Thursday, December 31, 2009

FELIZ 2010



Capítulozinho sobre o Amor

Não há nada melhor ou não conheço
Que um corpo se fundir em outro corpo, de forma doce,
Profunda e, se possível, bem devagar...
Com um improvável e cruel carinho
Que se converta aos poucos em pranto e prazer
Que lembra, no seu êxtase, o morrer...
Toda alegria nasce com o sofrer:
Sabe meu coração, que transparente,
Viveu do amor suas loucuras mais sensatas;
As dores doces, os gozos tão dourados,
O cinza dos adeuses, o fluir da prata
E nas suas chamas, como um Titanic humano,
Viu o naufrágio de todos os seus planos,
Ainda que sabendo que, na vida,
Amar é o melhor dos desenganos.

SEM VERGONHA




Sem vergonha

Um dia incendiarei teu rosto
De rubores e risos.
É minha noção de paraíso.

Montealegre


Enigmas

Jorge Montealegre

No me pidas
el diámetro de un círculo de agua
el espesor de la neblina
la velocidad del perfume de la tierra mojada
ni la figura exacta de una nube
No preguntes
por la hondura del siguiente silencio.

Enigmas

Não me peças
O diametro de um círculo de àgua
Nem a espessura da neblina,
A velocidade do perfume da terra molhada
Nem a figura exata de uma nuvem
Não perguntes
Pela profundidade do silencio seguinte.

Clara claramente


Qué puedo hacer...

Clara Valverde

Qué puedo hacer para que me hables silencio
te guardes las palabras
y escuches lo que no te digo:
que quiero perderme y tú seas el que busca.
Mientras el tiempo espera
seré luna de tu planeta
tus brazos, la gravedad.
Pero tú no me oyes no hablar
y yo le estoy cogiendo cariño a este deseo.


Que posso fazer

Que posso fazer para que me fales em silêncio
Te guarde das palavras
E escutes o que não te digo:
Que quero perder-me e que tu sejas o que busca.
Ainda que o tempo de espera
Seja a lua de teu planeta
Teu braços, a gravidade.
Porém, tu não me ouves não falra
E eu estou colhendo carinho para este desejo.

Clara novamente


En Tránsito

Clara Valverde

Pensaba que había dejado su alma
en el camino,
enzarzada en alguna nube
en tránsito.
No, su alma aún estaba ahí
en ese país lejano
abandonada entre libros polvorientos
que tristemente se quedaron
por falta de sitio en el baúl.

No trânsito

Pensava que havia deixado tua alma
No caminho
Emaranhada em alguma nuvem
Em trânsito.
Não tua alma ainda estava aí
Neste país distante
Abandonada entre livros empoeirados
Que tristemente ficavam abandonados
Por falta de lugar no baú.

CLARA VALVERDE


Mantiene su boca ocupada

Clara Valverde


Mantiene su boca ocupada
con palabras serias
para impedir que hablen sus anhelos,
pero sus ojos le traicionan
y dicen lo que sus labios harían
si sólo su boca los dejara.

Mantém tua boca ocupada

Mantém tua boca ocupada
Com palavras sérias
Para impedir que teus desejos falem,
Porém, teus olhos te traem
E dizem o que teus lábios fariam
Se só tua boca os deixasse.

Jorge Montealegre



San Mateo y el angel

Jorge Montealegre

En la penumbra de una iglesia romana
me acerco a la oscuridad de un Caravaggio
donde Mateo recibe la visita
del ángel de la memoria. Entre las sombras
soy testigo de un encuentro memorable.

São Mateus e o anjo

Na penumbra de uma igreja romana
Me avizinho na escuridão de um Caravaggio
Onde São Mateus recebe a visita
Do anjo da memória. Entre as sombras
Sou testemunha de um encontro memorável.

Carilda Oliver Labra



ME DESORDENO, AMOR, ME DESORDENO

Carilda Oliver Labra

Me desordeno, amor, me desordeno
cuando voy en tu boca, demorada,
y casi sin por qué, casi por nada,
te toco con la punta de mi seno.
Te toco con la punta de mi seno
y con mi soledad desamparada;
y acaso sin estar enamorada
me desordeno, amor, me desordeno;
y mi suerte de fruta respetada
arde en tu mano lúbrica y turbada
como una mal promesa de veneno;
y aunque quiero besarte arrodillada,
cuando voy en tu boca, demorada,
me desordeno, amor, me desordeno.

Me desordeno, amor, me desordeno

Me desordeno, amor, me desordeno
Quando beijo tua boca, demorada,
E quase sem por que, quase sem nada,
Te toco com a ponta dos meus seios.
Te toco com a ponta dos meus seios
E com a minha solidão desamparada;
E por acaso sem estar enamorada
Me desordeno, amor, me desordeno;
E minha sorte de fruta respeitada
Arde em tuas mãos lúbricas e turvadas
Como uma má promessa de veneno;
E ainda quero beijar-te enrodilhada,
Quando beijo tua boca, demorada,
Me desordeno, meu amor, me desordeno.

