Monday, October 31, 2011

Elizabeth Bishop


Conversation

Elizabeth Bishop

The tumult in the heart
keeps asking questions.
And then it stops and undertakes to answer
in the same tone of voice.
No one could tell the difference.

Uninnocent, these conversations start,
and then engage the senses,
only half-meaning to.
And then there is no choice,
and then there is no sense;

until a name
and all its connotation are the same.

Conversa

Um tumulto no coração
me impede de fazer perguntas.
E então ele pára e se compromete a responder
no mesmo tom de voz.
Ninguém poderia dizer a diferença.

Inocentemente, esses iniciar de conversas,
e depois de envolver os sentidos,
é só metade do significado.
E então não há escolha,
e então não há nenhum sentido;

até que um nome
e todos os seus sentidos são os mesmos.

Ilustração: http://blogdogaviao.blogspot.com/2009/03/discutindo-relacao.html

Saturday, October 29, 2011

Iván Segarra Báez


X

Iván Segarra Báez

"El mejor placer de la vida es hacer lo que la gente te dice que no puedes hacer" Walter Bagehot

Y la vida se hace un rostro de tinieblas muertas
donde no hay un "Ave María" que te salve
de la desgracia absoluta de los hombres.
Y el camino se pierde para seguir a los hombres.
Cada noche respeta esta soledad tan amarga,
tan dura, hecha de rosas que tienen espinas.
Donde el pecado caído es el amor
y te lastima
y en sus cenizas tú te enredas con la muerte pequeña
que todos llevamos dentro del alma moribunda
y la palabra se hace misterios de la noche,
un refugio sin sol, un eco sin dicha
y lo banal es el espejo
de todo lo que vivimos
del recuerdo a la sombra de la vida,
de la nostalgia sin vida de la muerte fría
que no acaba jamás
con la palabra
"Melancolía".

X

"O maior prazer da vida é fazer o que as pessoas dizem que você não pode fazer" Walter Bagehot

E a vida se faz um rosto de trevas mortas
onde não há uma "Ave Maria" que te salve
da desgraça absoluta dos homens.
E o caminho se perde para seguir aos homens.
Cada noite respeita esta solidão tão amarga
tão dural, feita de rosas que têm espinhos.
Onde cair no pecado é o amor
e te lastima
e nas suas cinzas te enredas com a morte pequena
que todos nós levamos dentro da alma moribunda
e a palavra se torna mistérios da noite,
um refúgio sem sol, um eco sem dito
e o banal é o espelho
de todos os que vivemos
da recordação da sombra da vida,
da nostalgia sem vida da morte fria
que não acaba jamais
com a palavra
"Melancolia".

José Gorostiza


PAUSAS I

José Gorostiza

¡El mar, el mar!
Dentro de mí lo siento.
Ya sólo de pensar
en él, tan mío,
tiene un sabor de sal mi pensamiento

Pausas I

O mar, o mar!
Dentro de mim o sinto.
E só de pensar
nele, tão meu,
tem um gosto de sal meu pensamento

Thursday, October 27, 2011

Anais Nin


Risk

Anais Nin

And then the day came,
when the risk
to remain tight
in a bud
was more painful
than the risk
it took
to Blossom.

Risco

E então veio o dia,
quando o risco
de permanecer firme
como um botão
era mais doloroso
que o risco
de virar
flor.

Ainda Ho Xuan Huong


Confession III

Ho Xuan Huong

Her lonely boat fated to float aimlessly
midstream, weary with sadness, drifting.

Her hold overflowing with duty and feeling,
bow rocked by storms, adrift and wandering.

She rows on, not caring who tries to dock,
sails on, not caring who tries the rapids.

Whoever comes on board is pleased
as she plucks her guitar, sad and drifting

Confissão III

Seu barco solitário foi destinado a flutuar sem rumo
pelo meio da correnteza, cansado, tristemente, à deriva.

Seu domínio superava, com o dever e sentimento,
o arco abalado por tempestades à deriva e vagando.

Ela seguia adiante, não se importando em experimentar docas,
velas adiante, sem temor de tenta enfrentar as corredeiras.

Quem quer que fosse a bordo teria o prazer
de ver como como tocava seu violão, triste e à deriva.

Um poeta vietnamita


Autumn Landscape

Ho Xuan Huong

Drop by drop rain slaps the banana leaves.
Praise whoever sketched this desolate scene:

the lush, dark canopies of the gnarled trees,
the long river, sliding smooth and white.

I lift my wine flask, drunk with rivers and hills.
My backpack, breathing moonlight, sags with poems.

Look, and love everyone.
Whoever sees this landscape is stunned.

Paisagem de outono

Gota a gota a chuva bate nas folhas de bananeira.
Louvo quem desenhou esta cena desoladora:

exuberantes, a copa escura das árvores retorcidas,
o longo rio, deslizando suave e branco.

Eu levanto minha taça de vinho, bebida com rios e montanhas.
Minha mochila, respirando o luar, tonto com poemas.

Olho, e amo a cada um.
Quem vê esta paisagem fica embriagado.

Ilustração: http://peregrinacultural.wordpress.com/2009/06/28/quadrinha-para-uso-escolar-lua/

Wednesday, October 26, 2011

Ainda Miguel D'Ors


Calendario perpetuo

Miguel D’Ors

El lunes es el nombre de la lluvia
cuando la vida viene tan malintencionada
que parece la vida.

El martes es que lejos pasan trenes
en los que nunca vamos.

El miércoles es jueves, viernes, nada.

El sábado promete, el domingo no cumple
y aquí llega otra vez -o ni siquiera otra:
la misma vez- la lluvia de los lunes.

De "La música extremada"

Calendário perpétuo

Segunda-feira é o nome da chuva
quando a vida vem tão mal-intencionada
que parece a vida.

Terça-feira é que longe passam os trens
nos quais nunca vamos.

Quarta-feira é quinta-feira, sexta-feira, nada.

O sábado promete, o domingo não cumpre
e aqui chega outra vez, ou nem sequer outra:
a mesma vez, a chuva das segunda-feiras.

Miguel D’Ors


Como el agua

Miguel D’Ors

Como el agua
se afana
callada
bajo el trigo,

como la tierra,
humilde,
elabora
metales
y eleva
hasta la rosa
la hermosura,

así, de esa manera,
escribirás
tus versos:
sólo en hondo
silencio
germinan
las palabras
luminosas.

De "La música extremada"

Como a água

Como a água
esforça-se
calada
sob o trigo,

Como a terra,
humilde,
elabora
os metais
e eleva
até a rosa,
a formosura,

assim, dessa maneira,
escreverás
teus versos:
somente em profundo
silêncio
germinam
as palavras
luminosas.

