CONTRADICTIO (1)Marco Antonio CamposEl ajedrez de la muerte
se quedó en una pieza
Arrojo los naipes, trémulo, incendiado
y no dicen mi suerte
Y tuve una bestia de orgullo
que arrastró mi bestia
Moribunda,
una mujer pasea triste, descalza en la calle
Y es tarde para ser otro hombre
Salgo de mi casa, pontífice, ajeno,
con el crucifijo -una mujer-
colgado en mi tristeza
Si regreso, señor,
quiero ser otro pero no Campos
¿Para qué vivir agarrado como loco al reloj?
Ya la gula de vivir se detuvo en mi garganta
Y mísera mi perra más odiada fue la angustia
Pero, Señor, yo converso en voz alta,
Antes, en otro oceáno,
arrepentí, modifiqué el pasado
Y tus ojos caminaron tristes, inmensos,
en las pájinas de mis libros
Mañana partiré, me iré del todo
Aunque hoy puedo decir:
tengo amigos, no amo a mujer alguna,
el tétano del sol duerme en la ciudad de México
Muertos y Disfraces, 1974
CONTRADIÇÃO (1)
O xadrez da morte
Esbarrou numa peça.
Arrojou os naipes, trêmulo, incendiado
E não disse minha sorte.
E tive um besta orgulho
Que arrastou minha besta
Moribunda,
Uma mulher passeia triste, descalça na rua,
E é tarde para ser outro homem
Saio de minha casa, pontífice, alheio,
Com o crucifixo-uma mulher-
Preso em minha tristeza
Sem regresso, senhor,
Quero ser outro, porém não Campos
Para que viver agarrado como louco ao relógio?
Já o desejo de viver se deteve em minha garganta
E mísera minha cadela mais odiada foi a angústia,
Porém, senhor, eu converso em voz alta,
Antes, em outro oceano,
Me arrependi, modifiquei o passado,
E teus olhos caminharam tristes, imensos
Nas páginas de meus livros,
Amanhã partirei, irei de todo
Ainda que hoje não possa dizer:
Tenho amigos, não amo mulher alguma
O gérmen do sol dorme na cidade do México.
Mortos e Disfarces, 1974.