Monday, December 25, 2006

AINDA UM POETA DE COSTA RICA

COMPLICIDAD

Robinson Rodriguez Herrera

Nos hemos conjurado
amada mía, contra el mundo:
urdiendo íntimas tramas
encuentros furtivos,
colocando atentados
al falso pudor
de las beatas,
pintado las avenidas
con nuestros nombres,
buscando la misma oscuridad
que los complotados,
inventando claves y consignas,
resistiendo batallas
cotidianas,
Inmersos
en nuestra causa
ardiente y clandestina.

CUMPLICIDADE

Nós temos conspirado,
Amada minha, contra o mundo:
Urdindo íntimas tramas
encontro furtivos,
atentando
contra o falso pudor
das beatas,
pintando as avenidas
com nossos nomes,
buscando a mesma escuridão
que os fugitivos,
inventando chaves e segredos,
resistindo a batalhas
cotidianas,
Imersos
em nossa causa
apaixonada e clandestina.

UM POETA DE COSTA RICA

MUERTE

Robinson Rodriguez Herrera

Sigo los pasos de la noche,
de la diosa ancestral
hasta el altar del sacrificio.
He visto correr las estaciones
la prisa de los hombres
los aromas salobres,
las lágrimas fluyendo
como océanos.
Tú que me diste vida

MORTE
Eu sigo os passos da noite,
da deusa ancestral
até o altar do sacrifício.
Eu vi passar as estações
a pressa dos homens
os aromas salobros,
as lágrimas fluindo
como os oceanos.
Tu que me destes vida.

Sunday, December 24, 2006

A RELATIVIDADE DAS COISAS


A LUZ NEGRA
Sei que há coisas
que não se podem explicar
E outras que não se explicam.
Há uma luz
Brilhando na rua escura.
O foco, porém não muda
E inunda de luz
O lixo, a sujeira, as coisas sem graça.
A flor, no entanto,
Permanece bela
Mesmo na escuridão.

Friday, December 22, 2006

COMO SE FOSSE UMA CANTIGA

EU NÃO SABIA SABIÁ

Eu não sabia sabiá
Eu não sabia
Como o amor doía
Eu não sabia
E com o amor fui brincar
Agora canto que é pra não chorar

Voa sabiá, voa
Que quem tem asas
Tem é que voar

Voa sabiá, voa
Que quem perde o amor
Tem é que chorar

Eu não sabia sabiá
Eu não sabia
Como o amor é bom
Eu não sabia
E se choro é com a alegria
De quem ainda vai voltar a amar

Voa sabiá voa
Que não se ama
Tanto assim à-toa

Voa sabia voa
Que só com amor
É que a vida é boa.

FOTOS, FITAS & FLORES

Variações sobre flores

Entre as orquídeas
Os teus lábios entreabertos
Carnudos, vermelhos, tentadores
São a mais bela flor.
Bem os vejo,
Beija flor sedento,
Mas quando beijá-los tento
O vôo, o mel, o sonho perdi.
Enorme é a distância
Da realidade, do mar, de ti....
Que tão próxima
Jamais conheci.

AINDA ARMANDO RUBIO

DISTANCIA

Armando Rubio Huido

Indiferencia del mundo
y de las cosas
hacia mí;
indiferencia mía
hacia el mundo
y las cosas:
mutua correspondencia.
Transito
y caigo
de pie.
La misma puerta
entreabierta
en un desierto
marchito de sol.
La gaviota extraviada
en un espejismo de mar,
abre sus alas,
yerta,
sobre el vacío de las cosas


DISTÂNCIA

Indiferença do mundo
e das coisas
Até de mim;
Indiferença minha
com o mundo e as coisas:
correspondência mútua.
Transito
e caio
de pé.
A mesma porta
entreaberta
num deserto
murcho de sol.
A gaivota extraviada
Num reflexo do mar,
abre suas asas,
erva,
sobre o vazio das coisas

DOIS POEMAS DE ARMANDO RUBIO

CUALIDAD

Armando Rubio Huido

Que mi rostro
siga
siempre
pálido:
así
nadie
sospechará
mi muerte

Qualidade

Que meu rosto
Siga
Sempre
Sendo
Pálido;
Assim
Ninguém
Suspeitará
De minha morte


FOTOGRAFIA

Si la vida consiste en poner caras
pondré unos ojos dulces
y labios sonrientes,
para que Dios, fotógrafo en las nubes,
complete su álbum familiar.


Fotografia

Se a vida consiste em colocar máscaras
Ponha uns olhos doces
E lábios sorridentes
Para que Deus, fotografo das núvens,
Complete seu albúm familiar

Thursday, December 21, 2006

NA SEGUNDA INFÂNCIA

Criança Sedenta

Se for inverno ou verão
Eu bebo como se fosse primavera.
É a vida
E a vida tempo bom não espera
Segue em frente
Qualquer que seja o tom,
A música, o ritmo diferente
Para nos fazer dançar.
O amanhã?
O amanhã que importa?
Hoje, por favor, abre tua porta,
O leite, a cama,
O peito macio me oferece,
Com a sofreguidão de quem ama,
Que prometo ser santo
E, como uma criancinha de colo,
Beber leite
Tanto, tanto, tanto...

AS MUITO INGÊNUAS QUE ME PERDOEM...




BROOKE SHIELDS DA AMAZÔNIA

É uma menininha nova
Tão novinha
Com uma experiênciazinha de mulher.
Bota no bolso só quem ela quer.
E na cama, para alguns poucos felizardos,
Tem um sorriso de quem é tão ingênua
Que faz filme sem ser artista de cinema!

( De Poesias Mal Comportadas)

Monday, December 18, 2006

UMA GRANDE TRAIÇÃO

VIII

Emily Dickinson

THAT I did always love,
I bring thee proof:
That till I loved
I did not love enough.

That I shall love alway,
I offer thee
That love is life,
And life hath immortality.

This, dost thou doubt, sweet?
Then have I
Nothing to show
But Calvary.


VIII

QUE eu tive sempre amor,
Eu trouxe a prova:
Mas o tanto que eu amei
Não foi bastante.

Que eu amarei sempre,
É minha oferta nova
Como o amor que é vida,
E, além da vida, imortalidade.

E qual a tua dúvida, doçura?
Se nada tenho eu
Para mostrar, para viver
Há um calvário, na verdade.

Saturday, December 16, 2006

E ASSIM FOI...


VARIAÇÕES EM TORNO DO ÓBVIO

Só tu, minha linda, tão maravilhosa
Como nos meus melhores sonhos
Poderia ter essa boca que calada
Transpira poesia; é puro pecado
E aberta surge como suave promessa
De carícias, beijos, horas longas de amor
E de dias mais doces e noites infindas.


Só os teus olhos negros, minha linda,
São perigosos como o mar mais traiçoeiro.
Saõ eles que me dizem sem palavras
Que devo ter pressa de amar, ser ligeiro,
Para não me enganar com o lento andar
Do tempo, pois são breves-na sua calma-
A delícia dos momentos mais felizes.

