Wednesday, July 31, 2024

Uma poesia de Melina Alexia Varnavogloua

 


Compañía

Melina Alexia Varnavoglou

                                            A Irene Gruss

Fumo en la ventana
empujando el humo contra las rejas
el viento con el mismo tedio lo devuelve

Esta escena se ha repetido
las últimas noches de verano
cada vez más solitaria

Yo, el humo, el viento, la reja
Sin mí, sólo el viento y la reja
Luego nada

Claro que sería lindo
otro par de dedos transpirados
por los que el cigarrillo se resbale,
una risa amiga a lo lejos

Pero es de noche
Estoy sola
No viene nadie.

COMPANHIA

Para Irene Gruss

Fumo na janela

empurrando a fumaça contra as grades

o vento com o mesmo tédio me devolve

 

Esta cena se tem repetido

nas últimas noites de um verão

cada vez mais solitário

 

Eu, a fumaça, o vento, as grades

Sem mim, só o vento e as grades

Logo nada

 

Claro que seria lindo

outro par de dedos suados

através do qual o cigarro deslizasse,

uma risada amigável ao longe

 

Porém é de noite

Estou sozinha

Não vem ninguém.

Ilustração: RN Agora.

Monday, July 29, 2024

Flerte gótico



Eu sei como é difícil de se crer

numa época de câmeras, de celulares, computadores

onde se pensa que se pode tudo ver,

tudo comprovar.

Mas, não é assim, desde que o mundo

é mundo

( e sou testemunha)

sempre há algo escondido no fundo, 

algum segredo.

Não tenho nenhum receio, medo

de dizer quem sou, mas iria acreditar?

E ficamos nesta brincadeira:

Me chamas para almoçar 

e para jantar te chamo. 

Por pirraça não aceitas.

Que tenho problemas de pele pensas

e por isto não ando no sol.

E me convidas, me desafias, 

a assistir futebol. 

De jogos até sou fã, 

porém só os noturnos-

te digo mansamente. 

E ela, com seu jeito, 

tão dolente, 

tão dengosa, 

abre os seus lábios de rosa

e pensa que me goza 

quando diz:

-Estou começando a crer que és o Drácula!

Ilustração: iFunny Brazil.

O Gótico Julio Cortázar

 


SONETO GÓTICO

Julio Cortázar

Esta vernácula excepción nocturna,

este arquetipo de candente frío,

quién sino tú merece el desafío

que urde una dentadura taciturna.

 

Semen luna y posesión vulturna

el moho de tu aliento, escalofrío

cuando abra tu garganta el cortafrío

de una sed que te vuelve vino y urna.

 

Todo sucede en un silencio ucrónico,

ceremonia de araña y de falena

danzando su inmovilidad sin mácula,

 

su recurrente espasmo catatónico

en un horror final de luna llena.

Siempre serás Ligeia. Yo soy Drácula.

SONETO GÓTICO

Esta vernácula exceção noturna,

esse arquétipo do candente frio,

quem senão tu merece o desafio

que urde uma dentadura taciturna.

 

Sêmen lunar e posse de brisa noturna

a forma de tua respiração, vento frio

quando abre tua garganta o cortafrio

de uma sede que te torna vinho e urna.

 

Tudo sucede num silêncio ucrônico,

cerimônia de aranha e falena

dançando sua imobilidade sem mácula,

 

seu recorrente espasmo catatônico

no horror final da lua plena.

Sempre serás Ligeia. Eu sou Drácula.

Ilustração: O Surto do Dia.

 

 

Ana Llurba de volta

 


ESCATOLOGÍA

Ana Llurba

No me gusta que me dirijan la palabra
por las mañanas.
No congenio con las voces entusiastas
antes del desayuno.
Not a Morning Person
sería un prudente statement
para un avatar que advierta a los incautos
que aquí, en medio del bosque de la vida,
los esperan los siete círculos del Infierno:
los paisajes decadentes de la mediana edad
esos mapas planiformes
llenos de peligros y calorías
al final de una cartografía terrestre
sostenida por tres elefantes
una tortuga gigante
y media hora de running diario.
Hoy es martes
son las 11:37 am
pero yo aún no consigo despertarme
y en algún lugar
está empezando a acabarse el mundo.

ESCATOLOGIA

Não gosto que me dirijam a palavra

pelas manhãs.

Não simpatizo com vozes entusiasmadas

antes do café da manhã.

Não sou uma pessoa matinal

seria uma prudente declaração

de um avatar que avisa os incautos

que aqui, no meio da floresta da vida,

os esperam os sete círculos do Inferno:

as paisagens decadentes da meia-idade

esses mapas planares

cheio de perigos e calorias

no final de uma cartografia terrestre

sustentada por três elefantes

uma tartaruga gigante

e meia hora de corrida diária.

Hoje é terça-feira

São 11h37 da manhã

porém eu ainda não consegui despertar

e, em algum lugar,

está começando o mundo a se acabar.

Ilustração; natanfrufino.com.br.

Ilya Kaminsky sim

 


ELEGY

Ilya Kaminsky

Yet I am. I exists. I has

a body,

When I see

 

my wife’s slender boyish legs

the roof

of my mouth goes dry.

