Monday, October 28, 2024

Dorothy Parker prometeu e voltou

 


“I SHALL COME BACK”

Dorothy Parker

I shall come back without fanfaronade
Of wailing wind and graveyard panoply; 
But, trembling, slip from cool Eternity-
A mild and most bewildered little shade. 
I shall not make sepulchral midnight raid, 
But softly come where I had longed to be 
In April twilight’s unsung melody, 
And I, not you, shall be the one afraid. 

Strange, that from lovely dreamings of the dead 
I shall come back to you, who hurt me most. 
You may not feel my hand upon your head, 
I’ll be so new and inexpert a ghost. 
Perhaps you will not know that I am near,-
And that will break my ghostly heart, my dear. 

“EU IREI VOLTAR”

Eu voltarei sem fanfarronice

Do choroso vento e panóplia de cemitério;

Porém, tremendo, deslizarei da fria Eternidade-

Uma pequena, suave e muito confusa sombra.

Eu não farei um ataque sepulcral à meia-noite,

Porém suavemente chegarei aonde eu ansiava estar

No crepúsculo de abril na não cantada melodia,

E eu, não você, serei o único a ter medo.

 

Estranho, como os sonhos adoráveis ​​com os mortos

Eu voltarei para você, que me feriu mais.

Você pode não sentir minha mão na sua cabeça,

Eu serei tão novo e inexperiente como fantasma.

Talvez você não saiba que estou perto,-

E isto irá quebrar meu coração fantasmagórico, minha querida.

 

Uma poesia de Luis Feria

 


TIEMPO DE AMOR

Luis Feria

Este tiempo de amor nunca termine.
No lo empañe el olvido con su óxido;
debe quedar intacto hasta la muerte
lo que nació inmortal como el sonido.

Este tiempo de luz alguien lo salve;
lo arranque alguien de este precipicio
al que se aboca ya desde que alienta.
Que alguien corte la amarra y vaya suelto
del tiempo, a la deriva, hasta la playa donde
no lo fulmine el rayo a pesar suyo,
no lo desgaste el tiempo como a un día.

TEMPO DE AMOR

Que este tempo de amor nunca termine.

Nem o esquecimento o empane com seu óxido;

deve permanecer intacto até a morte

o que imortal como o som foi nascido.

 

Este tempo de luz, alguém o salve;

o arranque alguém deste precipício

ao qual se avoca desde que respira.

Que alguém corte a amarra e que se vá solto

do tempo, à deriva, até à praia onde

não o fulmine o raio apesar dele mesmo,

não o desgaste tempo como a um dia.

Ilustração: Tempo e Amor. 

 

Para não Desesperar


Ainda creio que há esperança

enquanto o barco não foi a pique.

Nem importa se na tempestade dança

ou se não há solução que se identifique. 

A questão toda é só de usar a bússola, 

manter a calma, aquietar a alma

e acertar o prumo e a direção,

pois com muito pouco se consola,

quem, até agora, só ouve imprecação. 

O que se espera não é o grito louco

nem a pancada feroz da voz, da mão.

O que se quer é de tanto pão, um pouco,

e, vez por outra, mais carne no feijão. 

 

Sunday, October 27, 2024

Uma poesia de Gata Cattana

 


CULPABLES

Gata Cattana

Aquella noche
no existe ya
más en el brillo
de tus ojos
cuando me miran,
cómplices…
En el cosquilleo
del secreto.
Estábamos hechos
de la plenitud
de sabernos débiles,
más de carne que nunca.
A sabiendas del pecado.
Culpables, culpables, culpables…
Temblando de miedo
y de pudor,
al descubrirnos
con la manzana
en la boca.

CULPADOS

Aquela noite

já não existe mais

mais no brilho

dos teus olhos

quando me olhavam

cúmplices…

Nas cócegas

do segredo.

Estávamos

cientes da plenitude

de nos sabermos débeis,

mais de carne do que nunca.

Conhecendo o pecado.

Culpados, culpados, culpados...

Tremendo de medo

e de pudor,

ao nos descobrirmos

com a maçã

na boca.

Ilustração: Linkedin.

