POEMA
William Ospina
Estuvo aquí hace poco. Como una diosa en fuga
llevaba débilmente sus temblores divinos.
Por un instante el cielo detuvo a la hilandera
y la muchacha hermosa se detuvo un momento.
Ahora ha partido. Carne que sabe la sentencia,
comprendo que mis ojos la han perdido por siempre.
Roja sombra, has de ser la ceniza de un sueño.
Dulce, fugaz sonrisa... ¿No estarás en mi cielo?
Nada nos pertenece. Todo sigue um oscuro
rumbo. Son sueño el árbol, el castillo, la esfinge.
El mar abre sus líquidos brazos de cruel sirena
hacia donde incesantes naves se precipitan.
Adiós, sagrada imagen. En la tarde solemne
despido astros y Dioses que otorgan oro y sangre.
Muero un poco con todas las flores abatidas
y se apaga el crepúsculo, pero la noche es grande.
POEMA
Esteve aqui faz pouco. Como uma deusa em fuga
Levava debilmente seus tremores divinos.
Por um instante o céu deteve a fiandeira
e a formosa moça parou por um momento.
Agora se foi. Carne que sabe a sentença,
Compreendo que meus olhos a perderam para sempre.
Vermelha sombra, hás de ser a cinza de um sonho.
Doce, fugaz sorriso... Não a verei no meu céu?
Nada nos pertence. Tudo segue num escuro
rumo. Um sonho, a árvore, o castelo, a esfinge.
O mar que abre seus líquidos braços de cruel sereia
até onde incessantes naves se precipitam.
Adeus, sagrada imagem. Na tarde solene
Despidos astros e deuses que outorgam ouro e sangue.
Morro um pouco com todas as flores abatidas
e se apaga o crepúsculo, mas a noite é imensa.
Saturday, June 28, 2008
VIVER E SER FELIZ
TEORICAMENTE...
É A VIDA
Tecnicamente a vida é simples:
Acordar, comer, amar, sorrir,
fazer alguma coisa e dormir.
É verdade que existem as doenças,
os deveres, os débitos, os desvios e os delírios.
Dizem que também o carma, a carne e o carnaval.
Hoje, a chuva e o tempo não fazem diferença ou mal.
Na prática só desejo
vinho e a calma furiosa de teu corpo.
Isto é a vida.
E, sem dúvida, é doce e complicada.
Thursday, June 26, 2008
UM POETA DO EQUADOR
RECOMENDACIONES
Julio Pazos
Dentro de la memoria que canta
esperan lugares de felicidad y muerte.
No dejes que las palabras dormiten,
ya tendrán su oceánica clausura o su polvo.
Permite que las invenciones merodeen
sobre las especies que danzan.
Persigue a las nubes del poniente hasta doblegarlas,
ciñe con ellas tu cabeza.
Avanza por el camino del horizonte
y oye tus latidos,
ese coro que acompaña el crecimiento del fuego.
Deja tu espejo a la intemperie
para que reproduzca las alas del amor
que se agitan antes de perderse.
De Documentos discretos (2003)
Recomendações
No interior da memória que canta
esperam lugares de felicidade e morte.
Não deixes que as palavras durmam,
Ou se encerrem numa oceânica clausura ou virem pó.
Permita que as invenções se imponham
sobre as espécies que dançam.
Persiga as nuvens do poente até dominá-las,
Cinge com elas tua cabeça.
Avança pelo caminho do horizonte
e ouve teus pulsares,
este coro que acompanha o crescimento do fogo.
Deixa teu espelho na intempérie
para que reproduza as asas do amor
que se agitam antes de se perder.
Julio Pazos
Dentro de la memoria que canta
esperan lugares de felicidad y muerte.
No dejes que las palabras dormiten,
ya tendrán su oceánica clausura o su polvo.
Permite que las invenciones merodeen
sobre las especies que danzan.
Persigue a las nubes del poniente hasta doblegarlas,
ciñe con ellas tu cabeza.
Avanza por el camino del horizonte
y oye tus latidos,
ese coro que acompaña el crecimiento del fuego.
Deja tu espejo a la intemperie
para que reproduzca las alas del amor
que se agitan antes de perderse.
De Documentos discretos (2003)
Recomendações
No interior da memória que canta
esperam lugares de felicidade e morte.
Não deixes que as palavras durmam,
Ou se encerrem numa oceânica clausura ou virem pó.
Permita que as invenções se imponham
sobre as espécies que dançam.
Persiga as nuvens do poente até dominá-las,
Cinge com elas tua cabeça.
Avança pelo caminho do horizonte
e ouve teus pulsares,
este coro que acompanha o crescimento do fogo.
Deixa teu espelho na intempérie
para que reproduza as asas do amor
que se agitam antes de se perder.
CONTROVÉRSIAS
O CERNE DO REAL
"Se mesmo o positivo é sonho e controvérsia/Nem porvir, nem ninguém, coisa alguma desliga/A ciência que sonha e o verso que investiga" (Jorge de Lima).
Se sonho
É com o azul
das longas ondas
que se estendem pelo além.
Se sonho
É com a luminosidade
das manhãs largas
com um céu azul infinito
como querer alguém.
Há controvérsias
se sonho,
ou se não sonho.
É que teus risos,
como o verso e a ciência-
único real-
são feitos de coisas etéreas.
Tuesday, June 24, 2008
OUTRO POETA COLOMBIANO
SENÕR DON JORGE LUIS
Luis Fernando Baque
Usted que todo lo vio
y lo leyó
con los ojos del espíritu,
de lo único que se ha perdido
es de éste,
el mundo de las apariencias;
estos farsantes
quieren hacernos creer
en su realidad por decreto.
