Wednesday, December 24, 2008

VERSOS DE NATAL


Tenho muito pouco para te oferecer
Neste Natal.
Nenhuma estrela oferecerei
para guiar teus passos
Nem a ceia está posta
Nem o vinho te espera na taça.
Só tenho esta tristeza
Esta saudade que não passa
E uns pobres versos
Que dizem que, no meu coração,
Repousas como o menino da manjedoura
Que sempre renasce a cada ano
Com mais amor e emoção.

Ilustração: http://populo.weblog.com.pt/arquivo/mesa%20de%20natal.bmp

Tuesday, December 23, 2008

AINDA ALBERTI


El angel bueno

Rafael Alberti

Vino el que yo quería,
el que yo llamaba.

No aquel que barre cielos sin defensas,
luceros sin cabañas
lunas sin patria,
nieves.
Nieves de esas caidas de una mano,
un nombre
un sueño
una frente.

No aquel que a sus cabellos
ató la muerte.

El que yo quería.

Sin arañar los aires,
sin herir hojas ni mover cristales.

Aquel que a sus cabellos
ató el silencio.

Para, sin lastimarme,
cavar una ribera de luz dulce en mi pecho
y hacerme el alma navegable.

O Anjo Bom

Vinho era o que queria,
ele que me chamava.

Não aquele que varre céus sem defesa,
Luzes sem cabanas
luas sem pátria
neve.
Neve dessas caídas de uma mão,
um nome
um sonho
uma frente.

Não aquele que a seus cabelos
atou a morte.

Era o que eu queria.

Sem arar o ar,
sem ferir folhas ou mover cristais.

Aquele que a seus cabelos
atou o silêncio.

Para não se lastimar,
cavou um rio de luz doce no meu peito
e fez minha alma navegável.

RAFAEL ALBERTI


Los ángeles colegiales

Rafael Alberti

Ninguno comprendíamos el secreto nocturno de las pizarras
ni por qué la esfera armilar se exaltaba tan sola cuando la mirábamos.
Sólo sabíamos que una circunferencia puede no ser redonda
y que un eclipse de luna equivoca a las flores
y adelanta el reloj de los pájaros.

Ninguno comprendíamos nada :
ni por qué nuestros dedos eran de tinta china
y la tarde cerraba compases para al alba abrir libros.
Sólo sabíamos que una recta, si quiere, puede ser curva o quebrada
y que las estrellas errantes son niños que ignoran las aritmética.

Os Anjos Colegiais

Ninguém compreendeu o segredo noturno das ardósias
nem a razão pela qual a esfera armilar se exaltava quando a olhávamos.
Só sabíamos que um círculo não pode ser redondo
e que um eclipse da lua equivoca as flores
e adianta o relógio e dos pássaros.

Ninguém compreendia nada:
ou porque os nossos dedos eram de tinta chinesa
e a tarde fechava bares para a madrugada abrir livros.
Só sabiamos que uma reta, se você quiser, pode ser curva ou dobrada
e que as estrelas errantes são crianças que ignoram a aritmética.














Ilustração: freddycharlson.blogspot.com/

Friday, December 19, 2008

O TEMPO VOA


surviving

Jim Chandler

the trick to
surviving
is not to
steel the body
to beat
the street tough
you can't
whip

but
to harden
the heart
to turn away
the thrusts
of pain
thrown by
soft hands
that once
touched lightly

with love

Sobrevivente

o truque para
sobrevivente
não é
ter o corpo de aço
para bater
na rua dura
como se fosse
um chicote

mas
para temperar
o coração
e se rebelar
dos eixos
da dor
só por meio de
mãos macias
que nos toquem
levemente

com amor

Thursday, December 18, 2008

ÁGUAS PRESENTES



Rios da minha vida

Ah! Madeira imenso
tão diferente quando agora penso
que és do Pajeu de minha infância
que, cada vez mais, fica pequeninho
na lembrança.