Darìo Jaramillo Agudelo


Te amo

Darìo Jaramillo Agudelo

Podría perfectamente suprimirte de mi vida,
no contestar tus llamadas,
no abrirte la puerta de la casa,
no pensarte, no desearte,
no buscarte en ningun lugar comun y no volver a verte,
circular por las calles por donde se que no pasas,
eliminar de mi memoria cada instante que hemos compartido,
cada recuerdo de tu recuerdo,
olvidar tu cara hasta ser capaz de no reconocerte,
responder con evasivas cuando me pregunten por ti,
y hacer como si no hubieras existido nunca.
Pero te amo.

Te amo

Poderia perfeitamente suprimir-te de minha vida,
Não responder tuas chamadas,
Não abrir a porta da casa,
Não mais pensar em ti, não desejar-te,
Não te buscar em nenhum lugar conhecido e não voltar a te ver,
Circular pelas ruas onde não passas,
Eliminar de minha memória cada momento que compartilhamos,
Cada recordação de tua recordação,
Esquecer teu rosto até ser capaz de não te reconhecer,
Responder com evasivas quando me perguntem por ti,
E fazer como se nunca tivesses existido.
Porém te amo.

Tuesday, December 29, 2009

BORGES



LA PANTERA

Tras los fuertes barrotes la pantera
Repetirá el monótono camino
Que es (pero no lo sabe) su destino
De negra joya, aciaga y prisionera.

Son miles las que pasan y son miles
Las que vuelven, pero es una y eterna
La pantera fatal que en su caverna
Traza la recta que un eterno Aquiles

Traza en el sueño que ha soñado el griego.
No sabe que hay praderas y montañas
De ciervos cuyas trémulas entrañas

Deleitarían su apetito ciego.
En vano es vario el orbe. La jornada
Que cumple cada cual ya fue fijada.

A pantera

Por trás das fortes barras a pantera
Repetirá o monótono caminho
Que é (porém, não o sabe) seu destino
De jóia negra, ameaçadora e prisioneira.

São milhares os que passam e milhares
Os que voltam, porém, é una e eterna
A pantera fatal que na sua caverna
Traça uma reta que um eterno Aquiles

Traça no sonho que sonhou em grego.
Não sabe que há pradarias e montanhas
De veados cujas trêmulas entranhas

Deleitariam o seu apetite cego.
É vão e vário o mundo. A jornada
Que cumpre cada um já foi fixada.

BORGES NOVAMENTE



LABERINTO

No habrá nunca una puerta. Estás adentro
Y el alcázar abarca el universo
Y no tiene ni anverso ni reverso
Ni externo muro ni secreto centro.

No esperes que el rigor de tu camino
Que tercamente se bifurca en otro,
Que tercamente se bifurca en otro,
Tendrá fin. Es de hierro tu destino

Como tu juez. No aguardes la embestida
Del toro que es un hombre y cuya extraña
Forma plural da horror a la maraña

De interminable piedra entretejida.
No existe. Nada esperes. Ni siquiera
En el negro crepúsculo la fiera.

Labirinto

Nunca haverá uma porta. Estais dentro
E o palácio abarca o universo
E não tem nem frente nem verso
Nem externo muro nem secreto centro.

Não esperes que a reta da tua estrada
Que teimosamente se bifurca em outra,
Que teimosamente se bifurca em outra,
Tenha fim. É de ferro tua sorte selada

Como teu juiz. Não aguardes a investida
Do touro que é um homem cuja estranha
Forma plural de horror de uma teia emaranhada

De interminável pedra entretecida.
Não existe. Nada esperes. Nem espera
No negro crepúsculo a besta fera.

JORGE LUIS BORGES


LOS ENIGMAS

Yo que soy el que ahora está cantando
Seré mañana el misterioso, el muerto,
El morador de un mágico y desierto
Orbe sin antes ni después ni cuándo.

Así afirma la mística. Me creo
Indigno del Infierno o de la Gloria,
Pero nada predigo. Nuestra historia
Cambia como las formas de Proteo.

¿Qué errante laberinto, qué blancura
Ciega de resplandor será mi suerte,
Cuando me entregue el fin de esta aventura

La curiosa experiencia de la muerte?
Quiero beber su cristalino Olvido,
Ser para siempre; pero no haber sido.

Os enigmas

Eu sou o que agora está cantando
Serei amanhã o misterioso, o morto,
O morador de um mágico e deserto
Mundo sem antes, nem depois nem quando.

Assim afirmo o místico. Eu creio
Indigno do Inferno ou da Glória
Porém, nada prevejo. Nossa história
Como as formas de Proteu muda com o meio.

Que errante labirinto, que brancura
Cega de resplendor será o meu destino,
Quando me entregar no fim desta aventura

À curiosa experiência da morte?
Quero beber seu esquecimento líquido
Ser para sempre; porém, não haver sido.

