Monday, October 24, 2022

Cidade Maravilhosa, terra de encantos mil...

 

 

Já fui de Água Santa..Saudades tantas...

                             Para Luiz Carlos Marques

É verdade que,

Com esta memória vaga,

Não lembro mais nada.

Quanto mais quando

Vivi em Água Santa,

Tijuca, São Conrado, Niterói,

Vieira Souto

E estar longe do Cristo Redentor

Ainda me dói.

Dá saudades lembrar

Que comi rabicó de galinha na Penha,

tanajura em Bangu,

sardinha na Senador,

ou carpaccio de avestruz em Copacabana,

a memória,

a danada não me engana!

 

Torresmos, rabadas e carnes secas

Nunca faltaram na Zona Norte

Com cachaças, chopes, batidas.

E, para provar que sou forte

Me orgulho de já ter bebido,

Em procissão por pés sujos,

Guiado pelo Johnny Bradfort,

Quando ainda era magrinho

E bebia cachaça como se fosse água,

Tanto que queria me convencer

Que lutou no Canal de Suez!

 

Jurubebas, caipirinhas de limão cravo

Ou de pimenta rosa,

Juro, já me deixaram cheio de prosa

Me alimentando só de linguiçinha de porco,

Uns croquetes do Rebouças

ou bolinhos de aipim ou de bacalhau-

o que não é nada mau!

 

Afinal ser carioca

Não é nascer no Rio de Janeiro-

Este é um requisito maneiro.

Ser carioca

É aceitar o desafio

De buscar nesta cidade

O que ela tem de bom e de melhor...

Assim, meu companheiro,

Qualquer hora desembarco

Para aceitar seu desafio,

Com chuva ou sem,

De usufruir o melhor da vida:

Viver no Rio

O AVISO DO BOM BANDIDO

                       


                                          

                                                               "Os que tem posições de comando não devem abusar. Antes                                                                          devem iluminar com a sua luz os que vivem na sombra"                                                                                (Nilton Santos). 

Ora, senhor, se nada queres dar

como pretendes, então, manter teu reino?

Palavras e a fé não são jamais,

sem o apoio eficaz de algumas armas, 

possíveis de assegurar a paz. 

Se não quiseres abrir a bolsa

lembra que quanto melhor a louça, 

mais fina e delicada ela é, 

mais fácil de quebrar 

por qualquer coisa. 

Até agora somente admirei

a loja tão bonita que tu tens,

mas nenhum dos meus macacos já soltei. 

Pensa bem, 

reflete de verdade

e vê que é só um gesto de amizade 

abre tua bolsa que não te perturbarei. 

Depois não digas

que não sou teu amigo.

Depois não digas 

que não te avisei. 


MANIFESTO DA DIVERGÊNCIA


Eu quero festa.

E não há festa. 

Eles não desejam que haja festa

e até inventam que, 

por desejar viver a vida

sou terraplanista, 

sou negacionista, 

um ser que não respeita a ciência. 

Que devo ter paciência 

com o toque de recolher

perdi o direito 

de ser alegre

(até de me embriagar me impedem),

não tenho o direito e ir e vir

e me dão como motivo 

o bem estar coletivo

para me obrigar a ficar 

entre quatro paredes cativo. 

Eles fecham tudo. 

Eles sabem de tudo, 

menos como acabar com a epidemia

ou me explicar 

como a inflação e a fome, 

sem produção, 

vão evitar. 

Uma coisa sei que sabem:

é roubar a nossa liberdade!!!

Ilustração: Projeto Colabora. 

O UNGIDO


Quando, sob aplausos, subiu no palco,

e começou a falar como um profeta,

alguns disseram deve estar de porre

e os insensatos:grande é a sua meta. 

Bradou bem forte contra a iniquidade, 

esbravejou contra a corrupção, 

para todos prometeu o pão,

e que vinha para mudar os costumes, 

que encarnava a vida e a verdade.

Exortou a todos, e todas, a seguir

suas palavras e seu comando,

que o passado para trás deixassem

como se tudo com ele começasse. 

E dali por diante, a seu mando

que beijassem o chão onde passasse. 