¡Tienen miedo de usted!
que siempre imagino el paraíso
bajo una biblioteca,
y a quien “Dios con magnífica ironía
le Dios a la vez los libros y la noche”.
Ellos saben lo que significan
algunas verdades,
en las manos iluminadas de un ciego.
SENHOR DOM JORGE LUIS
Você que tudo viu
e leu
com os olhos do espírito,
o único que não se perdeu
neste
mundo das aparências;
estes farsantes
querem nos fazer crer
na sua realidade por decreto.
Tremem de medo de você!
que sempre imaginou o paraíso
de uma biblioteca,
e a quem “Deus com magnífica ironia
lhe deu de uma vez os livros e a noite”.
Eles sabem o que significam
algumas verdades,
nas mãos iluminadas de um cego.
Luis Fernando Baque
Usted que todo lo vio
y lo leyó
con los ojos del espíritu,
de lo único que se ha perdido
es de éste,
el mundo de las apariencias;
estos farsantes
quieren hacernos creer
en su realidad por decreto.
¡Tienen miedo de usted!
que siempre imagino el paraíso
bajo una biblioteca,
y a quien “Dios con magnífica ironía
le Dios a la vez los libros y la noche”.
Ellos saben lo que significan
algunas verdades,
en las manos iluminadas de un ciego.
SENHOR DOM JORGE LUIS
Você que tudo viu
e leu
com os olhos do espírito,
o único que não se perdeu
neste
mundo das aparências;
estes farsantes
querem nos fazer crer
na sua realidade por decreto.
Tremem de medo de você!
que sempre imaginou o paraíso
de uma biblioteca,
e a quem “Deus com magnífica ironia
lhe deu de uma vez os livros e a noite”.
Eles sabem o que significam
algumas verdades,
nas mãos iluminadas de um cego.
UM POETA COLOMBIANO
Podia ser também "Todo Poeta é Mórbido"
CERCANÍA DE LA MUERTE
Giovanni Quessep
El hombre solo habita
Una orilla lejana
Mira la tarde gris cayendo
Mira las hojas blancas
Rostro perdido del amor
Apenas canta y mueve
La rueda del azar
Que lo acerca a la muerte
Extranjero de todo
La dicha lo maldice
El hombre solo a solas habla
De un reino que no existe
NAS PROXIMIDADES DA MORTE
O homem somente habita
Uma margem distante
Olha a tarde cinzenta caindo
Olha as folhas brancas
Rosto perdido de amor
Apenas canta e move
A roda da fortuna
Que o aproxima da morte
Exilado de tudo
A sorte o maldiz
O homem sozinho, isolado fala
De um reino que não existe
NAS PROXIMIDADES DA MORTE
O homem somente habita
Uma margem distante
Olha a tarde cinzenta caindo
Olha as folhas brancas
Rosto perdido de amor
Apenas canta e move
A roda da fortuna
Que o aproxima da morte
Exilado de tudo
A sorte o maldiz
O homem sozinho, isolado fala
De um reino que não existe
CONTRABALANÇANDO
CONTRABALANÇANDO
Perdido na Estação do cais
Lembro uma Belém que não existe mais
E uma mulher que, talvez,
Nem mais exista.
Uma cantora negra se avista
Balançando
No ar
Nem sei se está a cantar
(Tal o barulho que há)
Embora soe
Lembro uma Belém que não existe mais
E uma mulher que, talvez,
Nem mais exista.
Uma cantora negra se avista
Balançando
No ar
Nem sei se está a cantar
(Tal o barulho que há)
Embora soe
uma música lenta
quase um fado
como se portuguesa fosse.
Penso que a vida está a degradar
ou degradada está.
E bebo chope:
Alguma coisa tem que se fazer
para contrabalançar
enquanto saboreio a beleza
do sol, do rio mar
e penso como será bom
te amar
como se portuguesa fosse.
Penso que a vida está a degradar
ou degradada está.
E bebo chope:
Alguma coisa tem que se fazer
para contrabalançar
enquanto saboreio a beleza
do sol, do rio mar
e penso como será bom
te amar
Nem que seja uma vez só.
POR MIM...VOU DE GIN
Monday, June 23, 2008
O ANJO DA MORTE
NEM TUDO TEM GRAÇA
A PALHAÇA
Nosso amor começou pela graça
Que ela demonstrava em ser palhaça
E viveu sempre de risadas e carinhos
Mesmo quando me sentia pequeninho
Vendo-a usar pernas de pau,
Ou balançar-se perigosamente no trapézio,
E rebolar desafiadoramente lá em cima
Os quadris que não eram de menina
Sempre me parecia como a lua
Muita alta e irreal.
A palhaçada terminou em dor
Quando depois de tanto rir
Me fez chorar
Fugindo com o bigodudo domador,
Que de nada ria,
Sem ao menos me avisar.
(De Poemas Mal-Comportados).
Friday, June 20, 2008
AINDA O SOBERBO WILLIAM
76
William Skakespeare
Why is my verse so barren of new pride,
So far from variation or quick change?
Why with the time do I not glance aside
To new-found methods and to compounds strange?
Why write I still all one, ever the same,
And keep invention in a noted weed,
That every word doth almost tell my name,
Showing their birth and where they did proceed?
O, know, sweet love, I always write of you,
And you and love are still my argument;
So all my best is dressing old words new,
Spending again what is already spent:
For as the sun is daily new and old,
So is my love still telling what is told.
