Wednesday, November 29, 2006

NO ESPÍRITO DO TEMPO

Cause and effect

Charles Bukowski

the best often die by their own hand
just to get away,
and those left behind
can never quite understand
why anybody
would ever want
to get away
from
them
Causa e Efeito

O melhor freqüentemente morre
por suas próprias mãos
por se afastar,
daquela esquerda atrasada
que nunca pode compreendê-lo
completamente
porque qualquer um
quereria sempre
afastar-se
deles

DE VOLTA O VELHO CHARLES


ALONE WITH EVERYBODY.

Charles Bukowski

the flesh covers the bone
and they put a mind
in there and
sometimes a soul,
and the women break
vases against the wall
sand the men drink too
much
and nobody finds the
one
but keep
looking
crawling in and out
of beds.
flesh covers
the bone and the
flesh searches
for more than
flesh.there's no chance
at all:
we are all trapped
by a singular
fate.
nobody ever finds
the one.
the city dumps fill
the junkyards fill
the madhouses fill
the hospitals fill
the graveyards fill
nothing else
fills.

SOZINHO COM TODO MUNDO

a carne cobre os ossos
e põe a mente lá
e, às vezes, a alma,
e as mulheres quebram
os vasos contra as paredes
e os homens sedentos bebem
demais
e ninguém
encontra o outro
nem sabe como sustentar o olhar
que rasteja
dentro e fora
das camas.
coberturas de carne o osso e
procuram
por mais carne.
não há nenhuma possibilidade possível:
nós todos nos enredamos num singular fato.
ninguém nunca consegue
encontrar o outro.
cheios os armazéns da cidade
cheios os ferros velhos
cheios os hospícios
cheios os hospitais
cheios os cemitérios
cheio também o vazio.

Sunday, November 26, 2006

ESTRANHA POESIA

Um dia, um certo momento,
tudo é estranho.
Estranhos são teus filhos.
Estranha tua estranha mulher.
Tua amante, uma estranha.

Tudo estranho como estranho
É o estranho olhar
Do estranho rosto no espelho,
estranho objeto,
Que estranhamente identificas como teu.
Estranho como tudo se perdeu
neste mundo de estranhamento.

Há um momento
Breve de reconhecimento
na memória
em que este passado estranho se esclarece
como da tua estranha vida.
E estranhas ainda mais
Que o estranho te pareça tão familiar
Como se o comum fosse ser estranho.

E não podes continuar:
Todas as coisas,
inclusive as palavras,
São estranhas.

Saturday, November 25, 2006

COMO JÁ ESTOU COM A EMILY...

XXII

Emily Dickinson

I HAD no time to hate, because
The grave would hinder me,
And life was not so ample I
Could finish enmity.

Nor had I time to love; but since
Some industry must be,
The little toil of love, I thought,
Was large enough for me.

XXII

EU NÃO TINHA nenhum tempo para odiar, porque
A sepultura poderia me esconder,
E a vida, que não era tão ampla assim
Poderia eliminar o inimigo.

Não tinha tempo para amar;
mas desde que alguma indústria se deve ter,
O pequeno trabalho do amor, eu pensei,
Que era grande o bastante para mim.

Thursday, November 23, 2006

É A MESMA, MAS É OUTRA

A minha amiga Lila Rayol chama, com razão, minha atenção para o completo desrespeito que tive com a tradução do poema da Emily Dickinson. Realmente ela tem toda razão: traição deve ter limites. Eu até poderia alegar que "O poeta é um preguiçoso/se espreguiça tão serenamente/que chega a fingir preguiça/ quando, de fato, a sente". Mas não foi. Nem mesmo insuficiência linguística (que, muitas vezes, é real) e sim que achei o sentido de desatenção no amor bem mais bonito do que as "pilúlas". De qualquer forma, como me senti muito feliz com o cuidado da minha amiga, refiz o poema respeitando mais o original. No entanto o pouco que muda, podem ver, faz dele outro. Bem mais Dickison, é claro! O que prova que jamais se trai inutilmente.