Tuesday, December 12, 2006

AINDA GERMÁN CARRASCO

DEL TITANIC Y EL ZEPPELIN

Germán Carrasco

Recuerdo la lectura de poemas, el eco de la ovación.
Una rubia bautizaba la proa de la nave con champagne:
espuma de mar, semen liviano del que nacen acróbatas
y bardos (cada metro el latigazo de una ola)
como el que los despedía en ese momento épico
del poderío americano: magnitud y misterio comparables
al del zeppelin nacional-socialista,
majestuoso velo sobre la insidia del sol:
metáforas colosales
aunque lamentablemente poco prácticas
cuya historia, junto a la de Babel,
escribimos con sumo cuidado
en barcos de papel, granos de arroz.

DO TITANIC E DO ZEPPELIN

Recordo a leitura de poemas, o eco da ovação.
Uma ruiva batizava a proa de um navio com champanhe:
espuma do mar, sêmen límpido do qual nascem acrobatas
e poetas (cada metro a chicotada de uma onda)
como a que os despedia neste momento épico
do poderio americano: magnitude e mistério comparáveis
ao do zeppelin nacional-socialista,
majestoso véu sobre a sedução do sol:
metáforas colossais
ainda que lamentavelmente pouco práticas
cuja história, junto a de Babel, escrevemos
com sumo cuidado
em barcos de papel, grãos de arroz.

UM OUTRO CARRASCO CHILENO



Germán Carrasco


Los bufones están en otra parte
No tienen noción están en otro círculo
al que arrastraron también a los escuchas
Los bufones están en otra parte
con las baquetas trompetas y contrabajos
en las manos como arañas de rincón.

HAMMELIN

Os bufões estão em outra parte
Não tem noção estão em outro círculo
arrastados também pelos ouvidos
Os bufões estão em outra parte
Com as baquetas, trompetas e contra-baixos
nas mãos como as aranhas de canto.

Sunday, December 10, 2006

AINDA JORGE...

Poema de amor nocturno

Jorge Carrasco


Pero contágiate de mí, prueba mis jugosas flechas,
pon mi pátina de oro trémulo en tus riberas,
tus malezas ábreme para hallar el tibio nido:
busco tu sótano para morir en la sombra que supura.
Elige, amada, mi estocada final, di adiós a tu vida
en tres minutos, muere, muere de una vez
bajo mi hirviente cauce, sobre el olvido
de quien es en este segundo un inmenso latido de guitarra.
Vamos, pues, prepara el suspiro, el aullido
que te salva del ahogo inmemorial, el aleteo
ondulante que hiere todos los aires, todas las formas,
todo lo que cae en el temblor y no regresa.
Vamos, escúdate en tu lengua, en la tos rauda
de las sabandijas escapadas de tus miembros:
aquí va un suspiro crispado con miles de espadas
de mi centro altivo a tu centro suplicante.

Poema do Amor Noturno

Porém te contagiastes de mim, o prova minhas sinuosas setas,
postas como corrediças de ouro trêmulos em tuas costas,
tuas moitas abertas para encontrar o ninho morno:
eu procuro tua cavidade para morrer na sombra que supura.
Escolhe, amada, minha última estocada, dei adeus a tua vida
em três minutos, morre, morre de uma vez
abaixo do meu leite fervente, sob o esquecimento
de quem neste segundo solta um imenso gemido de guitarra.
Vamos, pois, prepara o suspiro, o grito
que te salva do sufoco imemorial, o vibrar
ondulante que fere todos os ares, todas as formas,
tudo o que cai no tremor e não regressa.
Vamos, usa tua língua como escudo, na correnteza
dos insetos escapados de teus membros:
aqui vai um suspiro eivado com milhares de espadas
de meu orgulhoso centro ao encontro de teu centro suplicante.

Friday, December 08, 2006

COM VOCÊS JORGE CARRASCO....

Pelo menos os poucos e bons amigos que tenho sabem que estou mais para "traidor" do que para tradutor. Se traduzo o faço mais pelo deleite, pelo gosto, por amar os textos que traduzo do que pela capacidade para tal. Inclusive por, em geral, não ter a determinação e o gosto que fazem, por exemplo, de minha querida amiga Lyla Rayol uma mestra na arte de traduzir. Ela persegue cada sentido, cada palavra. Sou a percepção, a poesia apenas. Algumas vezes traio o autor pela beleza de uma idéia. Não é o caso de Carrasco. Gostei muito de sua poesia e desta em especial. Fiquei empolgado e traduzi num sopro. Depois li e corrigi algumas "falhas", daí republicá-la com o devido carinho e respeito que o poeta e a poesia merecem. Ah! Esqueci de dizer também insisto em traduzir por não existir pessoas que traduzam as belas poesias que nos roedeiam nesta amada e esquecida América Latina. A poesia de Carrasco, porém vale mais do que todas as explicações:


TODOS HABLAN

Jorge Carrasco



Todos hablan de lo que tocan sus manos.
El portero habla de la suciedad de los pupitres.
El taxista habla de números de lejanas calles.
El padre habla de los hijos, sólo de los hijos.

El sol habla de las malezas de mi vereda.

Cada uno es esclavo de las cosas que trae al mundo.
La hembras arrastran las cadenas
de sus milenarios cachorros.
La tierra muele las piedras de sus órganos
para llamar a las raíces de todos los árboles.

El gobernante es esclavo de los hambrientos
que incendian las calles.

Y cada uno es rey de lo que sueña.
El portero que escribe en un pizarrón imaginario.
El taxista que habla como propietario de andenes.
El padre que quiere hablar de sus recuerdos,
sólo de sus recuerdos.

El sol que ve su danza en la copa
de los árboles de mi alma.

Y cada uno es dios de las cosas
que nunca va a traer al mundo.


TODOS FALAM

Todos falam do que suas mãos tocam
O porteiro fala da sujeira das maçanetas.
O taxista fala dos números de ruas distantes.
O pai fala dos filhos, só dos filhos.

O sol fala das ervas daninhas de minha vereda.

Cada um é escravo das coisas que traz ao mundo.
As fêmeas arrastam as correntes
de seus cachorros milenares.
A terra mói as pedras de seus órgãos
Para chamar as raízes de todas as árvores.

O governante é escravo dos famintos
Que incendeiam as ruas.

E cada é rei de seu sonho.
O porteiro que escreve num quadro imaginário.
O taxista que fala como proprietário de empresas.
O pai que ama falar de suas memórias,
Somente de suas memórias.

O sol que dança na copa das árvores
De minha alma.

E cada um é o deus das coisas
Que nunca vão trazer ao mundo.

A MANSIDÃO DA LUZ VERDADEIRA

No Teu Corpo

Só no teu corpo o luar brilha.
Só no teu corpo há estrelas.
Há céu apenas no teu corpo
E mar e luz e fantasia.

Só no teu corpo o sol flutua.
Só no teu corpo o ar balança.
Há mundo apenas no teu corpo
E som e festa e magia.

Só no teu corpo as coisas vivem.
Só no teu corpo os homens sonham.
Há terra apenas no teu corpo
E silencio e gozo e vida.

Thursday, December 07, 2006

EMILY OUTRA VEZ

LIV

Emily Dickinson


EXPERIMENT to me
Is every one I meet
If it contain a kernel?
The figure of a nut

Presents upon a tree,
Equally plausibly;
But meat within is requisite,
To squirrels and to me.

