Saturday, September 26, 2020

Um gato por Jorge Luis Borges

 


A UN GATO

 Jorge Luis Borges

No son más silenciosos los espejos

Ni más furtiva el alba aventurera;

Eres, bajo la luna, esa pantera

Que nos es dado divisar de lejos.

Por obra indescifrable de un decreto

Divino, te buscamos vanamente;

Más remoto que el Ganges y el poniente,

Tuya es la soledad, tuyo el secreto.

Tu lomo condesciende a la morosa

Caricia de mi mano.

Has admitido,

Desde esa eternidad que ya es olvido,

El amor de la mano recelosa.

En otro tiempo estás.

Eres el dueño

de un ámbito cerrado como un sueño.

 

A UM GATO

 

Não são mais silenciosos os espelhos

Nem mais furtivo o amanhecer aventureiro;

És, sob a lua, esta pantera

Que nos é dado divisar de longe.

Por obra indecifrável de um decreto

Divino, te buscamos em vão;

Mais remoto do que o Ganges e o poente,

Tua é a solidão, teu o segredo.

Tuas costas condescendem com a morosa

Carícia de minha mão

Hás admitido,

Desde essa eternidade que já é esquecimento,

O amor da mão receosa.

Em outro tempo estás.

És o dono

de um âmbito fechado como um sonho.

 

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