Saturday, April 30, 2022

Uma poesia de Clemente Althaus

 


DESEO

Clemente Althaus

Pláceme contemplar desde la playa

El infinito mar que me convida

A que del patrio suelo me despida

Y a otras riberas venturosas vaya.

 

Del lejano horizonte tras la raya,

Al umbral de otro mundo parecida,

Tal vez más dulce placentera vida

Y más felices moradores haya.

 

Oh naves, que a la aurora al occidente,

Al sur partís y al septentrión, ¡quién fuera

Con vosotras! Mas ¡ay!, que solamente

 

Me es dado vuestra rápida carrera

Seguir con la mirada y con la mente:

¡Y la dicha tal vez allá me espera!

DESEJO

Tenho prazer em contemplar da praia

O infinito mar que me convida

Para que da pátria eu me despeça

E para outras margens felizes vá.

 

Do distante horizonte  atrás da linha,

No limiar de outro mundo similar,

Talvez mais doce agradável a vida

E felizes moradores hajam.

 

Oh navios, que na aurora para o oeste,

Para o sul partes e para o norte, quem foi

Com vocês! Mas isso só infelizmente!

 

Me é dada sua corrida rápida

Seguir com os olhos e com a mente:

E talvez a felicidade me espere lá!

Ilustração: Depositphotos.

Uma poesia de Waring Cuney

 

NO IMAGES

Waring Cuney

She does not know

Her beauty,

She thinks her brown body

Has no glory.

 

If she could dance

Naked,

Under palm trees

And see her image in the river

She would know.

 

But there are no palm trees

On the street,

And dish water gives back no images.

SEM IMAGENS

Ela não sabe

de sua beleza,

Ela pensa que seu corpo moreno

Não tem glória.

 

Se ela pudesse dançar

nua,

sob as palmeiras

e ver sua imagem no rio

ela poderia saber.

 

Porém não há palmeiras

na rua,

e a água do prato não reflete imagens.

Ilustração: Newtrade.

Friday, April 29, 2022

PARCERIA ETERNA


Vou te dar de presente, 

meu amor, 

um lugar onde para sempre 

você vai ficar. 

Nem precisa me agradecer,

 porém te digo 

que já consegui teu jazigo, 

e reservei, ao lado, o meu, 

para permanecer sempre contigo. 

Será um lugar Onde, 

mais tarde, 

seremos felizes para sempre,

 a nossa morada eterna 

já predeterminada. 

E com a beleza de ter sido comprada 

em suaves prestações

e com promoção de cinquenta por cento. 

Pode providenciar seu testamento.

De "Poemas Malcomportados", Editora Litteris, 2021). 

Ilustração: Cemitério Parque dos Pinheiros.

E lá vem Claribel Alegria

 


AUSENCIA

 Claribel Alegría

Hola

dije mirando tu retrato

y se pasmó el saludo

entre mis labios.

Otra vez la punzada,

el saber que es inútil;

el calcinado clima

de tu ausencia.

 AUSÊNCIA

Olá

disse olhando teu retrato

e me desgosto com o sorriso

entre meus lábios.

Outra vez a pontada,

o saber que é inútil;

o desolado clima

de tua ausência

Ilustração: https://www.spiritfanfiction.com/.

III

 


Que você me faz rir, eu sei.

E há outras coisas já pensei

que me encantam na sua forma de ser

que, aqui, não vou dizer.

Que seu perfume me seduz

e teus olhos brilham na luz

também não é nenhuma novidade.

Talvez,

no entanto, teu maior encanto,

de verdade,

seja que continue a sonhar

em te beijar

quando já te beijei tanto

e me sinto desamparado

se não estás a meu lado,

tanto, tanto, tanto.

(De "Cem Poemas em Cem Dias", Editora Viseu, 2021). 

Uma poesia de Marie Howe

 


MY DEAD FRIENDS

Marie Howe

My friends are dead who were

the arches    the pillars of my life

the structural relief when

the world gave none.

 

My friends who knew me as I knew them

their bodies folded into the ground or burnt to ash.

If I got on my knees

might I lift my life as a turtle carries her home? 

 

Who if I cried out would hear me?

My friends—with whom I might have spoken of this—are gone.

MEUS AMIGOS MORTOS

Estão mortos meus amigos, que foram

os arcos     os pilares da minha vida

o alívio estrutural quando

o mundo não me deu nenhum.

 

Meus amigos que me conheciam como eu os conhecia

com seus corpos guardados no chão ou queimados em cinzas.

Se eu ficar de joelhos

posso levantar minha vida como uma tartaruga a carregar sua casa?

 

Quem se eu gritasse me ouviria?

Meus amigos- com quem eu poderia ter falado sobre isto- me deram adeus.

Ilustração: Aleteia.

Outra poesia de José María Eguren

 

LIED IV

José María Eguren

La noche pasaba,

Y al terror de las nébulas, sus ojos

Inefables reían de tristeza.

La muda palabra

En la mansión culpable se veía,

Como del Dios antiguo la sentencia.