Uma poesia Ella Wheller Wilcox

 


GHOSTS

Ella Wheller Wilcox

There are ghosts in the room.

As I sit here alone, from the dark corners there

They come out of the gloom,

And they stand at my side and they lean on my chair

 

There’s a ghost of a Hope

That lighted my days with a fanciful glow,

In her hand is the rope

That strangled her life out. Hope was slain long ago.

 

But her ghost comes to-night

With its skeleton face and expressionless eyes,

And it stands in the light,

And mocks me, and jeers me with sobs and with sighs.

 

There’s the ghost of a Joy,

A frail, fragile thing, and I prized it too much,

And the hands that destroy

Clasped its close, and it died at the withering touch.

 

There’s the ghost of a Love,

Born with joy, reared with hope, died in pain and unrest,

But he towers above

All the others-this ghost; yet a ghost at the best,

 

I am weary, and fain

Would forget all these dead: but the gibbering host

Make my struggle in vain-

In each shadowy corner there lurketh a ghost.

FANTASMAS

Há fantasmas na sala.

Enquanto estou aqui sentado sozinho, lá dos cantos escuros

Eles saem da escuridão,

E ficam ao meu lado e se apoiam na minha cadeira

 

Há um fantasma da esperança

Que iluminou meus dias com um brilho fantasioso,

Na mão dela está a corda

Que estrangulou sua vida. A esperança foi morta há muito tempo.

 

Porém seu fantasma vem esta noite

Com seu rosto esquelético e olhos inexpressivos,

E fica na luz,

E zomba de mim, e zomba de mim com soluços e suspiros.

 

Há o fantasma da alegria,

Uma coisa frágil, frágil, e eu a prezava tanto,

E as mãos que destroem

Apertaram seu fecho, e ele morreu murchando ao toque.

 

Há o fantasma de um amor,

Nascido com alegria, criado com esperança, morto em dor e inquietação,

porém ele se eleva acima

Todos os outros- este fantasma; ainda um fantasma na melhor das hipóteses,

 

Estou cansado e feliz

Queria esquecer todos esses mortos: porém a hoste balbuciante

Faz minha luta ser em vão-

Em cada canto escuro me vigia um fantasma.

Ilustração: Vida Boa.

Saturday, October 26, 2024

Outra poesia de Gustavo Yuste

 


OJOS DE VIDEOTAPE

Gustavo Yuste

La pantalla apagada
no devuelve tu reflejo
y yo necesito una distracción,
estímulos breves pero constantes
que me saquen del ruido blanco
de la nostalgia.
La programación caótica del algoritmo
imita a la perfección
todos esos recuerdos que te incluyen.
Afuera de este cuarto oscuro,
el mundo gira al revés;
no puede haber otra explicación
para entender por qué nunca
logramos coincidir.

OLHOS DE VIDEOTAPE

A tela desligada

não devolve teu reflexo

e eu necessito de uma distração,

estímulos breves, porém, constantes

que me tirem do ruído branco

da nostalgia.

A programação caótica do algoritmo

imita com perfeição

todas aquelas memórias que te incluem.

Fora deste quarto escuro,

o mundo gira de cabeça para baixo;

não pode haver outra explicação

para entender por que nunca

conseguimos coincidir.

Ilustração: Descomplica Caititu. 

 

Gato de Metal

 


 Eu desejava decorar o tempo

com o ar de magia do passado,

porém me sinto um gato de metal:

tudo internamente está errado

e, por fora,

sou o que não sou:

calmo e forte,

para ser compreendido

aceito pelo mundo exterior.

É que me sinto assustado

num mundo assombrador,

com tantas conexões

e tão desconectado.

Procuro a autenticidade

na confusão

de minha própria identidade

e num universo de incertezas

onde o irreal

me surge

como a improbabilidade.

Ilustração: Alibaba.com.

Uma poesia de Timothy Yu

 


     CHINESE DREAM 61

Timothy Yu 

 

Cartoons. Computer-generated smiles
and fixed eyes fill my daughter’s screen, show her
form is content, content form.
She’s over unicorns. Now she plays a child
who always knows best. There’s nothing to fear
except when we near

an evening when the moon’s not giving light,
turning away. It’s late for attitude,
but it’s now that rude
words are a parent’s heritance. Is she white?
Race is something her father has, a way
of arresting play

away from her, in Timothy’s long trail
of ancestors, immigrants, grasping arms
out of elsewhere, of whom she’ll be one. The child is real.
In the bedtime story she tells herself she’s charmed,
just like her own father.

