, por mis ojos fijos
que te verán llorar detrás de las cortinas de tu alcoba,
sin inmutarse, como dos espinas,
porque la espina es la flor de la nada.
Y me estarás llorando sin saber por qué lloras,
sin saber quién se há ido:
si eres tu, si soy yo, se el abismo es um beso.
Todo será de golpe
como tu llanto encima de mi cara vacía
Correrás por las calles. Mi mirarás sin verme
en la espalda de todos los varones que marchan al trabajo.
Entrarás em los cines para oírme en la sombra del murmullo. Abrirás
la mampara estridente: allí estarán las mesas esperando mi risa
tan ronca como el vaso de cerveza, servido y desolado.

Sempre o adeus

Tu chorarás mares
três negros dia, já pulverizada
por minha lembrança, meus olhos fixos
que te verão chorar por trás das cortinas de tua alcova,
sem perturbar-se, como dois espinhos,
porque o espinho é a flor do nada.
E tu estarás chorando sem saber porque choras,
sem saber quem se foi:
se fostes tu, se sou eu, se o abismo é um beijo.
Tudo será um sopro
como teu pranto sobre meu rosto vazio
Correrás pelas ruas. Me olharás sem me ver
no espaldar de todos os homens que marcham para o trabalho.
Entrarás nos cinemas para me ouvir na sombra do murmúrio. Abrirás
o biombo estridente: lá estarão as mesas como a esperar meu riso
tão vazias como o copo de cerveja, servido e desolado.

Sunday, October 07, 2007

OS SONS DO MUNDO


A BANDA

O tinir dos metais estreita o mundo.
A banda, num passo marcial,
Arrasta a turba pelos quarteirões.
Irresistível
Na cadência rítmica do hino dos dementes.
Vamos em frente- diz o clarinete
O trombone estronda:
- Vamos em frente!
Logo o tambor propaga:
-Vamos em frente.
E a banda toda ataca:
-Vamos em frente!
E os idiotas todos, sem reflexão,
Seguem felizes para ser bucha de canhão!
(Do livro "Viagem aos Sonhos de Ninguém").

Friday, October 05, 2007

UM POETA DO PARAGUAI


HAY VECES...

Roque Vallejos


para Augusto Roa Bastos

Hay veces en que nadie
recuerda
que existimos;
que La vida se encoge
y nos aprieta,
y que es difícil despertar
cada mañana
la sangre en nuestras venas.

Días de conservar
el esqueleto, doblados hacia adentro,
y de llorar a oscuras
sobre estos mismos huesos,
de usar la propia piel
como mortaja, y decirle
a la vida que no estamos
y que vuelva otro día.

HÁ VEZES...

Há vezes em que nada
recorda
que existimos;
que a vida se encolhe
e nos aperta,
e que é difícil despertar
cada manhã
o sangue em nossas veias.

São dias de conservar
o esqueleto, voltados para dentro,
e chorar no escuro
sobre estes mesmos ossos,
de usar a própria pele
como mortalha, e dizer
à vida que não estamos
e que volte um outro dia.

Wednesday, October 03, 2007

AINDA KENNETH KOCH

Paradiso

Kenneth Koch

There is no way not to be excited
When what you have been disillusioned by raises its head
From its arms and seems to want to talk to you again.
You forget home and family
And set off on foot or in your automobile
And go to where you believe this form of reality
May dwell.
Not finding it there, you refuse
Any further contact
Until you are back again trying to forget
The only thing that moved you (it seems) and gave what you forever will have
But in the form of a disillusion.
Yet often, looking toward the horizon
There—inimical to you?—is that something you have never found
And that, without those who came before you, you could never have imagined.
How could you have thought there was one person who could make you
Happy and that happiness was not the uneven
Phenomenon you have known it to be?
Why do you keep believing in this
Reality so dependent on the time allowed it
That it has less to do with your exile from the age you are
Than from everything else life promised that you could do?

Paraíso

Não há nenhuma maneira de não ser excitado
Quando o que lhe desiludiu volta a dominar sua cabeça
Seus braços e parece querer lhe falar outra vez.
Então se esquece da casa e da família
E mete o pé no acelerador de seu automóvel
E vai onde acredita encontrar a forma de realidade
Que pode perdurar. Não encontrando lá, se recusa
A promover qualquer contato
Até que volte a experimentar um meio de esquecer
A única coisa que lhe moveu (parece) e lhe deu o que sempre teve vontade de ter,
Mas é uma forma de desilusão.
Então frequentemente, olhando para o horizonte
Lá-inimigo seu? – está alguma coisa que nunca encontrou
E isto, sem que aqueles que vieram antes, jamais pudessem ter imaginado.
Como poderia ter pensado haver uma pessoa que lhe poderia fazer
Feliz e essa felicidade fosse tão desigual
Fenômenos sabe como são? Porque então acreditar que a realidade se mantém
Dependendo da permissão do tempo.
Há muito menos para fazer com seu exílio com a idade que tem
Do que de todas as coisas que a vida prometeu que poderia fazer?

