Sunday, March 31, 2013

Javier Galarza



Caligrafias 

Javier Galarza

te convoco con palabras 
de mago. hasta romper mi boca
contra el silencio del alba.

para amar tu disolución 
en la sombra, la llovizna 
de tus dichos,

tu militancia en lo prohibido,

voy a quererte como pueda,
a decirte donde alcance.

voy a amar las celosías
del invierno, todo lo que humedezca
los dibujos con tu forma,

para que no se borre tu nombre
en la ventana, tu caligrafía
de vacilaciones,

las pintadas rebeldes
de nuestra resistencia
en la pared.

Caligrafias

Te convoco com palavras
de mago. Até romper a minha boca
contra o silêncio do amanhecer.

para amar a tua dissolução
na sombra, na chuva
de tuas palavras,

da tua militância no proibido

vou te amar como posso,
a  dizer-te até onde alcanço.
.

vou amar as friagens
do inverno, tudo o que umedeça
os desenhos da tua forma,

para que não se apague o teu nome
na janela, tua caligrafia
de vacilações,

os rebeldes grafites
de nossa resistência
na parede.

Ilustração: fiquepeixenarede.blogspot.com

De volta Mónica Jensen




DELANTAL

Mónica Jensen

Ella es la mujer que habita
la cámara secreta de todas las fragancias
y al solo contacto con el agua
convierte en pez
cada una de sus manos.
La que hace girar en el centro
del azúcar dorada
                              sus brebajes de amor
y su menta.
La que obliga a la sal
a navegar por ríos dulces,
hace magia con un palo de vainilla,
canta al orégano seco
y a los limones amarillos.
Ella es la mujer que acaricia
las primeras arvejas
y todo el pan lo reparte,
lo multiplica en la mesa;
la que ríe y llora al sur
de las aceitunas o los erizos.
Ella es la increíble mujer del delantal.

Avental

Ela é a mulher que vive
na câmara secreta de todas as fragrâncias
e a um só contato com a água
converte em peixe
cada uma de suas mãos.
A que faz girar no centro
do açúcar dourado
                               suas beberagens de amor
e de hortelã.
A que obriga o sal
a navegar por rios doces,
faz mágica com um pouco de baunilha
canta com orégano seco
e com uns limões amarelos.
Ela é a mulher que acaricia
as  primeiras ervilhas
e todo o pão que reparte,
o multiplica sobre a mesa;
a que ri e chora ao sul
das azeitonas ou dos ouriços.
Ela é a incrível mulher do avental.

Friday, March 29, 2013

Poema de domingo de Páscoa




Muitas coisas não posso compartir contigo.
Hoje, por exemplo, contigo dividiria sardinhas,
Mas, tive que comer peixe,
Aliás, um tambaqui tão gostoso
Que me pareceu doloroso
Beber cerveja e não chorar por ele,
Por ti, por mim, pela vida,
Esta estranha e maravilhosa ilusão.

Hoje, ri muito, intimamente,
De não poder rir francamente,
Gargalhar mesmo da ironia
De que a nossa covardia
Está em que somos tão razoáveis
Que, para todos parecemos criaturas amáveis,
E, no entanto, somos as feras
Que não sabem ferir
Senão a si mesmos.

Pensei até em te telefonar...
Para quê?
Se não poderia gozar de tua companhia.
Talvez, para dizer,
Que Cristo,
O que, segundo a História, não nasceu,
Como o amor que havia em mim, renasceu.

Nada fiz.
Comi, bebi e dormi.
Talvez, o conformismo e a aceitação,
Seja o caminho para ser feliz. 
Sei não...
Dormi contigo
Na mente e no coração. 

Mónica Jensen





ZAPATOS

Mónica Jensen

Te esperaron bajo el árbol de las lluvias
mis dos corderos mansos.
Sin otro destino.
Creciendo hacia adelante en la neblina
llamando a voces a los tuyos
para habitar contigo
la Casa del Padre y del Hijo.
Entre barco y barco:
Trinidad, Taitao y Tenglo
te soñaron
vieron apariciones
hasta que un día no llegó más carga
                                                ni pasajeros.
Hasta que bajó a tierra la desesperanza
y mis zapatos extraviaron su nombre
se hicieron polvo
te lloraron
a trescientas millas de ti.