Tuesday, October 25, 2011

Ruben Dário


La canción de la noche en el mar

Ruben Dário

¿Qué barco viene allá?
¿Es un farol o una estrella?
¿Qué barco viene allá?
Es una linterna tan bella
¡y no se sabe adónde va!
¡Es Venus, es Venus la bella!
¿Es un alma o es una estrella?
¿Qué barco viene allá?
Es una linterna tan bella…
¡y no se sabe adónde va!
¡Es Venus, es Venus, es Ella!
Es un fanal y es una estrella
que nos indica el más allá,
y que el Amor sublime sella,
y es tan misteriosa y tan bella,
que ni en la noche deja la huella
¡y no se sabe adónde va!

A canção da noite no mar

Que barco vem lá?
É um farol ou uma estrela?
Que barco vem lá?
É uma lanterna tão bela
E não se sabe onde vai!
É Venus, é Venus, a bela!
É uma alma ou é uma estrela?
Que barco vem lá?
É uma lanterna tão bela ...
E não se sabe onde vai!
É Venus, é Venus, é ela!
É uma luz e é uma estrela
que indica mais além
e que é o amor sublime sela,
e é tão misteriosa e tão bela
que nem na noite deixa rastro
E ninguém sabe onde vai!

Ilustração: settingsbia.blogspot.com

Juan Juaristi


Las ollas de Egipto

Juan Juaristi

Qué inútil el recurso a los recuerdos
o al consuelo banal de otras caricias,
porque has perdido para siempre a aquélla
que devastó tu carne enamorada.

(Sólo el remordimiento prevalece).

"Diario de un poeta recién cansado" 1985

As panelas do Egito

Como é inútil é o recurso das recordações
ou ao conforto banal de outras carícias,
porque perdestes para sempre aquela
que devastou tua carne enamorada.

(Somente a culpa prevalece).

Sunday, October 23, 2011

Eduardo Milán


Por qué amo tu locura...

Eduardo Milán


¿Por qué amo tu locura,
tu desparpajo, tu falta
de reloj y tus atajos
cuando estoy prácticamente a punto
de caer de cabeza en el abismo?

O sea en ti. Pero no sólo
eso: hay mucho más de ti que quiero
y no revelo. Esa lámpara
que enciendes en el fondo.

Porque amo a tua loucura ...

Porque amo a tua loucura
teu desajeitamento, a tua falta
de relógio e teus atalhos
quando estou praticamente a ponto
de cair de cabeça no abismo?

Ou seja, em ti. Porém, não é só
isto: há muito mais de ti que quero
e não revelo. Esta lâmpada
que acendes lá no fundo.



ILustração; http://elefantedememoria.blogspot.com

Insaciável amor


Antes mesmo da nudez
Já estavas nua
Para os meus olhos que estarrecidos
Como se fossem raios X
Examinavam a pele tua
Com as luzes fortes do desejo.

Não sei nem se tu sabes,
Mas, o amor compreende
Muito mais que os rumores dos lençóis,
Os líquidos, o suor, os beijos, a saliva....
O amor é esta coisa viva
Que nos acende
E nos torna os devoradores das horas,
Dominadores dos corpos,
Conquistadores da carne
Exploradores da alma.

O amor é a violência e a calma
De querer ser e ter o outro
E sempre achar pouco.

Saturday, October 22, 2011

Ainda Grace Nichols


Invitation

by Grace Nichols

1
If my fat
was too much for me
I would have told you
I would have lost a stone
or two

I would have gone jogging
even when it was fogging
I would have weighed in
sitting the bathroom scale
with my tail tucked in

I would have dieted
more care a diabetic

But as it is
I’m feeling fine
feel no need
to change my lines
when I move I’m target light

Come up and see me sometime

2

Come up and see me sometime
Come up and see me sometime

My breasts are huge exciting
amnions of water melon
your hands can’t cup
my thighs are twin seals
fat as slick pups
there’s a purple cherry
below the blues
of my black seabelly
there’s a mole that gets a ride
each time I shift the heritage
of my behind

Come up and see me sometime

From Fat Black Woman’s Poems

Convite

1
Se a minha gordura
fosse demais para mim
Eu teria dito a você
Eu poderia perder uma pedra
ou duas

Eu teria ido fazer ginástica
mesmo que o tempo fosse nebuloso.
Eu poderia ter me pesado
sentada na escala do banheiro
com o meu rabo dobrado

Eu poderia fazer uma dieta
mais cuidadosa que um diabético

Mas, como está
estou me sentindo muito bem
não sinto necessidade
de mudar minhas linhas
e quando passo sou alvo das luzes

Venha para cima de mim e veja em algum momento

2

Venha para cima de mim e veja em algum momento
Venha para cima de mim e veja em algum momento

Meus seios são enormes e excitantes
cápsulas de melancia
que suas mãos não podem conter
minhas coxas são selos gêmeos
de gordura como filhotes de cachorro lisos
há uma cereja roxa
abaixo do azul
da profundidade preta da minha barriga
há uma toupeira que pega carona
cada vez que eu mudo o património
por trás da mim.

Venha para cima de mim e veja em algum momento

Ilustração: www.cotidianogordo.blogspot.com/

Grace Nichols


Beauty

Grace Nichols

Beauty
is a fat black woman
walking the fields
pressing a breezed
hibiscus
to her cheek
while the sun lights up
her feet

Beauty
is a fat black woman
riding the waves
drifting in happy oblivion
while the sea turns back
to hug her shape

Beleza

Beleza
é uma gorda mulher negra
andar nos campos
pressionando como uma brisa
um hibisco
no seu rosto
enquanto o sol ilumina
seus pés

Beleza
é uma gorda mulher negra
cavalgando as ondas
deslizando feliz no esquecimento
enquanto o mar reflui
para abraçá-la mansamente

Friday, October 21, 2011

Jorge Montoya Toro


La amada indefinible

Jorge Montoya Toro

No podría encontrar la verdadera
palabra que trazara tu figura.
Y a veces le pregunto a mi amargura:
¿Cómo era, Dios mío, cómo era?
¿Era un ángel que vino en primavera
en forma de azucena que perdura?
¿Un poco de candor entre la impura
materia terrenal, perecedera?
Mas por mucho que quiero, no defino
su encanto inmaterial, ese secreto
que encierra su mirar esmeraldino:
Y la llamo Azucena, Estrella, Rosa,
sin que en ningún vocablo halle completo
el perfume de su alma misteriosa.

