Wednesday, November 21, 2018

Mais uma poesia de Charles Baudelaire




L’Ame du Vin

Charles Baudelaire 

Un soir, l’âme du vin chantait dans les bouteilles:
«Homme, vers toi je pousse, ô cher déshérité,
Sous ma prison de verre et mes cires vermeilles,
Un chant plein de lumière et de fraternité!
Je sais combien il faut, sur la colline en flamme,
De peine, de sueur et de soleil cuisant
Pour engendrer ma vie et pour me donner l’âme;
Mais je ne serai point ingrat ni malfaisant,
Car j’éprouve une joie immense quand je tombe
Dans le gosier d’un homme usé par ses travaux,
Et sa chaude poitrine est une douce tombe
Où je me plais bien mieux que dans mes froids caveaux.
Entends-tu retentir les refrains des dimanches
Et l’espoir qui gazouille en mon sein palpitant?
Les coudes sur la table et retroussant tes manches,
Tu me glorifieras et tu seras content;
J’allumerai les yeux de ta femme ravie;
À ton fils je rendrai sa force et ses couleurs
Et serai pour ce frêle athlète de la vie
L’huile qui raffermit les muscles des lutteurs.
En toi je tomberai, végétale ambroisie,
Grain précieux jeté par l’éternel Semeur,
Pour que de notre amour naisse la poésie
Qui jaillira vers Dieu comme une rare fleur!»

A alma do vinho

Uma noite, a alma do vinho cantava nas garrafas:
"Homem, em tua direção empurro, ó querido deserdado,
Nesta minha prisão de vidro e meu lacre vermelho,
Um canto cheio de luz e fraternidade!
Bem sei o quanto foi preciso, na colina em chamas,
De trabalho, suor e sol ardente
para engendrar minha vida e me dar alma;
Mas, eu não vou ser ingrato ou mal agradecido,
Porque sinto imensa alegria quando caio
Na garganta de um homem que muito trabalhou,
E seu peito quente é um doce túmulo que acho
mais propícia ao prazer que as adegas frias.
Entendes tu o coro dos domingos
E a esperança que treme no seio palpitante?
Cotovelos na mesa e arregaçando as mangas,
Tu hás de me glorificar e serás feliz;
Acenderei os olhos de tua esposa encantada;
A teu filho devolverei sua força a cor
E serei para tão frágil atleta da vida
Óleo que enrijece os músculos do lutador.
Sobre ti cairei, ambrosia vegetal,
Grão precioso lançado pelo eterno semeador,
Para que, enfim, do nosso amor nasça a poesia
Que brotará para Deus como uma rara flor!

Ilustração: Doni Otimismo. 

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