SONHO CHINÊS 61

Os desenhos animados. Sorrisos gerados por computador

e olhos fixos preenchem a tela da minha filha, mostram a ela

que forma é conteúdo, conteúdo, forma.

Ela superou unicórnios. Agora ela é uma criança

que sempre sabe como escolher melhor. Não há nada a temer

exceto quando nos aproximamos

de uma noite em que a lua não está dando luz,

se afastando. É tarde para atitude,

mas é agora que palavras rudes

são herança dos pais. Ela é branca?

Raça é algo que seu pai tem, uma maneira

de arrastar a brincadeira

para longe dela, na longa trilha de Timothy

de ancestrais, imigrantes, agarrando braços

de outros lugares, dos quais ela será uma. A criança é real.

Na história de ninar, ela diz a si mesma que está encantada,

assim como seu próprio pai.

Ilustração: Reescrevendo Encantamento.


Friday, October 25, 2024

Prelúdio de Amor

 


Sem dúvida a flor desconhecida

que procuro,

entre encontros e desencontros, 

de bocas, pernas e mãos,

deve florescer, sem pressa,

como florescem as melhores flores do amor.

Este calor, que sinto,

o frio, o calafrio, o tremor 

de teus lábios molhados

me dizem 

ser a hora de sermos felizes. 

Enfim, estás pronta, 

lassa, preparada para a festa

tão esperada. 

E, eu, não posso reclamar

se demorou um pouco mais

de tempo 

para vir a ter tanto prazer. 

Ilustração: Pernambuco tem. 


Uma poesia de Quincy Scott Jones

 


WHY WAKE UP HAPPY

Quincy Scott Jones

when i can creep into our 3 am bed

slink into the sliver of mattress

you saved for me watch the streetlight

slice through the curtain leaving a streak

of fluorescence in your hair stare

at the ceiling and wait   maybe

you’ll steal back the covers maybe

you’ll offer me your leg maybe

you’ll beg for quiet then in a whisper

so not to stir the monster masquerading

as jeans on a chair you’ll ask get any

writing done?  no, read two articles though.

 

they say love is no different than large amounts of chocolate.

also, the cocoa bean will soon be no more.

POR QUE ACORDAR FELIZ

quando eu posso me esgueirar, às 3 da manhã, para nossa cama

me enfiar sorrateiramente dentro do pedaço de colchão

que você guardou para me deixar ver a luz da rua

se infiltrar na cortina deixando um rastro

de fluorescência em seu cabelo a olhar

para o teto a esperar talvez

que você me roube as cobertas de volta talvez

que você me ofereça tua perna talvez

que você implore por quietude então num sussurro

para não agitar o monstro disfarçado

de jeans numa cadeira você pedirá para

escrever alguma coisa? não, mas leia dois artigos.

 

dizem que o amor não é diferente de enormes quantidades de chocolate.

além disto, o grão de cacau logo não existirá mais.

Uma poesia de Gustavo Yuste

 


GATO DE METAL

Gustavo Yuste

De techo en techo
como de tristeza en tristeza.
El año nuevo ya se deja ver,
pero no trae nada novedoso,
solo un sampler de viejos problemas
con nombres más modernos
y precios remarcados.
Cada vez más lejos de la ternura,
desde hace tiempo
lo único que te encuentra
es mi ansiedad.

GATO DE METAL

De telhado em telhado

como de tristeza em tristeza.

O ano novo já está visível,

porém não traz nada de novo,

apenas uma amostra de velhos problemas

com nomes mais modernos

e preços remarcados.

Cada vez mais longe da ternura,

desde muito tempo

a única coisa que te encontra

é a minha ansiedade.

Ilustração: Peres Project.

Wednesday, October 23, 2024

O X do Programa

 


Este ponto nós vivemos discutindo

sem consenso. 

