Sunday, May 27, 2012

Clara Santafé



AMOR (MÍO)

Clara Santafé
No soy rencorosa.
No lo fui nunca.
Enseguida se me olvidan celos, afrentas,
vaivenes de orgullos ajenos.
Pero hay días que necesito
vengarme de la Humanidad.
Así, en general.
Y decido llegar tarde a todas partes.
Me pone que me esperen.
Me encanta alegar al teléfono
excusas plausibles
poniendo voz de velocidad
mientras me apunto
uno más
y otro más
con estas manitas.
Sentada en el suelo de mi cuarto.
El suelo frío, mis muslos no.
Ésta es mi venganza particular,
y así he logrado no odiar jamás a nadie.
Yo siempre fui una chica lista.

Amor (meu)

Não sou rancorosa.
Nunca o fui.
Em seguida esqueço o ciúme, insultos,
flutuações de orgulho alheios.
Porém,  há dias em que preciso
vingar-me da humanidade.
Assim, em geral.
Eu decido chegar atrasada em todos os lugares.
Fazer com que me esperem.
Me encanta alegar ao telefone
desculpas plausíveis
acelerando a minha voz
enquanto me apronto
uma vez mais
e outras mais
com estas mãozinhas.
Sentada no chão do meu quarto.
O solo frio, minhas coxas não.
Esta é a minha vingança especial
e assim consegui não odiar a ninguém.
Eu sempre fui uma menina inteligente.


Ilustração: http://queridofrankie.blogspot.com.br/2010/03/diversao-feminina.html

E Gelman...


Cerezas

Juan Gelman

Esa mujer que ahora mismito se parece a santa teresa
en el revés de un éxtasis / hace dos o tres besos fue
mar absorto en el colibrí que vuela por su ojo izquierdo
cuando le dan de amar /
y un beso antes todavía /
pisaba el mundo corrigiendo la noche
con un pretexto cualquiera / en realidad es una nube
a caballo de una mujer / un corazón
que avanza en elefante cuando tocan
el himno nacional y ella
rezonga como un bandoneón mojado hasta los huesos
por la llovizna nacional /
esa mujer pide limosna en un crepúsculo de ollas
que lava con furor / con sangre / con olvido /
encenderla es como poner en la vitrola un disco de gardel /
caen calles de fuego de su barrio irrompible

y una mujer y un hombre que caminan atados
al delantal de penas con que se pone a lavar /
igual que mi madre lavando pisos cada día /
para que el día tenga una perla en los pies /

es una perla de rocío /
mamá se levantaba con los ojos llenos de rocío /

le crecían cerezas en los ojos y cada noche los besaba el rocío /
en la mitad de la noche me despertaba el ruido de sus cerezas creciendo /

el olor de sus ojos me abrigaba en la pieza /
siempre le vi ramitas verdes en las manos con que fregaba el día /
limpiaba suciedades del mundo /
lavaba el piso del sur /

volviendo a esa mujer / en sus hojas más altas se posan
los horizontes que miré mañana /
los pajaritos que volarán ayer /
yo mismo con su nombre en mis labios /

Cerejas

Esta mulher que agora mesmo se parece com Santa Teresa
no revés de um extâse/ faz dois ou três beijos ser
um mar absorto no vôo do beija-flor através de seu olho esquerdo
quando lhe é dado ao amor /
e um beijo antes, todavia, /
de andar no mundo corrigindo a noite
com um pretexto qualquer / na realidade é uma nuvem
cavalo de uma mulher / um coração
que avança num elefante quando tocam
o hino nacional e ela
resmunga como um bandoneon molhado até os ossos
pela chuva nacional /
esta mulher pede esmolas num crepúsculo de ondas
que lava com furor/ com sangue / com esquecimento /
que se incendeia ao colocar numa jukebox  um disco de Gardel /
caem ruas de fogo de seu bairro inquebrável

e uma mulher e um homem que andam atados
adiante das penas que se põem a lavar /
Como minha mãe todos os dias a lavar o piso/
para que um dia tenha pérolas aos  seus pés /

e uma pérola de orvalho /
mamãe se levantava com os olhos cheios de orvalho /

lhe cresciam cerejas nos  olhos e a cada noite as beijava o orvalho /
no meio da noite eu acordava com  o ruído de suas cerejas crescendo

o perfume de seus olhos me abrigava na sala /
e sempre vi galhos verdes nas suas mãos esfregando o dia /
limpando as sujeiras do mundo /
lavando o chão do Sul /

de volta para a mulher / nas suas folhas mais altas pousam
os horizontes que olhei na manhã /
os pássaros que voavam  no passado /
eu mesmo com o seu nome nos meus lábios /

