Monday, October 31, 2016

ÍNDIO FRUSTRADO


Eu só não tive a sorte,                                    
Mas, sempre desejei ser um índio,
daqueles norte-americanos,
donos de cassinos,
riquíssimos e de aviões próprios,
seis esposas como ópio,
e forma de sonhar,
antes do narguilé experimentar.
Eu sempre quis ser um índio
para beber guaraná
até me empanturrar
e de chocolate me lambuzar
andando nu,
num hotel de cinco estrelas,
em Paris, Mumbai ou Zanzibar
que pode ser tudo igual
depois de se embriagar.
Eu sempre quis ser um índio,
principalmente,
para te mostrar
como posso ser selvagem
na minha maneira bruta,
primitiva e natural
de te amar. 

Duas poesias de Victor Hugo Diaz



LUGARES DE USO

Victor Hugo Diaz

La noche promete no pasar
Salimos a buscar la dosis exacta de lucidez química
En eso gastaba el tiempo que no daba a los suyos

Construyeron un complejo deportivo
sobre nuestro territorio apache
Nadie ha venido esta temporada
(los corrieron a todos)
Ni el conocido de los árboles y la espesura de la noche
siempre atento a la llegada de sus invitados furtivos

la hoja seca que se quiebra a sólo unos metros

Agita la mano dentro del bolsillo
como se manipula un juguete nuevo
El mismo viejo felino que se lame las ingles
que atesora lo que ve y desaparece
al momento en que un perro muerde el vacío
dejado por su cuerpo al huir hacia las ramas

Se queda ahí, arrimada la espalda al tronco de metal
Único fruto luminoso reventado a pedradas.


LOCAIS DE USO

A noite promete não passar
Saímos para buscar a dose exata de lucidez química
Nisso gastava o tempo que não dava aos seus

Construíram um complexo esportivo
sobre nosso território apache
Ninguém veio nesta temporada
(os correram a todos)
Nem o conhecido das árvores e a espessura da noite
sempre atentos à chegada de seus convidados furtivos

a folha seca que se quebra a poucos metros

Agita a mão dentro do bolso
como se manipula brinquedo novo
O mesmo velho gato que lambe à inglesa
que entesoura o que ele vê e desaparece
no momento em que um cão morde o vazio
deixado por seu corpo fugindo pelos ramos

Se fixa aí, encostada no tronco de metal
Único fruto luminoso arrebentado a pedradas.


LA ESQUINA VACANTE

Victor Hugo Diaz

Ella nunca jugó limpio
Acaso apenas con su taxista o el policía favorito

Ahora piensa mejor lo que hace
-desde la última conversacion-

Ya no baila para nadie
dice que el cuerpo no la acompaña

Ninguno la busca en su esquina
La olvidaron los autos
El tiempo que resta asoma en su piel.


A ESQUINA VAZIA

Ela nunca jogou limpo
Talvez apenas com o motorista de táxi ou policial favorito

Agora pensa melhor o que faz
-desde a última conversa

Já não dança com ninguém
diz que o corpo não a acompanha

Nenhum deles veio buscá-la em sua esquina
A esqueceram os carros
O tempo que resta aparece em sua pele. 

Ilustração: Blog do Narguile


Duas poesias de Vicente Quirarte




Belleza del astrónomo

Vicente Quirarte

El Sol que nos alumbra
no es un sol presente:
ocho minutos tarda
en llegar a la Tierra.
Cuando dejas la casa
la hermosura prospera:
tu perfume en la cama
lentamente madura
como un sol generoso
que en presente redime
la pequeña hecatombe
de la alcoba desierta,
la memoria viviente
de dos planetas solos
que entre veinte millones
se encontraron.


A BELEZA DO ASTRÕNOMO

O sol que nos ilumina
não é um sol presente:
oito minutos tarda
em chegar à Terra.
Quando deixas a casa
a formosura prospera:
teu perfume na cama
lentamente madura
como um sol generoso
que em presente se redime
a pequena hecatombe
da alcova deserta,
a memória vivente
de dois planetas sós
que entre vinte milhões
se encontraram.

Encuentro con la nieve

Vicente Quirarte

Nevó toda la noche y amanece
la tierra inmaculada.
Quién pudiera decir que bajo el manto
prepara su verdor la primavera.
Si la pureza existe,
qué semejante es a la nieve:
hoja blanca cedida por el mundo
para probar que nada permanence.

ENCONTRO COM A NEVE

Nevou toda a noite e amanhece
a terra imaculada.
Quem poderia dizer que debaixo do manto
prepara seu verdor a primavera.
Se a pureza existe,
que semelhante é a neve:
folha branca cedida pelo mundo
para provar que nada permanece.