Humana contradição



Não há formas de lavar meus desejos impuros
Nem me livro do combustível sólido de teu corpo
Que me incendeia com um prazer que me atormenta
Por saber que entre beijos meus pecados são aumentados.
Tu queres que te ame e jamais te amarei,
Embora enquanto teus olhos se perdem no infinito,
Minhas mãos reinventem no teu corpo uma paixão que não há
E, no entanto, me faz, por momentos, insanamente feliz...
Nos teus braços a minha mentira se torna deliciosamente
insignificante....
E as palavras que sussurras nos meus ouvidos
Como uma melodia até me faz crer que, realmente, te amo
Como se os sentimentos fossem insondáveis
E o perfume da tua pele pudesse apagar a razão.
Na escuridão, porém, mal o amor se acaba em ais
Só penso em me afastar cada vez mais
Do corpo que me enche a alma de vazios
E os sentidos de desejos.

SEM FILOSOFIA



Eu não consigo ler mentes
Longe estou de ser vidente,
Ou mesmo de ler a mão,
Mas, por encanto, por intuição,
Sei do que você precisa
E é meu coração que avisa
Que tudo pode ser tão fácil...
Por que dificultar e se iludir?
A questão é apenas táctil:
Deixe o desejo fluir,
Feche os olhos lentamente
E só sente, sente, sente...
Sem pensar em questionar
Razões para o porquê de amar.

Wednesday, December 23, 2009

VOLTARAINE DE CLEYRE


I Am

Voltaraine De Cleyre

I am! The ages on the ages roll:
And what I am, I was, and I shall be:
by slow growth filling higher Destiny,
And Widening, ever, to the widening Goal.
I am the Stone that slept; down deep in me
That old, old sleep has left its centurine trace;
I am the plant that dreamed; and lo! still see
That dream-life dwelling on the Human Face.
I slept, I dreamed, I wakened: I am Man!
The hut grows Palaces; the depths breed light;
Still on! Forms pass; but Form yields kinglier
Might!
The singer, dying where his song began,
In Me yet lives; and yet again shall he
Unseal the lips of greater songs To Be;
For mine the thousand tongues of Immortality.


Eu sou

Eu sou! Os tempos pelos tempos rolando:
E o que eu sou, eu era, e eu vou ser:
pelo lento crescimento enchimento do meu alto destino,
E alargando, sempre, alargando mais a minha.
Eu sou a pedra que dormia; no fundo em mim
Aquele velho, o sono de idade deixou seus centenários traços;
Eu sou a planta que sonhou, e eis! Ainda vejo
Este sonho-moradia dando vida ao rosto humano.
Eu dormi, sonhei, eu acordava: Eu sou homem!
A cabana cresce Palácios; as profundezas da raça brilham;
Permanecem! As formas passam, mas, criam campos majestosos
Força!
O cantor, morrendo quando sua canção começou,
Em mim ainda vive, e mais uma vez, ele deve
Descerrar os lábios de canções maiores de ser;
Para jorrar as mil línguas da imortalidade.

LOLA HASKINS


Sleep Positions

Lola Haskins


This is how we sleep:
On our backs, with pillows covering our chests, heavy as dirt
On our sides, like wistful spoons
Clenched, knees in-tucked, arms folded
Wide, like sprawling-rooted lotuses

In Iowa on top of pictures of Hawaii, huge white flowers on blue
In New York on black satin
In China on straw.

This is how our dreams arrive:
As hot yellow taxicabs;
As sudden blazing steam, we who have been pots on a stove,
looking only at our own lids;
As uninvited insects, all at once on our tongues.

O hairdresser, auditor, hardknuckled puller of crabtraps, you who
think poetry was school, you who believe you never had
a flying thought,
lie down.

Posições de dormir

Isto é como nós dormimos:
Sob nossas costas, com travesseiros cobrindo o peito pesado, como sujeira
Sob nosso lado, como colheres melancólicas
Cerrados, em joelhos dobrados, os braços cruzados
Largos, como alastrando-se enraizadas lótus

Em Iowa em cima de fotos do Havaí, enormes flores brancas sobre azul
Em Nova Iorque, em cetim preto
Na China, sobre a palha.

Isto é como nossos sonhos chegam:
Como quentes táxis amarelos;
Como vapores ardentes de repente, nós que temos sido panelas no fogão,
olhando só para o nossas próprias tampas;
Como os insetos não convidado, todos de uma vez em nossas línguas.

O cabeleireiro, auditor, o puxador das duras armadilhas de caranguejos, você que
pensava ser poeta na escola, você que acredita que nunca teve
um pensamento voando,
deita-se.

CAROL ANN DUFFY


Talent

Carol Ann Duffy


This is the word tightrope. Now imagine
a man, inching across it in the space
between our thoughts. He holds our breath.

There is no word net.

You want him to fall, don't you?
I guessed as much; he teeters but succeeds.
The word applause is written all over him.


Talento

Esta é a corda bamba da palavra. Agora imagine
um homem, por toda ela avançando no espaço
entre os nossos pensamentos. Ele prende a respiração.

Não há rede de palavras.

Você quer que ele caia, não é?
Imaginei tanto, ele oscila, mas, é bem-sucedido.
O termo aplausos é a palavra sobre ele.

Sunday, December 20, 2009

ALESSIO BRANDOLINI




QUELLO CHE NON MERITO

Alessio Brandolini

Dentro di noi ci sono i pali delle luci
e i segnali abbattuti dal freddo polare
mi tendi la mano a uncino e io l’afferro
mi sollevo appena sulla punta dei piedi.