 

She takes my toe

in her mouth.

Bites lightly.

 

How do we live on earth, Sonya?

If I could hear

 

you what would you say?

Your answer, Sonya!

 

Above all, beware

of sadness

 

On earth we can do

-can’t we?-

 

what we want.

 

ELEGIA

 

Ainda eu sou. Eu existo. Eu tenho

um corpo,

quando eu vejo

 

as longas pernas jovens da minha esposa

o céu

da minha boca fica seco.

 

Ela pega meu dedo do pé

na boca dela.

Bate ligeiramente.

 

Como vivemos na Terra, Sonya?

Se eu pudesse ouvir

 

você o que você diria?

Sua resposta, Sonya!

 

Acima de tudo, cuidado

com a tristeza

 

Na Terra podemos fazer

- não podemos?-

 

o que nós queremos.

Ilustração: Facebook.

 

INQUIETAÇÕES Nº 2

 


Há, certamente, sensações que nunca terei...
Viajar por uma estrela cadente
Sempre me passou pela mente
Ou acordar mais jovem de repente
Ou recuperar o amor que não amei.

 

Os sonhos me parecem mais reais
Quando me conscientizo agora
Que o tempo que já foi embora
Me exige ter prazer com a hora,
O minuto, o segundo e até mais,
Com coisas como a fé.

 

È preciso não me inquietar.
Surge como um raio o pensamento
De que a vida, como um breve vento,
Passa. Viva-se ou não, e tento
Olhando teu retrato não chorar
E voltar a respirar o mesmo ar.

 

Inútil. Inquietações ou desejos.
Mesmo que voltes, os beijos
Nem nós somos mais os mesmos
E não há mais razões nem ensejos
Para que exista a mesma paixão
E o mesmo amor que criou a ilusão
De que tivemos o mundo nas mãos.

Ilustração: Inquietações.


Sunday, July 28, 2024

Aurora Luque sim

 


BAREMO

Aurora Luque

Con la emoción pagana que extraje de los libros

y de la adolescencia

llegué al amor y he vuelto.

También he regresado del abismo

y casi no me asombran

los esfuerzos titánicos del arte

por aclarar la eterna turbiedad de los días.

ESCALA

Com a emoção pagã que se extraí dos livros

e da adolescência

cheguei ao amor e estou de volta.

Também regressei do abismo

e quase não me assombram

os esforços titânicos da arte

para esclarecer a eterna turvação dos dias.

Ilustração: Spirits Fanfics e Histórias.  

 

Os Alienígenas

 


Claro que nem sabe para

Onde nem porque

Nem para quê

Apenas sabe

Que é preciso, inadiável,

Inevitável fugir.

 

Qualquer estrada

Que siga

Para qualquer lugar

Há de te levar

Mesmo sem saber

Onde irá parar

Para onde queres ir

 

E, agora, só importa

Fugir, fugir, fugir

Que não há a menor dúvida

Que eles estão prestes a chegar

Que eles vêm rápido

Te pegar, te pegar, te pegar.

Ilustração: Legião dos Heróis.

Olha Kim Morrissey de volta

 


STEPFATHER

Kim Morrissey

Somewhere between the dark stain

on the tile

and the towels

heaped on the back of the toilet

you rest your case:

I may leave if I want

today you are giving me choices

 

I watch my head turn in the mirror

thin hair finger-brushed back

tied low on my neck like a bone

taste your hair at the back of my throat

tightly wound wires

riding the tip of my tongue

 

today is the day we make choices:

you or the foster home

you or the jail

 

 

 

PADRASTO

Em algum lugar entre a mancha escura

na telha

e as toalhas

amontoado na parte de trás do banheiro

você descansa do seu caso:

posso sair se eu quiser

hoje você está me dando escolhas

 

Eu olho minha cabeça girando no espelho

os cabelos finos recobrados com os dedos

amarrados no meu pescoço como um osso

gosto do seu cabelo atrás da garganta

fios bem apertados

enrolados na ponta da minha língua

 

hoje é o dia em que fazemos escolhas:

você ou a casa adotada

você ou a prisão

Ilustração: Blog Altar.

Antonella Taravella

 


Antonella Taravella

 il suono della tua pelle

mi apre lentamente

fino a farmi nuda

con le ossa

che tremano come foglie

e il desiderio che passa

sui contorni esposti

di ogni domani

 

 

o som da tua pele

me abre lentamente

até deixar-me nua

com os ossos

que tremem como folhas

e o desejo que passa

seus contornos expostos

de todo o amanhã

É Aurora Luque

 

MIMNERMIANA

Aurora Luque

La vida avanza a broncos

momentos corrosivos

de guerra entre el amor y entre la muerte.

Cada cual, su armadura.

Yo le presto metálicas palabras

y escudos al amor. Tan pobre es mi discurso

que la muerte lo vence con muy poco.

Al final de la noche

me deja derrotada

con mi copa ritual medio bebida.

 

Esto era envejecer.

Déjate de teatros y telones.

MIMNERMIANA

A vida avança acidental

em momentos corrosivos

de guerra entre o amor e a morte.