Tuesday, October 02, 2007

UM OUTRO KENNETH


Variations On A Theme By William Carlos Williams

Kenneth Koch

1

I chopped down the house that you had been saving to live in next summer.
I am sorry, but it was morning, and I had nothing to do
and its wooden beams were so inviting.

2
We laughed at the hollyhocks together
and then I sprayed them with lye.
Forgive me. I simply do not know what I am doing.

3
I gave away the money that you had been saving to live on for the
next ten years.
The man who asked for it was shabby
and the firm March wind on the porch was so juicy and cold.

4
Last evening we went dancing and I broke your leg.
Forgive me. I was clumsy and
I wanted you here in the wards, where I am the doctor!

Variações de um tema por William Carlos Williams
1
Eu coloquei abaixo a casa que você vinha guardando para viver no próximo verão.
Eu sinto muito, mas era manhã, e não tinha nada para fazer
e suas toras de madeira eram muito convidativas.
2
Nós vamos rir com as flores abertas em conjunto
e então as pulverizarei com fertilizantes.
Perdoa-me. Eu simplesmente não sei o que estou fazendo.

3
Eu doei o dinheiro que você estava guardando para viver os próximos dez anos.
O homem que me pediu era muito maltrapilho
e o vento de março na varanda da empresa estava assim gostoso e frio.

4
Na última noite estivemos dançando e eu quebrei seu pé.
Perdoa-me. Eu sou desajeitado e
Procurava ter você aqui no pátio, onde eu sou o doutor!

UM POETA AMERICANO

Confusion

Kenneth Rexroth

I pass your home in a slow vermilion dawn,
The blinds are drawn, and the windows are open.
The soft breeze from the lake
Is like your breath upon my cheek.
All day long I walk in the intermittent rainfall.
I pick a vermilion tulip in the deserted park,
Bright raindrops cling to its petals.
At five o'clock it is a lonely color in the city.
I pass your home in a rainy evening,
I can see you faintly, moving between lighted walls.
Late at night I sit before a white sheet of paper,
Until a fallen vermilion petal quivers before me.

Confusão

Eu passo na sua casa num lento e avermelhado fim de tarde,
As persianas estão caídas e as janelas, abertas.
A suave brisa vinda do lago
É como sua respiração sobre meu peito.
Durante o dia inteiro caminhei na chuva que caía intermitente.
Eu escolho uma tulipa vermelha no parque deserto,
Brilhantes pingos de chuva repousam nas suas pétalas.
Às cinco horas há só uma cor na cidade.
Eu passo na sua casa na noite chuvosa,
Eu posso vê-la fracamente, movendo-se entre as paredes iluminadas.
Tarde na noite me sentarei diante de uma folha branca de papel,
Até a pétala vermelha cair estremecendo antes de mim.

Monday, October 01, 2007

MAIS QUE MODERNO

Transitional

William Carlos William

First he said:
It is the woman in us
That makes us write--
Let us acknowledge it--
Men would be silent.
We are not men
Therefore we can speak
And be conscious(of the two sides)
Unbent by the sensual
As befits accuracy.

I then said:
Dare you make this
Your propaganda?

And he answered:
Am I not I--here?

(from The Tempers, 1913)

Transicional

Primeiro ele disse:
É a mulher em nós
Que nos faz escrever
-Devemos reconhecer isto-
Os homens podem ser silenciosos.
Nós não somos homens
Logo nós podemos falar
E ser conscientes(dos dois lados)
Descolados pelo sensual
Como desajustados na exatidão.

Eu disse então:
O desafio a fazer
Sua propaganda?

E ele respondeu:
Sou eu não sou eu-aqui?

MULHER FLOR

Alba

Ezra Pound

As cool as the pale wet leaves
of lily-of-the-valley
She lay beside me in the dawn.

Alva

Tão fresca quanto as pálidas folhas molhadas
dos lírios do vale
Ela ficou a meu lado no alvorecer.