Tuesday, October 30, 2018

E, de volta, Delmira Agustini


Con tu retrato              

Delmira Agustini

Yo no sé si mis ojos o mis manos
encendieron la vida en tu retrato;
nubes humanas, rayos sobrehumanos,
todo tu Yo de Emperador innato

amanece a mis ojos, en mis manos.
¡Por eso, toda en llamas, yo desato
cabellos y alma para tu retrato,
y me abro en flor!… Entonces, soberanos

de la sombra y la luz, tus ojos graves
dicen grandezas que yo sé y tú sabes…
y te dejo morir… Queda en mis manos

una gran mancha lívida y sombría…
¡Y renaces en mi melancolía
formado de astros fríos y lejanos!

Com teu retrato

Eu não sei se meus olhos ou minhas mãos
incendiaram a vida em teu retrato;
nuvens humanas, raios sobre-humanos,
todo tu e eu de imperador inato

amanhece nos meus olhos, nas minhas mãos.
É por isso que, tudo em chamas, eu desato
cabelos e alma para o teu retrato
e eu me abro em flor! ... Então, soberanos

da sombra e da luz, teus olhos graves
dizem grandezas que eu e tu sabes ...
e te deixo morrer ... Fica nas mãos minhas

um grande mancha, lívida e sombria ...
E renasces na minha melancolia
formada de estrelas frias e retiradas!

Ilustração: Maria Antonieta Lourenço. 




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