A amada indefinível
Não podia encontrar a verdadeira
palavra para desenhar tua figura.
E, às vezes, perguntei à minha amargura:
Como era, Deus meu, como era?
Foi um anjo que veio na primavera
em forma de acuçena que perdura?
Um pouco de candura entre a impura
matéria terrestre, perecedora?
Mas, por mais que deseje, não defino
seu encanto imaterial, este segredo
que encerra o seu olhar esmeraldino:
E a chamo de açucena, estrela, rosa,
Sem que nenhum termo traga completo
o perfume de sua alma misteriosa.

Thursday, October 20, 2011

Novamente Antonio Veneziano


N° VIII, Siciliano

Antonio Veneziano

In parti dubbiu e in parti sicuru,
fra lu zertu e l'inzertu scurru e penzu
contemplu ora lu chiaru, ora lu scuru,
e dugnu or'unu ed ora un autru senzu;
pisu, assuttighiu, bilanzu, misuru,
criju, non criju, risolvu e ripenzu,
ogn'hura penzu e guastu, muru e smuru,
e sempri ddà finixxu, undi 'ncumenzu.

Nº VIII, Siciliano

Em parte duvido e em parte estou seguro,
Entre o certo e o incerto me pergunto e penso,
Contemplo ora o claro, ora ao escuro,
E tenho ora um, ora outro sentido;
Peso, abstraio, sopeso e meço,
Creio, não creio, resolvo e repenso,
Cada hora concebo e destruo, faço e desfaço,
E sempre acabo onde começo.

Antonio Veneziano


La Celia, II

Antonio Veneziano

Naxxi in Sardigna un’erba, anzi un venenu,
chi, cui ‘ndi gusta, di li risa mori;
né antitodi ci ponnu di Galenu,
né Esculapiu incantati palori.
Cuss’iu, senza rimediu terrenu,
unu su’ dintra e n’autru paru fori;
su’ tuttu mestu e mustrumi serenu:
la vucca ridi e chiangimi lu cori.

La Célia, II

Nasce na Sardenha uma erva, talvez um veneno,
Que, quem o prova, morre de rir;
Não há antídoto atestou Galeno,
E para Esculápio nem reza encantada.
Assim sou eu, sem remédio terreno,
Por dentro sou um e outro por fora;
Sou todo manso e me mostro sereno:
A boca ri, mas, o coração chora.

Wednesday, October 19, 2011

Ainda Langston Hughes


April Rain Song

Langston Hughes

Let the rain kiss you
Let the rain beat upon your head with silver liquid drops
Let the rain sing you a lullaby
The rain makes still pools on the sidewalk
The rain makes running pools in the gutter
The rain plays a little sleep song on our roof at night
And I love the rain.

Canção da chuva de abril

Deixe a chuva beijar você
Deixe a chuva cair sobre sua cabeça com gotas líquidas de prata
Deixe a chuva cantar para você uma canção de ninar
A chuva ainda cria poças na calçada
A chuva faz correr rios na sarjeta
A chuva tamborila uma música sonolenta no nosso telhado à noite
E eu amo a chuva.

Langston Hughes


50-50

Langston Hughes

I’m all alone in this world, she said,
Ain’t got nobody to share my bed,
Ain’t got nobody to hold my hand—
The truth of the matter’s
I ain’t got no man.

Big Boy opened his mouth and said,
Trouble with you is
You ain’t got no head!
If you had a head and used your mind
You could have me with you
All the time.

She answered, Babe, what must I do?

He said, Share your bed—
And your money, too.

50-50

Eu estou sozinho neste mundo, ela disse:
Não tenho ninguém para compartilhar a minha cama,
Não tenho ninguém para segurar a minha mão
A verdade material é
Eu não tenho ninguém.

O pequeno rapaz abriu a boca e disse:
O seu problema é
É que você não tem cabeça!
Se você tinha cabeça não usou sua mente.
Você poderia me ter com você
O tempo todo.

Ela respondeu: Rapaz, o que devo fazer?

Ele disse: Compartilhar a sua cama
E o seu dinheiro, também.

Ilustração: http://nomundomoderno.blogspot.com/2010/12/minha-vida-e-um-mar-de-rosas-em-tua.html

Tuesday, October 18, 2011

Ainda que a chuva ou o tempo nos separe ou não...



Corazón coraza

Mario Benedetti

Porque te tengo y no
porque te pienso
porque la noche está de ojos abiertos
porque la noche pasa y digo amor
porque has venido a recoger tu imagen
y eres mejor que todas tus imágenes
porque eres linda desde el pie hasta el alma
porque eres buena desde el alma a mí
porque te escondes dulce en el orgullo
pequeña y dulce
corazón coraza

porque eres mía
porque no eres mía
porque te miro y muero
y peor que muero
si no te miro amor
si no te miro

porque tú siempre existes dondequiera
pero existes mejor donde te quiero
porque tu boca es sangre
y tienes frío
tengo que amarte amor
tengo que amarte
aunque esta herida duela como dos
aunque te busque y no te encuentre
y aunque
la noche pase y yo te tenga
y no.

Coração, couraça

Porque te tenho e não
porque te penso
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e diz amor
porque viestes recolher tua imagem
e és melhor que todas as imagens
porque és bonita dos pés até à alma
porque és boa desd’a alma a mim
porque te escondes doce no orgulho
pequena e doce
coração couraça

porque és minha
porque não és minha
porque te olho e morro
e pior que morro
se não te olho, amor,
se não te olho

porque sempre existes onde queiras,
porém, existes melhor onde te quero
porque tua boca é sangue
e tens frio
tenho que amar-te amor
tenho que amar-te
ainda que esta ferida doa como duas
ainda que te busque e não te encontre
e ainda
que a noite passe e eu te tenha,
ou não.

Mario Benedetti


Todavia

Mario Benedetti

No lo creo todavía
estás llegando a mi lado
y la noche es un puñado
de estrellas y de alegría
palpo gusto escucho y veo
tu rostro tu paso largo
tus manos y sin embargo
todavía no lo creo
tu regreso tiene tanto
que ver contigo y conmigo
que la cábala lo digo
y por las dudas lo canto
nadie nunca te reemplaza
y las cosas más triviales
se vuelven fundamentales
por que estás llegando a casa
sin embargo todavía
dudo de esta buena suerte
porque el cielo de tenerte
me parece fantasía
pero venís y es seguro
y venís con tu mirada
y por eso tu llegada
hace mágico el futuro
y aunque no siempre he entendido
mis culpas y mis fracasos
en cambio sé que en tus brazos
el mundo tiene sentido
y si beso la osadía
y el misterio de tus labios
no habrás dudas ni resabios
te querré más
todavía.