Sapatos

Te esperaram sob a árvore das chuvas
meus dois cordeiros mansos.

Sem outro destino.
Crescendo até à frente da névoa
chamando-te, aos teus
para viver contigo
na Casa do Pai e do Filho.
Entre navio e barco:
Trinidad, Taiti e Tenglo
te sonhei
vieram aparições
até que um dia não chegou mais cargas
                                                 nem passageiros.
Até  que baixou na terra a desesperança
e meus sapatos extraviaram o seu nome
e se fizeram pó
te choraram
a trezentas milhas de ti.


Ilustração: topicos.estadao.com.br 

Ainda Gonzalo Márquez Cristo




Las palabras perdidas

Gonzalo Márquez Cristo

Alguien descifra la escritura de la lluvia y sin embargo no puede escapar.
Un alud de imágenes nos extravía la palabra; acudimos al grito y al llanto, a veces a la indiferencia, pero sabemos que necesitamos de la guerra para ser inocentes.
Todo lo ha ofrendado la ceniza.
Desde que desterramos a la noche desaparecieron las más profundas alianzas y nuestros perseguidores pueden encontrarnos.
Una herida siempre recuerda la vida, todo nacimiento procede de su túnel. Un árbol arde en nuestros ojos de agua.
La verdad —es decir lo prohibido—, impone su reino de terror... y hemos decidido habitarlo con las manos entrelazadas.
Creímos que la poesía nos enseñaría a morir...
Persistimos... Con frecuencia hacemos la extraña sonrisa del miedo. Si huimos, la soledad convertirá a alguien en víctima. Por eso la palabra se pasa de mano en mano para construir una morada invisible.
A veces para sobrevivir renunciamos al conocimiento.
Y cuando todos duermen escribimos... Pero un poema es el fósil de un sueño, el cadáver de un dios...
¿Aún podremos salvarnos?

Palavras perdidas

Alguém decifra a escritura da chuva e, no entanto, não pode escapar.

Uma enxurrada de imagens nos extravia a palavra, acudimos ao grito e ao pranto, às vezes, à indiferença, porém, sabemos que precisamos da guerra para ser inocentes.

Tudo se há oferecido as cinzas.

Desde que desterramos a noite desapareceram as mais profundas alianças e nossos perseguidores podem nos encontrar.

Uma ferida sempre recorda a vida, todo nascimento procede de seu túnel. Uma árvore arde em nossos olhos de água.

A verdade-quer dizer o proibido, impõe o seu reino de terror ... e temos deciddido habitá-lo com as mãos entrelaçadas.

Cremos que a poesia nos ensina a morrer ...

Persistimos ... Com frequencia abrimos o estranho sorriso do medo. Se fugirmos, a solidão converterá alguém em vítima. Por isto a palavra é passada de mão em mão para construir uma habitação invisível.

Às vezes para sobreviver renunciamos ao conhecimento.

E quando todos dormem escrevemos. Porém, o poema é o fóssil de um sonho, o cadáver
de um deus.

Ainda poderemos nos salvar?

Ilustração: http://www.eso.org/public/brazil/images/potw/archive/year/2012/

Gonzalo Márquez Cristo




Nacimientos

Gonzalo Márquez Cristo

El equilibrio sólo puede hallarse prescindiendo de la respiración, en la inmovilidad del salto, en la noche poseída.
Las búsquedas sin señuelo me habían conducido a mi rostro. Desde la infancia padecí de la vida contrariada por la espectral voracidad del poema. Me ejercité en hallar los caminos más escabrosos, más inútiles... Nunca eludí un encuentro que antecediera a la desesperación.
Delaté a los dioses del miedo y al deseo —que inventaba demonios.
Vi al placer cerrando los ojos y al terror sin párpados...
Conocí la verdadera palabra: la que migra, la que abandona su escenario de papel, y fui su víctima.
Vislumbré la montaña a la deriva, el río inmóvil, el ardor sumergido...
Procuré no realizar mis sueños para no perder la fuerza del extravío.
Abracé al miedo para descubrir, dancé en círculo para cuidar al sol y tracé un signo furtivo, irrevelable...
Protegí mis dudas y aticé mi libertad.
Las palabras son lo visible.
Creo en la riqueza de nuestra adversidad.