Só penso no teu lado musical
quando o sol te lambe
sensual
nos fins de tarde
e desperta em mim
a saudade que arde
de uma mulher.

Pensando bem:
sempre vivi nos rios
com saudades do mar.

ENTENDA....


SE POSSÍVEL


Rabindranath Tagore


Love's gift cannot be given,
it waits to be accepted.

O presente do amor não pode ser dado,
ele espera ser aceito.

Ilustração: http://jfernandolopes.com.sapo.pt/noitesdelisboa.jpg

Tuesday, December 16, 2008

DIVAGAÇÕES




Poema do que tinha de ser

O fato é que de ti só quero
o que tens de diferente, de parecido e de melhor,
Mas, o pior, contigo, é muito bom também.
Nem quero saber das coisas que não quiser me dizer
Embora esteja doido para te dizer
Muito mais do que queres saber:
Palavras amorosas, dengos e mesmo desejos pervertidos,
Que trago comigo.

Ah! Me pego pensando no teu rosto
Como será quando estiveres alvoroçada
Por pegar teus seios,
Que receios terás
Se te lamber mais do que devo
Numa fantasia única
De que és sorvete
Que sonhei quando criança.

A realidade é que, perto de ti,
Todo olhar meu é pornográfico
Como um gráfico
De uma realidade inevitável,
De um destino
Que não se pode fugir.

Monday, December 15, 2008

O'OLEARY


internal affairs

Joseph O'Leary

check my fellow passengers like a thief:

this woman's hands
look like hers and
her sweater covers her neck the same way
and others read
underneath the subversive light of the
subway car.

particular to a hint of snow,
and the slow relief of release,

a fresh coat of awe, thrown over everything,
startles.


Assuntos Internos


Investigo os meus colegas passageiros como um ladrão:

esta mulher das mãos
parecidas com a dela e
com o suéter que lhe cobre o pescoço da mesma forma
e outras leituras
debaixo da luz do subversiva
do vagão do metrô.

particular como uma bolada de neve,
e no lento alívio da liberação,

o tremor do novo casaco, sobre todas as coisas,
me assusta.

UMA POETISA DO URUGUAI



El deseo

Tatiana Orõno

Todo tuvo la forma
que no tuvo. Pero tiene

el deseo

persistencia una forma
fluida un amarre
de aguas. Más

del 50% de los cuerpos
es agua

tornasol del abrazo
molecular de hache
en torno a O.

En la suerte corrida en lo vivido
en su fe de bitácora
cuenta

ese suelo lacustre esa morada móvil esa frontera líquida

su espermático
don
de dividirse

en flujos en

regatos en subsuelos
barrosos. Mi mano palma y dorso
también es agua orilla
burilada por el deseo
que siempre borra el trazo.

Tanta agua humedece la historia.
Hace duda su suerte. Húmeda.


O desejo

Tudo teve a forma
que não teve. Porém, tem

o desejo

a persistência de uma forma
fluída, um encontro
das águas. Mais

de 50% dos corpos
são água

mistura do abraço
molecular do agá
com o O.

Na sorte da corrida da vida
Na sua fé na bússola

esse solo lacustre, essa morada móvel, essa fronteira líquida

seu espermático
dom
de dividir-se

em fluxos

em regatos em subsolos

enlameados. Minhas mãos e palmas
são também as beiras de água
buriladas pelo desejo
que sempre borram o traço.

Tanta água umedece a história.
Me faz duvidar de sua sorte. Úmida.

Ilustração: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI6hkq5BnMQIhgWfkYuWxbCXd2n1rUYmGYD2sudLt5a7yZ795sskwNXP2deloVQrpFbLJ52qVHDyaM7Ew5WzddE0LCEsy8eN3HONHRgb2T4zPrMdgQV2wk3KuctiPmylZ3AJCwTw/s400/CORAÇÃO+AGUA.jpg

Saturday, December 13, 2008

BERENGUER




BAR JAQUE MATE

Carmen Berenguer

A las minas del bar
(5.a.m.)