Todavia

Não o creio, todavia,
estais chegando ao meu lado
e esta noite é um punhado
de estrelas e alegria
apalpo, gosto, ouço e vejo
teu rosto, o teu passo largo
tuas mãos e, sem embargo,
não o creio, todavia,
o teu retorno tem tanto
a haver contigo e comigo
que a cabala que digo
e, por via das dúvidas, canto
não há quem te substitua
e as coisas mais triviais
se tornam fundamentais
porque estais voltando à casa,
sem embargo, todavia,
duvido desta boa sorte
porque o céu de te ter
me parece fantasia,
porém, vens e é seguro
e vens com o teu olhar
e por isto tua chegada
faz mágico o futuro
e ainda que nem sempre entenda
minhas faltas e meus fracassos
em troca sei que em teus braços
o mundo tem um sentido
e se beijo a ousadia
e o mistério de teus lábios
não há dúvidas, nem ressentimentos,
te amo mais
todavia.

Monday, October 17, 2011

Julio Herrera y Reissig


Fiat lux

Júlio Herrera y Reissig

Sobre el rojo diván de seda intacta,
con dibujos de exótica graminea,
jadeaba entre mis brazos tu virgínea
y exangüe humanidad de curva abstracta...

Miró el felino con sinuosa línea
de opalo; y en la noche estupefacta,
desde el jardín, la Venus curvilínea
manifestaba su esbeltez compacta.

Ante el alba, que izó nimbos grosellas,
bajándose las últimas estrellas...
El Cristo de tu lecho estaba mudo.

Y como un huevo, entre el plumón de armiño
que un cisne fecundara, tu desnudo
seno brotó del virginal corpiño...

Fiat Lux

Sobre o sofá de seda vermelha intacta
com desenhos de exótica gramínea,
dançava entre meus braços tua virgínia
e cansada humanidade de curva abstrata ...

Olhei o felino com sinuosa linha
de opala, e na noite estupefacta,
desd’o jardim, a Venus curvilínea
manifestava sua esbeltez compacta.

Ante a manhã, que içou nimbos de groselhas,
despediram-se as última estrelas ...
o Cristo de teu leito estava mudo.

E como um ovo, entre as plumas de arminho
que um cisne fecundará, teu desnudo
seio brotou do virginal corpinho...

Ilustração: http://cidadevigiada.blogspot.com/2008/07/fiat-lux-no-corel-painter-x.html

Yolanda Bedregal


Tus manos

Yolanda Bedregal

Canción de la esperanza
en el camino inútil
de mi vida, tus manos
cruzan como dos alas
cargadas de ternura.

As tuas mãos

Canção da esperança
no caminho inútil
da minha vida, as tuas mãos
cruzam como duas asas
carregadas de ternura.

Ilustração: http://hagnus.arteblog.com.br/

Saturday, October 15, 2011

Oscar Wilde e a Balada do Cárcere de Reading


The ballad of Reading gaol

Oscar Wilde

He did not wear his scarlet coat,
for blood and wine are red,
and blood and wine were on his hands
when they found him with the dead,
the poor dead woman whom he loved,
and murdered in her bed.

I never saw a man who looked
with such a wistful eye
upon that little tent of blue
which prisoners call the sky,
and at every drifting cloud that went
with sails of silver by.

I walked, with other souls in pain,
within another ring,
and was wondering if the man had done
a great or little thing,
when a voice behind me whispered low,
"that fellows got to swing".

I only knew what hunted thought
quickened his step, and why
he looked upon the garish day
with such a wistful eye;
man had killed the thing he loved
and so he had to die.

Yet each man kills the thing he loves
by each let this be heard,
some do it with a bitter look,
some with a flattering word,
the coward does it with a kiss,
the brave man with a sword!

The Governor was strong upon
the Regulations Act:
the Doctor said that Death was but
a scientific fact:
and twice a day the Chaplain called
and left a little tract.

We sewed the sacks, we broke the stones,
we turned the dusty drill:
we banged the tins, and bawled the hymns,
and sweated on the mill:
but in the heart of every man
terror was lying still.

The warders with their shoes of felt
crept by each padlocked door,
and peeped and saw, with eyes of awe,
grey figures on the floor,
and wondered why men knelt to pray
who never prayed before.

The warders strutted up and down,
and kept their herd of brutes,
their uniforms were spick and span,
and they wore their Sunday suits,
but we knew the work they had been
by the quicklime on their boots.

And all the while the burning lime
eats flesh and bone away,
it eats the brittle bone by night,
and the soft flesh by the day,
it eats the flesh and bones by turns,
but it eats the heart alway.

In Reading gaol by Reading town
there is a pit of shame,
and in it lies a wretched man
eaten by teeth of flame,
in a burning winding-sheet he lies,
and his grave has got no name.

He did not wear his scarlet coat,

A Balada do Cárcere de Reading


Ele não usava o seu casaco escarlate,
porque o sangue e o vinho são vermelhos;
e o sangue e o vinho estavam em suas mãos
quando o encontraram com a morta,
a pobre mulher morta a quem amava
assassinada no seu leito.

Eu nunca vi na vida um homem que tivesse
com os olhos tão cheios de angústia,
ao contemplar o pedaço de azul
que os prisioneiros chamam de céu
e as nuvens que passavam à deriva,
como velas prateadas pelo ar.

Caminhava junto a outras almas penadas
dentro de outro pátio,
e me perguntava se o homem havia feito
algo grande ou pequeno,
quando, às minhas costas, uma voz sussurrou baixo:
"O homem tem que ser enforcado".

Eu só sabia que um pensamento o perseguia
e lhe acelerava o passo e porque
olhava o deslumbrante dia,
com os olhos tão cheios de angústia;
o homem havia matado o que amava
por isto teria que morrer.

Se bem que todo homem mata o que ama,
para que todos escutem bem,
alguns o fazem com o rosto amargurado,
outros com a palavra enganadora,
o covarde o faz com um beijo,
O valente com uma espada!

O governador era um homem inflexível
ao tratar-se das leis e regulamentos
o doutor disse que a morte não era senão
um fato científico
e, duas vezes por dia, o capelão o chamava
e lhe deixava um pequeno folheto.

Nós cosíamos sacos, quebrávamos pedras
Nós girávamos a broca poeirenta:
Nós batíamos latas e berrávamos hinos,
porém, no coração de cada homem
Havia um terror dormindo.