Ilustração: jsomokovitz.blogspot.com5

Friday, October 28, 2016

Uma poesia de David Cortés Cabán

Tu presencia                                    
David Cortés Cabán

Dejo que insistas
para que todo se haga
fuga en el aire
 comiences a moverte
frente a mis ojos
 y
la ternura que atraviesa
el silencio
nos envuelva
con el viento que gira
en la habitación
vuelvo y pronuncio tu nombre
y tu presencia regresa
mientras el cuerpo escapa
buscando el esplendor
que nace del polvo.

A TUA PRESENÇA

Deixo que insistas
para que tudo se faça
fuga no ar
começas a mover-te
frente aos meus olhos
  e
a ternura que atravessa
o silêncio
nos envolve
com o vento que gira
na casa
volto a pronunciar teu nome
e tua presença regressa
enquanto teu corpo escapa
buscando o esplendor
que nasce do pó.

Wednesday, October 26, 2016

Mais uma poesia de Marilina Rébora

Con mis viejos retratos                         
Marilina Rébora

Con mis viejos retratos
Señor, quiero ser yo, y sólo con lo mío,
Por humilde que sea, aun pobre y pequeño;
Nada de adornos vanos ni lujoso atavío
Ni aquello que deslumbra en ambicioso sueño.

No quiero en devaneo, tampoco en desvarío,
Lo que no corresponda, aunque sea halagüeño;
Es triste lo ficticio, y mucho de vacío
Disponer como propio de lo que no se es dueño.

Quedar con nuestras cosas, lo que en verdad motiva
Y es razón de vivir en el cabal sentido
—Unos viejos retratos, tal lámpara votiva
Y la talla minúscula del antiguo San Roque—,
Y conmigo ser yo es lo que quiero y pido,
Dentro de lo que fuera y lo que al fin me toque.

Com meus velhos retratos

Com meus velhos retratos
Senhor, quero ser eu, e só com o meu,
Por humilde que seja, ainda pobre e pequeno;
Nada de adornos vãos nem luxuoso atavio
Nem aquele que deslumbra em ambicioso sonho.

Não quero em devaneio, tampouco em desvario,
O que não corresponda, ainda que seja lisonjeiro;
É triste o fictício, e muito vazio
Dispor como próprio do que não se é dono.

Ficar com nossas coisas, o que em verdade motiva
E é razão de viver no cabal sentido
-Uns velhos retratos, tal lâmpada votiva
E o cajado minúsculo do antigo São Roque-,
E comigo ser eu é o que quero e peço
Dentro que que fui e que, ao fim, me toque.

Ilustração: casasemluxo.blogspot.com


Mais um poema de Rubén Darío

¡Oh, terremoto mental!      
Rubén Darío

¡Oh, terremoto mental!
Yo sentí un día en mi cráneo
Como el caer subitáneo
De una Babel de cristal.

De Pascal miré el abismo,
Y vi lo que pudo ver
Cuando sintió Baudelaire
El ala del idiotismo.

Hay, no obstante, que ser fuerte;
Pasar todo precipicio
Y ser vencedor del vicio
De la locura y la muerte.

OH, TERREMOTO MENTAL!

Oh, terremoto mental!
Eu senti um dia em meu crânio
Como o cair subitâneo
De uma Babel de cristal.

De Pascal mirei o abismo,
E vi o que pude ver
Quando sentiu Baudelaire
A asa do idiotismo.

Há, não obstante, que ser forte;
Passar todo precipício
E ser vencedor do vício
Da loucura e da morte.

Ilustração: Las causas naturales y artificiales de los sismos


Tuesday, October 25, 2016

Mais uma poesia de Giuseppe Ungaretti


ATTRITO                                                               
Ungaretti

Con la mia fame di lupo
ammaino
il mio corpo di pecorella
Sono come
la misera barca
e come l’oceano libidinoso

ATRITO

Com a minha fome de lobo
acalmo
o meu corpo de cordeiro
Sou como
a mísera barca
e como o oceano libidinoso

Ilustração: Cetro Online

Friday, October 21, 2016

Uma poesia de Vivian Lamarque




Il Signore Sognato

Vivian Lamarque

Splendidissima era la vida acanto a lui sognata.
Nel sogno tra tutte predileta la chiamava.
R nella realtà?
La realtá non c’era, era abdicata.
Splendidissima regna la vita immaginata.

O senhor sonhado
Esplendorosa era a vida junto a ele sonhada.
No sonho entre todas de predileta a chamava.
E na realidade?
Na realidade não existia, havia abdicado.
Esplendorosa reinava a vida imaginada.