El devenir es un fantasma que no asusta a nadie.
(Permíteme decirlo)
con barniz amarillo
y renovado quedó el techo antiguo.

Sus espejos le devolvían el pasado.
Zócalos encubiertos con ribetes
de mierda de moscas: dejando una exudación,
a la entrega febril de una hora.

Es probable que se haya ordenado hacer el carnaval
post moderno en la Plaza,
para perderlo todo
ribeteado de estrellas en el cielo azul.

Sin duda zócalos amarillos.
Asientos de vinil y lámparas
palmeras salmón.
¿Es Satie postmoderno?

(Puedo perder la vida por una nota)


BAR CHEQUE MATE


Para as meninas do bar

(5.hs)


O futuro é um fantasma que não assusta ninguém.
(Permita-me dizê-lo)
com verniz amarelo
e renovado ficou o teto antigo.

Seus espelhos me devolviam ao passado.
Frisos encobertos com ornamentos
de merda de moscas: deixando a transpiração,
da entrega febril de uma hora.

É provável que tenham mandado celebrar o carnaval
pós-moderno na Praça,
para perder tudo
enfeitado de estrelas no céu azul.

Sem dúvida os frisos amarelos.
Assentos de vinil e lâmpadas
e palmeiras salmão.

Satie é pós-moderno?

(Posso perder a vida por um trocado)


http://67.15.211.4/~reporter/lestedeangola/bar_minhoto03.jpg

Thursday, December 11, 2008

ALLEN GINSBERG


Psalm IV

by Allen Ginsberg

Now I'll record my secret vision, impossible sight of the face of God:
It was no dream, I lay broad waking on a fabulous couch in Harlem
having masturbated for no love, and read half naked an open book of Blake
on my lap
Lo & behold! I was thoughtless and turned a page and gazed on the living
Sun-flower
and heard a voice, it was Blake's, reciting in earthen measure:
the voice rose out of the page to my secret ear never heard before-
I lifted my eyes to the window, red walls of buildings flashed outside,
endless sky sad Eternity
sunlight gazing on the world, apartments of Harlem standing in the
universe--
each brick and cornice stained with intelligence like a vast living face--
the great brain unfolding and brooding in wilderness!--Now speaking
aloud with Blake's voice--
Love! thou patient presence & bone of the body! Father! thy careful
watching and waiting over my soul!
My son! My son! the endless ages have remembered me! My son! My son!
Time howled in anguish in my ear!
My son! My son! my father wept and held me in his dead arms.

1960

Salmos IV

Agora irei recordar minha visão secreta, a impossível visão da face de Deus:
Não foi um sonho, eu abri os olhos num amplo e fabuloso sofá no Harlem
tendo me masturbado por não ter amor, e lido metade de um livro aberto de Blake, nu de meias, no meu colo
Lo & eis aí! Fui imprudente e virei uma página e olhei sobre a vida
num domingo em flor
e ouvi uma voz, era Blake, recitando no térreo sob medida:
a voz subindo para fora da página para meus secretos ouvidos nunca antes desvirginados -
Eu levantei os olhos para as janelas, paredes vermelhas relampejantes do exterior dos edifícios, sob um interminável céu triste de eternidade
a luz solar nascendo sobre o mundo, os apartamentos no Harlem de pé
sobre o universo-
cada tijolo e cornija colocados com inteligência como um vasto rosto vivído-
o grande cérebro com os pensamentos se desdobrando pelo deserto! - Agora falando
em voz alta com a voz de Blake -
Amor! Teu paciente presente de carne e osso! Pai! Tão cuidadoso
assistindo e esperando a minha alma!
Meu filho! Meu filho! As intermináveis idades têm te relembrado! Meu filho! Meu filho!
Quanto tempo de gritos de angústia no meu ouvido!
Meu filho! Meu filho! Meu pai chorou e ergueu-me em seus braços mortos.