La funesta falta

Descubrieron los canes, olfateando

En el viento la sombra de la muerta.

La bella cantaba,

Y el florete durmióse en la armería

Sangrando la piedad de la inocencia.

 

LIED IV

A noite passava

E ao terror das nebulosas, de seus olhos

indizíveis riam de tristeza.

A muda palavra

na mansão culpada se via,

como de um Deus antigo a sentença.

A funesta falta

descobriram os cães, farejando

no vento a sombra da morta.

A bela cantava

E o florete adormeceu no armário

sangrando a piedade da inocência.

Ilustração: Gartic.

Uma poesia de Bruce Nugent

 


SHADOW

 

Bruce Nugent

 

Silhouette

On the face of the moon

Am I.

A dark shadow in the light.

A silhouette am I
On the face of the moon
Lacking color
Or vivid brightness
But defined all the clearer
Because
I am dark,
Black on the face of the moon.
A shadow am I
Growing in the light,
Not understood
As is the day,
But more easily seen
Because
I am a shadow in the light.

SOMBRA

Silhueta

sobre a face da lua

sou eu.

Uma sombra escura na luz.

Uma silhueta sou eu

sobre a face da lua

Falta de cor

ou brilho vívido

Mas definindo tudo mais claro

porque

eu sou escuro,

Preto sobre a face da lua.

Uma sombra sou eu

crescendo na luz,

Não compreendendo

como é o dia,

Mas mais facilmente sendo visto

porque

eu sou uma sombra na luz.

Ilustração: blog do Enem.

 

Sunday, April 24, 2022

Outra poesia de Georges Schehadé

 


Il y a des églises dont les Saints sont dehors...

Georges Schehadé

Il y a des églises dont les Saints sont dehors

Par amour de la solitude

- Mon amour ne disons pas ça

Ils sont loins par obéissance

Ils ont l'oeil bleu des voyages

Comme ces bergers qui dorment en souriant

 

Dans un ciel monotone comme une chambre

La lune triste avec sa famille

 

HÁ IGREJAS CUJOS SANTOS SÃO DE FORA

Há igrejas cujos santos são de fora

Pelo amor da solidão

- Meu amor não vamos dizer isso

Eles estão longe pela obediência

Eles têm o olho azul da viagem

Como esses pastores que dormem sorrindo

 

Em um céu monótono como um quarto

A lua triste com sua família

Saturday, April 23, 2022

Isoladinho

 


Eu não espero que você entenda

que, por mais isolado que esteja,

nunca me encontro sozinho.

Tenho sempre presente o teu carinho

e, se quiser, posso ouvir tua voz,

num instante, pelo celular,

embora, possa sempre te imaginar

bela, cuidadosa, incansável,

e de novo,

a que, de manhã, me faz o melhor ovo!

Eis, a mulher sempre amável

que me acorda para tomar café

(me tirar da cama duro é)

e faz a minha vida melhor.

Sei que não sou nenhum exemplo;

que, muitas vezes, obcecado

por qualquer tarefa não te digo

o quanto te quero e calado,

faço o que não te agrada,

com a cara lambida de quem não faz nada,

mas, sou assim, aí de mim!

Só duas coisas não pode dizer:

que não sinto saudades

e que não gosto de você!!!

E, sozinho, longe,

meu amor,

sou quase um monge!!!

Ilustração: http://genivalferreirademiranda.blogspot.com

Uma poesia de Nathalie Handal

 


THE CITY

Nathalie Handal

                                   after C. P. Cavafy

 

You tell me: I’m going to another country,

another city, another body.

Perhaps my heart will stay uncertain,

and I will destroy my history but I am leaving.

Even if on every street, I find the ruins of our bodies,

I’ll roam like a restless soul anyway.

 

I tell you: you won’t find a new country,

new city, new body. You’ll return to roam

the same ruins, same streets, same quartiere,

return to complain in the same room

of the same house, return to the memory of our intertwined bodies.

You will always end up in Roma: I will always remain in you.

And maybe late, you’ll see, that what you destroyed

is worth more than all the worlds you wasted your time in.

 

A CIDADE

 

Você me diz: estou indo para outro país,

outra cidade, outro corpo.

Talvez meu coração fique incerto,

e irei destruir minha história, mas vou embora.

Ainda que em cada rua eu encontre as ruínas de nossos corpos,

Eu vou vagar como uma alma inquieta de qualquer jeito.

 

Eu te digo: você não encontrará um novo país,

nova cidade, novo corpo. Você irá retornar a vaguear

as mesmas ruínas, mesmas ruas, mesmo bairro,

retornará para reclamar no mesmo quarto

da mesma casa, retornará para a memória de nossos corpos entrelaçados.

Você irá sempre terminar em Roma: eu irei sempre permanecer em você.

E, quem sabe, mais tarde, você irá ver, que o que você destruiu

vale mais do que todos os mundos em que você desperdiçou no seu tempo.

Ilustração: https://www.intrinseca.com.br/.