Più in alto trovo la sabbia e l’allegra
fila delle orme degli uccelli: la scrittura
insonne, vibrante nel rosso delle rose
nelle vene che scoppiano sulla fronte
nei segni dell’abbandono, delle spine
e sotto i cavi ghiacci perché uso il male
come un piccone, un martello pneumatico
vado a fondo nella carne (la mia, la nostra)
porto via il fegato, i polmoni, il cuore.

Quello che resta degli occhi.

O QUE NÃO MEREÇO

Dentro de nós há os postes de luz
E os sinais abatidos pelo frio polar
Estendes tua mão de gancho e a agarro
Me sustentando apenas pela ponta dos pés.

Mais para o alto encontro prazer na
fileira de pegadas de aves: a escrita
insone, vibrante em rosas vermelhas
veias que estouraram na testa
nos sinais de abandono, dos espinhos
e sob o gelo, porque uso os cabos errados
como uma picareta, uma britadeira
Eu vou fundo na carne (minha, nossa)
porta através do fígado, pulmões, coração.

O que resta dos olhos.

PERCETO II



(Talvez Obsessões Prazeirosas fosse um bom título)

PERCETO II

Sempre estive, estou errado,
Porém, ser certo é monótono.

Troco o tônico e átono,
As pernas e os bares sem pena.

A pena que me deram, ser poeta,
Me pesa nas pálpebras cansadas.

A minha amada trata o sexo
Como supérfluo e o essencial

Seria tê-la, três vezes ao dia,
Como me receitou o doutor

Que sabe da fraqueza imensa
Do meu pobre e velho coração.

Faz assim não! Faz! A poesia,
Como o sexo, não me dá nenhuma paz!

(Do livro A Alquimia da Vida, Editora Castanheira/Printer Laser, 1999).

JUAN GELMAN



PRESENCIA DEL OTOÑO

Juan Gelman

Debí decir te amo.
Pero estaba el otoño haciendo señas,
clavándome sus puertas en el alma.
Amada, tú, recíbelo.
Vete por él, transporta tu dulzura
por su dulzura madre.
Vete por él, por él, otoño duro,
otoño suave en quien reclino mi aire.

Vete por él, amada.
No soy yo él que te ama este minuto.
Es él en mí, su invento.
Un lento asesinato de ternura.

A presença de outono

Devo dizer que te amo.
Porém, estava o outono acenando,
cravando suas portas na minha alma.
Amada, tu, o recebe.
Vela por ele, carrega tua doçura
por tua doce mãe.
Vela por ele, por ele, o duro outono,
Outono suave em quem coloco o meu ar.

Vela por ele, amada.
Não sou eu que te ama neste minuto.
É ele em mim, tua invenção.
Um lento assassinato de ternura.

VERLAINE



Soneto d´Arvers.

Verlaine

Mon âme a son secret, ma vie a son mystère ;
Un amour éternel en un moment conçu,
Le mal est sans espoir ; aussi j’ai dû le taire,
Et celle qui l’a fait n’en a jamais rien su.

Hélas ? j’aurai passé près d’elle inaperçu,
Toujours à ses côtés et pourtant solitaire ;
Et j’aurai jusqu’au bout fait mon temps sur la terre,
N’osant rien demander et n’ayant rien reçu.

Pour elle, quoique Dieu l’ai faite douce et tendre
Elle ira son chemin, distraite et sans entendre
Ce murmure d’amour élevé sur ses pas,

A l’austère devoir pieusement fidèle,
Elle dire, lisant ces vers tout remplis d’elle,
« Quelle est donc cette femme ? » et ne comprendra pas.

Meu sonho

Minha alma tem seu segredo, um mistério minha vida.
Um amor que se fez eterno num momento.
Uma doença sem cura que trago escondida,
E que ninguém sabe causa o meu tormento.

Ai de mim! Passei por ela tão despercebida
Sempre a seu lado no seu isolamento,
Que toda minha vida na terra foi perdida
Sem nada ousar e sem qualquer lamento.

E ela, que Deus fez suave e complacente
Há de seguir seu caminho, surda, indiferente
Ao sopro de amor que em vão lhe siga.

A um austero dever piedosamente presa,
Ela dirá lendo estes versos, com certeza:
"Que mulher será esta que a tanto amor se nega?”

ROBERT GRAVES



SYMOTONS OF LOVE

Robert Graves

Love is a universal migraine,
A bright stain on the vision
Blotting out reason.

Symptoms of true love
Are leanness, jealousy,
Laggard dawns;

Are omens and nightmares –
Listening for a knock,
Waiting for a sign:

For a touch of her fingers
In a darkened room,
For a searching look.

Take courage, lover!
Could you endure such grief
At any hand but hers?

Sintomas do amor

O amor é uma universal dor de cabeça,
Uma mancha brilhante sobre a visão
Que apaga a razão.

Os sintomas do amor verdadeiro
São a magreza, o ciúme,
Um ar meio retardado;

São presságios e pesadelos-
Escutando uma batida
Esperando por um sinal:

Por um toque dos dedos
No quarto escuro,
Para um olhar pesquisando.