Os guardas, com seus sapatos de feltro,
deslizavam por portas com cadeados,
e apareciam para ver com olhos assombrados
as figuras cinzas sobre o solo,
e se perguntavam por que os homens se agacham para orar
mesmo os que antes nunca haviam rezado.

Os guardas iam acima e abaixo gabando-se
e vigiavam o seu rebanho de bestas
nos seus uniformes limpos e arrumados,
e vestiam seus trajes de gala de domingo,
mas, nós sabíamos que trabalho estavam fazendo
pelo cal vivo de suas botas.

E, para sempre, a cal ardente
corrói a carne e o osso,
corrói o osso frágil na noite,
e a carne suave pelo dia,
corrói a carne e o osso por turnos,
mas, come sempre o coração.

No cárcere da cidade de Reading
há um fosso de vergonha
em que jaz um homem desventurado
consumido por dentes de chamas,
numa mortalha abrasadora jaz
e sua tumba não tem nome.

Ele não usava seu casaco escarlate.....

Thursday, October 13, 2011

E ainda Angel González


Ya nada es ahora


Angel González

Largo es el arte; la vida en cambio corta
como un cuchillo
Pero nada ya ahora
-ni siquiera la muerte, por su parte
inmensa-

podrá evitarlo:
exento, libre,

como la niebla que al romper el día
los hondos valles del invierno exhalan,

creciente en un espacio sin fronteras,

ese amor ya sin ti me amará siempre.

Já nada é agora

Larga é a arte; a vida em troca corta
como uma faca.
Porém, nada há agora
-nem sequer a morte, por sua parte
Imensa-

poderia evitá-lo:
desgarrado, livre,

como a névoa ao amanhecer
que os profundos vales do inverno exalam,

crescente num espaço sem fronteiras,

este amor já sem ti me amará para sempre.

Ilustração: carolinadourado.tumblr.com

Esta do Angel Gonzalez já a publiquei, mas...


Vale a pena reeditar corretamente

Canción, glosa y cuestiones

Angel González

Ese lugar que tienes,
cielito lindo,
entre las piernas,
ese lugar tan íntimo
y querido,
es un lugar común.

Por lo citado y por lo concurrido.

Al fin, nada me importa:
me gusta en cualquier caso.

Pero hay algo que intriga.

¿Cómo
solar tan diminuto
puede ser compartido
por una población tan numerosa?
¿Qué estatutos regulan el prodigio?


Canção, glosa e questões

Este lugar que tens,
ceúzinho lindo,
entre as pernas,
este lugar tão íntimo
e querido,
é um lugar comum.

Por tão citado e concorrido.

Ao fim, nada me importa:
Eu gosto em qualquer caso.

Porém, algo me intriga.

Como
um local tão diminuto
pode ser tão compartilhado
por uma população tão numerosa?
Que leis regulam este prodígio?

Tuesday, October 11, 2011

Angel González

Epílogo

Angel González


Me arrepiento de tanta inútil queja,
de tanta
tentación improcedente.
Son las reglas del juego inapelables
y justifican toda, cualquier pérdida.
Ahora
sólo lo inesperado o lo imposible
podría hacerme llorar:

una resurrección, ninguna muerte.


Epílogo

Me arrependo de tanta queixa inútil,
de tanta
tentação improcedente.
São as regras do jogo, inapeláveis
e justificam toda, qualquer perda.
Agora
só o inesperado ou o impossível
poderia me fazer chorar:
uma ressurreição, nenhuma morte.

Monday, October 10, 2011

Juan Gelman

su
Madrugada

Juan Gelman

Jugos del cielo mojan la madrugada de la ciudad violenta.
Ella respira por nosotros.

Somos los que encendimos el amor para que dure,
para que sobreviva a toda soledad.

Hemos quemado el miedo, hemos mirado frente a frente al dolor
antes de merecer esta esperanza.

Hemos abierto las ventanas para darle mil rostros.

De: Velorio del solo

Madrugada

Sucos do céu molham a madrugada da cidade violenta.
Ela respira por nós.

Somos os que acendemos o amor para que dure,
para que sobreviva a toda solidão.

Queimamos o medo, nós olhamos face a face para a dor
antes de merecer esta esperança.

Abrimos as janelas para lhes dar mil rostos.

Sunday, October 09, 2011

E Borges outra vez


Ewigkeit

Jorge Luis Borges

Torne en mi boca el verso castellano
a decir lo que siempre está diciendo
desde el latín de Séneca: el horrendo
dictamen de lo que todo es el gusano.

Torne a cantar la pálida ceniza,
los fastos de la muerte y la victoria
de esa reina retórica que pisa
los estandartes de la vanagloria.

No así. Lo que mi barro ha bendecido
no lo voy a negar como un cobarde.
Sé que una cosa no hay. Es el olvido;

sé que en la eternidad perdura y arde
lo mucho y lo preciso que he perdido:
esa fragua, esa luna y esa tarde.

De: El otro, el mismo (1964)

Ewigkeit (Eternidade)

Torne em minha boca o verso castelhano
para dizer o que sempre está dizendo
desde o latim de Sêneca: a horrível
opinião de que tudo é terrível.

Torne a cantar a pálida cinza,
as pompas da morte e da vitória
desta rainha retórica que pisa
os estandartes da vanglória.

Não é assim. O que o barro tem abençoado
Não vou eu negar como um covarde.
Eu sei que uma coisa não há. É o esquecimento;

Sei que na eternidade perdura e arde
O muito e o preciso que hei perdido:
esta forja, esta lua e esta tarde.

E de volta o grande Borges


Cuarteta

Jorge Luis Borges

Murieron otros, pero ello aconteció en el pasado,
que es la estación (nadie lo ignora) más propicia a la muerte.
¿Es posible que yo, súbito de Yaqub Almansur,
muera como tuvieron que morir las rosas y Aristóteles?


Del Diván de Almotásam el Magrebí (siglo XII).

Quadra

Morreram outros, porém, isto aconteceu no passado
que é a estação (ninguém ignora) mais propícia à morte.
È possível que eu, súdito de Almansur Yaqub,
morra como tiveram que morrer as rosas e Aristóteles?

Novamente Ezra Pound


Song Of The Degrees

Ezra Pound


I
Rest me with Chinese colours,
For I think the glass is evil.

II
The wind moves above the wheat-
With a silver crashing,
A thin war of metal.

I have known the golden disc,
I have seen it melting above me.
I have known the stone-bright place,
The hall of clear colours.

III
O glass subtly evil, O confusion of colours !
O light bound and bent in, soul of the captive,
Why am I warned? Why am I sent away?
Why is your glitter full of curious mistrust?
O glass subtle and cunning, O powdery gold!
O filaments of amber, two-faced iridescence!

