Saturday, October 27, 2012

Poeminha em favor da mentira

                                                                              
A verdade é que vivemos de mentiras.                                           
Ainda bem.
Pessoas muito sinceras, de verdade,
sempre me parecem que mentem muito bem
ou não frequentam aulas de boa educação
ou, pior ainda, são despidas de caridade.
Só as mentiras nos permitem viver bem.

Ilustração: Botero

Enganos


Quando tudo parece estar sob controle,
como por encanto,
algum fio invisível escapa
e, zás,
o que parecia perfeito desmorona.
Todos os problemas vem à tona
e a vida,
que já não tem confôrto,
vira uma zona.
O que fazer?
Eu ia perguntar para você!

Ilustração: room4d.wordpress.com

Escolha


Que fazer quando são dois                                            
E só se tem lugar para um?
Se depender de muitos,
o que vale é a política.
Se depender de um
não há como negar:
-Qual é o saco
que se deve puxar?


Ilustração: arcadoconhecimento.blogspot.com

Friday, October 19, 2012

Enrique Lihn




Casi cruzo la barrera

Enrique Lihn

Casi cruzo la barrera
del espejo para ver
lo que no se puede ver:
el mundo cómo sería
si la realidad copiara,
y no al revés, el espejo
llena, por fin, de su nada.

Quase cruzo a barreira

Quase cruzo a barreira
do espelho para ver
o que não se pode ver:
o mundo como seria
se a realidade copiasse,
e não o inverso, o espelho
pleno, por fim, de seu nada.

Ilustração:  ennylima.blogspot.com

Rosário Castellanos




Apelación al solitário

Rosário Castellanos

Es necesario, a veces, encontrar compañía.

Amigo, no es posible ni nacer ni morir
sino con otro. Es bueno
que la amistad le quite
al trabajo esa cara de castigo
y a la alegría ese aire ilícito de robo.

¿Cómo podrías estar solo a la hora
completa, en que las cosas y tú hablan y hablan,
hasta el amanecer?

Apelo ao solitário

É necessário, às vezes, encontrar companhia.

Amigo, não é possível  nem nascer nem morrer
senão com o outro. È bom
que a amizade remova
do trabalho esta cara de castigo
e da alegria este ar ilícito de roubo.

Como você podes estar sozinho quando a hora
completa, em que as coisas e tu falam e falam,
até o amanhecer?

Ilustração:  foradoeixo.org.br

Tuesday, October 16, 2012

Lila Calderón




HABLAS                                                                             
(Fragmento)


Lila Calderón

El personaje está perdido
HABLAS       le preguntan
hablo y leo y pienso responde
y sé hacer música                    quiero saber
dónde estaban esos conocimientos
cómo me hiciste con quiénes
Soy malo o bueno                   y duda
Eran materiales    sólo materiales
responde Víctor Frankenstein
ante la impertinencia de su maniquí
Y sin embargo más tarde
el monstruo
dice haber terminado con la humanidad
y muere digno ante la muerte de su padre

(De Piel de maniquí)
 
FALAS
(Fragmentos)

O personagem está perdido
FALAS     lhe perguntam
Falo e leio e penso responde
E se fizer música     quero saber
onde estavam estes conhecimentos
como me fizestes e com quem
Sou bom ou mau            e dúvida
Eram materiais e só materiais
responde Victor Frankenstein
ante a impertinência de seu boneco
E, sem embargo, mais tarde
o monstro
diz haver terminado com a humanidade
e morre digno diante da morte de seu pai

Alexis Gómez Rosa



ERROR EN TIRO


Alexis Gómez Rosa

(Haciendo equilibrio entre el
postumismo  y la poesía sorprendida)

No te voy a engañar: tú bien sabes que del béisbol
                 viene el título.
El misterio lo he dejado en una caja fuerte. También
                 el subjetivismo.
Busco una poesía sin memoria la historia: sostiene
la torre de los locos de la que hago memoria
                  en tránsito hacia el coro.
(Una carta de presentación  con el decir de los vulgares,
-decía- que baile un merengue profano en todos
                  los sancochos).
Nada de cristalería, baratijas, ni fragilidades
                  de ángeles desterrados.
Los problemas del cuerpo, a la cama. A la poesía
                  se viene desnudo con los dientes
de leche, incubando los huevos de la fiebre
en la ruta de una estrella gitana.
Quiero una poesía que respire con el pulmón
                    de Moreno Jiménes,
el aire que le fue destinado a Manuel del Cabral.
Muerte al ángel doctrinario, nada de maniqueísmos.
Lo moral es ridículo.