Tenha coragem, meu amor!
Você poderia suportar esta dor
Com qualquer um, mas ao lado dele?

Wednesday, December 16, 2009

INVERNO DO MEU TEMPO...



Sonho de Dezembro

Um dezembro jamais é igual ao outro.
Há dezembros dos quais nem me lembro.
Outros que faço questão de esquecer.
Há dezembros comuns e extraordinários.
Há este dezembro de sobressaltos
Em que tremo de tão surreal
Que me emociona
Faz bem e mal.
É um dezembro que me faz pensar
No que fiz e não fiz
Em quantos dezembros fui realmente feliz
Em quantos dezembros ainda terei
Com esta mesma vontade incontida de amar.
Se serão coloridos ou incolores
Ou se levarão embora as dores
Que tão criança,
No inverno da minha idade, me sinto
E, muitas vezes, tolda
A leve esperança
De que ainda viverei muito
E, quem sabe, contrariando a ciência e a lógica,
Por milagre
Começarei a rejuvesnecer.....

D.H. Lawrence


Piano

D.H. Lawrence

Softly, in the dusk, a woman is singing to me;
Taking me back down the vista of years, till I see
A child sitting under the piano, in the boom of the tingling strings
And pressing the small, poised feet of a mother who smiles as she sings.

In spite of myself, the insidious mastery of song
Betrays me back, till the heart of me weeps to belong
To the old Sunday evenings at home, with winter outside
And hymns in the cozy parlor, the tinkling piano our guide.

So now it is vain for the singer to burst into clamor
With the great black piano appassionato. The glamor
Of childish days is upon me, my manhood is cast
Down in the flood of remembrance, I weep like a child for the past.


Piano

Suavemente, na penumbra, uma mulher está cantando para mim;
Levando-me de volta a visão de anos passados, até eu ver
Uma criança sentada sob o piano, no ritmo das cordas feitas um formigueiro
E pressionando os pés pequenos, pousados numa mãe que sorri enquanto canta.

Apesar de mim, a insidiosa maestria da canção
Trai-me para voltar atrás, até que meu coração chora por pertencer
As velhas noites de domingo na casa antiga, com o inverno lá fora
E hinos na sala aconchegante com o piano saltitante como nosso guia.

Então agora é inútil para a cantora soar com uma voz excitante
Ao som do grande piano preto num appassionato. O glamour
Dos dias infantis caindo sobre mim, torna minha masculinidade casta
Descendo numa onda de lembranças e choro, como uma criança, o meu passado.

BENEDETTI


Cada ciudad puede ser otra

Mario Benedetti

Los amorosos son los que abandonan,
son los que cambian, los que olvidan.
Jaime Sabines

Cada ciudad puede ser otra
cuando el amor la transfigura
cada ciudad puede ser tantas
como amorosos la recorren

el amor pasa por los parques
casi sin verlos amándolos
entre la fiesta de los pájaros
y la homilía de los pinos

cada ciudad puede ser otra
cuando el amor pinta los muros
y de los rostros que atardecen
unos es el rostro del amor

y el amor viene y va y regresa
y la ciudad es el testigo
de sus abrazos y crepúsculos
de sus bonanzas y aguaceros

y si el amor se va y no vuelve
la ciudad carga con su otoño
ya que le quedan sólo el duelo
y las estatuas del amo

Cada cidade pode ser outra

Os amorosos são os que abandonam, são os que mudam, os que esquecem.
Jaimes Sabines

Cada cidade pode ser outra
Quando o amor a transfigura
Cada cidade pode ser tantas
Quando os amorosos viajam

O amor passa pelos parques
Quase sem vê-los se amando
Entre a festa dos pássaros
E a oração dos pinheiros

Cada cidade pode ser outra
Quando o amor pinta os muros
E dos rostos que entardecem
Um é o rosto do amor

E o amor vem e vai e regressa
E a cidade é a testemunha
De seus abraços e crepúsculos
De suas chuvas e trovoadas

E se o amor se vai e não volta
A cidade se entristece com seu outono
Já que lhe sobram só o luto
E as estátuas do amor

Tuesday, December 15, 2009

ELISEO DIEGO



CALMA

Eliseo Diego

Este silencio,
blanco, ilimitado,
este silencio
del mar tranquilo, inmóvil,

que de pronto
rompen los leves caracoles
por un impulso de la brisa,

Se extiende acaso
de la tarde a la noche, se remansa
tal vez por la arenilla
de fuego,

la infinita
playa desierta,
de manera

que no acaba,
quizás,
este silencio,

nunca?

CALMA

Este silencio,
Branco, ilimitado,
Este silencio
Do mar tranqüilo, imóvel,

Que de pronto
Rompe os leves caracóis
Por um impulso da brisa,

Se estende acaso
Da tarde a noite, se remansa
Talvez pelas areiazinhas
De fogo,

A infinita
Praia deserta,
De maneira

Que não acaba,
Talvez,
Este silencio,

Nunca?