IX
Emily Dickinson
O CORAÇÃO pede o prazer primeiro
E então, desculpa da dor;
E então os pequenos analgésicos
Que matam o sofrimento

E então para ir dormir,
E então, se esta for
A vontade de seu inquisidor
A liberdade de morrer.

POEMINHA DO MENINO CRIATIVO


Arranjei um gatinho

Que chamei de Manoel

Inventei que ele voava

E joguei-o para o ceú.

Como foi do oitavo andar

Em pedaçinhos está

E ficou meio amassado

Não dá nem para emendar!

Wednesday, November 22, 2006

O VELHO SUJO NOVAMENTE

MELANCHOLIA

Charles Bukowski

the history of melancholia
includes all of us.

me, I writhe in dirty sheets
while staring at blue walls
and nothing.

I have gotten so used to melancholia
that
I greet it like an old friend.

I will now do 15 minutes of grieving
for the lost redhead,
I tell the gods.

I do it and feel quite bad
quite sad,
then I rise
CLEANSED
even though nothing is solved.

that's what I get for kicking
religion in the ass.

I should have kicked the redhead
in the ass
where her brains and her bread and
butter are
at ...
but, no, I've felt sad
about everything:
the lost redhead was just another
smash in a lifelongloss ...

I listen to drums on the radio now
and grin.
there is something wrong with me
besides
melancholia

MELANCOLIA

A história da melancolia
inclui todos nós.

A mim, que escrevo em folhas sujas
Enquanto olho fixamente paredes azuis
e nada.

Eu comecei assim usando a melancolia
Que
Cumprimento e gosto como um velho
Amigo.

Eu irei agora ter 15 minutos de aflição
Pelo cardeal perdido,
Eu digo aos deuses.

Eu faço isto e sinto-me completamente mau
Completamente triste,
Então me levanto
CANCELANDO
Toda e qualquer coisa
Mesmo que não resolva.

Aqui é que comecei retrocedendo
da religião no burro.

Eu deveria ter retrocedido o cardeal
no burro
onde seu cérebro e seu pão
e manteiga estão
em…

Mas, não, eu me sinto triste
Por todas as coisas:
o cardeal perdido era justo outro
despedaçado em um vida longa
de perdas…

Eu escuto as ondas do rádio agora
e sorrio.
Há algo de profundamente errado comigo
Além
Da melancolia.
Obs.: A ilustração é de Chirico.

Tuesday, November 21, 2006

AINDA DICKINSON

IX

Emily Dickinson

THE HEART asks pleasure first,
And then, excuse from pain;
And then, those little anodynes
That deaden suffering;

And then, to go to sleep;
And then, if it should be
The will of its Inquisitor,
The liberty to die

IX

O CORAÇÃO pede o prazer primeiramente,
E então, desculpa para a dor;
E então, as pequenas desatenções
Que fazem sofrer;

E então, para ir dormir;
E então, se for
A vontade de seu inquisidor,
a liberdade de morrer

Monday, November 20, 2006

RUBÉN DARIO

DE OTOÑO
Rubén Dario

Ya sé que hay quienes dicen: ¿Por qué no canta ahora
con aquella locura armoniosa de antaño?
Esos no ven la obra profunda de la hora,
la labor del minuto y el prodigio del año.

Yo, pobre árbol, produje, al amor de la brisa,
cuando empecé a crecer, un vago y dulce son.
Pasó ya el tiempo de la juvenil sonrisa:
¡dejad al huracán mover mi corazón!

DO OUTONO

Já sei que alguns dizem: Por que não canta agora
com a harmoniosa loucura do passado?
Esses não vêem a obra profunda da hora,
o trabalho do minuto e o prodígio do ano atravessado.

Eu, pobre árvore, produzi, ao amor do vento,
quando comecei a crescer, uma vaga e doce canção.
Passou o tempo do juvenil sorriso. Lamento:
Deixaram um furacão mover meu coração!