Ilustração: http://eugenio.toledo.zip.net/images/salmo143.jpg

Wednesday, December 10, 2008

COMO EXISTE POESIA...



TAMBÉM NA SUA FALTA

Nada mais musical que o silêncio

Do teu olhar carinhoso

Quando não há nada o que falar.

Tuesday, December 09, 2008

A FORÇA DO AMOR



CORRIDA INFINITA

Todas as vezes que te procurava
Era para correr como um desesperado
Atrás de uma sombra que sempre corria mais.
Era uma corrida contínua e sem esperança
Ainda mais que uma voz me perseguia
Gritando com feroz autoridade
Que seria melhor esquecer antes que fosse tarde,
Mas, teimosamente, ainda assim persistia
E nem a corrida nem o pesadelo acabava
E lembro que era a vida que acabava
Sem que jamais conseguisse te esquecer.

Ilustração: http://letrasimples.blogs.sapo.pt/arquivo/1078271.html

Monday, December 08, 2008

CUMMINGS


i shall imagine life

by E. E. Cummings


i shall imagine life
is not worth dying,if
(and when)roses complain
their beauties are in vain

but though mankind persuades
itself that every weed's
a rose,roses(you feel
certain)will only smile

Eu devo imaginar a vida

Eu devo imaginar a vida
melhor do que a morte, se
(e quando) as rosa se queixam
de suas belezas serem em vão

mas penso que a humanidade persuade
a si própria que cada erva daninha
é uma rosa, rosas (você sente
certamente) só sorriem.

Saturday, December 06, 2008

UM POETA DE BOGOTÁ



Jazz del solitario

Federico Díaz-Granados

La moneda cayó por el lado de la soledad

Andrés Calamaro

El día de la creación
tendré semillas tuyas entre mis manos
y te dispersaré en el fértil territorio de cielos abolidos
o en la voz que persigue otras luces, otros fulgores.
Busca entonces la dirección de la guerra
no importa que tu ausencia sea del tamaño de la muerte
te buscaré al otro lado de la noche
cuando regresemos de esta estación de adioses que es la vida.


Jazz do solitário

A moeda caiu pelo lado da solidão
Andrés Calamaro

No dia da criação
Terei sementes tuas entre as minhas mãos
e te dispersarei no fértil território dos céus abolidos
ou na voz que persegue outras luzes, outros esplendores.
Depois, olhando o rumo da guerra
Não importa que tua ausência seja do tamanho da morte
te buscarei do outro lado da noite
quando regressaremos desta estação de adeuses que é a vida.

É TARDE



REMORSO

Hoje
Trago no corpo as dores do tempo
Tento lembrar
O riso e o sofrimento
É o que me resta
Herança da má sorte.

Hoje
Tento lembrar de noites esquecidas
Dos tempos bons que tive pela vida
Fotografias
Imagens distorcidas
Que se misturam
Nas mágoas que são fortes.

Hoje
Que pouco tempo
Me resta ainda de vida
Só penso em ti
Mulher doce, querida
E choro muito
Sem ter quem me conforte.

Hoje
É que lamento
A decisão tomada
Foi tanto tempo
Em que não vivi nada
Sabendo
Que deixei
Lá atrás toda minha vida.

Ilustração: http://mesillatyesharim.blogspot.com/2008/06/orchot-tsadikim-charat.html

PRELUTSKY


Last Night I Dreamed of Chickens

Jack Prelutsky

Last night I dreamed of chickens,
there were chickens everywhere,
they were standing on my stomach,
they were nesting in my hair,
they were pecking at my pillow,
they were hopping on my head,
they were ruffling up their feathers
as they raced about my bed.

They were on the chairs and tables,
they were on the chandeliers,
they were roosting in the corners,
they were clucking in my ears,
there were chickens, chickens, chickens
for as far as I could see...
when I woke today, I noticed
there were eggs on top of me.