Erro no tiro 

(Fazendo balanço
Postumismo surpreso e poesia)
Eu não estou enganado: tu sabes que o beisebol
                  é o título.
O mistério que me resta em um cofre. também
                  subjetivismo.
Buscando uma poesia sem história de memória: segurando
Torre de idiotas que fazem a memória
                   em trânsito para o coro.
(A carta com as palavras do vulgar,
Ele disse que uma dança merengue profano em tudo
                   os sancochos).
Nada de vidro, bijuterias, ou fragilidades
                  de anjos desterrados.
Os problemas do corpo, da cama. Para a poesia
                   se vem nu com os dentes de
leite, incubando os ovos da febre
na rota de uma estrela cigana. 

Quero uma poesia que respire com o pulmão
                    Moreno Jimenes,
o ar que estava destinado a Manuel del Cabral.
Morte ao anjo doutrinário, nada  de maniqueísmos.
A moral é ridícula.

Wednesday, October 10, 2012

Desculpas tolas




Eu sei que não te amei este ano
Da forma que devia ter te amado.
O tempo passado, porém, não apaga
Este amor que tenho conservado,
Sem aditivos ou estabilizantes,
Como uma preciosidade
Que me garante que a vida vale à pena
Ainda que não te veja ou não te escute
Por saber que existes e respiras
E estais em algum lugar distante.

Muitas vezes leio tuas palavras
E, como um crente, vejo tua imagem.
Sonho, rio, com teus sonhos viajo
Como se fosse possível sem te ver te adivinhar.
Sei que um dia a mágica há de acabar,
Mas, acredito, em ti como no presente:
Algo que se vive e nem se sente,
Porém, cuja beleza de viver
Me leva muito adiante. Há de haver um instante
Em que nos veremos frente à frente
E, decerto, será diferente.

O amor, como a vida, é incerto,
Um quebra-cabeças que os desejos e os risos
Eleva, desce e tanto causa dores como preces.
Eu não sei de nada e nem te conheço
Embora nos sonhos que teço
Está o de te conhecer
E, até nos meus mais leves sonos,
Isto é uma imensa fonte de prazer!

Sunday, October 07, 2012

Lihn novamente





Destiempo

Enrique Lihn

Nuestro entusiasmo alentaba a estos días que corren
entre la multitud de la igualdad de los días.
Nuestra debilidad cifraba en ellos
nuestra última esperanza.
Pensábamos y el tiempo que no tendría precio
se nos iba pasando pobremente
y estos son, pues, los años venideros.

Todo lo íbamos a resolver ahora.
Teníamos la vida por delante.
Lo mejor era no precipitarse.
 
Destempo

Nosso entusiasmo incentivava a estes dias  que correm
entre a multidão de dias iguais.
Nossa fraqueza totalizava neles
nossa última esperança.
Pensavámos e o tempo que não teria preço  
ia passando por nós pobremente
e estes são, pois, os próximos anos.

Tudo íriamos resolver agora.
Tinhamos a vida pela frente.
Era melhor não ter pressa.

Ilustração: Sandra Nascimento

Enrique Lihn




Ahora sí que tú y yo estamos más lejos uno del otro...

Enrique Lihn

Ahora sí que tú y yo estamos más lejos uno del otro
que dos estrellas de diferentes galaxias.
Ningún astrónomo logrará tenernos juntos
en su vertiginoso campo visual
ni el fotógrafo de Cartagena ante su Polaroid
así fue hace la infinidad de siete años
el resto de las imágenes son nubes de la memoria
y de aquélla y de todas se ha retirado la vida.

Agora sim tu e eu estamos mais longe um do outro ...

Agora sim tu e eu estamos mais longe um do outro
que duas estrelas de galáxias diferentes.
Nenhum astrônomo conseguirá nos ver juntos
no seu vertiginoso campo visual
nem o fotógrafo de Cartagena com sua Polaroid
assim foi feito pela infinidade de sete anos
o resto das imagens são nuvens da memória
e e aquela e todas se tenham retirado da vida.

