Thursday, April 11, 2019

Uma poesia de Luis García Montero


El otro espejo                   
Luis García Montero

Te veo conducir
por el camino de la tarde.

Con los ojos clavados
vuelves a tu ciudad
y en la cuneta quedan las desgracias,
los años, los amores
como si fuesen árboles caídos.
Son de hoja perenne, no te engañes.

Envejecer es la costumbre
del rostro que sorprende en las arrugas
su propia identidad,

esa historia dudosa
del delincuente honrado.

Igual que los destinos más vulgares,
el tuyo está en las manchas de mi piel.
Una debilidad con piel de lobo.

Que cada curva salve un precipicio,
no limpia la mirada.
Que no haya más excusas
para justificar la dirección,
tampoco nos condena.

La lentitud y la velocidad
ya no discuten por nosotros
a los dos lados del espejo.

Marcas, herencias, huellas.
Cuando llegues a mí
no estará el corazón.
Estaré yo para pensarlo todo.

O OUTRO ESPELHO

Te vejo dirigindo
pelo caminho à tarde.

Com os olhos fixos
voltas para tua cidade
e no fosso ficam os infortúnios,
os anos, os amores
como se fossem árvores caídas.
São de folhas perenes, não se enganem.

O envelhecimento é o hábito
do rosto que surpreende nas rugas
sua própria identidade,

essa história duvidosa
do criminoso honesto.

Igual aos destinos mais vulgares,
a sua está nas manchas da minha pele.
Uma fraqueza com a pele de um lobo.

Que a cada curva salve um precipício,
não limpa a aparência.
Que não haja mais desculpas
para justificar a direção,
tampouco não nos condena.

A lentidão e velocidade
já não mais discutem por nós
nos dois lados do espelho.

Marcas, heranças, traços.
Quando chegas em mim
não estarão no coração.
Estarei eu para pensar em tudo.

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