Nascimentos

O equilibrio só pode ser encontrado prescindindo da respiração na imobilidade do salto na noite possuída.

As buscas sem atração me haviam conduzido para o meu rosto. Desde a infância padeci  da vida perturbada pela voracidade espectral do poema. Me exercitei em achar caminhos mais difíceis, mais inúteis ... Nunca evitei um encontro nunca antecedesse ao desespero.

Delatei aos deuses do medo e do desejo,- que inventava demônios.

Vi o prazer fechanco os olhos e ao terror sem pálpebras ...

Conheci a verdadeira palavra: a que migra, a que abandona seu cenário de papel, e fui sua vítima.

Vislumbrei a montanha à deriva, o rio imóvel, o ardor submerso ...

Procurei não realizar meus sonhos para manter a força do extravio.

Abracei ao medo para descobrir, dançei em círculo para cuidar do sol e traçei um sinal furtivo, irrevelável ...

Protegi minhas dúvidas e atiçei minha liberdade

As palavras são o visível.

Creio na riqueza de nossa adversidade.

Thursday, March 28, 2013

Óscar Hahn novamente




Desventurados los que divisaron

Óscar Hahn

Desventurados los que divisaron
a una muchacha en el Metro
y se enamoraron de golpe
y la siguieron enloquecidos
y la perdieron para siempre entre la multitud
Porque ellos serán condenados
a vagar sin rumbo por las estaciones
y a llorar con las canciones de amor
que los músicos ambulantes entonan en los túneles
y quizás el amor no es más que eso:
una mujer o un hombre que desciende de un carro
en cualquier estación del Metro
y resplandece unos segundos
y se pierde en la noche sin nombre

Infelizes os que divisaram

Infelizes os que divisaram
uma garota no metrô

e se apaixonaram de um golpe  
e a seguiram enlouquecidos

e a perderam para sempre entre a multidão

Porque eles serão condenados
a vagar sem rumo pelas estações

e a chorar com canções de amor
que os artistas ambulantes cantam nos túneis

e talvez o amor não seja mais que isto:

uma mulher ou um homem descendo de um carro
em qualquer estação de metrô

e brilha alguns segundos
e desaparece na noite sem nome

Ilustração:  ouricos.blogspot.com

Iván Tubau




NO ERES LO QUE DICES
                                Lo que eres me distrae de lo que dices.
                                                                 Pedro Salinas

Ivan Tubau

Lo descubrí hace años en Ibiza: no eres
la que habla conmigo como las profesoras,
la que dice palabras como estratigrafía,
sobredimensionar y propósitos lúdicos,
sino la que recorre mis recovecos tibios
con una mano sabia y amable siempre húmeda,
la que impregna mi lengua con sus zumos secretos,
la que gime muy suave, la que grita muy fuerte.

Não és o que dizes

                                                                     O que és me distrai do que dizes.
                                                                                              Pedro Salinas

O descobri anos atrás em Ibiza: Não és
o que falas comigo como as professoras,
a que diz palavras como estratigrafia,
sobredimensionar e propósitos lúdicos,

sim a que recorre a meus recantos frágeis
com uma mão sábia e gentil sempre úmida
a que impregna a minha língua com seus sucos secretos,
a que geme muito suavemente, a que grita muito alto.

Ainda Óscar Hahn




Paisaje ocular

Óscar Hahn

Si tus miradas
salen a vagar por las noches
las mariposas negras huyen despavoridas
tales son los terrores
que tu belleza disemina en sus alas.

Paisagem dos olhos

Se os teus olhares
saírem a vagar pelas noites
as borboletas negras fugiram apavoradas
tais são os terrores
que tua beleza dissemina em suas asas.