LIV

EXPERIMENTE para mim
Sempre que uma encontrar
Se ela contém a semente?
A figura de uma castanha

Presentes sobre uma árvore,
Igualmente são plausíveis;
Mas ter carne dentro é um requisito,
Para os esquilos e para mim.

Sunday, December 03, 2006

E BORGES, SEMPRE BORGES

1964
I
Ya no es mágico el mundo. Te han dejado.
Ya no compartirás la clara luna
Ni los lentos jardines. Ya no hay una
Luna que no sea espejo del pasado,
Cristal de soledad, sol de agonías.
Adiós las mutuas manos y las cienes
Que acercaba el amor. Hoy solo tienes
La fiel memoria y los desiertos días.
Nadie pierde (repites vanamente)
Sino lo que no tiene y no ha tenido
Nunca, pero no basta ser valiente
Para aprender el arte del olvido.
Un símbolo, una rosa, te desgarra
y te puede matar una guitarra.
II
Ya no seré feliz. Tal vez no importa.
Hay tantas otras cosas en el mundo;
Un instante cualquiera es más profundo
Y diverso que el mar. La vida es corta
Y aunque las horas son tan largas, una
Oscura maravilla nos acecha,
la muerte, ese otro mar, esa otra flecha
Que nos libra del sol y de la luna
Y del amor. La dicha que me diste
Y me quitaste debe ser borrada;
Lo que era todo tiene que ser nada.
Sólo me queda el goce de estar triste,
Esa vana costumbre que me inclina
Al sur, a cierta puerta, a cierta esquina

1964
I
O mundo já não é mágico. Deixaram-te sair.
Já não compartilhas a lua clara
nem os jardins lentos. Já não há
uma lua que não seja espelho do passado,
Cristal da solidão, sol das agonias.
Adeus às mãos e os cenas mútuas
que cercavam o amor. Hoje só tens
a fiel memória e os dias desertos.
Ninguém perde (repetes inutilmente)
Senão o que não tem e que tinha tido,
porém não é bastante ser bravo
aprender a arte do esquecimento.
Um símbolo, uma rosa, se desgarra
E te pode matar uma guitarra.
II
Já não eu serei feliz. Talvez não importa.
Há muitas outras coisas neste mundo;
Um instante qualquer é mais profundo
e diverso do que o mar. A vida é curta
embora as horas sejam assim tão largas,
uma obscura maravilha nos achega,
a morte, esse outro mar, essa outra seta
que nos livra do sol, da lua
e do amor. A felicidade que me destes
e me tomastes deve ser apagada;
O que era tudo não deve ser nada.
Só me resta o gozo de estar triste,
Este vão costume que me inclina
ao Sul, para certa porta, para certa esquina.

Friday, December 01, 2006

UM POETA DA AMÉRICA CENTRAL...

Que também pinta ( a ilustração é dele) e ganhou o prêmio Nobel de Literatura.

Fama

Derek Walcott

Esto es la fama: domingos,
una sensación de vacío
como en Balthus,
callejuelas empedradas,
iluminadas por el sol, resplandecientes,
una pared, una torre marrón
al final de una calle,
un azul sin campanas,
como un lienzo muerto
en su blanco
marco, y flores: gladiolos, gladiolos
marchitos, pétalos de piedra en un jarrón.
Las alabanzas elevadas al cielo
por el coro interrumpidas.
Un libro de grabados que pasa él mismo las hojas.
El repiqueteo
de tacones altos en una acera.
Un reloj que arrastra las horas.
Un ansia de trabajo.

Fama

Isto é a fama: domingos,
uma sensação de vazio
como em Balthus,
com as ruas laterais pavimentadas de pedras,
iluminadas pelo sol, resplandecentes,
uma parede, uma torre marrom
no final de uma rua,
um azul sem sinos,
como um lenço morto
em seu branco
linho, e flores:
gladíolos, gladíolos
em botão, pétalas de pedra
num vaso. As preces elevadas
ao céu por um coro
interrompidas. Um livro
dos escritos que passa automaticamente
as folhas. O sapateado
dos saltos altos no palco.
Um relógio que arrasta as horas.
Uma ânsia de trabalho.

Wednesday, November 29, 2006

NO ESPÍRITO DO TEMPO

Cause and effect

Charles Bukowski

the best often die by their own hand
just to get away,
and those left behind
can never quite understand
why anybody
would ever want
to get away
from
them
Causa e Efeito

O melhor freqüentemente morre
por suas próprias mãos
por se afastar,
daquela esquerda atrasada
que nunca pode compreendê-lo
completamente
porque qualquer um
quereria sempre
afastar-se
deles

DE VOLTA O VELHO CHARLES


ALONE WITH EVERYBODY.

Charles Bukowski

the flesh covers the bone
and they put a mind
in there and
sometimes a soul,
and the women break
vases against the wall
sand the men drink too
much
and nobody finds the
one
but keep
looking
crawling in and out
of beds.
flesh covers
the bone and the
flesh searches
for more than
flesh.there's no chance
at all:
we are all trapped
by a singular
fate.
nobody ever finds
the one.
the city dumps fill
the junkyards fill
the madhouses fill
the hospitals fill
the graveyards fill
nothing else
fills.

SOZINHO COM TODO MUNDO

a carne cobre os ossos
e põe a mente lá
e, às vezes, a alma,
e as mulheres quebram
os vasos contra as paredes
e os homens sedentos bebem
demais
e ninguém
encontra o outro
nem sabe como sustentar o olhar
que rasteja
dentro e fora
das camas.
coberturas de carne o osso e
procuram
por mais carne.
não há nenhuma possibilidade possível:
nós todos nos enredamos num singular fato.
ninguém nunca consegue
encontrar o outro.
cheios os armazéns da cidade
cheios os ferros velhos
cheios os hospícios
cheios os hospitais
cheios os cemitérios
cheio também o vazio.

Sunday, November 26, 2006

ESTRANHA POESIA

Um dia, um certo momento,
tudo é estranho.
Estranhos são teus filhos.
Estranha tua estranha mulher.
Tua amante, uma estranha.

Tudo estranho como estranho
É o estranho olhar
Do estranho rosto no espelho,
estranho objeto,
Que estranhamente identificas como teu.
Estranho como tudo se perdeu
neste mundo de estranhamento.

Há um momento
Breve de reconhecimento
na memória
em que este passado estranho se esclarece
como da tua estranha vida.
E estranhas ainda mais
Que o estranho te pareça tão familiar
Como se o comum fosse ser estranho.

E não podes continuar:
Todas as coisas,
inclusive as palavras,
São estranhas.

Saturday, November 25, 2006

COMO JÁ ESTOU COM A EMILY...

XXII

Emily Dickinson

I HAD no time to hate, because
The grave would hinder me,
And life was not so ample I
Could finish enmity.

Nor had I time to love; but since
Some industry must be,
The little toil of love, I thought,
Was large enough for me.

XXII

EU NÃO TINHA nenhum tempo para odiar, porque
A sepultura poderia me esconder,
E a vida, que não era tão ampla assim
Poderia eliminar o inimigo.

Não tinha tempo para amar;
mas desde que alguma indústria se deve ter,
O pequeno trabalho do amor, eu pensei,
Que era grande o bastante para mim.