So far from variation or quick change?
Why with the time do I not glance aside
To new-found methods and to compounds strange?
Why write I still all one, ever the same,
And keep invention in a noted weed,
That every word doth almost tell my name,
Showing their birth and where they did proceed?
O, know, sweet love, I always write of you,
And you and love are still my argument;
So all my best is dressing old words new,
Spending again what is already spent:
For as the sun is daily new and old,
So is my love still telling what is told.
76
Por que o meu verso é tão estéril, tão sem brilho,
Tão sem variações ou rápidos ritmos?
Por que com o tempo não combina o estribilho
E aos novos métodos parecem versos estranhos?
Por que escrevo sempre o mesmo, sempre igual
E mantenho na invenção a mesma roupa,
De modo que cada palavra é tal e qual,
Exibindo na origem a inspiração tão pouca?
Oh! Doce amor, sabes que és sempre o meu tema,
E és, com o meu amor, o meu único argumento;
De forma que fazer do velho, novo é o estratagema,
Que me faz repetir de novo o que sempre fiz:
Pois, como sol, é diariamente novo e velho, tento,
Assim com o meu amor se repetindo ser feliz.
Thursday, June 19, 2008
QUEM TRAI PERMANECE...
138
William Shakespeare
When my love swears that she is made of truth
I do believe her, though I know she lies,
That she might think me some untutor'd youth,
Unlearned in the world's false subtleties.
Thus vainly thinking that she thinks me young,
Although she knows my days are past the best,
Simply I credit her false speaking tongue:
But wherefore says she not she is unjust?
And wherefore say not I that I am old?
O, love's best habit is in seeming trust,
And age in love loves not to have years told:
Therefore I lie with her and she with me,
And in our faults by lies we flatter'd be.
138
When my love swears that she is made of truth
I do believe her, though I know she lies,
That she might think me some untutor'd youth,
Unlearned in the world's false subtleties.
Thus vainly thinking that she thinks me young,
Although she knows my days are past the best,
Simply I credit her false speaking tongue:
But wherefore says she not she is unjust?
And wherefore say not I that I am old?
O, love's best habit is in seeming trust,
And age in love loves not to have years told:
Therefore I lie with her and she with me,
And in our faults by lies we flatter'd be.
138
Quando meu amor jura que diz a verdade
Creio nela, ainda quando sei que mente,
Para deixá-la eternamente crer na juventude,
E que não sou habituado à falsidade reinante.
Assim pensa que creio na própria imaturidade,
Ainda se sabe que minha juventude é mentira.
Simplesmente crédito à falsa língua sinceridade
Simplesmente crédito à falsa língua sinceridade
Sabendo ambos que o que se diz o real retira.
Porém, por que não me diz que é mentirosa?
Porém, por que não me diz que é mentirosa?
E por que não lhe digo que sou maduro?
Oh! Porque, no amor, confiar é conduta forçosa,
E a idade e o amor não gostam do ocaso:
Portanto não mentimos, jura ela, eu juro,
Para esconder nossas faltas e manter o caso.
“Si nostre vie”
Joachim Du Bellay
Si nostre vie est moins qu'une journée
Joachim Du Bellay
Si nostre vie est moins qu'une journée
En l'eternel, si l'an qui faict le tour
Chasse nos jours sans espoir de retour,
Si périssable est toute chose née,
Que songes-tu, mon ame emprisonnée ?
Pourquoy te plaist l'obscur de nostre jour,
Si pour voler en un plus cler sejour,
Tu as au dos l'aele bien empanée ?
La, est le bien que tout esprit desire,
La, le repos où tout le monde aspire,
La, est l'amour, la, le plaisir encore.
La, ô mon ame au plus hault ciel guidée !
Tu y pouras recongnoistre l'Idée
De la beauté, qu'en ce monde j'adore.
Se nossa vida…
Se a nossa vida é menor do que um dia
Se nossa vida…
Se a nossa vida é menor do que um dia
Na eternidade do tempo em disparada
Que nos leva os dias e nos reduz à nada,
E tudo quanto nasce é coisa fugidia,
Por que tu sonhas, ó minha alma aprisionada?
Por que te agrada o breu desta prisão escura,
Quando o teu dorso alado te assegura
Que voes para a mais lúcida morada?
Lá está o bem que todo espírito deseja,
A paz que todo mundo tanto almeja,
Lá o amor, o prazer pelo qual todo espírito clama.
È lá, ó minha alma, guiada lá para cima,
Do céu, que podes ver o Ideal, a matéria-prima
Da beleza, que neste mundo tanto ama.
Wednesday, June 18, 2008
AINDA WILLIAM
139
William Shakespeare
O, call not me to justify the wrong
That thy unkindness lays upon my heart;
Wound me not with thine eye but with thy tongue;
Use power with power and slay me not by art.
Tell me thou lovest elsewhere, but in my sight,
Dear heart, forbear to glance thine eye aside:
What need'st thou wound with cunning when thy might
Is more than my o'er-press'd defense can bide?
Let me excuse thee: ah! my love well knows
Her pretty looks have been mine enemies,
And therefore from my face she turns my foes,
That they elsewhere might dart their injuries:
Yet do not so; but since I am near slain,
Kill me outright with looks and rid my pain.
139
Ó! Não me chame para justificar o errado
Que é uma indelicadeza com meu coração;
Fira-me com tua língua, mas não com tua visão;
Usa teu poder e não me mate de modo dissimulado.
Fala-me de teus amores longe da minha presença,
Querido coração, não me olhes de soslaio:
Que necessidade tens de enganar com tua força imensa
Que é tão forte que sem defesas caio?
