Wednesday, February 28, 2018

Outra poesia de Alicia Llarena


XXX                                   
Alicia Llarena

Qué triste festejar el final
del amor,
este sosiego en los objetos
de la casa,
este descanso en todo,
este regreso a la quietud primera.

Y sin embargo es cierto.
Como cuando cerramos
las ventanas de la casa,
y a lo lejos oímos todavía
los ecos de la fiesta,
y en nuestro oído recobramos
el silencio,
y en el descanso el alma
se pregunta
por qué no hicimos antes
ese gesto tan simple
y con un breve empuje
de los dedos
separarnos del mundo,
aislarnos de su ruido.

XXX

Que triste festejar o final
do amor
este sossego dos objetos
da casa,
este descanso em tudo,
este regresso à quietude primeira.

E, sem embargo, é certo.
Como quando fechamos
as janelas da casa,
e, ao longe, ouvimos, todavia,
os ecos da festa,
e em nosso ouvido recobramos
o silencio,
e no descanso da alma
se pergunta
por que não fizemos antes
este gesto tão simples
e com um breve empurrão
dos dedos,
nos separamos do mundo,
nos alheiamos de seu ruído.

Ilustração: MDC.

Tuesday, February 27, 2018

Uma poesia de Alicia Llarena


IX                                                                                    

Alicia Llarena

La naturaleza, amor, está llena de mensajes.
Hoy es el día en que partimos
hacia la profunda soledad
de todo infierno, desnudos, inocentes.
Lo dice el aire, cuya rareza
acompaña este abandono;
la luna, que esta noche
ha empezado a decrecer.

Habremos de marcharnos, ignorantes de todo:
tú, de ciertas dimensiones
cuya miel transparente
no has llegado a probar.
Yo, igual que un ciervo reconoce
en la naturaleza infinita
de las plantas
aquéllas que son sanas,
y a pesar de su hambre
se aleja presuroso
de las jugosas formas del veneno.

IX

A natureza, o amor, está repleto de mensagens.
Hoje é o dia em que partimos
até a solidão profunda
de todo o inferno, nus, inocentes.
O diz o ar, cuja raridade
acompanha este abandono;
a lua, que esta noite
já começou a diminuir.

Teremos que marchar, ignorantes de tudo:
tu, de certas dimensões
cujo mel transparente
não chegaste a provar.
Eu, como um cervo que reconhece
na natureza infinita
das plantas
aquelas que são saudáveis,
e apesar de sua fome
se afasta ligeiro
das formas suculentas de veneno.

Ilustração: Virtual Museum of Political Art.

Poemas mal comportados


EU SOU O CARA          
Eu sou aquele
que, inutilmente, procura juntar
o tico e teco,
enquanto voa pelos céus
de teco-teco
fazendo propaganda da Coca-Cola.

Eu sou o zen,
que passou incólume na escola
e pretendia ser Alice Cooper
sem morder a cobra
ou me envenenar com a maça,
mas, que com uma picada de seringa
jogou fora o resto da moringa
e o amanhã.

Eu me casei
com a Baby Barbie Brasil do passado
que, por ser um exemplo de pirada,
tirava as calcinhas sem vexame,
e fez filhos como um enxame,
mas, tão doce e generosa
que não aguentou os tempos ruins
e me deixou de herança
uma creche
com mais de uma centena de curumins.

Eu sou igual ao Brasil:
uma grande promessa
que poderia ter tudo sido,
no entanto, na memória
busca em todo canto
o momento, que não lembro,
em que fui fodido.

Ilustração: Terra. 



Outra poesia de Aurora Luque


EAU DE PARFUM                                                        
Aurora Luque

De la infancia, el olor
del musgo en las acequias, del barro, de las moras
y la extrema violencia de aprenderse.

Del mar, la última nota
de la última ola desplegada
antes de regresar y convencernos
de que no habrá sirenas.

De la noche, las leves veladuras
de un perfume italiano
todavía de moda.

De tu cuerpo, el aroma
de libro de aventuras
vuelto a leer; pero también de adelfas
desoladas y ardiendo.

Huele a vida quemada.

ÁGUA DE CHEIRO

Desde a infância, o cheiro
do musgo nos acequias, do barro, das amoras
e a extrema violência de aprender-se.

Do mar, a última nota
da última onda despregada
antes de regressar e nos convencer
que não haverá sirenes.

À noite, as leves coberturas
de um perfume italiano
ainda está na moda.

Do teu corpo, o aroma
do livro de aventuras
volto a ler; porém, também de oleandros
desolados e ardentes.

Cheira a vida queimada.

Ilustração: Magazine Luiza. 

Uma poesia de Aurora Luque


Azuloscuro                    

Aurora Luque

No sé si te parece paradoja
pero quizá no mienta si declaro
la inmensa inteligencia del deseo:
las lentas odiseas por tu cuerpo
en el sabio navío de la búsqueda
en todos los senderos tan exacto,
propicio a saturar, con islas encendidas,
las nostalgias antiguas.

Azuloscuro y sabio es el deseo,
lira que desde lejos obligase a la danza,
a componer un himno de latidos:
la sola inteligencia de vivir
en deseo perpetuo de naufragio.

AZUL ESCURO

Não sei se te parece um paradoxo
porém, talvez não minta se declaro
a imensa inteligência do desejo:
as lentas  odisseias por teu corpo
no sábio barco da procura
em todos os caminhos tão exatos,
propício à inundar, com ilhas iluminadas,
as antigas nostalgias.

Azulescuro e sábio é o desejo,
lira que, de longe, obriga a dançar,
a compor um hino de palpitação:
a única inteligência de viver
em desejo perpétuo de naufrágio.