Thursday, November 23, 2006

É A MESMA, MAS É OUTRA

A minha amiga Lila Rayol chama, com razão, minha atenção para o completo desrespeito que tive com a tradução do poema da Emily Dickinson. Realmente ela tem toda razão: traição deve ter limites. Eu até poderia alegar que "O poeta é um preguiçoso/se espreguiça tão serenamente/que chega a fingir preguiça/ quando, de fato, a sente". Mas não foi. Nem mesmo insuficiência linguística (que, muitas vezes, é real) e sim que achei o sentido de desatenção no amor bem mais bonito do que as "pilúlas". De qualquer forma, como me senti muito feliz com o cuidado da minha amiga, refiz o poema respeitando mais o original. No entanto o pouco que muda, podem ver, faz dele outro. Bem mais Dickison, é claro! O que prova que jamais se trai inutilmente.

IX
Emily Dickinson
O CORAÇÃO pede o prazer primeiro
E então, desculpa da dor;
E então os pequenos analgésicos
Que matam o sofrimento

E então para ir dormir,
E então, se esta for
A vontade de seu inquisidor
A liberdade de morrer.

POEMINHA DO MENINO CRIATIVO


Arranjei um gatinho

Que chamei de Manoel

Inventei que ele voava

E joguei-o para o ceú.

Como foi do oitavo andar

Em pedaçinhos está

E ficou meio amassado

Não dá nem para emendar!

Wednesday, November 22, 2006

O VELHO SUJO NOVAMENTE

MELANCHOLIA

Charles Bukowski

the history of melancholia
includes all of us.

me, I writhe in dirty sheets
while staring at blue walls
and nothing.

I have gotten so used to melancholia
that
I greet it like an old friend.

I will now do 15 minutes of grieving
for the lost redhead,
I tell the gods.

I do it and feel quite bad
quite sad,
then I rise
CLEANSED
even though nothing is solved.

that's what I get for kicking
religion in the ass.

I should have kicked the redhead
in the ass
where her brains and her bread and
butter are
at ...
but, no, I've felt sad
about everything:
the lost redhead was just another
smash in a lifelongloss ...

I listen to drums on the radio now
and grin.
there is something wrong with me
besides
melancholia

MELANCOLIA

A história da melancolia
inclui todos nós.

A mim, que escrevo em folhas sujas
Enquanto olho fixamente paredes azuis
e nada.

Eu comecei assim usando a melancolia
Que
Cumprimento e gosto como um velho
Amigo.

Eu irei agora ter 15 minutos de aflição
Pelo cardeal perdido,
Eu digo aos deuses.

Eu faço isto e sinto-me completamente mau
Completamente triste,
Então me levanto
CANCELANDO
Toda e qualquer coisa
Mesmo que não resolva.

Aqui é que comecei retrocedendo
da religião no burro.

Eu deveria ter retrocedido o cardeal
no burro
onde seu cérebro e seu pão
e manteiga estão
em…

Mas, não, eu me sinto triste
Por todas as coisas:
o cardeal perdido era justo outro
despedaçado em um vida longa
de perdas…

Eu escuto as ondas do rádio agora
e sorrio.
Há algo de profundamente errado comigo
Além
Da melancolia.
Obs.: A ilustração é de Chirico.

Tuesday, November 21, 2006

AINDA DICKINSON

IX

Emily Dickinson

THE HEART asks pleasure first,
And then, excuse from pain;
And then, those little anodynes
That deaden suffering;

And then, to go to sleep;
And then, if it should be
The will of its Inquisitor,
The liberty to die

IX

O CORAÇÃO pede o prazer primeiramente,
E então, desculpa para a dor;
E então, as pequenas desatenções
Que fazem sofrer;

E então, para ir dormir;
E então, se for
A vontade de seu inquisidor,
a liberdade de morrer

Monday, November 20, 2006

RUBÉN DARIO

DE OTOÑO
Rubén Dario

Ya sé que hay quienes dicen: ¿Por qué no canta ahora
con aquella locura armoniosa de antaño?
Esos no ven la obra profunda de la hora,
la labor del minuto y el prodigio del año.

Yo, pobre árbol, produje, al amor de la brisa,
cuando empecé a crecer, un vago y dulce son.
Pasó ya el tiempo de la juvenil sonrisa:
¡dejad al huracán mover mi corazón!

DO OUTONO

Já sei que alguns dizem: Por que não canta agora
com a harmoniosa loucura do passado?
Esses não vêem a obra profunda da hora,
o trabalho do minuto e o prodígio do ano atravessado.

Eu, pobre árvore, produzi, ao amor do vento,
quando comecei a crescer, uma vaga e doce canção.
Passou o tempo do juvenil sorriso. Lamento:
Deixaram um furacão mover meu coração!

Sunday, November 19, 2006

A CHUVA LEMBRA BORGES

La lluvia

Jorge Luis Borges

Bruscamente la tarde se ha aclarado
porque ya cae la lluvia minuciosa.
Cae o cayó. La lluvia es una cosa
que sin duda sucede en el pasado.

Quien la oye caer ha recobrado
el tiempo en que la suerte venturosa
le reveló una flor llamada rosa
y el curioso color del colorado.

Esta lluvia que ciega los cristales
alegrará en perdidos arrabales
las negras uvas de una parra en cierto

patio que ya no existe. La mojada
tarde me trae la voz, la voz deseada,
de mi padre que vuelve y que no ha muerto.

A Chuva

Bruscamente a tarde se há desanuviado
Porque já cai uma chuva minuciosa
Cai ou caiu. A chuva é uma coisa
Que, sem dúvida, sucede no passado.

Quem a ouve cair há recobrado
O tempo em que a sorte venturosa
Lhe revelou uma flor de nome rosa
De tão peculiar avermelhado.

Esta chuva que escurece os vidros
Há de alegrar os subúrbios perdidos
As uvas pretas de uma parra em certo

Pátio que já não existe. A molhada
Tarde me traz a voz, a voz desejada,
De meu pai que volta e que não morreu.

Saturday, November 18, 2006

O GRANDE DARIO

LA CALUMNIA

Rubén Dario

Puede una gota de lodo
sobre un diamante caer;
puede también de este modo
su fulgor obscurecer;
pero aunque el diamante todo
se encuentre de fango lleno,e
l valor que lo hace bueno
no perderá ni un instante,
y ha de ser siempre diamante
por más que lo manche el cieno.


A CALÚNIA

Pode uma gota de lodo
Sobre um diamante cair;
Pode também deste modo
Seu brilho obstruir;
Porém ainda que o diamante todo
Se encontre cheio de lodo,
o seu valor ainda assim perdura
não se perde nem por um instante,
e há de ser sempre diamante
por mais que a mancha seja impura.

Friday, November 17, 2006

TRAINDO VALLEJO

Em geral traições não se explicam, mas, para quem estiver interessado, não levei em consideração algumas palavras por questões poéticas e ignorei a rima "erva" e "conserva" em português por achar grama mais adequado e por o "molho de lama" para conservar, é claro. O boi por corvo é mais brasileiro, capischo?

Intensidad y altura

César Vallejo

Quiero escribir, pero me sale espuma,
quiero decir muchísimo y me atollo;
no hay cifra hablada que no sea suma,
no hay pirámide escrita, sin cogollo.

Quiero escribir, pero me siento puma;
quiero laurearme, pero me encebollo.
No hay toz hablada, que no llegue a bruma,
no hay dios ni hijo de dios, sin desarrollo.