Ilustração:  ultradownloads.com.br -

Óscar Hahn




Eso sería todo

Óscar Hahn

Te estoy haciendo un destino aquí mismo.
Lo estoy dibujando en las alas de un pájaro.
Lo estoy pintando en la pared de mi cuarto.
Ahora el pájaro vuela con furia,
ahora lanza su grito de guerra
y se dispara contra la pared.
Sus plumas están flotando en el espacio.
Sus plumas mojándose en su sangre.
Coge una y te escribe este poema.

Isto seria tudo

Te estou fazendo um destino aqui mesmo.
Te estou desenhando nas asas de um pássaro.
O estou pintando na parede de meu quarto.

Agora, o pássaro voa com fúria,
agora lança seu grito de guerra
e se atira contra a parede.

Suas penas estão flutuando no espaço.
Suas penas se molhando-se em seu sangue.

Escolho uma e te escrevo este poema

Ilustração:  www.flogao.com.br

Francisco Matos Paoli




Verdor que salta

Francisco Matos Paoli

Inminencia, celeste inminencia
de días que son pájaros,
de pájaros que son venas.
Frescas corolas que se imantan
más allá de mi abismo.
Un ritmo aparte que mitiga
la ausencia en que me hallo.
Algo como un dolor que acorta la distancia
del cielo.
Tendré un nuevo ser.
Un ritmo cenital que me hace libre
de todos los augurios de la tierra.
Verdor incontenible.
Verdor que salta
hasta alcanzar el triunfo
de lo que ha sido en mí
la noche plena.

Verdor que salta

Iminência, celeste iminência
de dia que são pássaros,
de pássaros que são veias.
Frescas corolas fresco que se imantam
mais além do meu abismo.
A ritmo à parte que mitiga
a ausência em que me acho.
Algo como uma dor que encurta a distância
do céu.

Tendo a um novo ser.
Um ritmo aéreo que me faz livre
de todos os augúrios da Terra.

Verdor incontenível.
Verdor que salta
para conseguir o triunfo
do que há sido em mim
a noite plena.

Sunday, March 24, 2013

Ainda Porfirio Barba Jacob




FUTURO

Porfirio Barba Jacob

Decid cuando yo muera... (¡y el día esté lejano!)
soberbio y desdeñoso, pródigo y turbulento,
en el vital deliquio por siempre insaciado,
era la llama al viento...
Vagó, sensual y triste, por las islas de su América;
en un pinar de Honduras vigorizó el aliento;
la tierra mexicana le dio su rebeldía,
su libertad, su fuerza... Y era una llama al viento.
De simas no sondadas subía a las estrellas;
un gran dolor incógnito vibraba por su acento;
fue sabio en sus abismos, —y humilde, humilde, humilde—,
porque no es nada una llamita al viento.
Y supo cosas lúgubres, tan hondas y letales,
que nunca humana lira jamás esclareció,
y nadie ha comprendido su trágico lamento...
Era una llama al viento y el viento la apagó.

Futuro

Dizer quando eu morrer ... (E o dia está distante!)
soberbo e desdenhoso, pródigo e turbulento
no vital delíquio para sempre insatisfeito,
era uma chama ao vento ...

Vagou, sensual e triste, pelas ilhas das Américas;
num pinheiral de Honduras, vigoroso o alento;
a terra mexicana lhe deu sua rebeldia,
sua liberdade, a sua força ... E era uma chama no vento.

De buracos não sondados subia até as estrelas;
uma grande dor incógnita vibrava em seu acento;
foi um sábio em seus abismos,-e humilde, humilde, humilde,
porque não é era nada, uma chaminha ao vento.

E  supôs coisas sombrias, tão fundas e letais,
que nunca lira humana jamais esclareceu,
e ninguém compreendeu o seu trágico lamento ...
Era uma chama ao vento e o vento a apagou.


Ilustração: gnvision.blogspot.com

Porfirio Barba Jacob





SABIDURÍA

Porfirio Barba Jacob

Nada a las fuerzas próvidas demando,
pues mi propia virtud he comprendido.
Me basta oír el perennal ruido
que en la concha marina está sonando.
Y un lecho duro y un ensueño blando;
y ante la luz, en vela mi sentido
para advertir la sombra que al olvido
el ser impulsa y no sabemos cuándo...
Fijar las lonas de mi móvil tienda
junto a los calcinados precipicios
de donde un soplo de misterio ascienda;
y al amparo de númenes propicios,
en dilatada soledad tremenda
bruñir mi obra y cultivar mis vicios.