Deixa-me perdoar-te: ah! Meu amor bem sabe
Que seus olhares maldosos foram meu inimigo maior,
Se afastando do meu rosto a quem, de fato, cabe,
Eles que podem atingir como dardos outra pessoa:
Ainda assim, não o faças, já estou perto da morte, seja boa
Mate-me agora e me livre por completo da minha dor.
William Shakespeare
O, call not me to justify the wrong
That thy unkindness lays upon my heart;
Wound me not with thine eye but with thy tongue;
Use power with power and slay me not by art.
Tell me thou lovest elsewhere, but in my sight,
Dear heart, forbear to glance thine eye aside:
What need'st thou wound with cunning when thy might
Is more than my o'er-press'd defense can bide?
Let me excuse thee: ah! my love well knows
Her pretty looks have been mine enemies,
And therefore from my face she turns my foes,
That they elsewhere might dart their injuries:
Yet do not so; but since I am near slain,
Kill me outright with looks and rid my pain.
139
Ó! Não me chame para justificar o errado
Que é uma indelicadeza com meu coração;
Fira-me com tua língua, mas não com tua visão;
Usa teu poder e não me mate de modo dissimulado.
Fala-me de teus amores longe da minha presença,
Querido coração, não me olhes de soslaio:
Que necessidade tens de enganar com tua força imensa
Que é tão forte que sem defesas caio?
Deixa-me perdoar-te: ah! Meu amor bem sabe
Que seus olhares maldosos foram meu inimigo maior,
Se afastando do meu rosto a quem, de fato, cabe,
Eles que podem atingir como dardos outra pessoa:
Ainda assim, não o faças, já estou perto da morte, seja boa
Mate-me agora e me livre por completo da minha dor.
Tuesday, June 17, 2008
TRAIR E COÇAR...É SÓ COMEÇAR
83
William Shakespeare
I never saw that you did painting did need,
William Shakespeare
I never saw that you did painting did need,
And therefore to your fair no painting set.
I found, or thought I found, you did exceed
The barren tender of a poet's debt.
And therefore have I slept in your report,
That you yourself, being extant, well might show
How far a modern quill doth come too short
Speaking of worth, what worth in you doth grow.
This silence for my sin sis you impute,
Which shall be muost my glory, being dumb,
For I impair not being beauty being mute,
When others would give life and bring a tomb.
There lives more life in one of you fair eyes
Than both you poets can in praise devise.
83
Nunca de te pintar tive a menor necessidade,
83
Nunca de te pintar tive a menor necessidade,
E não havia como melhorar tua beleza .
Pensei, ao te ver, haver se excedido à natureza
Muito além de um poesia são teus dotes, na verdade.
Assim fiquei inibido de tentar exaltar
O que era desnecessário, pois, com tua presença
Que inadequado seria um verso tão vulgar
Para tratar de méritos de clara evidência.
Este silêncio que como pecado me imputa,
Muito além de um poesia são teus dotes, na verdade.
Assim fiquei inibido de tentar exaltar
O que era desnecessário, pois, com tua presença
Que inadequado seria um verso tão vulgar
Para tratar de méritos de clara evidência.
Este silêncio que como pecado me imputa,
O meu calar, sem ser mudo, será minha maior glória
Por não prejudicar uma beleza absoluta,
Por não prejudicar uma beleza absoluta,
Querem te dar brilho e a vida só amortecem.
Há mais vida no teu olhar que em toda história
E poetas fazem versos jamais preces.
Há mais vida no teu olhar que em toda história
E poetas fazem versos jamais preces.
UM NORDESTINO NA AMAZÔNIA
O Néctar
Como pimenta e chocolate,
Bebo cerveja e caipirinha,
Amo uma mulher
Que não é a minha
E outra que nunca será
Como se fosse um néctar
Como se fosse um néctar.
Ah! Rapadura com farinha!
O tacacá ou o açaí
Me lembram sob o mormaço
Dos bons tempos que vivi.
Tudo tempo, tudo espaço
E a sensação no ar
De que é preciso da vida
O néctar, o néctar.
Como pimenta e chocolate,
Bebo cerveja e caipirinha,
Amo uma mulher
Que não é a minha
E outra que nunca será
Como se fosse um néctar
Como se fosse um néctar.
Ah! Rapadura com farinha!
O tacacá ou o açaí
Me lembram sob o mormaço
Dos bons tempos que vivi.
Tudo tempo, tudo espaço
E a sensação no ar
De que é preciso da vida
O néctar, o néctar.
Monday, June 16, 2008
UMA GRANDE TRAIÇÃO AO WILLIAM
Carpe Diem
William Shakespeare
O mistress mine, where are you roaming?
William Shakespeare
O mistress mine, where are you roaming?
O stay and hear! your true-love's coming
That can sing both high and low;
Trip no further, pretty sweeting,
Journey's end in lovers' meeting-
Every wise man's son doth know.
What is love? 'tis not hereafter;
Present mirth hath present laughter;
What's to come is still unsure:
In delay there lies no plenty,-
Then come kiss me, Sweet and twenty,
Youth's a stuff will not endure.
Carpe Diem
Ó amada minha, onde tens andado?
Carpe Diem
Ó amada minha, onde tens andado?
Pára e me ouve! - o seu real amor está vindo
Isto pode cantar em alto e baixo tom, segura;
Não viaje para longe, adorada doçura,
No fim da jornada os amantes se unirão
Cada homem sábio sabe os filhos de quem são.