Vámonos, pues, por eso, a comer yerba,
carne de llanto, fruta de gemido,
nuestra alma melancólica en conserva.

Vámonos! Vámonos! Estoy herido;
Vámonos a beber lo ya bebido,
vámonos, cuervo, a fecundar tu cuerva.

Intensidade e Altura

Quero escrever, porém só me sai espuma,
Quero dizer muito mais e me atolo;
Não há nenhuma cifra que não seja suma,
Não há nenhuma pirâmide escrita, sem tijolo.

Quero escrever, porém me sinto puma;
Quero elogiar-me, mas me encabulo.
Não há porta fechada, em que não chegue a bruma,
Não há deus nem filho de deus, sem dar seus pulos.

Vamos, então, por tal razão só comer grama,
carne de pranto, fruta de gemido,
Nossa alma melancólica em molho de lama.

Vamos! Vamos! Eu me sinto tão ferido;
Vamos, pois beber muito mais que o já bebido,
Vamos, boi, fecundar o chifre bem nascido.

Thursday, November 16, 2006

BORGES

AMOROSA ANTICIPACION

Jorge Luis Borges

Ni la intimidad de tu frente clara como una fiesta
ni la costumbre de tu cuerpo, aun misterioso y tacito Y
[de niña,
ni la sucesion de tu vida asumiendo palabras o silencios
seran favor tan misterioso como mirar tu sueño implicado
en la vigilia de mis brazos.
Virgen milagrosamente otra vez por la virtud absolutoria
[del sueño,
quieta y resplandeciente como una dicha que la memoria
[elige,
me daras esa orilla de tu vida que tu misma no tienes.
Arrojado a quietud, divisare esa playa ultima de tu ser
y te vere por vez primera, quiza,
como Dios a de verte, desbaratada la ficcion del Tiempo,
sin el amor, sin mi.

ANTECIPAÇÃO AMOROSA

Nem a intimidade de tua frente clara como uma festa
Nem o costume de teu corpo ainda misterioso e tácito e
de menina
Nem a sucessão de tua vida assumindo palavras ou silêncios
Serão favor tão misterioso
Como olhar teu sono abandonado
Na vigília de meus braços.
Virgem milagrosamente outra vez pela virtude absolutória
do sono,
quieta e resplandecente como uma felicidade que a memória
elege,
Me darás este pedaço de tua vida que tu mesma não tens.
Arrojado a quietude,
Divisarei esta praia última de teu ser
E te verei pela primeira vez, quem sabe,
Como Deus há de ver-te
Desbaratada a ficção do tempo,
Sem o amor, sem mim.

Sunday, November 12, 2006

DICKINSON OUTRA VEZ

THE MYSTERY OF PAIN
Emily Dickinson


Pain has an element of blank;
It cannot recollect
When it began, or if there were
A day when it was not.

It has no future but itself,
Its infinite realms contain
Its past, enlightened to perceive
New periods of pain.

O MISTÉRIO DA DOR

A dor tem um espaço em branco;
Que não pode recordar
Quando se iniciou, ou se houve um dia
Em que não era assim.

Mesmo sem ter nenhum futuro nem para si mesma,
Seus reinos infinitos contem
Seu passado, iluminado para perceber
Novos períodos de dor.

Monday, November 06, 2006

RECEITA PERFEITA: BORGES & VINHO

SONETO DEL VINO

Jorge Luis Borges

¿En qué reino, en qué siglo, bajo qué silenciosa
Conjunción de los astros, en qué secreto día
Que el mármol no há salvado, surgió la valerosa
Y singular ideia de inventar la alegria?
Com otoños de oro la inventaron.
El vino fluye rojo a lo largo de las generaciones
Como el río del tiempo y en el arduo camino
Nos prodiga su música, su fuego y sus leones.
En la noche del júbilo o en la jornada adversa
Exalta la alegria o mitiga el espanto
Y el ditirambo nuevo que este día le canto
Otrora lo cantaron el árabe y el persa.
Vino, enseñame el arte de ver mi propia historia
Como si ésta ya fuera ceniza en la memória.

Soneto do Vinho

Em que reino, em que século, sob qual silenciosa
Conjunção de astros, em que secreto dia
Que o mármore não salvou, surgiu a valorosa
E singular idéia de inventar a alegria?
Com outonos de ouro a inventaram.
O vinho flui vermelho ao longo de gerações
Como o rio do tempo e no seu árduo caminho
Nos oferta sua música, seu fogo e seus leões.
Na noite de júbilo ou na jornada adversa
Exalta a alegria ou mitiga o espanto
E a poesia nova que neste dia canto
Outrora a cantaram o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver a própria história
Como se já fosse a cinza da memória.

Sunday, November 05, 2006

AINDA BORGES

THE UNENDING GIFT
Jorge Luis Borges

Un pintor nos prometió un cuadro.
Ahora, en New England, se que ha muerto. Sentí
como otras veces, la tristeza y la sorpresa
de comprender que somos como un sueño.
Pensé en el hombre y en el cuadro perdidos.
(Sólo los dioses pueden prometer, porque son
[ inmortales).
Pensé en el lugar prefijado que la tela no ocupará.
Pensé después: si estuviera ahí, sería con el
tiempo esa cosa más, una cosa, una de las
vanidades o hábitos de mi casa; ahora es
ilimitada, incesante, capaz de cualquier
forma y cualquier color y no atada a
ninguno.Existe de algún modo.
Vivirá y crecerá como una
música, y estará conmigo hasta el fin.
Gracias, Jorge Larco.
(También los hombres pueden prometer, porque
[ en la promesa hay algo inmortal).

(De Elogío de la Sombra, 1969)

O INACABADO PRESENTE

Um pintor nos prometeu um quadro.
Agora, em New England, soube que morreu. Senti
Como outras vezes, a tristeza e a surpresa
De compreender que somos como um sonho.
Penso no homem e no quadro perdidos.
(Só os deuses podem prometer, porque são
imortais).
Pensei no lugar pré-fixado que a tela não ocupará.
Pensei depois: se estivesse lá, seria com o
Tempo uma coisa a mais, uma coisa, um das
vaidades tolas ou hábitos de minha casa; agora é
Ilimitado, incessante, capaz de qualquer
Forma e qualquer cor e a nada
Fixado.
Existe de algum modo. Viverá e crescerá como
Uma música e estará comigo até o fim.
Obrigado, Jorge Larco.
(Os homens também podem prometer porque
na promessa há algo de imortal).

UMA ANTIGA DE PERSIVO REFORMULADA

INTIMIDADE

Aquelas confidências vagas, que me fazia,
Foram só um começo de desejo e gozo
Que nossas peles suadas pressentiam
No meio do calor, da meia-luz e da fumaça.

Havia certa graça nas vozes velozes
Que se misturavam numa babel de preces
Ao desconhecido deus que fez o amor e o álcool
Para a liberação dos instintos mais selvagens

E foi estranho porque o encanto mútuo
Criou uma intimidade impossível num quarto,
Porém ali, em meio ao público, pareceu natural
Tanto que nos beijamos quase automaticamente

Com uma inocência infantil que nos absolveu
De toda maldade que os risos fizeram circular
E pelo olhar tão puro que deu quase me sinto santo
Quase consigo acreditar num ser qualquer

Que programasse, ao acaso, momentos encantados
Nos quais os sorteados, como ali nós éramos,
Pudessem ver que há algo além da falta de sentido
Que permeia toda a loucura que somos e fazemos.