Sabedoria

Nada as forças da providência demando,
pois, minha própria virtude há compreendido.
Me basta ouvir perenal ruído
que na concha está soando.

E uma cama dura e um sonho brando;
e ante a luz, acorda meu sentido
para avisar a sombra  que olvido
o ser que nos  conduz e não sabemos quando ...

Fixar as lonas da minha móvel tenda
junto aos calcinados precipícios
de onde um sopro de mistério ascenda;

e sob o amparo seres favoráveis,
em dilatada solidão tremenda
polir minha obra e cultivar meus vícios.


Ilustração: www.redevida.com.br

Ainda Luis Cañizal




La hora todavía

Luis Cañizal de la Fuente

La hora todavía
se dejaba tocar en la cabeza.
Qué descanso: estar vivo
era seguir durmiendo.

A hora, todavia

A hora, todavia,
se deixava tocar na cabeça.
Que alívio: estar vivo
era seguir dormindo.


Ilustração: www.cienciahoje.pt

Luis Cañizal de la Fuente






Ave de paso
“No soy yo ni el otro soy,
sino ¨ alguien intermedio:
pilar del puente de tedio
que va del ayer al hoy”.
                                                               (Enmienda de plana a Mário de Sá-Carneiro.)
Luis Cañizal de la Fuente

(He soñado que era otro
más joven y más alegre,
descubridor de amigos de ronco pico de pato,
perdedor de papeles y de tiempo,
comedor de hortalizas a la noche de juerga
y encontrador de hermanos no perdidos.
Pero con la mañana
paso a ser una campa de feria
desierta en un rincón de Portugal:
van cayendo las horas
y justifican mi razón de ser,
una tras otra, mantas,
caballitos, ronquera de reyertas,
tendidos de cerámica, zapatos,
humo de hogueras, voces de pregones,
tropezones
de compradores torpes contra vientos tensos
de tendejones de campaña, imprecaciones
y miradas al cielo de tormenta.
Nunca estuve más lleno y habitado
de gente ajena a mí. De pájaros de cuenta.)

Ave de migração

"Não sou eu, nem outro sou ,
sim alguém intermediário
pilar da ponte tédio
que vai de ontem para hoje. "
  (Emenda de página-Carneiro Mário de ).


Luis Cañizal de la Fuente

(Eu sonhei que era outro,
mais jovem e mais alegre
descobridor de amigos de ronco de bico de pato,
perdedor de papel e de tempo,
comedor de legumes noite afora
e localizador de irmãos  não perdidos.
Porém, com a manhã
passo a ser uma banca de feira  
numa esquina deserta de Portugal:
as horas vão passando
e justificam minha razão de ser,
um após o outro, os cobertores,
os cavalos, a rouquidão de brigas,
as linhas de cerâmica, os calçados,
a fumaça da fogueira, as vozes dos pregões,
tropeções
de compradores contra os ventos tensos
das campanhas das pequenas lojas , imprecações
e olhares para o céu de tempestade.
Eu nunca estive mais repleto e ocupado
de pessoas de alheias a mim. De pássaros de conta.)

Friday, March 22, 2013

E, de novo, ainda Tellier






Cuando todos se vayan

Jorge Tellier

Cuando todos se vayan a otros planetas
yo quedaré en la ciudad abandonada
bebiendo un último vaso de cerveza,
y luego volveré al pueblo donde siempre regreso
como el borracho a la taberna
y el niño a cabalgar
en el balancín roto.
Y en el pueblo no tendré nada que hacer,
sino echarme luciérnagas a los bolsillos
o caminar a orillas de rieles oxidados
o sentarme en el roído mostrador de un almacén
para hablar con antiguos compañeros de escuela.
Como una araña que recorre
los mismos hilos de su red
caminaré sin prisa por las calles
invadidas de malezas
mirando los palomares
que se vienen abajo,
hasta llegar a mi casa
donde me encerraré a escuchar
discos de un cantante de 1930
sin cuidarme jamás de mirar
los caminos infinitos
trazados por los cohetes en el espacio.