Sunday, November 19, 2006

A CHUVA LEMBRA BORGES

La lluvia

Jorge Luis Borges

Bruscamente la tarde se ha aclarado
porque ya cae la lluvia minuciosa.
Cae o cayó. La lluvia es una cosa
que sin duda sucede en el pasado.

Quien la oye caer ha recobrado
el tiempo en que la suerte venturosa
le reveló una flor llamada rosa
y el curioso color del colorado.

Esta lluvia que ciega los cristales
alegrará en perdidos arrabales
las negras uvas de una parra en cierto

patio que ya no existe. La mojada
tarde me trae la voz, la voz deseada,
de mi padre que vuelve y que no ha muerto.

A Chuva

Bruscamente a tarde se há desanuviado
Porque já cai uma chuva minuciosa
Cai ou caiu. A chuva é uma coisa
Que, sem dúvida, sucede no passado.

Quem a ouve cair há recobrado
O tempo em que a sorte venturosa
Lhe revelou uma flor de nome rosa
De tão peculiar avermelhado.

Esta chuva que escurece os vidros
Há de alegrar os subúrbios perdidos
As uvas pretas de uma parra em certo

Pátio que já não existe. A molhada
Tarde me traz a voz, a voz desejada,
De meu pai que volta e que não morreu.

Saturday, November 18, 2006

O GRANDE DARIO

LA CALUMNIA

Rubén Dario

Puede una gota de lodo
sobre un diamante caer;
puede también de este modo
su fulgor obscurecer;
pero aunque el diamante todo
se encuentre de fango lleno,e
l valor que lo hace bueno
no perderá ni un instante,
y ha de ser siempre diamante
por más que lo manche el cieno.


A CALÚNIA

Pode uma gota de lodo
Sobre um diamante cair;
Pode também deste modo
Seu brilho obstruir;
Porém ainda que o diamante todo
Se encontre cheio de lodo,
o seu valor ainda assim perdura
não se perde nem por um instante,
e há de ser sempre diamante
por mais que a mancha seja impura.

Friday, November 17, 2006

TRAINDO VALLEJO

Em geral traições não se explicam, mas, para quem estiver interessado, não levei em consideração algumas palavras por questões poéticas e ignorei a rima "erva" e "conserva" em português por achar grama mais adequado e por o "molho de lama" para conservar, é claro. O boi por corvo é mais brasileiro, capischo?

Intensidad y altura

César Vallejo

Quiero escribir, pero me sale espuma,
quiero decir muchísimo y me atollo;
no hay cifra hablada que no sea suma,
no hay pirámide escrita, sin cogollo.

Quiero escribir, pero me siento puma;
quiero laurearme, pero me encebollo.
No hay toz hablada, que no llegue a bruma,
no hay dios ni hijo de dios, sin desarrollo.

Vámonos, pues, por eso, a comer yerba,
carne de llanto, fruta de gemido,
nuestra alma melancólica en conserva.

Vámonos! Vámonos! Estoy herido;
Vámonos a beber lo ya bebido,
vámonos, cuervo, a fecundar tu cuerva.

Intensidade e Altura

Quero escrever, porém só me sai espuma,
Quero dizer muito mais e me atolo;
Não há nenhuma cifra que não seja suma,
Não há nenhuma pirâmide escrita, sem tijolo.

Quero escrever, porém me sinto puma;
Quero elogiar-me, mas me encabulo.
Não há porta fechada, em que não chegue a bruma,
Não há deus nem filho de deus, sem dar seus pulos.

Vamos, então, por tal razão só comer grama,
carne de pranto, fruta de gemido,
Nossa alma melancólica em molho de lama.

Vamos! Vamos! Eu me sinto tão ferido;
Vamos, pois beber muito mais que o já bebido,
Vamos, boi, fecundar o chifre bem nascido.