Monday, December 14, 2009

NERUDA



Poesia

Pablo Neruda

Y fue a esa edad... Llegó la poesía
a buscarme. No sé, no sé de dónde
salió, de invierno o río.
No sé cómo ni cuándo,
no, no eran voces, no eran
palabras, ni silencio,
pero desde una calle me llamaba,
desde las ramas de la noche,
de pronto entre los otros,
entre fuegos violentos
o regresando solo,
allí estaba sin rostro
y me tocaba.


Yo no sabía qué decir, mi boca
no sabía
nombrar,
mis ojos eran ciegos,
y algo golpeaba en mi alma,
fiebre o alas perdidas,
y me fui haciendo solo,
descifrando
aquella quemadura,
y escribí la primera línea vaga,
vaga, sin cuerpo, pura
tontería,
pura sabiduría
del que no sabe nada,
y vi de pronto
el cielo
desgranado
y abierto,
planetas,
plantaciones palpitantes,
la sombra perforada,
acribillada
por flechas, fuego y flores,
la noche arrolladora, el universo.


Y yo, mínimo ser,
ebrio del gran vacío
constelado,
a semejanza, a imagen
del misterio,
me sentí parte pura
del abismo,
rodé con las estrellas,
mi corazón se desató en el viento.


Poesia

E foi a esta idade... Chegou à poesia
a me buscar. Não sei, não sei de onde
saiu, do inverno o rio.
Não sei como nem quando,
não, não eram vocês, não eram
palavras, nem silêncio,
porém, desde de uma rua me chamava,
desde dos princípios da noite,
de pronto entre os outros,
entre fogos violentos
ou regressando só,
ali estava sem rosto
e me tocava.

Eu não sabia o que dizer, minha boca
não sabia
nomear,
meus olhos eram cegos,
e algo golpeava em minha alma,
febre ou asas perdidas,
e me fui fazendo só,
decifrando
aquela queimadura,
e escrevi a primeira linha vaga,
vaga, sem corpo, pura
tonta,
pura sabedoria
do que não sabe nada,
e vi de pronto
o céu
descerrado
e aberto,
planetas,
plantacões palpitantes,
a sombra perfurada,
crivada
por flechas, fogo e flores,
a noite dominadora, o universo.

E eu, mínimo ser,
ébrio do grande vazio
constelado,
a semelhança, a imagen
dol mistério,
me senti parte pura
do abismo,
rodeie com as estrelas,
meu coração que se desatou ao vento.

GABRIELA MISTRAL


Decálogo del Artista

Gabriela Mistral


I. Amarás la belleza, que es la sombra de Dios sobre
el Universo.

II. No hay arte ateo. Aunque no ames al Creador,
lo afirmarás creando a su semejanza.

III. No darás la belleza como cebo para los sentidos,
sino como el natural alimento del alma.

IV. No te será pretexto para la lujuria ni para
la vanidad, sino ejercicio divino.

V. No la buscarás en las ferias ni llevarás
tu obra a ellas, porque la Belleza es virgen,
y la que está en las ferias no es Ella.

VI. Subirá de tu corazón a tu canto y te habrá
purificado a ti el primero.

VII.Tu belleza se llamará también misericordia,
y consolará el corazón de los hombres.

VIII.Darás tu obra como se da un hijo: restando
sangre de tu corazón.

IX. No te será la belleza opio adormecedor,
sino vino generoso que te encienda para la acción,
pues si dejas de ser hombre o mujer,
dejarás de ser artista.

X. De toda creación saldrás con vergüenza,
porque fué inferior a tu sueño, e inferior
a ese sueno maravilloso de Dios,
que es la Naturaleza.

Decálogo do artista

I- Amarás a beleza que é a sombra de Deus sobre
o universo.

II- Não há arte atéia. Ainda que não ames o Criador
o afirmarás criando à sua semelhança.

III- Não darás a beleza como sedativo para os sentidos,
sim como o natural alimento da alma.

IV- Não te será pretexto para luxúria nem para
a vaidade, sim exercício divino.

V- Não a buscarás em férias nem levarás
tua a elas, porque a Beleza é virgem,
e o que está em férias não é ela.

VI- Subirás de teu coração a teu canto e te haverás
purificado a ti em primeiro.

VII- Tua beleza se chamará também misericórdia,
e consolará o coração dos homens.

VIII- Darás tua obra como se dá um filho: restando
sangue em teu coração.

IX- Não te será a beleza ópio amortecedor,
sim vinho generoso que te incendeia para a ação,
pois, se deixas de ser homem ou mulher,
deixarás de ser artista.

X- De toda a criação sairás com vergonha,
porque foi inferior a teu sonho, e inferior
a esse sonho maravilhoso de Deus
que é a Natureza.

Sunday, December 13, 2009

PEDRO MIR



POUR TOI

Pedro Mir

Estoy de ti florecido
como los tiestos de rosas,
estoy de ti floreciendo
de tus cosas...
Menudo limo de amores
abona mis noches tuyas
y me florecen de sueños
como los cielos de luna...
Como tú mido los pasos
y la distancia es más corta,
hablo en tu idioma de amor
y me comprenden las rosas...
Es que ya estoy florecido.
Es que ya estoy floreciendo
de tus cosas.