Quando todos se vão

Quando todos se vão para outros planetas
eu ficarei na cidade abandonada
bebendo um último copo de cerveja
e logo voltarei à  cidade onde sempre regresso
como o bêbado à taverna
e o menino a balançar
na cadeira de balanço quebrada.
E as pessoas não terão nada o que fazer,
senão encher-me de pirilampos os bolsos
ou caminhar nas margens dos trilhos enferrujados
ou sentar-me no balcão gasto de uma loja
para falar com antigos companheiros de escola.
Como a aranha que percorre
os mesmos fios de sua rede
caminharei sem pressa pelas ruas
invadidas por ervas daninhas
observando os pombais
que vem abaixo,
até chegar a minha casa
onde me trancarei para escutar
álbuns de uma cantora de 1930
sem cuidar jamais de olhar
os caminhos infinitos
definidos pelos foguetes no espaço.

Ilustração:  cinema.uol.com.br

Thursday, March 21, 2013

Tellier novamente




Botella al mar

Jorge Tellier

Y tú quieres oír, tú quieres entender.
Y yo te digo: olvida lo que oyes, lees o escribes.
Lo que escribo no es para ti, ni para mí, ni para los iniciados.
Es para la niña que nadie saca a bailar,
es para los hermanos que afrontan la borrachera
y a quienes desdeñan los que se creen santos, profetas o poderosos.

Garrafa ao mar

E se tu queres ouvir, tu queres entender.
E eu te digo: esquece o que ouves, lê ou escreves.
O que escrevo não é para ti, ou para mim, ou para os não iniciados.
É para a menina que ninguém convida para dançar,
é para os irmãos que enveredam pela embriaguez
e para aqueles que desdenham os que se creem santos, profetas ou poderosos.

Ilustração: domacedo.blogspot.com 

Ainda Tellier




Crônica del forasteiro (VI)

Jorge Tellier

Las campanadas escapan del pecho del reloj de péndulo.
Huyen del pozo
y resuenan en la memoria.
La memoria,
esa lechuza ciega huyendo a refugiarse en un árbol hueco.

Crônica do forasteiro (VI)

As badaladas escapam do peito relógio de pêndulo.
fogem do poço  
e ressoam na memória.
A memória,
esta coruja cega fugindo para se refugiar numa árvore oca.

Ilustração: www.plox.com.br 

Jorge Tellier



Sentados frente al fuego

Jorge Tellier

Sentados frente al fuego que envejece
miro su rostro sin decir palabra.
Miro el jarro de greda donde aún queda vino,
miro nuestras sombras movidas por las llamas.
Esta es la misma estación que descubrimos juntos,
a pesar de su rostro frente al fuego,
y de nuestras sombras movidas por las llamas.
Quizás si yo pudiera encontrar una palabra.
Esta es la misma estación que descubrimos juntos:
aún cae una gotera, brilla el cerezo tras la lluvia.
Pero nuestras sombras movidas por las llamas
viven más que nosotros.
Sí, ésta es la misma estación que descubrimos juntos.
—Yo llenaba esas manos de cerezas, esas
manos llenaban mi vaso de vino—.
Ella mira el fuego que envejece.

Sentados em frente ao fogo

Sentados em frente ao fogo que envelhece
olho seu rosto sem dizer uma palavra.
Olho o jarro de barro onde ainda há vinho,
olho nossas sombras movidas pelas chamas.

Esta é a mesma estação que descobrimos juntos,
apesar de seu rosto diante do fogo,
e de nossas sombras movidas pelas chamas.
Talvez,  sim, eu pudesse encontrar uma palavra.

Esta é mesma estação que descobrimos juntos:
ainda cai uma goteira, brilha a cereja por detrás da chuva.
Porém, nossas sombras movidas pelas chamas
vive mais tempo do que nós.

Sim, esta é a mesma estação que descobrimos juntos.
-Eu enchi as mãos de cerejas, estas
mãos enchiam o meu copo de vinho.
Ela olha o fogo que envelhece.

Ilustração:  ajacomelli.blogspot.com