Thursday, November 16, 2006

BORGES

AMOROSA ANTICIPACION

Jorge Luis Borges

Ni la intimidad de tu frente clara como una fiesta
ni la costumbre de tu cuerpo, aun misterioso y tacito Y
[de niña,
ni la sucesion de tu vida asumiendo palabras o silencios
seran favor tan misterioso como mirar tu sueño implicado
en la vigilia de mis brazos.
Virgen milagrosamente otra vez por la virtud absolutoria
[del sueño,
quieta y resplandeciente como una dicha que la memoria
[elige,
me daras esa orilla de tu vida que tu misma no tienes.
Arrojado a quietud, divisare esa playa ultima de tu ser
y te vere por vez primera, quiza,
como Dios a de verte, desbaratada la ficcion del Tiempo,
sin el amor, sin mi.

ANTECIPAÇÃO AMOROSA

Nem a intimidade de tua frente clara como uma festa
Nem o costume de teu corpo ainda misterioso e tácito e
de menina
Nem a sucessão de tua vida assumindo palavras ou silêncios
Serão favor tão misterioso
Como olhar teu sono abandonado
Na vigília de meus braços.
Virgem milagrosamente outra vez pela virtude absolutória
do sono,
quieta e resplandecente como uma felicidade que a memória
elege,
Me darás este pedaço de tua vida que tu mesma não tens.
Arrojado a quietude,
Divisarei esta praia última de teu ser
E te verei pela primeira vez, quem sabe,
Como Deus há de ver-te
Desbaratada a ficção do tempo,
Sem o amor, sem mim.

Sunday, November 12, 2006

DICKINSON OUTRA VEZ

THE MYSTERY OF PAIN
Emily Dickinson


Pain has an element of blank;
It cannot recollect
When it began, or if there were
A day when it was not.

It has no future but itself,
Its infinite realms contain
Its past, enlightened to perceive
New periods of pain.

O MISTÉRIO DA DOR

A dor tem um espaço em branco;
Que não pode recordar
Quando se iniciou, ou se houve um dia
Em que não era assim.

Mesmo sem ter nenhum futuro nem para si mesma,
Seus reinos infinitos contem
Seu passado, iluminado para perceber
Novos períodos de dor.

Monday, November 06, 2006

RECEITA PERFEITA: BORGES & VINHO

SONETO DEL VINO

Jorge Luis Borges

¿En qué reino, en qué siglo, bajo qué silenciosa
Conjunción de los astros, en qué secreto día
Que el mármol no há salvado, surgió la valerosa
Y singular ideia de inventar la alegria?
Com otoños de oro la inventaron.
El vino fluye rojo a lo largo de las generaciones
Como el río del tiempo y en el arduo camino
Nos prodiga su música, su fuego y sus leones.
En la noche del júbilo o en la jornada adversa
Exalta la alegria o mitiga el espanto
Y el ditirambo nuevo que este día le canto
Otrora lo cantaron el árabe y el persa.
Vino, enseñame el arte de ver mi propia historia
Como si ésta ya fuera ceniza en la memória.

Soneto do Vinho

Em que reino, em que século, sob qual silenciosa
Conjunção de astros, em que secreto dia
Que o mármore não salvou, surgiu a valorosa
E singular idéia de inventar a alegria?
Com outonos de ouro a inventaram.
O vinho flui vermelho ao longo de gerações
Como o rio do tempo e no seu árduo caminho
Nos oferta sua música, seu fogo e seus leões.
Na noite de júbilo ou na jornada adversa
Exalta a alegria ou mitiga o espanto
E a poesia nova que neste dia canto
Outrora a cantaram o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver a própria história
Como se já fosse a cinza da memória.

Sunday, November 05, 2006

AINDA BORGES

THE UNENDING GIFT
Jorge Luis Borges

Un pintor nos prometió un cuadro.
Ahora, en New England, se que ha muerto. Sentí
como otras veces, la tristeza y la sorpresa
de comprender que somos como un sueño.
Pensé en el hombre y en el cuadro perdidos.
(Sólo los dioses pueden prometer, porque son
[ inmortales).
Pensé en el lugar prefijado que la tela no ocupará.
Pensé después: si estuviera ahí, sería con el
tiempo esa cosa más, una cosa, una de las
vanidades o hábitos de mi casa; ahora es
ilimitada, incesante, capaz de cualquier
forma y cualquier color y no atada a
ninguno.Existe de algún modo.
Vivirá y crecerá como una
música, y estará conmigo hasta el fin.
Gracias, Jorge Larco.
(También los hombres pueden prometer, porque
[ en la promesa hay algo inmortal).