Juan Gelman de volta



Teoría sobre Daniela Rocca

Juan Gelman

he aquí que daniela un día conversó con los ángeles
ligeramente derrumbados sobre sus senos góticos
fatigados del trance pero lúcidos lúbricos
y daniela advertía sus símiles contrarios
las puertas que se abren para seguir viviendo
las puertas que se cierran para seguir viviendo
en general las puertas sus misiones sus ángulos
ángulos de la fuga las fugas increíbles
los paralelogramos del odio y del amor
rompiéndose en daniela para dar a otra puerta
con la ayuda de drogas diversas y de alcoles
o de signos que yacen debajo del alcol
o daniela sacándose los corpiños sacándose
los pechos distanciados debido al ejercicio
del amor en contrarias circunstancias mundiales
daniela rocca loca dicen los magazines
de una pobre mujer italiana por cierto
que practicaba métodos feroces del olvido
y no mató a sus padres y fue caritativa
y un día de setiembre orinó bajo un árbol
y era llena de gracia como santa maría
(en Cólera buey, 1963)

Teoria sobre Daniela

Eis aqui Daniela que um dia conversou com anjos
ligeiramente caídos sobre seus seios góticos
fatigados do transe, porém, lúcido lúbricos
e Daniela advertia seus similares contrários
das portas que se abrem para seguir vivendo
das portas que se fecham para continuar vivendo
das portas em geral de suas missões e ângulos
ângulos de fuga, das fugas incríveis
paralelogramos de ódio e amor
rompendo-se em Daniela para dar em outra porta
com a ajuda das drogas e do alcool
e de signos que jazem sob o líquido
ou de Daniela tirando seus sutiãs
os seios distanciados devido ao exercício
do amor em oposição as circunstâncias mundiais
Daniela Rocca louca dizem as revistas
de uma pobre mulher italiana
que praticava ferozes métodos de esquecimento
e não matou seus pais e foi caridosa
e um dia de setembro urinou debaixo de uma árvore
e era cheia de graça como Santa Maria

Tuesday, May 22, 2012

E ainda Yanina



Yanina Magrini

Tengo menos compasión que gato hambriento.

La visión y el contacto con las bestias
o con hombres que se comen entre ellos de un bocado
es belleza de fuego.

El tocarlo todo

medirlo con vara del infierno,
desear las piernas ajenas, la boca del otro,
los muslos, el gemido, el fondo oscuro de las cosas.


Y no hablo de calmar esas bestias;

lejos de mí, tal vez,
hable del silencio como un animal que persiste en el centro de la casa,

brutal casi
ebrio.
Só por hoje
Tenho menos compaixão que um gato faminto.

A visão e contato com os animais
ou com os homens que se comem entre eles a cada mordida
é a beleza do fogo.

O toque é tudo

medido com uma vara do inferno
desejar as pernas alheias, a boca do outro,
coxas, gemido, o fundo escuro das coisas.


E não falo para acalmar as feras;

longe de mim, talvez,
falar de silêncio como um animal que persiste no centro da casa,

quase brutal
bêbado.

Ainda Magrini



Yanina Magrini

Casi que nunca amanece. Como equívoco cierto
nada se desprende de hoy.
Cambiemos noche por diluvio y dejemos el exceso
de lo humano sobre el manifiesto de su luz.

(Le sugiero a tu imbecilidad el instante de un relámpago
el intersticio de su voz).

A veces, un mínimo detalle
suele sanar toda intemperie del mundo. 

XXIII

Quase que nunca amanhece. Como equivoco certo
nada se desprende de hoje.
Mudamos a noite por um dilúvio e deixamos o excesso
do humano sobre o manifesto de sua luz.

(Sugiro a tua estupidez o instante de um relâmpago
no interstício de a tua voz).

Às vezes um mínimo detalhe
pode curar todas as intempéries do mundo.

Yanina Magrini



DESEO DE OTRO

Yanina Magrini

Lo hacemos despacio
para que no vuelque,
no salpique
toda excitación
el abuso de la lengua.


Cuando no hay nada que decir
hacemos del oído
necesidad
de palabra
en lo ajeno.

(Qué se yo,
algo así vendría a ser el poema.)

Desejo de outro

Façamos lentamente
para que não,
não salpique
toda a excitação
o abuso da linguagem.


Quando não há nada o que dizer
fazemos do ouvido
a necessidade
da palavra
no alheio.

(Que sei eu,
se algo assim viria a ser o poema.)