Ontem à noite sonhei de frangos

Ontem à noite sonhei de frangos,
havia frangos em todo o lado,
eles estavam de pé sobre o meu estômago,
eles fizeram ninhos no meu cabelo,
e foram bicando a minha almofada,
até saltaram sobre minha cabeça,
ruflando forte com as suas penas
até correndo sobre a minha cama.

Eles estavam sobre as mesas e cadeiras,
se penduravam pelos lustres,
eles foram descendo nos cantos,
cacarejando sem cerimônia em meus ouvidos,
havia galinhas, frangos, pintinhos
até onde meus olhos podiam ver ...
e quando acordei hoje, eu reparei
que haviam os ovos em cima de mim.

Friday, December 05, 2008

UMA POETISA URUGAIA



Repetir el acto...

Claudia Magliano

Repetir el acto de repetir una escena cualquiera
cotidiana
como tocar cinco veces la taza del café
o mirar detrás de qué puerta por si acaso.
La infancia es un pasadizo de iteraciones
un rito inmaculado,
la casa es demasiado grande para tantas cosas
es necesario obedecerse
mantener el orden sin tentar el desafío,
es necesario estar solo
que nadie vea el desacato
la manifestación extraña de temerse.
Dos veces he dicho este poema
Dos.
Repito.

Repetir o ato….


Repetir o ato de repetir uma cena qualquer
cotidiana
como tocar cinco vezes a xícara de café
ou olhar detrás da porta apenas por acaso.
A infância é uma passagem das interações
um rito imaculado,
a casa é demasiada grande para tantas coisas
é necessário obedecer-se
manter a ordem sem tentar o desafio,
é necessário estar só
que ninguém veja o desacato
a manifestação estranha de temer.
Duas vezes eu disse este poema
duas.
Repito.

Ilustração: www.rfi.fr
(O ato é virgem mesmo repetido)

WHITMAN






To Old Age

by Walt Whitman

I SEE in you the estuary that enlarges and spreads itself grandly as it pours in the great
Sea.

A velhice

VEJO em ti o estuário que amplia e se vai se espalhando enormente por si mesmo, para se derramar no grande
Mar.

Ilustração: http://polonorte.blogspot.com/2005/06/eventualmente.html

DE VOLTA BUKOWSKI



Here I Am ...


by Charles Bukowski

drunk again at 3 a.m. at the end of my 2nd bottle
of wine, I have typed from a dozen to 15 pages of
poesy
an old man
maddened for the flesh of young girls in this
dwindling twilight
liver gone
kidneys going
pancrea pooped
top-floor blood pressure
while all the fear of the wasted years
laughs between my toes
no woman will live with me
no Florence Nightingale to watch the
Johnny Carson show with
if I have a stroke I will lay here for six
days, my three cats hungrily ripping the flesh
from my elbows, wrists, head
the radio playing classical music ...
I promised myself never to write old man poems
but this one's funny, you see, excusable, be-
cause I've long gone past using myself and there's
still more left
here at 3 a.m. I am going to take this sheet from
the typer
pour another glass and
insert
make love to the fresh new whiteness
maybe get lucky
again
first for
me
later
for you.