Canção dos graus

I
Encontro-me com as cores da China,
Para que ache que o vidro é ruim.

II
O vento move-se por cima do trigo
Com um prateado farfalhar,
Uma fina guerra de metal.

Eu conheci o disco de ouro,
Eu já vi esta mistura sobre mim.
Eu conheci o lugar da pedra brilhante,
O salão das cores claras.

III
O vidro é sutilmente ruim, Ó confusão de cores!
A luz amarra-se e dobra-se em, a alma do cativo,
Por que estou procurando? Por que sou mandado embora?
Por que seu brilho é repleto de curiosa desconfiança?
O vidro sutil e astuto, Ó poeirento ouro!
Os filamentos de âmbar, de duas faces incandescentes!

Saturday, October 08, 2011

Ezra Pound


A Girl

Ezra Pound

The tree has entered my hands,
The sap has ascended my arms,
The tree has grown in my breast -
Downward,
The branches grow out of me, like arms.

Tree you are,
Moss you are,
You are violets with wind above them.
A child - so high - you are,
And all this is folly to the world.

Uma menina

A árvore entrou nas minhas mãos,
A seiva subiu pelos meus braços,
A árvore cresceu no meu peito -
Para baixo,
Os galhos cresceram para fora de mim, como braços.

A árvore que você é,
O musgo que é você,
Você que é as violetas dançando ao vento.
Uma criança - tão alta - você é,
E tudo isto é uma tolice para o mundo.

Ginsberg outra vez


An Eastern Ballad

Allen Ginsberg

I speak of love that comes to mind:
The moon is faithful, although blind;
She moves in thought she cannot speak.
Perfect care has made her bleak.

I never dreamed the sea so deep,
The earth so dark; so long my sleep,
I have become another child.
I wake to see the world go wild.

Uma balada do Leste

Eu falo do amor que me vem à cabeça:
A lua é fiel, apesar de cega;
Ela se move no pensamento e não fala.
O cuidado perfeito tem feito sua desolação.

Eu nunca sonhei com o mar tão profundo,
A terra tão escura, tão longo o meu sono,
Eu me tornei uma outra criança.
Eu acordo para ver o mundo ir à loucura.

Friday, October 07, 2011

Allen Ginsberg, my brothers


Sunflower Sutra

Allen Ginsberg-Berkeley, 1955

I walked on the banks of the tincan banana dock and
sat down under the huge shade of a Southern
Pacific locomotive to look at the sunset over the
box house hills and cry.
Jack Kerouac sat beside me on a busted rusty iron
pole, companion, we thought the same thoughts
of the soul, bleak and blue and sad-eyed,
surrounded by the gnarled steel roots of trees of
machinery.
The oily water on the river mirrored the red sky, sun
sank on top of final Frisco peaks, no fish in that
stream, no hermit in those mounts, just ourselves
rheumy-eyed and hungover like old bums
on the riverbank, tired and wily.
Look at the Sunflower, he said, there was a dead gray
shadow against the sky, big as a man, sitting
dry on top of a pile of ancient sawdust--
--I rushed up enchanted--it was my first sunflower,
memories of Blake--my visions--Harlem
and Hells of the Eastern rivers, bridges clanking Joes
Greasy Sandwiches, dead baby carriages, black
treadless tires forgotten and unretreaded, the
poem of the riverbank, condoms & pots, steel
knives, nothing stainless, only the dank muck
and the razor-sharp artifacts passing into the
past--
and the gray Sunflower poised against the sunset,
crackly bleak and dusty with the smut and smog
and smoke of olden locomotives in its eye--
corolla of bleary spikes pushed down and broken like
a battered crown, seeds fallen out of its face,
soon-to-be-toothless mouth of sunny air, sunrays
obliterated on its hairy head like a dried
wire spiderweb,
leaves stuck out like arms out of the stem, gestures
from the sawdust root, broke pieces of plaster
fallen out of the black twigs, a dead fly in its ear,
Unholy battered old thing you were, my sunflower O
my soul, I loved you then!
The grime was no man's grime but death and human
locomotives,
all that dress of dust, that veil of darkened railroad
skin, that smog of cheek, that eyelid of black
mis'ry, that sooty hand or phallus or protuberance
of artificial worse-than-dirt--industrial--
modern--all that civilization spotting your
crazy golden crown--
and those blear thoughts of death and dusty loveless
eyes and ends and withered roots below, in the
home-pile of sand and sawdust, rubber dollar
bills, skin of machinery, the guts and innards
of the weeping coughing car, the empty lonely
tincans with their rusty tongues alack, what
more could I name, the smoked ashes of some
cock cigar, the cunts of wheelbarrows and the
milky breasts of cars, wornout asses out of chairs
& sphincters of dynamos--all these
entangled in your mummied roots--and you there
standing before me in the sunset, all your glory
in your form!
A perfect beauty of a sunflower! a perfect excellent
lovely sunflower existence! a sweet natural eye
to the new hip moon, woke up alive and excited
grasping in the sunset shadow sunrise golden
monthly breeze!
How many flies buzzed round you innocent of your
grime, while you cursed the heavens of the
railroad and your flower soul?
Poor dead flower? when did you forget you were a
flower? when did you look at your skin and
decide you were an impotent dirty old locomotive?
the ghost of a locomotive? the specter and
shade of a once powerful mad American locomotive?
You were never no locomotive, Sunflower, you were a
sunflower!
And you Locomotive, you are a locomotive, forget me
not!
So I grabbed up the skeleton thick sunflower and stuck
it at my side like a scepter,
and deliver my sermon to my soul, and Jack's soul
too, and anyone who'll listen,
--We're not our skin of grime, we're not our dread
bleak dusty imageless locomotive, we're all
beautiful golden sunflowers inside, we're blessed
by our own seed & golden hairy naked
accomplishment-bodies growing into mad black
formal sunflowers in the sunset, spied on by our
eyes under the shadow of the mad locomotive
riverbank sunset Frisco hilly tincan evening
sitdown vision.

