Friday, April 28, 2017

POEMINHA DA CERTEZA DO AGORA

Que o futuro é incerto 
Nos dizem dos covardes aos profetas,
Passando pelos adivinhos e estetas,
Porque, no fundo, ninguém sabe
Para onde vai.
Eu também não,
Mas, hoje, com este frio
Só quero um vinho
E pegar na tua mão
Ciente de que mulher é uma beleza
E de ter certeza
Que, depois de comer o pão,
Irei gostar da sobremesa
E que a carne não me faltará não!

Ilustração: E Deus Criou a Mulher. 

E volta Mariela Laudecina

Somos el corte que produce una tijera             

Mariela Laudecina

Vos, yo, el mundo

No pongas en mí más expectativas
Hubiera preferido ser una chica simple
--créeme que es así
y el dolor sería pasajero
Extraño
cuando tocabas el viejo Diamond
escuchabas a José Velez
y en las reuniones imitabas a algún pariente
Pocas veces te vi feliz
eso me entristecía
También deseé que murieras
Y odié que nos sentáramos a la mesa
Quisiera que entendieras unas pocas cosas
te deshagas de los muertos
te vuelvas liviano, una pizca
No soy rara
Nadie lo es
es cuestión de parar la cabeza
y lo que te rodea deja de ser ordinario
Es posible que termine bajo las ruedas de un Scania
un virus ataque mi cuerpo
una lluvia de meteoritos nos mate a ambos
o quizá el desasosiego y la estupidez
se vuelvan contra mí
pero si hay algo que será inflexible
es que no voy a parecerme a vos.

Somos o corte que produz uma tesoura

Você, eu, o mundo

Não ponha em mim mais expectativas
Eu haveria preferido ser uma menina simples
-creia-me que é assim
e a dor seria passageira
Estranho
quando tocavas o velho Diamond
escutavas a José Velez
e nas reuniões imitavas a algum parente
Poucas vezes te vi feliz
Isso me entristecia
Também desejei que morresses
E odiei nos sentarmos à mesa
Quisera que entendesses umas poucas coisas
te desfaça dos mortos
te tornes luz, uma pitada
Não sou rara
Ninguém é
é uma questão de tranquilizar a cabeça
e o que o rodeia deixa de ser comum
É possível que termine sob as rodas de um Scania
um vírus ataque o meu corpo
uma chuva de meteoritos nos mate a ambos
ou talvez o desassossego e a estupidez
se voltem contra mim,
porém, se há algo é inflexível
é que não vou ser parecido com você.


Ilustração: Guia de Casamento. 

E ainda Leonard Cohen

THE PRO 1973 ("Lost my voice ...")      

Leonard Cohen

Lost my voice in New York City
never heard it again after sixty-seven
Now I talk like you
Now I sing like you
Cigarette and coffee to make me sick
Couple of families to make me think
Going to see my lawyer
Going to read my mail
Lost my voice in New York City
Guess you always knew

O PRO 1973 ("Perdi minha voz ...")

Perdi minha voz em Nova York
Nunca mais a ouvi de novo depois de sessenta e sete
Agora eu falo como você
Agora eu canto como você
Cigarro e café para me deixam doente
Um par de coisas que me fazem pensar
Indo ver o meu advogado
Indo ler meu e-mail
Perdi minha voz em Nova York
Acho que você sempre soube

Ilustração: Tumblr. 

E volta Leonard Cohen



Song ("I almost went to bed ...")

Leonard Cohen

I almost went to bed
without remembering
the four white violets
I put in the button-hole
of your green sweater
and how i kissed you then
and you kissed me
shy as though I'd
never been your lover

Canção "Eu quase fui para a cama ...")

Eu quase fui para a cama
sem relembrar
das quatro violetas brancas
que coloquei no buraco do botão
de sua camisola verde
e como eu te beijei, então,
e você me beijou
tímida como se eu nunca
tivesse sido seu amante


Uma poesia de Shel Silverstein

RAIN                                                     

Shel Silverstein

I opened my eyes
And looked up at the rain,
And it dripped in my head
And flowed into my brain,
And all that I hear as I lie in my bed
Is the slishity-slosh of the rain in my head.

I step very softly,
I walk very slow,
I can't do a handstand--
I might overflow,
So pardon the wild crazy thing I just said--
I'm just not the same since there's rain in my head.

CHUVA
Eu abri meus olhos
E olhei para a chuva,
E pingou na minha cabeça
E molhou meu cérebro,
E tudo o que eu ouço quando estou na minha cama
É o tic-tac da chuva na minha cabeça.

Eu caminho muito suavemente,
Eu ando muito lento,
Eu não poderia chutar a minha mão-
Eu poderia surtar,
Então me perdoe a selvagem loucura que eu acabei de dizer -
Eu não sou o mesmo desde que a chuva caiu na minha cabeça.