from "All's Normal Here" - 1985

Aqui estou eu

bêbado novamente as 3 da manhã, no final da minha 2ª garrafa
de vinho, depois de ter digitado de uma dúzia a 15 páginas de
poesia
um homem velho
enlouquecido pela carne das jovens neste
insignificante crepúsculo
fígado ferrado
rins acabados
pâncreas desmanchado
a pressão arterial lá no piso
enquanto todo o medo dos anos desperdiçados
gargalha entre os meus dedos
nenhuma mulher vai morar comigo
nenhuma Florence Nightingale para assistir ao
Johnny Carson Show comigo
se eu tiver um acidente vascular cerebral vou ficar aqui por seis
dias, meus três gatos avidamente me lambendo a carne
a partir de meus cotovelos, punhos, cabeça
o rádio tocando música clássica ...
Eu prometi a mim mesmo nunca escrever velhos poemas
mas isto é uma piada, você sabe, desculpável,
porque tenho
um longo passado usando a mim mesmo e outros mais
ainda mais à esquerda
aqui às 3 horas estou aproveitando esta folha de
papel
de outro material
para inserir
fazer amor de uma nova forma na sua brancura
talvez ter sorte
novamente
em primeiro lugar para
mim
depois
para você.

Ilustração: http://www.filosofix.com.br/blogramiro/?p=460

Wednesday, December 03, 2008

ATMOSFERA...LUZ...SOM...VOZ...



Ocaso do Cantor de Cabaré

Não sei por quantas noites tive que cantar
Em palcos pobres, ruins, locais chinfrins.
Só o meu amor a me encorajar
Dizia:"Vai lá! Canta para mim!"

E eu cantava a me desesperar
Sem ter esperança de sucesso, enfim,
Entre a vida miserável e o camarim
Minha estrela vivia a se apagar.

Muitas vezes até pedi a Deus em vão
Que me desse outra vida qualquer
Em que pudesse ter o leite e o pão
E não o corpo fácil de uma mulher.

A vida nos palcos é pura embriaguez
Ainda mais sendo cantor de cabaré.
O meu amor cansou se foi de vez
E passei a cantar sem amor nem fé.

As noites, os sons de pianos, violões,
Mulheres mentirosas, bebidas, sensações
E a minha voz se perdendo nas canções
Que falavam de perdidos corações

Começaram a criar a minha fama
De ser o melhor cantor possível
Dos que brilhavam na vida de lama
E me portava como um ser insensível.

Trocando apenas de mulher na cama
Passei a vida apenas encenando
Um personagem que ninguém mais ama
Quando a luz do palco vai se apagando.

EM FEITIO...


ORACIÓN

Cristina Peri Rossi

Líbranos, Señor,
de encontrarnos
años después,
con nuestros grandes amores.

Inmovilidad de los barcos” 1997

ORAÇÃO

Livrai-nos, Senhor,

de encontrarmos

anos depois

com nossos grandes amores.

Tuesday, December 02, 2008

UMA POETISA URUGAIA


DISTANCIA JUSTA

Cristina Peri Rossi

En el amor, y en el boxeo
todo es cuestión de distancia
Si te acercas demasiado me excito
me asusto
me obnubilo digo tonterías
me echo a temblar
pero si estás lejos
sufro entristezco
me desvelo
y escribo poemas.

“Otra vez eros” 1994

A distância justa

No amor e no boxe
Tudo é questão de distância
Se te aproximas demais me excito
Me apavoro
Me perco e digo tolices
Me sinto desmaiar,
Porém, se estais distante
Sofro, entristeço
Me desespero
E escrevo poemas.

Ilustração: Do blog Uma Distância repleta de sentires

RÁPIDO E RASTEIRO




SUCINTO

Quem morre, morre sozinho

Segue, segue

O teu caminho.


Ilustração: sonografo.blogspot.com/2008/06/ps-aniversrio.html

TRAINDO O GRANDE SUJO


So Now?

by Charles Bukowski

the words have come and gone,
I sit ill.
the phone rings, the cats sleep.
Linda vacuums.
I am waiting to live,
waiting to die.
I wish I could ring in some bravery.
it's a lousy fix
but the tree outside doesn't know:
I watch it moving with the wind
in the late afternoon sun.
there's nothing to declare here,
just a waiting.
each faces it alone.
Oh, I was once young,
Oh, I was once unbelievably
young!

from Transit magazine, 1994


Assim agora?