Sutra de girassol

Eu andava nas margens das docas de bananas nanicas
sentado sob a profunda sombra de uma locomotiva do Pacífico
Sul olhando para o por do sol sobre
o quadrado das casas nas colinas e chorei.
Jack Kerouac, sentado ao meu lado sobre um robusto pólo
de ferro enferrujado, me acompanhava, pensamos os mesmos pensamentos
de alma, sombria e azul e de olhos tristes,
cercados pelas raízes de aço retorcidos das árvores de
máquinas.
A água oleosa no rio espelhava o céu vermelho, o sol
afundava-se no topo de picos nos confins de Frisco, nenhum peixe nos
córregos, nem eremita naqueles montes, apenas nós mesmos
úmidos de olhos de ressaca e como velhos vagabundos
nas margens do rio, cansados e astutos.
Olhei para o girassol, ele disse, que era uma sombra
cinza morta contra o céu, grande como um homem, sentado
seco sobre uma pilha de antiga serragem -
- Corri encantado - foi o meu primeiro girassol,
memórias de Blake - minhas visões - Harlem
e Hells dos rios do Leste, pontes Joes rangendo
Sanduíches gordurosos, carrinhos de bebê morto, preto
piso de pneus esquecidos e não recuperados, o
poema da margem do rio, preservativos e panelas,
facas de aço, nada inoxidável, só a sujeira desagradável
e os artefatos afiados passando para o
passado -
e o girassol cinzento reclinado contra o pôr do sol,
densamente sombrio e ressecado pela fuligem e pela fumaça
das velhas locomotivas no seu olho -
corola de turvas pontas retorcidas e quebradas
como uma coroa arrebentada, de sementes roladas,
boca precocemente desdentada ao ar ensolarado, raios solares
se apagando na sua cabeça peluda como uma teia de fios secos de aranha,
folhas tesas como braços presos ao tronco, gestos
enraizados na serragem, quebrados pedaços de gesso
caídos dos galhos negros, uma mosca morta no seu ouvido,
Ímpia coisa velha arrebentada,você estava, meu girassol Ó
minha alma, como te amei, então!
A sujeira não era sujeira humana, mas, morte e humanas
locomotivas,
todas vestidas de poeira, esse véu de pele escurecida
da estrada, de fumaça da bochecha, de pálpebra de miséria
preta, essa fuliginosa mão ou falo ou protuberância de algo
artificial pior do que a sujeira - industrial -
moderna - toda a civilização manchando sua
louca coroa dourada -
e todos esses remelentos pensamentos de morte e olhos empoeirado
do desamor e tocos e raízes distrocidas embaixo,
dentro de seu monte de areia e serragem, notas de borrachas falsas de dólar,
pele de máquinária, as tripas e as vísceras
do carro que tosse chora, as latas vazias e abandonadas
com suas línguas enferrujadas de fora, o que
mais eu poderia nomear, a cinzas queimadas de algum
charuto galo, conas de carrinhos de mão e as
mamas leitosas de carros, bundas usadas em cadeiras
e esfíncteres dos dínamos - tudo isto
enredado nas suas raízes mumificadas- e você aí postado
diante de mim no pôr do sol, em toda a sua glória
em toda sua forma!
A beleza perfeita de um girassol! uma excelente e perfeita
existência de um adorável girassol! um doce olho natural
para uma nova quadra da lua, acordei vivo e excitado
agarrando na sombra o nascer do sol dourado
das brisa mensais!
Quantas moscas zumbiram ao seu redor inocente de sua
fuligem, enquanto você amaldiçoava os céus da
ferrovia na sua alma flor?
Pobre flor morta? Quando você se esqueceu que era uma
flor? Quando você olhou para a sua pele e
decidiu que era uma velha locomotiva impotente e suja?
o fantasma de uma locomotiva? o espectro e
a sombra de uma outrora poderosa locomotiva louca americano?
Você nunca foi uma locomotiva, girassol, você era um
girassol!
E você locomotiva, você é uma locomotiva, não esqueça
não!
Então eu peguei o duro esqueleto do girass e o finquei
ao meu lado como um cetro,
e entreguei o meu sermão à minha alma, e a alma de Jack
também, e quem iria ouvir,
- Nós não somos nossa pele de sujeira, nós não somos o nosso horrível
locomotiva sem imagem empoeirada e desolada, por dentro , somos todos
belos girassóis dourados, somos abençoados
por nosso própria semên & dourados corpos peludos e e nus
de realização, corpos em crescimento dentro dos loucos
girassóis negros e formais no pôr do sol, espiados pelos nossos
olhos sob à sombra da locomotiva louca
do cais na visão do poente de latas e colinas de Frisco
sentados ao anoitecer.

Thursday, October 06, 2011

Como se fosse Santo Agostinho


Minha vida é feita
das coisas mais mínimas
de quem crê num deus pequeno
e, impuro, reza, com sua fé derramada,
e a ajuda inesperada de um anjo errado,
com uma história de ovelha desgarrada.
E, por mais que negue meus pecados,
usando uma máscara de inocência,
nada encobre minha culpa
E a mim nada me basta
Nem a sombra que me deixa,
nem o corpo que se afasta,
nem a vontade de amar,
que só me faz pecar e prometer,
que, um dia, ainda, um santo hei de ser...

Delírios


este incessante querer
que não aceita o não ter
e vive a me empurrar
não tem como se acalmar

este sentir-se subir,
no momento de cair,
me faz permanecer no ar

este não ser e não estar
que se transforma em sonhar
que se afoga em sentir

este teimoso insistir
que é o meio de resistir
e inconsciente vagar

este imenso saber
de ignorância solar
É que me faz delirar

Wednesday, October 05, 2011

Trair Lord Byron? Minha professora de inglês há de me matar...


STANZAS FOR MUSIC

Lord Byron

I speak not - I trace not - I breathe not thy name,
There is grief in the sound - there were guilt in the fame;
But the tear which now burns on my cheek may impart
The deep thought that dwells in that silence of heart.

Too brief for our passion, too long for our peace,
Were those hours, can their joy or their bitterness cease?
We repent - we abjure - we will break from our chain;
We must part - we must fly to - unite it again.

Oh! thine be the gladness and mine be the guilt,
Forgive me adored one - forsake if thou wilt;
But the heart which I bear shall expire undebased,
And man shall not break it - whatever thou may'st.

And stern to the haughty, but humble to thee,
My soul in its bitterest blackness shall be;
And our days seem as swift - and our moments more sweet,
With thee by my side - than the world at our feet.

One sight of thy sorrow - one look of thy love,
Shall turn me or fix, shall reward or reprove;
And the heartless may wonder at all we resign,
Thy lip shall reply no to them - but to mine.

Estâncias para a música

Eu não falo. Não desenho. Respiro apenas o teu nome
Não há tristeza no som - nem havia culpa na fama;
Mas, a lágrima que agora arde no meu rosto pode dar conta
Do pensamento profundo que habita no silêncio do coração.