Ilustração: Dicas da Mandy

Thursday, October 20, 2016

Uma poesia de Dacia Maraini

LA TUA FACCIA NON HA NOME                               

Dacia Maraini

La tua faccia non ha nome
la tua você non ha suono
il tuo treno non ha numero
il tuo viaggio non ha orari
ma io so che verrai
con quella faccia
con quella você
con quel treno
alla fine deu tuo longo viaggio.

Teu rosto não tem nome

Teu rosto não tem nome
tua voz não tem som
teu trem não tem número
tua viagem não tem horário
porém, eu sou quem verás
com esse rosto
com essa voz,
com esse trem,
quando terminar tua longa viagem.


Ilustração: PinWallpaper

PASSAGEM PELO ESCURIDÃO ILUMINADA

Eu finjo que não sei quem tu és;   
que não escuto tua voz;
que não conheço teus passos,
nem teu corpo,
na escuridão que nos encobre
nas nossas noites de amor.
Mas, sei que tu sabes
e, mais ainda sei,
que passarão esses tempos loucos,
dos quais não podemos fugir,
e nos veremos, amanhã,
no brilho da manhã,
com os mesmos rostos,
que, mudos na escuridão,
disseram coisas de amor,
que nenhuma a luz, em todo o seu esplendor,
poderia iluminar tanto o mundo.


Ilustração: confrariadossentimentos.zip.net

Wednesday, October 19, 2016

Outra poesia de Alaíde Foppa

LA SIN VENTURA                                   
Alaíde Foppa

No se puede vivir
con una muerte dentro:
Hay que elegir
entre arrojarla lejos
como fruto podrido
o al contagio
dejarse morir.

(de La sin ventura, México, 1955)


A SEM SORTE

Não se pode viver
com a morte no peito:
há que eleger
entre jogá-la distante
como um fruto podre
ou, por contágio,
se deixar morrer. 

Ilustração: trevo sem sorte

Uma poesia de Daniela García

Noche                                                   
Daniela García

Que en tus brazos me reclamas,
que con tu luna y tus estrellas me iluminas,
me borras los miedos y me alivias el dolor,
me ayudas más que el sol

Eres mi refugio
Tu oscuridad suaviza el dolor que el brillo me dio
Eres un paño fresco que calma mi dolor
Quitas de mis ojos el ardor

En ti puedo ver,
Que no todo siempre es sufrimiento
La oscuridad ayuda a ver al corazón
que puede ser más fuerte que la razón

Los ojos pueden dañar
cuando el corazón puede enseñar
puedes ser oscura y fría,
o plateada y fresca.

NOITE

Que em teus braços me reclamas,
Que com tua lua e tuas estrelas me iluminas,
Me apagas os medos e me alivias a dor,
Me ajudas mais que o sol

És meu refúgio
Tua obscuridade suaviza a dor que o brilho me deu
És um pano molhado que acalma minha dor
Retiras de meus olhos o ardor

Em ti posso ver,
Que nem tudo sempre é sofrimento
A escuridão ajuda a ver que o coração
Pode ser mais forte que a razão

Os olhos podem causar danos
Quando o coração pode ensinar
Podes ser escura e fria,
Ou prateada e fresca.


Ilustração: Fundos Wiki

Tuesday, October 18, 2016

Uma poesia de Alicia Salinas


Duda

Alicia Salinas

de dejar esta piedra en la orilla o llevarla conmigo.
Una lengua de luz la dora, otra hace brillar la mica.
El agua devora los contornos.

¿Puede la mano alzar de su cuna milenaria
un pequeño gajo desprendido del continente?

Duda de alterar el destino del mundo, el curso
universal de las cosas perfectas. Sin embargo
tanto la deseo: nuevas e invisibles membranas
nacen en el cuerpo.

El aura en ascuas inquieta todo.
Vocación de atesorar lo ajeno, de no permanecer
indiferente. Creer que por levarla la poseo; no
conformarse, en fin, con el recuerdo.

DÚVIDA

de deixar esta pedra na praia ou levá-la comigo.
Uma língua de luz a doura, outra faz brilhar a mica.
A água devora os contornos.

Pode a mão retirar de seu leito milenar
um pequeno segmento do continente?

Dúvida de alterar o destino do mundo, o curso
universal das coisas perfeitas. Sem embargo
tanto a desejo: novas e invisíveis membranas
nascem no corpo.

A aura em cinzas inquieta tudo.
Vocação de entesourar o alheio, de não permanecer
indiferente. Crer que, por levá-la, a possuo; não
conformar-se, enfim, com a recordação.


Ilustração: Lagoinha