Saturday, May 19, 2012

Juan mais uma vez



Una mujer y un hombre 

Juan Gelmán 

Una mujer y un hombre llevados por la vida,
una mujer y un hombre cara a cara
habitan en la noche, desbordan por sus manos,
se oyen subir libres en la sombra,
sus cabezas descansan en una bella infancia
que ellos crearon juntos, plena de sol, de luz,
una mujer y un hombre atados por sus labios
llenan la noche lenta con toda su memoria,
una mujer y un hombre más bellos en el otro
ocupan su lugar en la tierra.
de "Gotán"

Uma mulher e um homem

Uma mulher e um homem levados pela vida,
uma mulher e um homem cara a cara
habitam na noite, desbordam por suas mãos,
se ouvidos são a subir livres na sombra,
suas  cabeça descansando sobre uma bela infância
que eles criaram juntos, cheias de sol, de luz,
uma mulher e um homem atados por seus lábios
enchem a noite lenta com toda a sua memória,
uma mulher e um homem mais belos um que o outro
ocupam o seu lugar na terra.
de "Gotán"

 Ilustração: midnightshards.blogspot.com

Sunday, May 13, 2012

Rosália Castro


Maio longo..., maio longo
  
Rosália de Castro

Maio longo..., maio longo,
todo cuberto de rosas;
para algús, telas de morte;
para outros, telas de bodas.

Maio longo, maio longo,
fuches curto para min:
veu contigo a miña dicha,
volvéu contigo o fuxir.

Maio longo...., maio longo

Maio longo...., maio longo
todo coberto de rosas;
para alguns, telas de morte;
para outros, telas de bodas.

Maio longo, maio longo,
fôstes curto para mim:
veio contigo a minha sorte,
voltou contigo a fugir. 

Ilustração: O ninho e a tempestade-Foto de Roberto Machado Alves

De novo Gelman



(Sin título)

Juan Gelman 

qué lindos tu ojos
y más la mirada de tus ojos
y más el aire de tus ojos cuando miran lejos
en el aire estuve buscando:

la lámpara de tu sangre
sangre de tu sombra
tu sombra
sobre mi corazón

(Tomado del libro "Dibaxu")


Que lindos os teus olhos
E mais o olhar dos olhos teus
E mais o ar de teus olhos quando miram distante
No ar que estive buscando:

a lâmpada de teu sangue
sangue de tua sombra

tua sombra
sobre o meu coração

Ilustração:  poesiasdoche.blogspot.com

Juan Gelman



Aloutte

Bendita la mano que me cortara los ojos
para que yo no vea sino a ti.

Y si me cortaran la lengua, su silencio
cantaría lleno de ti.

Y si me cortaran las manos, su memoria
sabría acariciarte a ti.

Y si me cortaran las piernas, su vacío
me llevaría hasta ti.

Y si luego me mataran
aún quedaría todo mi amor de ti.

Aloutte

Bendito seja a mão que  me cortar os olhos
para que eu não veja senão a ti.

E se me cortarem a língua, seu silêncio
cantaria pleno de ti.

E se me cortarem as mãos, sua memória
saberia acariciar a ti. 

E se me cortarem as pernas, seu vazio
me levaria até ti. 

E se, logo, me matarem
ainda restaria todo o meu amor por ti.

Wednesday, May 09, 2012

Gioconda Belli


YO, LA QUE TE QUIERE
  
Gioconda Belli

Yo soy tu indómita gacela,
el trueno que rompe la luz sobre tu pecho
Yo soy el viento desatado en la montaña
y el fulgor concentrado del fuego del ocote.
Yo caliento tus noches,
encendiendo volcanes en mis manos,
mojándote los ojos con el humo de mis cráteres.
Yo he llegado hasta vos vestida de lluvia y de recuerdo,
riendo la risa inmutable de los años.
Yo soy el inexplorado camino,
la claridad que rompe la tiniebla.
Yo pongo estrellas entre tu piel y la mía
y te recorro entero,
sendero tras sendero,
descalzando mi amor,
desnudando mi miedo.
Yo soy un nombre que canta y te enamora
desde el otro lado de la luna,
soy la prolongación de tu sonrisa y tu cuerpo.
Yo soy algo que crece,
algo que ríe y llora.
Yo,
la que te quiere.

Eu, o que te quer

Eu sou a tua indômita gazela,
O trovão que rompe a luz sobre teu peito.
Eu sou o vento  desatado na montanha
e o brilho concentrado do fogo do pinheiro.
Eu esquento tuas noites,
acendendo vulcões em minhas mãos,
molhando-te os olhos com a fumaça de minhas crateras.
Eu cheguei até ti envolto em chuva e recordação,
Rindo o riso imutável dos anos.
Eu sou o caminho inexplorado,
a claridade que rompe a escuridão.
Eu coloquei estrelas entre tua pele e a minha
e te  percorro inteira,
trilha após trilha,
desamarrarando o meu amor,
expondo o meu medo.
Eu sou um nome que canta e te namora
desde o outro lado da lua.
Eu sou a extensão do teu sorriso e teu corpo.
Eu sou algo que cresce,
algo que ri e chora.
Eu,
o que te quer.