Não desdenho do seu bom senso

nem me considero mais inteligente

e, talvez, seja possível provar o contrário,

num tempo diferente. 

Ocorre que o imprevisto, 

por mais que desejemos o programado, 

nos surpreende sempre 

com o futuro sendo divergente 

do que foi imaginado.

O vir à ser sempre nos irá surpreender

por se apresentar como não se espera ser. 

Sei que, com estatísticas, algoritmos e 

inteligência artificial,

há formas de prever o comportamento em geral.

Mas, tome tento, até que ponto?

As emoções, estas estranhas energias

que movem a vida, 

nos impedem de acreditar 

que os programas, por melhores 

que venham a rodar,

façam mais do nos oferecer 

ilações com dados oriundos do passado

e conclusões do que já foi coletado. 

Não há como o programado

nos surpreender com o imprevisto. 

O melhor da inteligência artificial 

é que nos permite nossos dons aprimorar, ´

porém para contigo concordar, 

chegar a crer que robôs 

são capazes de nos dominar,

é preciso antes 

que me mostre um capaz de amar. 

Ilustração: Terra.


Uma poesia de J. Mae Barzio

 


INDETERMINACY

J. Mae Barzio

How many times I tried to record the Goldberg Variations

Once in Iceland another time in California

It was Mercury in retrograde I didn’t get the chords right

You see I wanted a different kind of music

One that felt like a foreign city or ice cracking

A prediction of snow and then the snow itself endless

I wanted the blue stripes on your shirt the paleness of your underarm

The whiteout of a spring blizzard, everything unexpected

See I didn’t do well with indeterminacy-the blank sides of a dice

The piano chord I recognized but couldn’t name

A different kind of intimacy because I was tired of being unsurprised

Behind me in the photo the black river unraveled

Like a list of the dead children or the ones I never had

The field split open like a lip

I asked the river for answers but heard nothing

The path was obscured by another person’s tracks in the snow

Snow falling so slowly that no one noticed it.

INDETERMINAÇÃO

Por muito tempo tentei gravar as Variações Goldberg

Uma vez na Islândia, outra tempo na Califórnia

Estava Mercúrio retrógrado, não acertei os acordes

Veja, eu queria um tipo diferente de música

Uma que parecesse uma cidade estrangeira ou gelo quebrando

Uma previsão de neve e então a própria neve sem fim

Eu queria as listras azuis na sua camisa, a palidez da sua axila

O branco de uma nevasca de primavera, tudo inesperado

Veja, eu não me dei bem com indeterminação -os lados em branco de um dado

O acorde de piano que eu reconheci, mas não consegui nomear

Um tipo diferente de intimidade porque eu estava cansado de não ser surpreendido

Atrás de mim na foto, o rio negro se desfez

Como uma lista de crianças mortas ou aquelas que eu nunca tive

O campo se abriu como um lábio

Eu pedi respostas ao rio, mas não ouvi nada

O trajeto estava obscurecido pelos rastros de outra pessoa na neve

Neve caindo tão lentamente que ninguém percebia.

Ilustração: Brasil na Neve-CBDN.

Monday, October 21, 2024

De volta Lucía Emanuel

 


3

Lucía Emanuel

Aita y ama roncan al otro lado del pasillo.
Yo cuento estrellas, fluorescencias,
mi cama el globo que vuela en la oscuridad.

Aita y ama roncan más allá de mi puerta.
Travesía de manos pequeñas,
pies fríos y lunares en los brazos.

Aita y ama roncan en su habitación.
Yo cuento estrellas, fluorescencias.

Aita y ama roncan y cierro los ojos.
A veces tengo miedo de morir.

3

Aita e ama roncam do outro lado do corredor.

Eu conto estrelas, fluorescências,

minha cama é o globo que voa na escuridão.

 

Aita e ama roncam mais além da minha porta.

Travessia de mãos pequenas,

pés frios e verrugas nos braços.

 

Aita e ama roncam no seu quarto.

Eu conto estrelas, fluorescências.

 

Aita e ama roncam e eu fecho os olhos.

Às vezes tenho medo de morrer.

Ilustração: Psicólogo e Terapia.