Por ti

Estou de ti florescido
Como os bouquês de rosas,
Estou de ti florescendo
De tuas coisas...
Pequeno limo de amores
Abona minhas noites tuas
E me florescem de sonhos
Como os céus de lua...
Como tu meço os passos
E a distância é mais curta
Falo em idioma de amor
E me compreendes em rosas...
É que já estou florescido.
É que já estou florescendo
De tuas coisas.

LINA ZERÓN



CALENDARIO

Lina Zerón

Entre gritos y suspiros aprehendí tu alfabeto.
Hiedra en el muro
me sustento.
Construí secretos pasadizos hacia ti.
A mi acantilada soledad le diste aliento,
pasión a mis indescifrables instintos,
dicha a mis trozos de invierno.
Fui presente que tu boca delineó en el paraíso,
en el pasado tu cuerpo agua fue en mi cuerpo,
de tristezas compartidas construimos un futuro.
Hoy emergen los murmullos...
calendario de recuerdos.
zumbido de la abeja.

Calendário

Entre gritos e suspiros aprendi teu alfabeto.
Erva no muro
Me sustento.
Construi secretos paraísos até a ti.
A minha acantonada solidão destes alento,
Paixão a meus indecifráveis instintos,
Sorte a meus pedaços de inverno.
Fui presente que tua boca desenhou no paraíso,
No passado teu corpo foi água no meu corpo,
De tristezas compartilhadas construímos um futuro.
Hoje emergimos dos murmúrios....
Calendário de recordações.
Zumbido de abelha.

AINDA ELISEO


EN PAZ

Eliseo Diego

El gato duerme en la cocina
mientras la lluvia corre afuera.
Cien y mil años de penumbra.
La tarde solo un soplo afuera.

El gato duerme desde cuándo,
la lluvia es otra y otra, afuera.
El gato en paz, en paz el sueño,
y el agua hacia la mar
afuera.

Em paz

O gato dorme na cozinha
Enquanto a chuva chove lá fora.
Cem e mil anos de penumbra.
A tarde é só um sopro lá fora.

O gato dorme desde quando,
A chuva é outra e outra, lá fora.
O gato em paz, em paz o sono,
E a água corre para o mar
Lá fora.

UM POETA CUBANO


VERSIONES

Eliseo Diego

La muerte es esa pequeña jarra, con flores pintadas a mano, que hay en todas las casas y que uno jamás se detiene a ver.
La muerte es ese pequeño animal que ha cruzado en el patio, y del que nos consuela la ilusión, sentida como un soplo, de que es sólo el gato de la casa, el gato de costumbre, el gato que ha cruzado y al que ya no volveremos a ver.
La muerte es ese amigo que aparece en las fotografías de la familia, discretamente a un lado, y al que nadie acertó nunca a reconocer.
La muerte, en fin, es esa mancha en el muro que una tarde hemos mirado, sin saberlo, con un poco de terror.

Versões

A morte é essa pequena jarra, com flores pintadas à mão, que há em todas as casas e
Ninguém se detém jamais a ver.
A morte é esse pequeno animal que cruzou o pátio, e dele que nos consola a
Ilusão, sentida como um sopro, de que é só gato da casa, o gato de costume,
O gato que cruzou e aquilo que já não voltaremos a ver.
A morte é esse amigo que aparece nas fotografias de família, discretamente de
lado, e que ninguém chegou nunca a reconhecer.
A morte, enfim, é essa mancha no muro que uma tarde olhamos, sem saber,
Com um pouco de terror.

Saturday, December 05, 2009

LEOPARDI


A SE STESSO

Giacomo Leopardi


Or poserai per sempre,
Stanco mio cor. Per l'inganno estremo,
Ch'eterno io mi credei. Per . Ben sento,
In noi di cari inganni,
Non che la speme, il desiderio è spento.
Posa per sempre. Assai
Palpitasti. Non val cosa nessuna
I moti tuoi, né di sospiri è degna
La terra. Amaro e noia
La vita, altro mai nulla; e fango è il mondo.
T'acqueta omai. Dispera
L'ultima volta. Al gener nostro il fato
Non donò che il morire. Omai disprezza
Te, la natura, il brutto
Poter che, ascoso, a comun danno impera,
E l'infinita vanit del tutto.

PARA SI MESMO

Repousa para sempre,
Cansado coração meu. Para decepção extrema
Morreu o que cria ser eterno. Em mim bem sinto
Que dos queridos enganos,
Não a esperança, mas, o desejo foi desligado.
Repousa para sempre. Muito
Palpitastes. Nada vale coisa nenhuma
De tuas ansiedades, nem de suspiros é digna
A terra. Tediosa e amarga, a vida e lama é o mundo.
Acalma-te, pois. Desespera
A última vez. Ao genero nosso de fato
Não nos custa morrer. Despreza tu, portanto,
A natureza, o bruto
Poder, escondido, que para o dano comum impera
E a infinita vaidade de tudo.