Ilustração: celeirodosam.blogspot.com

Ainda Rosário Castellanos




Desamor

Rosário Castellanos

Me vio como se mira al través de un cristal
o del aire
o de nada.

Y entonces supe: yo no estaba allí
ni en ninguna otra parte
ni había estado nunca ni estaría.

Y fui como el que muere en la epidemia,
sin identificar, y es arrojado
a la fosa común.

Desamor
 
Me vi como se vê através de um vidro
ou do ar
ou do nada.

E então soube: eu não estava ali
nem em nenhuma outra parte
nem havia estado nem estaria.

E eu fui como o que morre na epidemia,
não identificado, e sendo lançado
na vala comum.

Ilustação: absolutearts.com ( Pintura de  Adela Casado).

Rosário Castellanos




Ajedrez                                          

Rosário Castellanos

Porque éramos amigos y a ratos, nos
amábamos;
quizá para añadir otro interés
a los muchos que ya nos obligaban
decidimos jugar juegos de inteligencia.
Pusimos un tablero enfrente
equitativo en piezas, en valores,
en posibilidad de movimientos.
Aprendimos las reglas, les juramos respeto
y empezó la partida.
Henos aquí hace un siglo, sentados,
meditando encarnizadamente
como dar el zarpazo último que aniquile
de modo inapelable y, para siempre, al otro.

Xadrez

Porque éramos amigos e, às vezes, nós
amavamos;
talvez para adicionar outros interesses
aos muitos que já nos obrigavam
decidimos jogar jogos mentais.
Pusemos um tabuleiro em frente
partes iguais em peças, em valores,
na possibilidade de movimentos.
Aprendemos as regras, juramos respeito
e começou o jogo.
Aqui estamos faz um século, sentados,
meditando encarniçadamente
como dar o último golpe para aniquilar
de modo inapelável e, para sempre, por outro lado.

Ilustração: arbitragemdexadrez.blogspot.com

Monday, October 01, 2012

Raúl González Tuñón


Los ojos de los muertos que ven nacer las lilás

Raúl González Tuñón

Los  muertos no están solos; hay una actividad
silenciosa y secreta, y un amable desdén
por aquellos que ignoran los detalles del tránsito.
Su indiferencia no es total; cambian las formas
y su fantasma va creciendo adentro, constante y sin apuro.

Es posible, no sé, que desde ese ángulo de visión cautivante
miren pasar los sueños, vean nacer las lilas
y descubran, de súbito, la derrota del tiempo.

de El rumbo de las islas perdidas, Editorial Descierto, Buenos Aires, 2012.

Os olhos dos mortos que nascem lilases

Os mortos não estão sozinhos; há uma atividade
silenciosa e secreta, e um amável desdém
por aqueles que ignoram os detalhes do trânsito.
Sua indiferença não é total; mudam as formas
e seu fantasma vai crescendo adentro, constante e sem pressa.

É possível, não sei, que a partir desse ângulo de visão cativante
olhem passar os sonhos, que nascerão lilases
e descubram, de repente, a perda de tempo.

de “O rumo das  ilhas perdidas”, Editorial Descierto, Buenos Aires, 2012.

Ilustração: "Nu Feminino Lilás" Pintura de Ana Luisa Kaminski "Cabeça Azul"
arteanaluisakaminski.blogspot.com


Sylvia Plath





Monologue at 3 A.M

Sylvia Plath

Better that every fiber crack
and fury make head,
blood drenching vivid
couch, carpet, floor
and the snake-figured almanac
vouching you are
a million green counties from here,

than to sit mute, twitching so
under prickling stars,
with stare, with curse
blackening the time
goodbyes were said, trains let go,
and I, great magnanimous fool, thus wrenched from
my one kingdom.

Monólogo às 3 da manhã

É melhor que se desgarre cada fibra
e a furia avance,
impregnando de sangue o vívido
sofá, o carpete, o piso
e a figura do almanaque em forma de serpente
confirmando que estais
a um milhão de verdes condados daqui,

que sentar-me muda, me retorcendo
sob as estrelas que brilham dançando,
com o olhar fixo, com a menstruação
manchando o tempo
de nos dizermos adeus, de deixar seguir os trens,
e eu, a grande estúpida, magnânima besta, vou sendo assim arrancada
de meu reino.

Ilustração: primeiros100anos.wordpress.com