Muito breve para a nossa paixão, muito longa para a nossa paz,
Foram aquelas horas- pode cessar sua alegria ou sua amargura?
Nós nos arrependemos -abjuramos - desejamos romper nossas cadeias;
Devemos partir - é preciso voar- para nos unir novamente.

Oh! Que seja tua a alegria e minha a culpa,
Perdoa-me adorada- abandona-me se assim o desejais;
Mas o coração que carrego expirará sem ser rebaixado,
E os homens não o quebraram- o que só tu podéis.

E firme e altivo, porém, humilde diante de ti,
Há ser minh’alma na sua mais amarga escuridão;
E nossos dias hão de ser mais rápidos-e nossos momentos mais doces,
Contigo ao meu lado- mais que com o mundo aos teus pés.

Uma visão de tua dor-uma imagem do teu amor,
Haverá de me mudar ou confirmar-me, de castigar ou reprovar;
E os sem coração poderão maravilhar-se do tanto que renunciamos
E os teus lábios não responderão a eles- mas, aos meus.

Ilustração: http://ladydark-darkness.blogspot.com/

Lord Byron


SO, WE'LL GO NO MORE A ROVING...

Lord Byron

So, we'll go no more a roving
So late into the night,
Though the heart be still as loving,
And the moon be still as bright.
For the sword outwears its sheath,
And the soul wears out the breast,
And the hearth must pause to breathe,
And love itself have rest.
Though the night was made for loving,
And the days return too soon,
Yet we'll go no more a roving
By the light of the moon.

Não, não voltaremos mais a vagar

Assim é, não voltaremos a vagar
tão tarde dentro da noite,
ainda que o coração siga amando
e a lua continue a ter o mesmo brilho.

Pois, a espada se gasta em sua bainha,
e a alma se desgasta no seu peito,
e o coração deve deter-se para respirar,
e até mesmo o amor deve descansar.

Ainda que a noite tenha sido feita para amar,
e os dias retornem demasiadamente cedo,
ainda assim não voltaremos a vagar
sob a luz do luar.









Ilustração: aquelaquenaoeperfeita.blogspot.com

Tuesday, October 04, 2011

Frederico Rivas Frade


Postal

Frederico Rivas Frade

No sé si me engañaste, más fingiste
tan bien tu amor y tu entusiasmo loco,
que hoy, aunque nada entre los dos existe,
aún me parece que me amaste un poco.

Y si hoy, otra mujer, una alegría
dejar quisiera en mi existencia triste,
para hacerme feliz le pediría
que me engañara como tú lo hiciste.


Postal

Eu nem sei se me enganastes, mas, fingistes
tão bem o teu amor e o teu entusiasmo louco
que, hoje, ainda que nada entre nós dois existe,
ainda me parece que me amastes um pouco.

E se hoje, outra mulher, uma alegria
deixar quisera em minha existência triste
para me fazer feliz lhe pediria
que me enganasse como tu o fizestes.


ILustração: fanzineversoslivres.blogspot.com

Aprimorando a tradução do poema de Carlos Bousoño


Eres feliz

Eres feliz. Saber no quieras
lo que brilla en los ojos humanos.
Sonríe tú como mañana fresca,
como tarde colmada en su ocaso.
Porque eres eso, sí: la tarde pura
en que a veces yo mojo mis manos,
en que a veces yo hundo mi rostro.
¡La tarde pura en su placer dorado!
La savia dulce de la primavera,
toda la luz de la tarde en un cántico,
sube entonces feliz y presurosa
desde tu corazón hasta mis labios.

És feliz

És feliz. Saber não queiras
o que brilha nos olhos humanos.
sorria tu como a manhã fresca,
como a tarde gloriosa no seu ocaso.
Porque és isto sim, a tarde pura
em que, às vezes, molhei minhas mãos,
em que, às vezes, afundo meu rosto.
A tarde pura no seu prazer dourado!
A doce seiva da primavera,
toda a luz da tarde num cântico,
sobe, então, feliz e pressurosa
desde teu coração para os meus lábios.

Ilustração: http://poesiaemuitoamor.blogs.sapo.pt

Saturday, October 01, 2011

Mais de José Luis García Martins


Elogio del olvido

José Luis Garcia Martins

¿A qué grabar un nombre en las paredes,
manchar con torpes trazos la blancura
deslumbrante, impoluta, de la nada?
¿A qué este vano empeño de ir dejando señales,
de escribir en la arena, a resguardo del viento,
las triviales miserias que conforman tu vida?
Sobre las tercas líneas que dibujan un rostro
ha de pasar la mano piadosa de los años
borrando letras, sílabas, palabras sin sentido.
El papel en que escribes volverá a estar en blanco.
¿Y habrá dicha mayor que no haber sido?

De "El pasajero" 1992

Elogio ao esquecimento

Por que escrever um nome nas paredes,
manchar com torpes traços a brancura
deslumbrante, impoluta, do nada?
Por que este vão empenho de ir deixando sinais,
de escrever na areia, protegido do vento,
as misérias triviais que fazem sua vida?
Sobre as tenuês linhas que desenham um rosto
hão de passar a mão piedosa dos anos
apagando as letras, sílabas, palavras sem sentido.
O papel em que escreves voltará a ficar em branco.
Haverá sorte maior do que haver sido?

Ilustração: ultradownloads.uol.com.br

José Luis Garcia Martins


Al acecho

José Luis Garcia Martins


¿No oyes sus jadeos? Cada vez
yo los oigo más cerca: solo,
contigo, en medio del verano,
entre los gritos de la multitud,
junto al fuego, en invierno,
con un hermoso libro,
en el crujido de la nieve,
en el estruendo de la lluvia,
cuando enciendo las luces de mi casa,
cuando el mar, cuando llegas,
cuando alargo la mano
hacia los rojos frutos palpitantes.
Está ahí, al acecho,
alza la zarpa, espera.
Tú no la ves, sonríes,
sonrío yo también.
Déjame que te bese una vez más
antes de que su aliento nos alcance.

De "Material perecedero" 1998

À espreita

Não ouves sua respiração ofegante? Cada vez
eu ouço mais próximo: só,
contigo, no meio do verão,
entre os gritos da multidão,
junto ao fogo no inverno
com um belo livro,
com o ruído da neve,
o barulho da chuva,
quando acendendo as luzes de minha casa,
quando ouço o mar, quando chegas,
quando estendo as mãos
aos frutos vermelhos palpitantes.
Está lá, à espreita,
levanta a foice, espera.
Tu não a vês, sorri,
sorrio também.
Deixa que te beije uma vez mais
antes que sua respiração nos alcance.

Ilustração: D. Siqueira (jdbsiqueira.blogspot.com).