O que é o amor? Não é o mundo para o futuro;
É a alegria presente de quem agora ri;
O que virá ainda é inseguro:
No atraso não há plenitude-
Então vem beijar-me, doce e nova jovem,
Há coisas que os jovens não resistem.
Saturday, June 14, 2008
A BELEZA DOS AMORES DELICADOS
Soneto do Amor Sereno
Se me quiseres amor como te quero..
...suave e leve que me faz tão contente Só em guardar tua imagem que encaro
Como defesa contra o banal presente.
Se me quiseres amor como te quero..
...suave e leve que me faz tão contente Só em guardar tua imagem que encaro
Como defesa contra o banal presente.
Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vejo em teu corpo não mais adolescente
Que, nem em pensar, das roupas, separo
Preso no teu encanto tão perdidamente.
Que, nem em pensar, das roupas, separo
Preso no teu encanto tão perdidamente.
Não exijas nada que te dei o meu desejo
Maduro, profundo, delicado, enquanto
Maduro, profundo, delicado, enquanto
O resto é simples feito as grandes cenas.
Veja a grandeza que temos sem um beijo!
È um amor acima das imperfeições. Tanto
Que sobrevive das atenções serenas.
È um amor acima das imperfeições. Tanto
Que sobrevive das atenções serenas.
Friday, June 13, 2008
HAI KAIs
UMA POETISA DO URUGUAI
«TU AMOR, ESCLAVO, ES COMO UN SOL MUY FUERTE...»
Delmira Agustini
Tu amor, esclavo, es como un sol muy fuerte:
Tu amor, esclavo, es como un sol muy fuerte:
Jardinero de oro de la vida,
Jardinero de fuego de la muerte,
En el carmen fecundo de mi vida.
Pico de cuervo con olor de rosas,
Aguijón enmelado de delicias
Tu lengua es. Tus manos misteriosas
Son garras enguantadas de caricias.
Tus ojos son mis medianoches crueles,
Panales negros de malditas mieles
Que se desangran en mi acerbidad;
Crisálida de un vuelo del futuro,
Es tu abrazo magnífico y oscuro
Torre embrujada de mi soledad.
Teu amor escravo é como um sol forte
Teu amor, escravo, é como um sol muito forte:
Jardineiro de ouro da vida,
Jardineiro de fogo da morte,
No caminho fecundo de minha vida.
Um bico de corvo com aroma das rosas,
Uma agulha envolta nos prazeres
Tua língua é. Tuas mãos misteriosas
São garras ensangüentadas de carícias.
Teus olhos são minhas meia-noites cruéis,
Maldito favos de mel pretos
Que sangram na sua amargura
Crisálida de um vôo do futuro,
É teu abraço magnífico e escuro
Torre feiticeira da minha solidão.
Teu amor escravo é como um sol forte
Teu amor, escravo, é como um sol muito forte:
Jardineiro de ouro da vida,
Jardineiro de fogo da morte,
No caminho fecundo de minha vida.
Um bico de corvo com aroma das rosas,
Uma agulha envolta nos prazeres
Tua língua é. Tuas mãos misteriosas
São garras ensangüentadas de carícias.
Teus olhos são minhas meia-noites cruéis,
Maldito favos de mel pretos
Que sangram na sua amargura
Crisálida de um vôo do futuro,
É teu abraço magnífico e escuro
Torre feiticeira da minha solidão.
Thursday, June 12, 2008
QUATRO POEMAS SEM TÍTULO DE CORMAN
CID CORMAN EM QUATRO GRANDES POEMAS
Who are we to die?
Who are we to live?
There is no end and
There is no end and
there is no beginning—there's
only always this.
Que somos nós a morrer?
Que somos nós a morrer?
Que somos nós a viver?
Não há qualquer finalidade
E não há começo- há
E não há começo- há
Só sempre o presente.
I leave my
I leave my
life with you
Make of it
what you can.
Eu deixei
minha vida com você
Faça dela
o que quiser.
What could be clearer—
Eu deixei
minha vida com você
Faça dela
o que quiser.
What could be clearer—
a completely blue sky as
empty as empty is.
There are things to be said. No doubt.
And in one way or another
they will be said. But to whom tell.
The silences? With whom share them
The silences? With whom share them
now? For a moment the sky is
empty and then there was a bird.
Há coisas para serem ditas. Sem dúvida.
Há coisas para serem ditas. Sem dúvida.
E de um modo ou de outro
eles dirão. Mas, há quem diga.
Os silêncios? Com quem compartilhá-los agora?
Por um momento o céu se
esvazia e, em seguida, existe um pássaro.
NOVAMENTE UNGARETTI
SENZA PIÙ PESO
Giuseppe Ungaretti
A Ottone Rossi,1934
Per um Iddio che rida como um bimbo
Tanti gridi de passeri
Tanti danci nei rami
Un’ anima se fa senza più peso,
I pratti hanno una tale tenerezza
Tale pudore negli occhi revive,
La mani come foglie
S’incanto nell’aria…
Chi tene più, chi giudica?
Sem Mais Peso
Por um Deus que ria como um garoto
Tantos trinados de pássaros
Tanta dança nos ramos
Uma alma se livra de todo o peso,
Os campos ganham uma tal ternura,
Um tal pudor novo nos olhos revividos,
As mãos como se folhas
Encantam-se na brisa...
Quem teme mais, ou julga?
Giuseppe Ungaretti
A Ottone Rossi,1934
Per um Iddio che rida como um bimbo
Tanti gridi de passeri
Tanti danci nei rami
Un’ anima se fa senza più peso,
I pratti hanno una tale tenerezza
Tale pudore negli occhi revive,
La mani come foglie
S’incanto nell’aria…
Chi tene più, chi giudica?