Ilustração: Janela do Conhecimento.

Monday, February 26, 2018

Uma poesia de Paula Einöder


la maga cansada              
Paula Einöder

soy la maga cansada
mi varita mágica quiere dormir
me trepo a la luna pero no descanso
acaricio a mi gato
vuela la escoba
y cada tanto se resfría un pez
soy la maga cansada
mi lapiz mágico no quiere escribir


A MAGA CANSADA

Sou a maga cansada
minha varinha mágica quer dormir
me trepo na lua, porém, não descanso
acaricio a meu gato
voa a vassoura
e, de vez em quando, pego um peixe
sou a maga cansada
meu lápis mágico não quer escrever

Ilustração: pinterest.com.

Uma poesia de Juan Carlos Gómez Rodrigues






LA TRAVESÍA

Juan Carlos Gómez Rodríguez

aúlla el corazón como el lobo en invierno
llamándola al pie mismo de las llamas
entre hayedos desnudos y vencidos abetos
por un peso de nieve

A TRAVESSIA

Uiva o coração como o lobo no inverno
chamando-a no pé mesmo das chamas
Entre madeiras nuas e abetos vencidos
por um peso de neve

Ilustração: A Escotilha.

Outra poesia de Teodoro R. Frejtman



CITRUS

Teodoro R. Frejtman

Verde vienes a mí
con un azahar por aroma de tu boca
estallando en zumo,
brotando en pulpa,
modelando al sol tu cintura pronta.
Bailas, mecida por la brisa
que acaricia tu pollera de hojas,
y caes a la arena,
y ahí te encuentro,
para madurarte entre las sombras.


CITRUS 

Verde vens a mim
Como uma flor pelo aroma de tua boca
estourando em sumo,
brotando em polpa,
modelando ao sol tua cintura pronta.
Bailas, mexida pelo vento
que acaricia teu cinturão de folhas,
e cais na areia,
e aí te encontro
para amadurecer-te entre as sombras.

Ilustração: De Ellen Levy Finch (Elf) - Trabajo propio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=39146.


Friday, February 23, 2018

E, de volta, José Emilio Pacheco


ALTA TRAICIÓN        
 José Emilio Pacheco

No amo mi patria.
Su fulgor abstracto
     es inasible.
Pero (aunque suene mal)
     daría la vida
por diez lugares suyos,
     cierta gente,
puertos, bosques de pinos,
     fortalezas,
una ciudad deshecha,
     gris, monstruosa,
varias figuras de su historia,
     montañas
-y tres o cuatro ríos.

 ALTA TRAIÇÃO

Não amo minha pátria.
Seu fulgor abstrato
é inacessível.
Porém (ainda que soe mal)
daria a vida
por dez lugares seus,
certa gente,
porto, bosques de pinheiros,
fortalezas,
uma cidade desfeita,
cinza, monstruosa.
Várias figuras de sua história,
montanhas
-e três ou quatro rios.
Ilustração: Mundo estranho.


Thursday, February 22, 2018

Mais uma poesia de Edgar Allan Poe

ALONE                          
Edgar Allan Poe

From childhood's hour I have not been
As others were; I have not seen
As others saw; I could not bring
My passions from a common spring.
From the same source I have not taken
My sorrow; I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I loved, I loved alone.
Then- in my childhood, in the dawn
Of a most stormy life- was drawn
From every depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that round me rolled
In its autumn tint of gold,
From the lightning in the sky
As it passed me flying by,
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view.

SOZINHO

Desde a infância não fui
Como outros; Eu não vi
Como outros viram; Eu não conseguiria
Minhas paixões de uma fonte comum.
Da mesma fonte que não tomei
Meu sofrimento; Não consegui despertar
Meu coração para alegria com o mesmo tom;
E tudo o que amei, amei sozinho.
Então - na minha infância, no amanhecer
De uma vida muito tormentosa - foi desenhado
De todas as profundidades do bem e doente
O mistério que me liga ainda:
Do torrente, ou a fonte,
Do penhasco vermelho da montanha,
Do sol que me rodeia rolado
Em seu outono, matiz de ouro,
Do raio no céu
Quando passou por mim voando,
Do trovão e da tempestade,
E a nuvem que tomou a forma
(Quando o resto do céu era azul)
De um demônio na minha opinião.


Ilustração: DrdoAmor.com

Tuesday, February 20, 2018

Outra poesia de Alfonso Reyes Ochoa

Ausencias                                                                       
Alfonso Reyes Ochoa

De los amigos que yo más quería
Y en breve trecho me han abandonado,
Se deslizan las sombras a mi lado,
Escaso alivio a mi melancolía.

Se confunden sus voces con la mía
Y me veo suspenso y desvelado
En el empeño de cruzar el vado
Que me separa de su compañía.

Cedo a la invitación embriagadora,
Y discurro que el tiempo se convierte
Y acendra un infinito cada hora.
Y desbordo los límites, de suerte
Que mi sentir la inmensidad explora
Y me familiarizo con la muerte.

Ausências

Dos amigos que eu mais queria
E em rápido tempo me hão abandonado,
Se deslizam as sombras a meu lado,
Escasso alívio à minha melancolia.

Se confundem suas vozes com a minha
E me vejo suspenso e desvelado
No empenho de cruzar o banhado
Que me separa de sua companhia.

Cedo à tentação embriagadora,
E descubro que o tempo se converte
E acende um infinito em cada hora.
E desbordo os limites, da sorte
Que meu sentir na imensidão explora
E me familiarizo com a morte.


Ilustração: EternalMagic.