Ilustração: blog.luz.vc

Thursday, April 27, 2017

ILUSÃO

Que o meu amor               
sempre será teu
meus olhos dizem
quando sorriem felizes
de te ver.
Que jamais tanto amor
há de passar
prova esta minha constância
de te levar
na mente e no coração.
Vem..vem...
Eu te estendo a mão
como se estivesses equilibrada no ar
e, como num sonho, fosse te salvar,
porém, mesmo dormindo, sei
que é uma tentativa em vão.

Na vida e no sonho tudo é ilusão!

Ilustração: Curto e Curioso

Tuesday, April 25, 2017

NADA DE REALIDADE

Espero pelo teu beijo na escuridão     
Com o corpo expelindo chamas
E uma inexplicável mansidão
Que a alegria que se espalha por minha alma
Faz parecer esta minha estranha calma
Um ato de hipocrisia.
Não quero me explicar
Nem explicações desejo.
Anseio, aguardo, tremo por teu beijo
Que me faz parecer interminável
Os minutos que se vão.
Não, não me venha falar de realidade.
Faça-me, por favor, uma bondade.
Deixe a verdade, o amanhã, os problemas
para lá.
Hoje, é dia de brindes e espuma.
A mágica está em nada saber, 
na imensa bruma. 
Deixa-me viver minha ilusão!  


Ilustração: Obvious Lounge

Uma poesia de Stephane Mallarmé

Salut                                    
Stephane Mallarmé

Rien, cette écume, vierge vers
A ne désigner que la coupe ;
Telle loin se noie une troupe
De sirènes mainte à l'envers.

Nous naviguons, ô mes divers
Amis, moi déjà sur la poupe
Vous l'avant fastueux qui coupe
Le flot de foudres et d'hivers ;

Une ivresse belle m'engage
Sans craindre même son tangage
De porter debout ce salut

Solitude, récif, étoile
A n'importe ce qui valut
Le blanc souci de notre toile


SAÚDE

Nada, esta espuma, virgem
o verso é ao designar só o copo
Assim, longe, um bando,
De sereias afoga-se caindo para trás.

Navegamos. Ò meus muitos
Amigos, eu, na popa
Vocês na proa que corta
Os raios e os invernos. A embriaguez;

prazerosa agora me convida
(e nem mesmo o balanço me intimida)
A fazer de pé um brinde.

Solidão, estrela, recife,
Qualquer coisa  que mereça
Toldar a inquietude de nossa folha branca.

Ilustração: www.armariodemadame.com.


Uma poesia de Silvia Guerra


SUSTANCIA

Silvia Guerra
                                           “Nada  ha sido despreciado, nada, en absoluto”
                                                                                      V. Nabokov

La sandalia dejada, caída
Sobre un lado semeja la lujuria
terciada por secreto que esconde
al pie que se imagina. Delgado
Óseo, apenas amarillo.
Abreva de ese don, purísima
sobre la oreja
Aplana lo carnoso que la piedra
genera desde el círculo, la memoria
La mancha de esmeraldas; el jardín
guardado en la remota sombra atesora detalle
más detalle más secreto tesoro y se almacena en
la parte de atrás del frontispicio Se encorva
Se adormece
Curva las ramas de  la infancia
Reverdece el jardín, cambia ligeramente el errático
canto de las aves, pero no se transfiere. No se pierde.


SUBSTÂNCIA
                                            "Nada foi desprezado, absolutamente nada"
                                                                                       V. Nabokov

A sandália deixada, caída,
por um lado, se assemelha à luxúria
Contradizendo o segredo que esconde
do pé que se imagina. Delicado
osso, apenas amarelo.
Abrevia esse dom, purísima
sobre a orelha
Aplaina a carne que a pedra
gera a partir do círculo, a memória.
A mancha de esmeraldas; o jardim
guardado na remota sombra talhe da tesouros remoto
mais detalhes mais secreto tesouro e se armazena
na parte de trás do frontispício se encurva
se adormece
dobra os ramos da infância
Reverdece o jardim, muda um pouco o errático
o canto dos pássaros, porém, não se transfere. Não se perde.

Ilustração: blogger

Monday, April 24, 2017

Coração fugitivo




Eu tentei fazer uma armadilha                                   para prender teu coração.
Não deu certo não!
Teu coração gosta de liberdade,
de ar, de amplidão
e parece ter asas
ou gostar de estar no espaço sideral.
Minha armadilha pegaria um coração qualquer,
mas, teu coraçãozinho é sem igual
só se consegue tocá-lo de forma marginal.
E, mesmo assim, é tão esquivo
que, com certeza, tem uma vocação inigualável
para ser um coração eternamente fugitivo.

Thursday, April 20, 2017

Mais um poesia de José Ángel Buesa

José Ángel Buesa

Mi viejo corazón toca a una puerta,
Mi viejo corazón, como un mendigo
Con el afán de su esperanza incierta
Pero callando lo que yo no digo.