Sem Mais Peso
Por um Deus que ria como um garoto
Tantos trinados de pássaros
Tanta dança nos ramos
Uma alma se livra de todo o peso,
Os campos ganham uma tal ternura,
Um tal pudor novo nos olhos revividos,
As mãos como se folhas
Encantam-se na brisa...
Quem teme mais, ou julga?
UM POETA AMERICANO
Wednesday, June 11, 2008
COM AS PALAVRAS MAIS FORTES
Retalhos do Cotidiano
Rabisco, pinto, traço, cisco
Talvez não tenhas nada com isto
Nem queiras ter.
Mas, minha arte me dá prazer
E nela, como um Rembrandt,
Sei dar a cor e o tom
E até mesmo faço, se quero,
Um elo entre o azul e o amarelo
E a cor da lua
Nos dias que não fiz falta.
Sinto que as rosas tão altas
São cor de rosa
E termino assim
Com um pouco de mel
Para adoçar o doce engano
Do cotidiano
Da paisagem.
Rabisco, pinto, traço, cisco
Talvez não tenhas nada com isto
Nem queiras ter.
Mas, minha arte me dá prazer
E nela, como um Rembrandt,
Sei dar a cor e o tom
E até mesmo faço, se quero,
Um elo entre o azul e o amarelo
E a cor da lua
Nos dias que não fiz falta.
Sinto que as rosas tão altas
São cor de rosa
E termino assim
Com um pouco de mel
Para adoçar o doce engano
Do cotidiano
Da paisagem.
Ilustração: "Moon" de Pollock
O CÉU NÃO TEM RESPOSTA
Sempre aéreo
Não leve as coisas tão a sério
Que sou igual ao mar...
Tiro onda de ir e voltar.
Não tente ler nem decifrar
O que não tem enigma
Sou uma letra, talvez, um sigma.
Apenas me reconheço no que faço
E nem mesmo do modo certo
Sou um bobo, um nada esperto.
Não espero nem pela salvação.
Vivo a aventura do instante,
No espaço, o olhar de amor distante...
Não leve as coisas tão a sério
Que sou igual ao mar...
Tiro onda de ir e voltar.
Não tente ler nem decifrar
O que não tem enigma
Sou uma letra, talvez, um sigma.
Apenas me reconheço no que faço
E nem mesmo do modo certo
Sou um bobo, um nada esperto.
Não espero nem pela salvação.
Vivo a aventura do instante,
No espaço, o olhar de amor distante...
Saturday, June 07, 2008
AINDA EUGENIO MONTEJO
CANCIÓN
Eugenio Montejo
Cada cuerpo con su deseo
Cada cuerpo con su deseo
y el mar al frente.
Cada lecho con su naufragio
y los barcos al horizonte.
Estoy cantando la vieja canción
que no tiene palabras.
Cada cuerpo junto a otro cuerpo,
cada espejo temblando en la sombra
y las nubes errantes.
Estoy tocando la antigua guitarra
con que los amantes se duermen.
Cada ventana en sus helechos,
cada cuerpo desnudo en su noche
y el mar al fondo, inalcanzable.
Canção
Cada corpo com seu desejo
E o mar em frente.
Cada leito com seu naufrágio
E os barcos no horizonte.
Estou cantando a velha canção
Que não tem palavras.
Cada corpo junto a outro corpo,
Cada espelho cintila nas sombras
E nas nuvens errantes.
Estou tocando a antiga guitarra
Com que os amantes adormecem.
Cada vento nas suas samambaias,
Cada corpo nu na sua noite
E o mar, ao fundo, inalcançável.
Canção
Cada corpo com seu desejo
E o mar em frente.
Cada leito com seu naufrágio
E os barcos no horizonte.
Estou cantando a velha canção
Que não tem palavras.
Cada corpo junto a outro corpo,
Cada espelho cintila nas sombras
E nas nuvens errantes.
Estou tocando a antiga guitarra
Com que os amantes adormecem.
Cada vento nas suas samambaias,
Cada corpo nu na sua noite
E o mar, ao fundo, inalcançável.
UNS DEIXAM MAIS CLARIDADE QUE OUTROS
DURA MENOS UN HOMBRE QUE UNA VELA...
Eugenio Montejo
Dura menos un hombre que una vela
pero la tierra prefiere su lumbre
para seguir el paso de los astros.
Dura menos que un árbol,
que una piedra,
se anochece ante el viento más leve,
con un soplo se apaga.
Dura menos un pájaro,
que un pez fuera del agua,
casi no tiene tiempo de nacer,
da unas vueltas al sol y se borra
entre las sombras de las horas
hasta que sus huesos en el polvo
se mezclan con el viento,
y sin embargo, cuando parte
siempre deja la tierra más clara.
Dura menos um homem que uma vela
Dura menos um homem que uma vela,
Porém, a terra prefere a sua luz
Para seguir o passo dos astros.
Dura menos que uma árvore,
Que uma pedra,
E anoitece ante o vento mais leve,
Com um sopro se apaga.
Dura menos que um pássaro,
Que um pé fora da água,
Quase não tem tempo de nascer.
Dá umas voltas ao sol e se perde
Entre as sombras das horas
Até que seus ossos em pó
Se misturam com o vento,
E sem embargo, quando parte
Sempre deixa a terra mais clara.
Dura menos um homem que uma vela
Dura menos um homem que uma vela,
Porém, a terra prefere a sua luz
Para seguir o passo dos astros.