 

Uma poesia de José Maria Eguren

 


EL DOMINÓ

José María Eguren

Alumbraron en la mesa los candiles,

Moviéronse solos los aguamaniles,

Y un dominó vacío, pero animado,

Mientras ríe por la calle la verbena,

Se sienta iluminado,

Y principia la cena.

Su claro antifaz de un amarillo frío

Da los espantos en derredor sombrío

Esta noche de insondables maravillas,

Y tiende vagas, lucífugas señales

A los vasos, las sillas

Los ausentes comensales.

Y luego en horror que nacarado flota,

Por la alta noche de voluntad ignota,

En la luz olvida manjares dorados,

Ronronea una oración culpable, llena

De acentos desolados,

Y abandona la cena.

O DOMINÓ

Acenderam na mesa as lâmpadas,

Movendo-se sós os jarros,

E um dominó vazio, porém animado,

Enquanto ria, pelas ruas, a verbena

Se sentia iluminado,

E começou o jantar.

Sua máscara clara de um amarelo frio

Dá sustos ao arredor sombrio

Esta noite de insondáveis maravilhas,

E tende a vagos, lúcidos sinais

Para os copos, as cadeiras

Os comensais ausentes.

E então, no horror que nacarado flutua,

Pela alta noite da vontade ignorada,

Na luz esquece iguarias douradas,

Ronrona uma oração de culpa, cheia

De sotaques desolados,

E abandona o jantar.

Ilustração: https://sisperdesign. 

Wednesday, April 20, 2022

A Mágica



Não há céu. 

Não há luz.

Não há esperança.

Não há nada.

Só esta vontade imensa 

de me perder na estrada

e estar além dos cartazes e das estrelas.

Te amar-

desejo-

como se nada pudesse nos deter-

e o tempo permanecer eterno.

E imaginar que com tanto gozo 

e prazer

não podemos morrer

e que o tempo seja só uma ilusão

que, com um truque mágico, 

como um Mandrake de quadrinhos, 

iremos superar 

com beijos e carinhos, 

como heróis que somos 

de uma história 

que ninguém sabe que há 

e nenhuma memória há de deixar. 

Tudo é mistério. 

Só os tolos pensam em explicar 

o concreto, que não há. 

Ilustração: https://blogmaniadegibi.com/tag/mandrake/. 


Mais uma poesia de Cristina Campo

 


AMORE, OGGI TUO NOME

Cristina Campo

Amore, oggi il tuo nome
al mio labbro è sfuggito
come al piede l'ultimo gradino...

Ora è sparsa l'acqua della vita
e tutta la lunga scala
è da ricominciare.

T'ho barattato, amore, con parole.

Buio miele che odori
dentro i diafani vasi
sotto mille e seicento anni di lava - 

ti riconoscerò dall'immortale
silenzio.

AMOR, HOJE TEU NOME

Amor, hoje teu nome

dos meus lábios fugiu

como a um pé no último degrau...

Agora está espalhada a água da vida

e toda a longa escada

é do recomeçar.

Te troquei , amor, com palavras.


Mel escuro  é teu aroma

dentro dos vasos diáfanos

sob mil e seiscentos anos de lava -

 

Te reconhecerei do imortal

silêncio.
Ilustração: amazon.com.br.

Uma poesia de Charles d'Orleans

 


Le temps a laissé son manteau...

Charles d'Orléans

Le temps a laissé son manteau

De vent, de froidure et de pluie,

Et s'est vêtu de broderie,

De soleil luisant, clair et beau.

 

Il n'y a bête ni oiseau

Qu'en son jargon ne chante ou crie :

Le temps a laissé son manteau!

 

Rivière, fontaine et ruisseau

Portent en livrée jolie

Gouttes d'argent, d'orfèvrerie;

Chacun s'habille de nouveau:

Le temps a laissé son manteau.

 

O TEMPO DEIXOU SEU ABRIGO...

O tempo deixou seu abrigo

De vento, frio e chuva,

E se vestiu de bordado,

De sol brilhante, claro e belo.

 

Não há besta nem ave

Que não cante ou grite em seu jargão:

O tempo deixou seu abrigo!

 

Rio, mananciais e fontes

Levam no seu livre jorro

Gotas de prata engastadas;

Todos se vestem de novo:

O tempo deixou seu abrigo.

Ilustração:https://projetocolabora.com.br/. 

Um poema de Evelyn Scott

 


FROM BROOKLYN

Evelyn Scott

Along the shore

A black net of branches

Tangles the pulpy yellow lamps.

The shell-colored sky is lustrous with the fading sun.

Across the river Manhattan floats—

Dim gardens of fire—

And rushing invisible toward me through the fog,

A hurricane of faces.

 

DO BROOKLYN

 

Ao longo da costa

Uma preta rede de galhos

Emaranha as enormes lâmpadas amarelas.

O céu cor de concha brilha com o sol poente.

Do outro lado do rio Manhattan flutua -

Jardins sombrios de fogo—

E correndo invisível em minha direção através do nevoeiro,

Um furacão de rostos.

Ilustração: https://www.istockphoto.com/.