(De Elogío de la Sombra, 1969)

O INACABADO PRESENTE

Um pintor nos prometeu um quadro.
Agora, em New England, soube que morreu. Senti
Como outras vezes, a tristeza e a surpresa
De compreender que somos como um sonho.
Penso no homem e no quadro perdidos.
(Só os deuses podem prometer, porque são
imortais).
Pensei no lugar pré-fixado que a tela não ocupará.
Pensei depois: se estivesse lá, seria com o
Tempo uma coisa a mais, uma coisa, um das
vaidades tolas ou hábitos de minha casa; agora é
Ilimitado, incessante, capaz de qualquer
Forma e qualquer cor e a nada
Fixado.
Existe de algum modo. Viverá e crescerá como
Uma música e estará comigo até o fim.
Obrigado, Jorge Larco.
(Os homens também podem prometer porque
na promessa há algo de imortal).

UMA ANTIGA DE PERSIVO REFORMULADA

INTIMIDADE

Aquelas confidências vagas, que me fazia,
Foram só um começo de desejo e gozo
Que nossas peles suadas pressentiam
No meio do calor, da meia-luz e da fumaça.

Havia certa graça nas vozes velozes
Que se misturavam numa babel de preces
Ao desconhecido deus que fez o amor e o álcool
Para a liberação dos instintos mais selvagens

E foi estranho porque o encanto mútuo
Criou uma intimidade impossível num quarto,
Porém ali, em meio ao público, pareceu natural
Tanto que nos beijamos quase automaticamente

Com uma inocência infantil que nos absolveu
De toda maldade que os risos fizeram circular
E pelo olhar tão puro que deu quase me sinto santo
Quase consigo acreditar num ser qualquer

Que programasse, ao acaso, momentos encantados
Nos quais os sorteados, como ali nós éramos,
Pudessem ver que há algo além da falta de sentido
Que permeia toda a loucura que somos e fazemos.

Senti-me tão feliz ao compreender teu pranto silencioso
Em flagrante contraste com o prazer presente
Nos nossos menores gestos e de todos os outros
E também chorei mansinho por tudo ser tão belo e frágil!

Saturday, November 04, 2006

POR CULPA DA STELLA...

A Stella Blu (do http://posturaativa.blogspot.com) me provocou trazendo uns versos, mas precisamente a poesia de Charles Baudelaire "Embriaguemo-nos" que, sabia que havia traduzido como "Vamos nos Embriagar". Assim procurei nos meus guardados antigos e a publiquei no Jornal Diz Persivo. Porém também encontrei esta de Verlaine que aproveito e posto aqui. A culpa é da Stella de me fazer remexer baús atrás de velhas traições. E, pelo que vi desta, o autor, de fato, foi muito traído. Fazer o quê? Não lembro mais nada de francês deforma que o passado (e a preguiça) cobra o seu preço. Como se pode ver não tenho a menor vergonha de meus pecados.

VERS POUR ÊTRE CALOMNIÉ
Verlaine
Ce soir je m'étais penché sur ton sommeil.
Tout ton corps dormait chaste sur l'humble lit,
Et j'ai vu, comme un qui s'applique et qui lit,
Ah ! j'ai vu que tout est vain sous le soleil !
Qu'on vive, ô quelle délicate merveille,
Tant notre appareil est une fleur qui plie!
O pensée aboutissant à la folie!
Va, pauvre, dors ! moi, l'effroi pour toi m'éveille.
Ah ! misère de t'aimer, mon frêle amour
Qui vas respirant comme on respire un jour!
O regard fermé que la mort fera tel!
O bouche qui ris en songe sur ma bouche,
En attendant l'autre rire plus farouche!
Vite, éveille-toi. Dis, l'âme est immortelle ?
Versos para ser caluniado
De noite debruçado sobre o teu sono.
Teu corpo casto todo no humilde leito
Dormia; e li, com todo o esforço feito,
Ah! Eu vi que sob o sol tudo é abandono!
Quem vive, ó que delicada maravilha:
Nossa estrutura é uma flor fina e pura!
O pensamento se despenca para a loucura!
Vai, dorme, vai! Acordo, com medo por ti, filha.
Ah! Miséria de te amar, meu pobre amor
Que respira como expira o dia que se for!
Ó olhar cerrado como da morte no umbral!
A boca que ri em sonho na minha boca,
Na espera de outra risada ainda mais louca!
Vida, acorda. Diz-me se a alma é imortal?