Dura menos que uma árvore,
Que uma pedra,
E anoitece ante o vento mais leve,
Com um sopro se apaga.
Dura menos que um pássaro,
Que um pé fora da água,
Quase não tem tempo de nascer.
Dá umas voltas ao sol e se perde
Entre as sombras das horas
Até que seus ossos em pó
Se misturam com o vento,
E sem embargo, quando parte
Sempre deixa a terra mais clara.
UMA HOMENAGEM AO POETA VENEZUELANO MONTEJO
ADIÓS AL SIGLO XX
Eugenio Montejo
a Alvaro Mutis
Cruzo la calle Marx, la calle Freud;
ando por una orilla de este siglo,
despacio, insomne, caviloso,
espía ad honorem de algún reino gótico,
recogiendo vocales caídas, pequeños guijarros
tatuados de rumor infinito.
La línea de Mondrian frente a mis ojos
va cortando la noche en sombras rectas
ahora que ya no cabe más soledad
en las paredes de vidrio.
Cruzo la calle Mao, la calle Stalin;
miro el instante donde muere un milenio
y otro despunta su terrestre dominio.
Mi siglo vertical y lleno de teorías...
Mi siglo con sus guerras, sus posguerras
y su tambor de Hitler allá lejos,
entre sangre y abismo.
Prosigo entre las piedras de los viejos suburbios
por un trago, por un poco de jazz,
contemplando los dioses que duermen disueltos
en el serrín de los bares,
mientras descifro sus nombres al paso
y sigo mi camino.
Adeus ao Século XX
A Álvaro Mutis
Cruzo a rua Marx, a rua Freud;
Ando pelos finais do século,
Devagar, insone, ensimesmado,
Espião honorário honroso de algum reino gótico,
Recolhendo vozes caídas, pequenos cascalhos
Tatuados de rumor infinito.
A linha de Mondrian ante meus olhos
Vai cortando a noite em sombras retas
Agora que já não cabe mais a solidão
Nas paredes de vidro.
Cruzo a rua Mao, a rua Stalin
Olho por um instante onde morreu o milênio
E outro desponta em seu domínio.
Meu século vertical e pleno de teorias...
Meu século de guerras e de pós-guerras
E seu tambor de Hitler ali adiante
Entre sangue e abismo.
Prossigo entre as pedras e os velhos subúrbios
Por um trago, por um pouco de jazz,
Contemplando os deuses que dormem dissolutos
Na serragem dos bares
Enquanto decifro seus nomes ao passar
E seguir o meu caminho.
Adeus ao Século XX
A Álvaro Mutis
Cruzo a rua Marx, a rua Freud;
Ando pelos finais do século,
Devagar, insone, ensimesmado,
Espião honorário honroso de algum reino gótico,
Recolhendo vozes caídas, pequenos cascalhos
Tatuados de rumor infinito.
A linha de Mondrian ante meus olhos
Vai cortando a noite em sombras retas
Agora que já não cabe mais a solidão
Nas paredes de vidro.
Cruzo a rua Mao, a rua Stalin
Olho por um instante onde morreu o milênio
E outro desponta em seu domínio.
Meu século vertical e pleno de teorias...
Meu século de guerras e de pós-guerras
E seu tambor de Hitler ali adiante
Entre sangue e abismo.
Prossigo entre as pedras e os velhos subúrbios
Por um trago, por um pouco de jazz,
Contemplando os deuses que dormem dissolutos
Na serragem dos bares
Enquanto decifro seus nomes ao passar
E seguir o meu caminho.
Friday, June 06, 2008
UM POETA DE PORTO RICO
Iván Segarra Báez
"El hombre es mortal por sus temores e inmortal por sus deseos"
"El hombre es mortal por sus temores e inmortal por sus deseos"
Pitágoras
Descubrimos que la vida se va asesinando
entre pétalos descalzos y llantos desnudos,
como símbolos desterrados
de pequeñas muertes desoladas y tristes.
El tiempo
va trasnochando horizontes muertos de frío
y todo se acuesta entre la nota absurda
de la sombra en pena de la risa muerta.
Descubrimos que los cuerpos son el cosmos,
un deseo que se retuerce en el mar de la lujuria.
IX
IX
“O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos”
Pitágoras
Descobrimos que a vida se vai assassinando
Entre pétalas desfolhadas e prantos desnudos,
Como símbolos desterrados
De pequenas mortes desoladas e tristes.
O tempo
Vai tresnoitando horizontes mortos de frio
E tudo se deita entre a nota absurda
Da sombra de uma alma de uma risada morta
Descobrimos que os corpos são os cosmos,
Um desejo que retorce num mar de luxúria.
Pitágoras
Descobrimos que a vida se vai assassinando
Entre pétalas desfolhadas e prantos desnudos,
Como símbolos desterrados
De pequenas mortes desoladas e tristes.
O tempo
Vai tresnoitando horizontes mortos de frio
E tudo se deita entre a nota absurda
Da sombra de uma alma de uma risada morta
Descobrimos que os corpos são os cosmos,
Um desejo que retorce num mar de luxúria.
Thursday, June 05, 2008
HUMORES NEGROS
The Prediction
Mark Strand
That night the moon drifted over the pond,
That night the moon drifted over the pond,
turning the water to milk, and under
the boughs of the trees, the blue trees
a young woman walked, and for an instant
the future came to her:
rain falling on her husband’s grave, rain falling
on the lawns of her children, her own mouth
filling with cold air, strangers moving into her house
a man in her room writing a poem, the moon drifting into it,
a woman strolling under its trees, thinking of death,
thinking of him thinking of her, and the wind risiing
and taking the moon and leaving the paper dark.