Senti-me tão feliz ao compreender teu pranto silencioso
Em flagrante contraste com o prazer presente
Nos nossos menores gestos e de todos os outros
E também chorei mansinho por tudo ser tão belo e frágil!

Saturday, November 04, 2006

POR CULPA DA STELLA...

A Stella Blu (do http://posturaativa.blogspot.com) me provocou trazendo uns versos, mas precisamente a poesia de Charles Baudelaire "Embriaguemo-nos" que, sabia que havia traduzido como "Vamos nos Embriagar". Assim procurei nos meus guardados antigos e a publiquei no Jornal Diz Persivo. Porém também encontrei esta de Verlaine que aproveito e posto aqui. A culpa é da Stella de me fazer remexer baús atrás de velhas traições. E, pelo que vi desta, o autor, de fato, foi muito traído. Fazer o quê? Não lembro mais nada de francês deforma que o passado (e a preguiça) cobra o seu preço. Como se pode ver não tenho a menor vergonha de meus pecados.

VERS POUR ÊTRE CALOMNIÉ
Verlaine
Ce soir je m'étais penché sur ton sommeil.
Tout ton corps dormait chaste sur l'humble lit,
Et j'ai vu, comme un qui s'applique et qui lit,
Ah ! j'ai vu que tout est vain sous le soleil !
Qu'on vive, ô quelle délicate merveille,
Tant notre appareil est une fleur qui plie!
O pensée aboutissant à la folie!
Va, pauvre, dors ! moi, l'effroi pour toi m'éveille.
Ah ! misère de t'aimer, mon frêle amour
Qui vas respirant comme on respire un jour!
O regard fermé que la mort fera tel!
O bouche qui ris en songe sur ma bouche,
En attendant l'autre rire plus farouche!
Vite, éveille-toi. Dis, l'âme est immortelle ?
Versos para ser caluniado
De noite debruçado sobre o teu sono.
Teu corpo casto todo no humilde leito
Dormia; e li, com todo o esforço feito,
Ah! Eu vi que sob o sol tudo é abandono!
Quem vive, ó que delicada maravilha:
Nossa estrutura é uma flor fina e pura!
O pensamento se despenca para a loucura!
Vai, dorme, vai! Acordo, com medo por ti, filha.
Ah! Miséria de te amar, meu pobre amor
Que respira como expira o dia que se for!
Ó olhar cerrado como da morte no umbral!
A boca que ri em sonho na minha boca,
Na espera de outra risada ainda mais louca!
Vida, acorda. Diz-me se a alma é imortal?

Thursday, November 02, 2006

AINDA O GRANDE BORGES

Una brújula
A Esther Zemborain de Torres

Todas las cosas son palabras del
Idioma en que Alguien o Algo, noche y día,
Escribe esa infinita algarabía
Que es la historia del mundo. En su tropel
Pasan Cartago y Roma, yo, tú, él.
Mi vida que no entiendo, esta agonía
De ser enigma, azar, criptografía
Y toda la discordia de Babel.
Detrás del nombre hay lo que no se nombra;
Hoy he sentido gravitar su sombra
En esta aguja azul, lúcida y leve,
Que hacia el confín de un mar tiende su empeño,
Con algo de reloj visto en un sueño
Y algo de ave dormida que se mueve.

Um Compasso

a Esther Zemborain de Torres

Todas as coisas são palavras
Do idioma em que alguém ou algo, noite e dia,
Escreve esta infinita algaravia
Que é a história do mundo. Em seu tropel
Passam Cartago e Roma, eu, tu, ele.
Minha vida que não entendo, esta agonia
De ser enigma, possibilidade, criptografia
E toda a discórdia de Babel.
Atrás do nome há o que não se nomeia;
Hoje tenho sentido o gravitar de sua sombra
Nesta agulha azul, lúcida e leve,
Que até os confins do mar tem seu domínio,
Como algo de um relógio visto em sonho
E algo de um pássaro dormindo que se move.

BORGES

Cosmogonía

Jorge Luis Borges

Ni TINIEBLA ni caos.
La tiniebla requiere ojos que ven,
como el sonido y el silencio requieren el oído,
y el espejo, la forma que lo puebla.
Ni el espacio ni el tiempo.
ni siquiera una divinidad que premeditael silencio anterior a la primera
noche del tiempo, que será infinita.
El gran río de Heráclito el Oscuro
su irrevocable curso no ha emprendido,
que del pasado fluye hacia el futuro,
que del olvido fluye hacia el olvido.
Algo que ya padece. Algo que implora.
Después la historia universal. Ahora.
El suicida
No quedara en la noche una estrella.
NO quedará la noche
Moriré y conmigo la suma del intolerable universo.
Borraré las pirámides, las medallas,los continentes y las caras.
Borraré la acumulación del pasado.
Haré polvo la historia, polvo el polvo.
Estoy mirando el último poniente.
Oigo el último pájaro.
Lego la nada a nadie.

Cosmogonía

Nem escuridão nem caos.
Escuridão requer olhos que vêem,
como o som e o silêncio requerem orelhas,
e o espelho, a forma que o prova.
Nem o espaço nem o tempo.
Nem sequer uma divindade que premedita
O silêncio anterior à primeira
Noite do tempo, que será infinita.
O rio grande de Heráclito o escuro
Seu curso irrevogável não empreendeu,
Nem do passado flui para o futuro,
Nem do esquecimento flui para o esquecimento.
Algo que padece já. Algo que implora.
Depois a História universal. Agora.
O suicida.
Não há de ficar da noite uma estrela.
Não há de ficar a noite
Há de morrer e comigo a suma
Intolerável do universo.
Eu apagarei pirâmides, as medalhas,
Os continentes e as caras.
Eu apagarei a acumulação do passado.
Eu farei pó da história, pó e pó.
Estou olhando o último ponte.
Ouço o último pássaro.
Chego do nada ao nada.

Sunday, October 29, 2006

UMA POETISA ARGENTINA

ADÓNDE VAN LOS PÁJAROS

Teresa Pallazo Conti

“Ejército de hormigas
va trepando por él…”
(Antonio Machado)


Entre sus brazos de árbol
se ha crispado la nieve
y es estatua de hielo
su madera.

No sospecha
las gotas de la muerte
entre las máscaras.

Heroica tempestad se le revela
en un crujir de ramas
mientras cae el acero.

Por las raíces huérfanas
deambulará
su alma
asombrada de pájaros.


AONDE VÃO OS PÁSSAROS

Um exército de formigas
vão trepando por ele...
(Antônio Machado)

Entre seus braços de árvores
a neve há se aninhado
e virou estátua do gelo
sua madeira.

Não suspeita
das gotas da morte
entre as máscaras.

A tempestade heróica lhes revela
O rumor dos galhos
Até que o aço caia.

Pelas raizes orfãos
Dançará
sua alma
acompanhada dos pássaros.
(Ilustração "Árvore dos Passaros" de Edna de Araraquara).