Thursday, November 02, 2006

AINDA O GRANDE BORGES

Una brújula
A Esther Zemborain de Torres

Todas las cosas son palabras del
Idioma en que Alguien o Algo, noche y día,
Escribe esa infinita algarabía
Que es la historia del mundo. En su tropel
Pasan Cartago y Roma, yo, tú, él.
Mi vida que no entiendo, esta agonía
De ser enigma, azar, criptografía
Y toda la discordia de Babel.
Detrás del nombre hay lo que no se nombra;
Hoy he sentido gravitar su sombra
En esta aguja azul, lúcida y leve,
Que hacia el confín de un mar tiende su empeño,
Con algo de reloj visto en un sueño
Y algo de ave dormida que se mueve.

Um Compasso

a Esther Zemborain de Torres

Todas as coisas são palavras
Do idioma em que alguém ou algo, noite e dia,
Escreve esta infinita algaravia
Que é a história do mundo. Em seu tropel
Passam Cartago e Roma, eu, tu, ele.
Minha vida que não entendo, esta agonia
De ser enigma, possibilidade, criptografia
E toda a discórdia de Babel.
Atrás do nome há o que não se nomeia;
Hoje tenho sentido o gravitar de sua sombra
Nesta agulha azul, lúcida e leve,
Que até os confins do mar tem seu domínio,
Como algo de um relógio visto em sonho
E algo de um pássaro dormindo que se move.

BORGES

Cosmogonía

Jorge Luis Borges

Ni TINIEBLA ni caos.
La tiniebla requiere ojos que ven,
como el sonido y el silencio requieren el oído,
y el espejo, la forma que lo puebla.
Ni el espacio ni el tiempo.
ni siquiera una divinidad que premeditael silencio anterior a la primera
noche del tiempo, que será infinita.
El gran río de Heráclito el Oscuro
su irrevocable curso no ha emprendido,
que del pasado fluye hacia el futuro,
que del olvido fluye hacia el olvido.
Algo que ya padece. Algo que implora.
Después la historia universal. Ahora.
El suicida
No quedara en la noche una estrella.
NO quedará la noche
Moriré y conmigo la suma del intolerable universo.
Borraré las pirámides, las medallas,los continentes y las caras.
Borraré la acumulación del pasado.
Haré polvo la historia, polvo el polvo.
Estoy mirando el último poniente.
Oigo el último pájaro.
Lego la nada a nadie.

Cosmogonía

Nem escuridão nem caos.
Escuridão requer olhos que vêem,
como o som e o silêncio requerem orelhas,
e o espelho, a forma que o prova.
Nem o espaço nem o tempo.
Nem sequer uma divindade que premedita
O silêncio anterior à primeira
Noite do tempo, que será infinita.
O rio grande de Heráclito o escuro
Seu curso irrevogável não empreendeu,
Nem do passado flui para o futuro,
Nem do esquecimento flui para o esquecimento.
Algo que padece já. Algo que implora.
Depois a História universal. Agora.
O suicida.
Não há de ficar da noite uma estrela.
Não há de ficar a noite
Há de morrer e comigo a suma
Intolerável do universo.
Eu apagarei pirâmides, as medalhas,
Os continentes e as caras.
Eu apagarei a acumulação do passado.
Eu farei pó da história, pó e pó.
Estou olhando o último ponte.
Ouço o último pássaro.
Chego do nada ao nada.