Naquela noite a lua desenhou sobre o lago,
tornando a água leite, e debaixo
dos galhos das árvores, das azuladas árvores
uma jovem mulher andava, e por um instante
adivinhou o futuro:
a chuva caindo sobre a sepultura do marido, a chuva caindo
sobre o gramado de seus filhos, sobre a sua boca
repleta de ar frio,estranhos se movendo para a sua casa
um homem na sala escrevendo um poema, a lua flutuando sobre ele
uma mulher passeando sob as árvores, pensando na morte,
pensando nele pensando nela, e o vento assoviando
e levando a lua e deixando o papel escrito em negro.
Tuesday, June 03, 2008
UM POETA DA NICARÁGUA
Como Tinaja
Gioconda Belli
En los días buenos,
En los días buenos,
de lluvia,
los días en que nos quisimos
totalmente,
en que nos fuimos abriendo
el uno al otro
como cuevas secretas;
en esos días, amor
en mi cuerpo como tinaja
recogió toda el agua tierna
que derramaste sobre mí
y ahora
en estos días secos
en que tu ausencia duele
y agrieta la piel,
y el agua sale de mis ojos
llena de tu recuerdo
a refrescar la aridez de mi cuerpo
tan vacío y tan lleno de vos.
Como um pote
Nos bons dias
de chuva,
nos dias que nos quisemos
totalmente,
em que fomos abrindo
um ao outro
como cavernas secretas;
nesses dias, amor
em que meu corpo como um pote
recolheu toda a água terna
que derramaste sobre mim
e agora
nestes dias secos
em que tua ausência dói
racha a pele
e a água sai de meus olhos
plena de tua recordação
a refrescar a aridez de meu corpo
tão vazio e tão cheio de você.
Como um pote
Nos bons dias
de chuva,
nos dias que nos quisemos
totalmente,
em que fomos abrindo
um ao outro
como cavernas secretas;
nesses dias, amor
em que meu corpo como um pote
recolheu toda a água terna
que derramaste sobre mim
e agora
nestes dias secos
em que tua ausência dói
racha a pele
e a água sai de meus olhos
plena de tua recordação
a refrescar a aridez de meu corpo
tão vazio e tão cheio de você.
UM POETA DE PORTO RICO
POEMA DE LA INTIMA AGONIA
Julia de Burgos
Este corazón mío, tan abierto y tan simple,
Este corazón mío, tan abierto y tan simple,
es ya casi una fuente debajo de mi llanto.
Es un dolor sentado más allá de la muerte.
Un dolor esperando... esperando... esperando...
Todas las horas pasan con la muerte en los hombros.
Yo sola sigo quieta con mi sombra en los brazos.
No me cesa en los ojos de golpear el crepúsculo,
ni me tumba la vida como un árbol cansado.
Este corazón mío, que ni él mismo se oye,
que ni él mismo se siente de tan mudo y tan largo.
¡Cuántas veces lo he visto por las sendas inútiles
recogiendo espejismos, como un lago estrellado!
Es un dolor sentado más allá de la muerte,
dolor hecho de espigas y sueños desbandados.
Creyéndome gaviota, verme partido el vuelo,
dándome a las estrellas, encontrarme en los charcos.¡
Yo que siempre creí desnudarme la angustia
con solo echar mi alma a girar con los astros!¡
Oh mi dolor, sentado más allá de la muerte!
¡Este corazón mío, tan abierto y tan largo!
Poema da intíma agonia
Poema da intíma agonia
Este coração meu tão aberto e tão simples
É já quase como uma fonte debaixo de meu pranto.
É uma dor sentada muito além da morte.
Uma dor esperando...esperando...esperando...
Todas as horas passam com a morte nos ombros
E só a sigo quieta com a sombra em meus braços
Não me cesa nos olhos de golpear o crepúsculo,
Nem me tomba a vida como uma árvore cansada.
Este coração meu, que nem mesmo se ouve,
Que nem mesmo se sente de tão mudo e generoso
Quantas vezes o vi pelas sendas inúteis
Recolhendo reflexos como um lago estrelado!
É uma dor sentada muito além da morte,
Dor feita de espigas e de sonhos debulhados
Crendo-me gaivota, verme partido no vôo,
Dando-me as estrelas, me encontrando nos pântanos.
Eu que sempre acreditei em desnudar-me a angústia
Somente com fazer minha’lma girar com os astros.
Oh! Minha dor, sentada mais além da morte!
Este coração meu, tão aberto e tão generoso.
É já quase como uma fonte debaixo de meu pranto.
É uma dor sentada muito além da morte.
Uma dor esperando...esperando...esperando...
Todas as horas passam com a morte nos ombros
E só a sigo quieta com a sombra em meus braços
Não me cesa nos olhos de golpear o crepúsculo,
Nem me tomba a vida como uma árvore cansada.
Este coração meu, que nem mesmo se ouve,
Que nem mesmo se sente de tão mudo e generoso
Quantas vezes o vi pelas sendas inúteis
Recolhendo reflexos como um lago estrelado!
É uma dor sentada muito além da morte,
Dor feita de espigas e de sonhos debulhados
Crendo-me gaivota, verme partido no vôo,
Dando-me as estrelas, me encontrando nos pântanos.
Eu que sempre acreditei em desnudar-me a angústia
Somente com fazer minha’lma girar com os astros.
Oh! Minha dor, sentada mais além da morte!
Este coração meu, tão aberto e tão generoso.
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