Friday, October 27, 2006

UMA MEXICANA COM CERTEZA

DESAYUNO

Griselda Álvarez Ponce de León

Si es que me siento sola, no me importa
Com el ego me baño narcisista,
Ante el espejo me hago una entrevista
Y escribo lo que vidrio me reporta:

La vejez asomada que suporta
Um espiritu fuerte y optimista,
Hay mucho más de risas a la vista
Porque el dolor la vida nos acorta.

Tengo amigos y amigas; mas de alguno
Por telefono a veces me resiste.
Espanto algún recuerdo inoportuno

Como se fuera mosca. Y se persiste
Le invito um poço de mi desayuno.
Sé que estoy sola. Pero nunca triste.


PEQUENO DESJEJUM

Se é que me sinto só, não me importa
Com o ego me banho e narcisista,
Ante o espelho me faço uma entrevista
E escrevo o que vidro me reporta:

A velhice exposta que suporta
Um espírito forte e otimista,
Que tem muito mais de risos à vista
Que a dor que a vida nos encurta.

Tenho amigos e amigas; mas algum
Por telefone, às vezes, me resiste.
Espanto da memória, uma ou um,

Como se fosse uma mosca. E se persiste
Convido-a para meu pequeno desjejum.
Sei que sou só. Porém nunca triste.

UM GRANDE POETA BOLIVIANO

La nao

Antonio Terán Cabrero

una cáscara apenas
en la impalpable imagen de los signos
con que se sueña alado un topo

una canción en la quietud del río
y en la canción un barco
desperezándose

huye tú visitante casual de este paraje
si no quieres quemarte en una hoguera silenciosa

la no colmada sed del puro instante
le ha dado nacimiento
a pesar de sus huesos de
carcoma
sobre un río sin agua

porque ya estuvo en el
infierno
y despierta en el vientre de una clara botella

como una melodía

en medio de la noche
iluminando un charco

esa calle de la infancia
aquel farol bajo la lluvia
o sólo el barco de papel que ha remontado
la corriente
y ahora tiembla en mi mano

más allá
del íntimo velamen
le espera el laberinto
del otro inmenso mar
donde las férulas no llegan

podrá entonces gritar todos los gritos
que no fueron
en la precaria palidez de nuestros días

así navegue en círculos
dentro del ojo ciego de la
esfinge

todo en la breve eternidad
de narrarse en el agua

A nau

Uma casca apenas
na impalpável imagem dos signos
com que se sonha soando alto

uma canção na quietude do rio
e com a canção
um barco despregando-se

foge tu visitante casual destas paragens
se não queres queimar-te na fogueira silenciosa

a não saciada sede do puro instinto
lhe há dado nascimento
apesar dos montes de ossos
sobre um rio sem água

porque já estava no inferno
e desperto no ventre de uma garrafa transparente
como uma melodia
no meio da noite iluminando um pântano

esse rio da minha infância
aquele farol sob a chuva
ou só o barco de papel que recuperei
da corrente
e agora treme em minhas mãos

mais além
do intimo velame
lhe espera o labirinto
de outro imenso mar
onde as borboletas não hão de chegar

podes então gritar todos os gritos
que não gritou
na precária palidez de nossos dias

assim navegue em círculos
dentro do olho cego da esfinge

tudo na breve eternidade
está escrito na água.

Thursday, October 19, 2006

UM POETA PERUANO

FALSA POÉTICA (EL ENEMIGO)

Jorge Frisancho

No sueño ya con este espacio neutro, el de la palabra
y no he podido ver sino lo que pertenece ahora
a los recuerdos, en la otra banda de lo corporal.

Digo entonces: ¿qué será de mí cuando termine la noche
y qué es lo que soy en ella, esto que contemploy rí
e insoportablemente?

(En un peldaño oscuro del lenguaje o en el fondo del pozo
como en una frágil estrategia de las apariencias, mis sentidos son sólo estos sentidos fijos en la bóveda,
y mi lengua es ahora la del enemigo).

FALSA POÉTICA (O INIMIGO)

Não sonho já com este espaço neutro,
o da palavra e não pude ver senão o que agora pertence
às recordações, do outro lado do corporal.

Digo então: que será de mim quando a noite terminar
e concluir o que nela sou,
isto que contemplo e ri
insuportavelmente?

(Num degrau escuro da linguagem
ou no fundo do poço
como numa frágil estratégia das aparências,
meus sentidos são só estes sentidos fixos na abóbada,
e minha língua é agora a do inimigo).

Sunday, October 15, 2006

LÓGICA AMOROSA

O absurdo é que insistem
Em que a menor distância
Entre dois pontos
É uma linha reta
Ignorando a atração
De nossos corpos
Na razão inversa
Da paixão e da distância.

Beijo teus seios.
Percorro retamente as curvas
Que me encaminham ao triângulo
Da perdição e do prazer
Para descobrir que ser sábio
É nada saber
E sim descobrir a delícia de teu corpo
Pelo gosto.

Gemidos, gritinhos
E o êxtase sabido e inesperado
Que nos torna crianças
Lambuzando-se no mais delicioso doce,
Infantis
Na brincadeira mais feliz....

Inútil explicações...
Sobre a inutilidade da beleza de teus quadris.
Tudo em ti foi feito para amar
E só te amando me sinto feliz!

A ilustração "A Mulher nua" é de www.nosralla.com.br

A CONSTATAÇÃO


Ah! Se tu estivesses aqui, agora,
Nem que fosse uma meia-hora
Como o tempo se desfaria no ar
Com esta saudade que não vai passar.

Se estivesses aqui neste instante
Nesta manhã chuvosa...que belo lance!
Nós dois seríamos muito mais felizes
Rememorando os acertos e deslizes
Na cumplicidade que nunca se desfez
O prazer teria seu momento e vez
E apagaria toda esta imensa dor
Se expressando, como sempre, em amor

Hoje, que nem imagino onde estais,
Imito a chuva e choro muito mais
Enquanto o mundo minha dor ignora
E até a dor o tempo leva embora...

Saturday, October 14, 2006

UM POETA BOLIVIANO

Como una luz

Jaime Saenz

Llegada la hora en que el astro se apague,
quedarán mis ojos en los aires que contigo fulguraban
Silenciosamente y como una luz
reposa en mi camino
la transparencia del olvido.
Tu aliento me devuelve a la espera y a la tristeza de la tierra,
no te apartes del caer de la tarde-
no me dejes descubrir sino detrás de ti
lo que tengo todavía que morir.

Como uma luz

Chega uma hora em que o astro se apaga,
Meus olhos quedarão nos ares que contigo fulguravam
Silenciosamente e como uma luz
Repousa em meu caminho
A transparência do esquecimento.

Tua esperança me devolve a espera e a tristeza da terra,
Não te separes do cair da tarde
-Não me deixes descobrir senão depois de ti
Que tenho, todavia que morrer.

UMA POETISA DA BOLÍVIA


De "Territorial"
(fragmento)

Blanca Wiethüchter

Sólo tengo este cuerpo.
Estos ojos y esta voz
Esta larga travesía de sueño cansada de morir.
Conservo el temor al atardecer.
No se comunica con nadie.

Por mi modo de andar
algo descubierto un poco esperando
cambio frecuentemente de parecer
conmigo no puedo vivir segura.