Ilustração: www.overmundo.com.br/banco/dormente

Friday, December 04, 2009

PAVESE



Verrà la morte e avrà i tuoi occhi

Cesare Pavese

Verrà la morte e avrà i tuoi occhi-
questa morte che ci accompagna
dal mattino alla sera , insonne,
sorda , come un vecchio rimorso
o un vizio assurdo .
I tuoi occhi saranno una vana parola,
un grido taciuto, un silenzio .
Così li vedi ogni mattina
quando su te sola ti pieghi
nello specchio.
O cara speranza,
quel giorno sapremo anche noi
che sei la vita e sei il nulla
Per tutti la morte ha uno sguardo.
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi.
Sarà come smettere un vizio,
come vedere nello specchio
riemergere un viso morto,
come ascoltare un labbro chiuso.
Scenderemo nel gorgo muti.

Virá a morte e levará teus olhos

Virá a morte e levará os teus olhos-
esta morte que nos acompanha
de manhã à noite, insone,
surda, como um velho remorso
ou um vício absurdo.

Os teus olhos serão uma palavra vã,
um grito silencioso, um silêncio.
Então, cada manhã,
quando te inclinas sozinha o vê
no espelho.

Ó querida esperança
naquele dia, saberemos também nós
que és a vida e o nada
porque como a todos a morte te aguarda.

A morte virá e levará os teus olhos.
Será como largar um vício,
como ver no espelho
ressurgir um rosto morto
como escutar uns lábios fechados.
Desceremos no turbilhão, mudos.

TRISTEZA NÃO TEM FIM...



Modo de Ser

É minha estranha natureza.
Coitado de mim, coitado,
Não muda, não há mudado
Com choro, ou com cuidado,
O meu mal não se amansa
E meu sofrer não descansa
De chorar por ter chorado,
Todas as lágrimas dançam
No meu olhar desolado.

Os tempos se, por ventura,
Mudam, o sei pelo passar,
Não mudam minha tristura,
Que não consigo acabar,
Talvez pela desventura
De não te ver, não enxergar.
Nem mudam nada com os anos
Só acumulam os desenganos
Do triste e a sua tristeza
Se converte em natureza.

Wednesday, December 02, 2009

BUESA



Canción del Amor Lejano

José Angel Buesa

Ella no fue, entre todas, la más bella,
pero me dio el amor más hondo y largo.
Otras me amaron más; y, sin embargo,
a ninguna la quise como a ella.

Acaso fue porque la amé de lejos,
como una estrella desde mi ventana...
Y la estrella que brilla más lejana
nos parece que tiene más reflejos.

Tuve su amor como una cosa ajena
como una playa cada vez más sola,
que únicamente guarda de la ola
una humedad de sal sobre la arena.

Ella estuvo en mis brazos sin ser mía,
como el agua en cántaro sediento,
como un perfume que se fue en el viento
y que vuelve en el viento todavía.

Me penetró su sed insatisfecha
como un arado sobre llanura,
abriendo en su fugaz desgarradura
la esperanza feliz de la cosecha.

Ella fue lo cercano en lo remoto,
pero llenaba todo lo vacío,
como el viento en las velas del navío,
como la luz en el espejo roto.

Por eso aún pienso en la mujer aquella,
la que me dio el amor más hondo y largo...
Nunca fue mía. No era la más bella.
Otras me amaron más... Y, sin embargo,
a ninguna la quise como a ella.

Canção do Amor Distante

Ela não foi, entre todas, a mais bela,
porém, me deu um amor profundo e largo.
Outras me amaram mais,mas, sem embargo,
a nenhuma amei como amei a ela.

Acaso foi porque eu a amei distante,
como uma estrela desde de minha janela ...
E a estrela que brilha mais distante
Sempre achamos que tem um maior brilho.

Tive seu amor como uma coisa estranha
como uma praia cada vez mais solitária,
que unicamente guarda de toda a onda
uma umidade do sal sobre a areia.

Ela esteve em meus braços sem ser minha,
como a água num cântaro sedento,
como um perfume que se foi no vento
e que voltou com o vento, todavia.

Me penetrou com sua sede insatisfeita
como um arado na terra do planalto
abrindo como um rasgo muito alto
a esperança feliz de uma colheita.

Ela estava tão perto na lonjura,
mas preenchendo todos os vazios,
como o vento nas velas dos navios,
como a luz nos espelhos estilhaçados.

Por isto continuo a pensar nela,
que me deu o amor mais profundo e largo ...
Nunca foi minha. Nem foi a mais bonita.
Outras me amaram mais ... mas, sem embargo,
a nenhuma a quis como a queria.

Tuesday, December 01, 2009

A TUA ROSA



A tua rosa é vermelha
(E se não for pouco importa).
Quero tua rosa
De qualquer cor que seja.
Quero tua rosa
Que se não for vermelha
Vermelha deixarei
Com tantos beijos, tantos
Que, na tua rosa, darei.
Atrás das petálas macias
Que, com certeza, são
Quentes de tão vermelhas
Na minha sofreguidão
Ah! Que termo tão antigo
como os calores perdidos
no amor que, no passado,
queimou meu peito e o teu
E, mesmo passado o tempo,
na vida não se perdeu...