Porque la que me hirió sin que lo advierta,
La que sólo me ve como un amigo
Si alguna madrugada está despierta
Nunca será porque soñó conmigo.

Y sin embargo, ante la puerta oscura
Mi corazón, como un mendigo loco
Va a pedir su limosna de ternura.

Y cerrada otra vez, o al fin abierta,
No importa si alguien oye cuando toco,
Porque nadie sabrá cuál es la puerta.

Amor discreto

Meu velho coração toca uma porta,
Meu velho coração como um mendigo
Com o o alento de sua esperança incerta
Porém,  calando o que eu  não digo.

Porque o que  me fere sem que o advirta,
A que só me vê como um amigo
Se em alguma madrugada está desperta
Nunca será porque sonhou comigo.

E, sem embargo, ante a porta escura
Meu coração, como um  mendigo louco
Vai pedir a sua esmola de ternura.

E fechada outra vez, ou, ao fim,  aberta,
Não importa se alguém ouve quando toco,
Porque ninguém  saberá  qual é a porta.

Ilustração: MyCharades.com



Uma poesia de Juan Manuel Roca


SUEÑO CON ÁNGELES

Juan Manuel Roca

“Han llegado los ángeles en un buque de carga”
                                                                  (María Baranda)

Por el sueño navega un barco cargado de ángeles. Vienen en cajas de madera, en guacales de tablones salvados de un naufragio.
Los marineros los ven comiendo flores en su cepo como reos andróginos de una mudez de ostra.
Su destino es un misterio. No se sabe si serán vendidos a un zoológico, a un circo, a un aviario, a un taxidermista, a un tratante de alas.
Por tratarse de un extraño contrabando, -aunque no hay leyes marítimas que prohiban el transporte de ángeles en barcos- por tratarse de un tráfico de sueños, el capitán evita tocar los grandes puertos del mundo.
Es como si el barco estuviera condenado a no anclar nunca, a viajar sin destino con la carga emplumada y melancólica. Cada día huelen peor, a pústulas y almizcle, los maltrechos ángeles en sus podridos guacales. La nave se enfantasma en la niebla apagando sus luces y sus voces. Y la tripulación empieza a impacientarse, empieza a impacientarse...


SONHO COM  OS ANJOS

“Os anjos chegaram em um navio de carga”
(María Baranda)

Pelo sonho navega um barco carregado de anjos. Eles vêm em caixas de madeira, em caixas de pranchas salvadas de um naufrágio.
Os marinheiros os veem comendo flores em suas ações como prisioneiros andróginos de uma mudez de ostra.
O seu destino é um mistério. Não se sabe se serão vendidos a um zoológico, um circo, um aviário, um taxidermista, um tratante de asas.
Por se tratar de um contrabando estranho, embora não hajam leis marítimas proibindo o transporte de anjos em barcos- por tratar-se de um tráfico de sonhos, o capitão evitar tocar nos principais portos do mundo.
É como se o navio estivesse condenado a nunca ancorar, a viajar sem destino com a carga emplumada e melancolia. Cada dia cheiram pior, a pústulas e almíscar, os maltratados anjos em seus caixotes podres. O navio se assombra na névoa apagando suas luzes e suas vozes. E a tripulação começa a impacientar-se, começa a perder a impacientar-se ...

LÓGICA AMOROSA

O absurdo é que insistem                  

Em que a menor distância
Entre dois pontos
É uma linha reta
Ignorando a atração
De nossos corpos
Na razão inversa
Da razão e da distância.

Beijo teus seios.
Percorro retamente as curvas
Que me encaminham ao triângulo
Da perdição e do prazer
Para descobrir que ser sábio
É nada saber
E sim descobrir a delícia de teu corpo
Pelo gosto.  

Gemidos, gritinhos
E o êxtase inesperado
Que nos torna crianças
Lambuzando-se nos mais deliciosos doces,
Infantis
Na brincadeira mais feliz....

Inútil explicações...
Sobre a inutilidade da beleza de teus quadris.
Tudo em ti foi feito para amar
E só te amando me sinto feliz!

 


 

Wednesday, April 19, 2017

Uma vez mais a poesia de Cohen

DEAD SONG                           

Leonard Cohen

As I lay dead
In my love-soaked bed,
Angels came to kiss my head.
I caught one gown
And wrestled her down
To be my girl in death town.
She will not fly.
She has promised to die.
What a clever corpse am I!

CANÇÃO MORTA

Quando jazia de corpo presente
na minha cama de amor fluente
os anjos vieram beijar minha fronte.
Eu  agarrei forte na visão
e, pelejando, a derrubei no  chão:
seria minha pequena na cidade morta.
Ela não voava.
Ela tinha prometido morrer.
Que esperto cadáver eu sou.

Ilustração: Acontecendo Aqui