Habito un jardín de palabras
que han dejado de nombrarme
para nombrarla.
No me atrevopero es necesario decirlo.
Es un secreto.
En realidad somos dos.

Ahora debo inventar a la otra.

De Territorial
(Fragmentos)


Só tenho este corpo. Estes olhos, esta voz
Esta larga travessia cansada de morrer.
Conservo o temor do entardecer.
Que não comunica nada.

Por meu modo de andar
Há algo descoberto um poço esperando
Troco freqüentemente de parecer
Comigo não se pode viver segura.

Habito um jardim de palavras
Que hão deixado de nomear-me
Para nomeá-la. Não me atrevo
Porém é necessário dizê-lo. É um segredo.
Na realidade somos duas.

Agora devo inventar a outra.

Saturday, October 07, 2006

OUTRO POEMA DE BUESA

POEMA DE LA ESPERA
José Angel Buesa

Yo sé que eres de otro y a pesar de eso espero
Y espero sonriente porque yo sé que un dia
Como en amor, el ultimo vale mas que el primeiro
Tu tendrás que ser mía.

Yo sé que eres de otro pero eso no me importa
Porque nada es de nadie se hay alguien que lo ansia.
Y mi amor es tan largo y la vida es tan corta
Que tendrás que ser mía.

Yo sé que eres de otro pero la sed se sacia
Solamente en el fondo de la copa vacía.
Y como la paciencia puede más que la audácia
Tu tendrás que ser mía.

Por eso en lo profundo de mis sueños despiertos
Yo seguiré esperando porque sé que algún dia
Buscarás el refugio de mis brazos abiertos
Y tendrás que ser mia.

O POEMA DA ESPERA

Eu sei que és de outro e apesar disto te espero
E espero sorrindo porque sei que um dia
Como, no amor, o último vale mais que o primeiro
Tu terás que ser minha.

Eu sei que és de outro, porém isto não me importa
Porque nada é de ninguém se há um alguém que anseia.
E meu amor é tão longo e a vida é tão curta
Que terás que ser minha.

Eu sei que és de outro, porém a sede se sacia
Somente no fundo do copo vazio.
E como a paciência pode mais que a audácia
Tu terás que ser minha.

Para isto no mais profundo dos meus sonhos despertos
Eu seguirei esperando porque sei que algum dia
Tu procurarás o refúgio de meus braços abertos
E tu terás que ser minha!

A POESIA DE CLAUDIA LARS

CARTAS ESCRITAS CUANDO CRECE LA NOCHE (VIII)

Claudia Lars

El tiempo....Qué es el tiempo?
Para mi no ha passado
Desde aquellas noches de lunas amarillas,
Cuando me llevabas a las reuniones de los sábados

Me senti joven al leer tus poemas
Y ne dio vergüenza experimentar esa delícia,
Com un gajo de sueños juveniles
Cai em profundo sueño.

Hoy me burlo del tiempo
Y hasta le hago cosquillas
Em las barbas.
Así, medio jugando,
Voy a meterlo por un mes
En el armario.

CARTAS ESCRITAS QUANDO CRESCEM AS NOITES (VIII)

O tempo?. ...Que é o tempo?
Para mim não há passado
Desde aquelas noites amarelas de luar,
Quando me levavas às reuniões de sábados

Me senti jovem lendo teus poemas
E me deu vergonha experimentar esta delícia.
Com um jovem de sonhos juvenis
Cai num profundo sonho.

Hoje eu engano o tempo
E até lhe faço coçegas
Nas barbas.
Assim, meio brincando,
Vou guardá-lo por um mês
No armário.

Thursday, October 05, 2006

UM POETA CUBANO


POEMA DEL AMOR AJENO

José Angel Buesa

Puedes irte y no importa, pues te quedas conmigo
Como queda el perfume más allá de la flor.
Tú sabes que te quiero, pero no te lo digo;
Y yo sé que eres mia, sin ser mío tu amor.

La vida nos acerca y la vez nos separa,
Como el dia y la noche en el amanhecer...
Mi corazón sediento ansia tu agua clara,
Pero es um agua ajena que no debo beber...

Por eso puedes irte, porque, aunque no te sigo,
Nunca te vas del todo, como una cicatriz;
Y mi alma es como un surco cuando se corta el trigo,
Pues al perder la espiga retiene la raiz.

Tu amor es como un rio, que parece más hondo,
Inexplicavelmente, cuando el agua se va.
Y yo estoy em la orilla, pero mirando el fondo,
Pues tu amor y la muerte tienen un más allá.

Para un deseo así, toda la vida es poca ;
Toda la vida es poca para um ensueño así...
Pensando em ti esta noche yo besáre otra boca;
Y tu estarás com outro...pero pensando em mi!

POEMA DO AMOR ALHEIO

Podes ir embora e não importa, que ficas comigo
Como fica o perfume além da flor.
Tu sabes que te quero, porém não te digo;
E eu sei que és minha, sem ser meu amor.

A vida aproxima e nos e, por sua vez, nos separa
Como o dia e a noite no amanhecer...
Meu coração sedento anseia por tua água clara,
Porém é uma água alheia que não devo beber...

Poristo podes ir embora porque se não te sigo,
Nunca te vais de todo, como uma cicatriz;
E minha alma é como um sulco quando se corta o trigo,
Pois ao perder a espiga retém a raiz.

Teu amor é como um rio, que parece mais profundo,
Inexplicavelmente, quando as águas se vão.
E eu estou na borda, porém mirando o fundo,
Pois teu amor e a morte muito além ainda vão.

Para um desejo assim, toda a vida é pouca;
Toda a vida é pouca um sonho assim...
Pensando em ti, esta noite beijarei outra boca;
E tu estarás com outro....porém pensando em mim!

Sunday, October 01, 2006

OUTRO POETA PERUANO


APARTAMENTO
Xavier Echarri

El cajón del velador es un osario de ángeles,
Del parquet brota pasto,
Del caño salen lágrimas,
La ducha sabe.
La claraboya nos sostiene del cielo, y el cielo, raso,
secomba.
(Por ahí podría entrar un venado si es que
simplificara su cabeza).
El cuadro es un vacío sin marco.
La televisión un médium de masa.
La cortina revienta contra las rocas.
Los muebles se sacuden el polvo y hacen turno ante la
cola del baño.Las sillas, en cuclillas, meditan.
La refrigeradora interrumpe su ronquido, y la nevera se
calienta.
Los parlantes tienen la lengua afuera.
despertador siente que se le viene.
El foco espera triste:
Di.

APARTAMENTO
A gaveta do armário é um ossário de anjos,
Do parquete brota pasto,
Do cano saem lágrimas,
O chuveiro sabe.
A clarabóia nos sustenta do céu, e o céu, raso,
se infiltra
(Por aí poderia entrar um veado se
simplificassem sua cabeça).
O quadro é um esvaziamento sem esquadro.
A televisão um médium de massa.
A cortina se arrebenta contra as rochas.
Os móveis sacodem o pó e fazem turno ante
a fila do banheiro.
As cadeiras, em circulos, meditam.
O refrigerador interrompe seu ronco e a geladeira
esquenta.
Os falantes botam a língua de fora.
O tocadiscos se injeta, o disco pede aos gritos uma camisa de força.
O telefone entra no banho.
O despertador sente que se vai.
O foco é uma pêra triste:
Dei.