As palavras vem e vão,
Sinto-me mal.
o telefone toca, os gatos dormem.
Lindos vazios.
Estou esperando para viver,
esperando para morrer.
Gostaria de poder tocar com alguma bravura.
É uma péssima tradução,
mas a árvore lá fora não sabe:
Eu a assisti se mover com o vento
no final da tarde do domingo.
não há nada a declarar aqui,
apenas uma espera.
cada um está sozinho.
Ah, eu fui jovem uma vez,
Ah, eu fui inacreditavelmente jovem
uma vez!

Ilustração: http://amadeo.blog.com/repository/192540/1766948.jpg

Monday, December 01, 2008

JUAN GELMAN



COMPAÑEROS

Juan Gelman


En una casa para locos
vi lo ocurrido todavía.
Las páginas del dolor esquivado
en las mejillas del ausente.
Un árbol se parece allí
al espontáneo que no
espera ni una piedra. Los que aúllan
con imágenes tristes
lindan con un perro que muere.
El instante del agua solar
está muy lejos de la mano. Los
compañeros en la dilación
crean charcos
con los ojos nomás.

Os Companheiros

Num hospício
Vi o ocorrido, todavia.
As páginas da dor evitaram
As bochechas do ausente.
Uma árvore se parece ali
Ao espontâneo que não
Espera nem uma pedra. Aqueles que uivam
Com imagens tristes
Lidam com um cão que morre.
O instante da água solar
Esta muito longe da mão. Os
Companheiros com a demora
Criam charcos
Com os olhos apenas.

Del libro Mundar

OUTRO POETA MEXICANO



DIBUJO DE UNA CARICIA

José Maria Espinasa


RASPA CON las uñas la pared,
araña en el aire una ausencia.
En los dedos quedan huellas
de ese gesto inútil en el muro,
cicatrices en la piel son testimonio
de una ausencia más cruel
y de un silencio que se vuelve distancia.
El hueso y la sangre enamoran
y la carne -oscura alcahueta-
nos va dejando sin su ausencia.
Huella de huellas sigiliosas:
se mueve mi cuerpo por el cauce
que al moverse su cuerpo me regala,
me rehuye sin saberlo y me enamora
y en su silencio se rompe mi silencio.
Me enamoro
de su cuerpo y sus ojos y su pelo,
busco en el muro dibujar su mano
y que con un soplo acuda a mi llamado.

Piélago, 1990

O desenho de uma carícia

Raspa com as unhas a parede,
aranha no ar, uma ausência.
Nos dedos ficam marcas, trilhas
deste gesto inútil na parede,
as cicatrizes na pele são testemunhas
de uma ausência mais cruel
e de um silêncio que se faz distância.
O osso e o sangue se apaixonam
e a carne - escura aliciadora-
nos vai deixando sem sua ausência.
Trilha de trilhas sigilosas:
meu corpo move-se pelo leito
que ao mover-se seu corpo me presenteia,
me recolhe sem o saber e se enamora de mim
e em seu silêncio rompe meu silêncio.
Eu me apaixono

BLANCA LUZ



PRESAGIO

Blanca Luz Pulido

NADA en el mundo te alcanza todavía:
son tus labios de sombra,
y tu voz un fantasma.
Has surgido a la luz para mis ojos,
y te aumenta mi sangre,
y te encumbran mis venas.
Ya sin saberlo te acercas a tu forma,
y encenderás la llama
en la incesante noche que te espera.
Y sin saberlo escribirás tu nombre,
tu no nacido nombre, entre mis labios.

Del libro Raíz de Sombras.

Presságio

Nada no mundo te alcança, todavia:
São teus lábios de sombra,
E tua voz um fantasma.
Que surgiram da luz para meus olhos,
E te aumenta meu sangue,
E te encobre minhas veias.
Já sem o saber te acercas a tua forma,
E acenderás a chama
Na incessante noite que te espera.
E, sem sabê-lo, escreverás teu nome,
Teu não nascido nome, entre meus lábios.