Cada qual, com sua armadura.

Eu te empresto palavras metálicas

e escudos para o amor. Tão pobre é meu discurso

que a morte o vence com muito pouco.

No final da noite

me deixa derrotado

com meu ritual meio copo de bebida.

 

Isto era envelhecer

Deixar de teatros e cortinas.

Ilustração: Guia Folha Uol.

Thursday, July 25, 2024

Poeminha sobre um dia maravilhoso


Hoje, meu bem, foi tão bom,

a vida ficou tão linda,

que resolvi te deixar

(para o tempo passar

e sentir saudades tuas)

para amanhã te encontrar 

e ser melhor ainda.

Monday, July 08, 2024

Gratidão, Senhor


É inadiável agradecer a Deus por tudo. 

Que podia ser melhor e diferente 

pode até merecer um estudo.

Contudo, me sinto bem contente.

Não tenho tudo que preciso,

o mundo não é nenhum paraíso,

porém quando olho nos teus olhos

 sinto que o sol vai nascer

e até na felicidade consigo crer. 

Ilustração: Ótica da Gente. 

Uma poesia de Ana Llurba


Paisaje y circunstancias I

Ana Llurba

La vista desde mi ventana en una residencia literaria en Cracovia enmarca un parque de inspiración versallesca. Sin embargo, lo único que escucho todo el día es el ringtone de las notificaciones del teléfono de mi vecina.

Paisagem e circunstâncias I

A vista da minha janela numa residência literária em Cracóvia emoldura um parque inspirado em Versalhes. Sem embargo, a única coisa que escuto todo o dia é o toque das notificações do telefone da minha vizinha.

Ilustração: Pinterest.

Uma poesia de Nora Hikari

 


IMAGO DEI

Nora Hikari

We cannot help but be students

of our fathers’ disciplines,

 

                       mine an avid disciple

                       of scripture and royalty.

 

What else can I confess?

That I was a child? I carved myself

 

                       into the civil shape of a knife.

                       Pared until only the edge remained.

 

I killed things because I could.

Magnifying glass and the sun

 

                       and the silent crawling things that

                       could not fight back.

 

That had no choice but to only

hope for mercy. Unable themselves

 

                       to beg. I confess. I was desperate

                       to know that I was not alone. Every day

 

we are made once more in the image of God.

Every day God asks, Cruelty again?

 

                       And every day we say, Oh Lord of Heaven,

                       please, yes, yes. Cruelty again.

IMAGO DEI (IMAGEM DE DEUS)

Nós não podemos deixar de ser estudantes

das disciplinas de nossos pais,

 

 Sou um discípulo ávido

 das escrituras e da realeza.

 

O que mais posso confessar?

Que fui criança? Eu me esculpi

 

 na forma civilizada de uma faca.

 Defendi até que apenas a lâmina permanecesse.

 

Eu matei coisas porque podia.

Ampliações de vidro e o sol

 

 e as coisas silenciosas e rastejantes que

 não poderiam revidar.

 

Que não tinham escolha a não ser apenas

esperar por misericórdia. Incapazes por si mesmos

 

 implorar. Eu confesso. eu estava desesperado

 sabia que não estava sozinho. Diariamente

 

somos feitos mais uma vez à imagem de Deus.

Todos os dias Deus pergunta: Crueldade de novo?

 

E todos os dias dizemos: Ó Senhor do Céu,

por favor, sim, sim. Crueldade de novo.

Ilustração: Brenda Pato.

 

Sunday, July 07, 2024

A Desconhecida

 


Esta beleza que em ti existe

Difusa, vaga, desmanchada,

Incompreensível

É que me faz,

Muitas vezes,

Buscá-la em vão

Quando penso ser possível.

E, quando menos espero,

Brilhante surges

O que me faz crer

Que és outra

Que nunca hei de conhecer

Sempre capaz

De perturbar meu coração!

Ilustração: Significado dos Sonhos on-line. 

De "Flores Dizpersivas". 

E, de volta, Gastón Carrasco Aguilar

 


Biblioteca Nacional

Gastón Carrasco Aguilar

Un niño hace equilibrio en las escalinatas
la madre vende cuadernillos de poesía
cosidos con lana roja.

Las rejas clausuradas hasta nuevo aviso
las mayúsculas BN envueltas en sus arabescos.

«La poesía está en la Klle», dice el lienzo
que ondea sobre gente que espera.

Caravanas y semillas se desplazan
impresión de cardumen
pañoletas y cámaras cuelgan de los cuellos.

Las primeras fumarolas de la tarde
saludan al cielo.

BIBLIOTECA NACIONAL

Uma criança se equilibra nas escadarias

a mãe vende livretos de poesia

costurados com lã vermelha.

 

Portões fechados até um novo aviso

as letras maiúsculas BN envoltas em seus arabescos.

 

«A poesia está no Klle», diz a tela

que ondeia para as pessoas que esperam.

 

Caravanas e sementes se movem

impressão de cardume

lenços e câmeras penduradas nos seus pescoços.

 

As primeiras fumaças da tarde

cumprimentam o céu.

Ilustração: Correio do Povo.