Porém, no seu delírio de grandeza

nada além de palavras oferecia

e só alimentava os de sua mesa,

enquanto o resto de fome padecia, 

apesar das migalhas que oferecia. 

Custou, talvez, duas décadas 

enganando o povo com ração

até a rápida e cruel decepção 

movida por, cada vez maior,

desobediência e revolta. 

Mas, o predestinado, 

sem a menor paciência,

pois se dizia detentor da ciência, 

para ficar no poder

perseguiu e matou 

um terço da população,

antes de, estrepitosamente, 

se esborrachar no chão!

Uma poesia de Carmen del Rio Bravo

 


DE NUEVO

Carmen del Río Bravo

Te enamoras de nuevo. Sientes que quieres de un modo diferente. Se te acelera el pulso cuando lo ves, cuando lo presientes, cuando lo recuerdas, cuando lo sueñas, cuando ni lo echas de menos. La piel se te vuelve viva, y hambrienta. Te descubres alerta, más carne y más deseo. Todo tiene olores y colores y sabores y sonidos de estreno. Y el tacto... hasta el papel adquiere uno más intenso, es mucho más suave y más rugoso.

Y a veces lo consigues. Eres correspondida. Todo parece diferente, nunca has sido tan piel, nunca tan sueño, nunca has volado tan alto tocando tanto el suelo.

Pasa el tiempo. Y un día amaneces con frío y cuando estiras el brazo no encuentras nada con que abrigarte. O lo que encuentras no abriga ya. Y poco a poco -no se suele tirar bruscamente- se agranda la distancia. Y te das cuenta de que hace tiempo que no te acaricia un folio ni te huele la sal en la cocina. Ya ni te mete mano la toalla. Y no hay más cera que la que arde. Y ésta no quema

Después de algún tiempo lo que más echas de menos es a ti misma en vuelo -en celo-. Tu carne, tu deseo, tu conciencia... Ya estás lista. De nuevo.

DE NOVO

Você se apaixona novamente. Sentes que queres de uma maneira diferente. Te acelera o pulso quando vai vê-lo, quando o pressente quando o lembra, quando sonhas com quando pensa  que o perdeu. A pele volta a ser viva e faminta. Te  descobres alerta, mais carne e mais desejo. Tudo tem cores e cheiros e sabores e sons de estréia. E o tato ... até o papel adquire uma forma mais intensa, é muito mais suave e mais repleto de saliências.

E às vezes o consegues. És correspondida. Tudo parece diferente, nunca há sido tão pele, nunca tanto sonho, nunca hás voado tão alto, tocando tanto o chão.

O tempo passa. E um dia amanheces com frio e quando esticas o  braço não consegues encontrar com que abrigar-te. Ou o que  encontras não te abriga mais. E, pouco a pouco, não se tira bruscamente- se alarga a distância. E se dá conta que, faz tempo não acaricia um pedaço de papel ou não sente o cheiro do sal na cozinha. E não recebe a mão ou toalha. E não há mais a cera  que  arde. E esta não queima.

Depois de algum tempo o que mais sente falta é de ti mesmo -em  vôo-em zelo-. Tua carne, teu desejo, tua consciência ... Estás pronta. De novo.

Ilustração: https://pt.aleteia.org/.

 

 

 

Sunday, October 23, 2022

CANTO BRANCO DE AMOR

Amo a brancura de tua pele

quando me fere

com sua doce entrega. 

O bico azul de teus seios, 

fontes de mel, nascedouros de  prazeres,

portos de precipícios de desejos, 

brinquedos lúdicos de sonhos infantis. 

Ainda sinto teus beijos,

muito tempo depois, 

no meu sono 

e ainda guardo os ardores insaciados,

os desejos guardados, 

ansiosos por poderem se expandir 

atrás de ti, 

como fantasmas da paixão,

que rondam as terras desconhecidas

atrás da flor fugaz do gozo, 

flor preciosa, 

entre as pernas

nos brancos campos de neves 

onde nunca chegaram 

a maciez ávida de minha língua, 

seca ainda, chorosa à míngua

dos líquidos que hão de brotar, 

do germinar sem fim 

do amor que há em ti,

que há em mim 

e quer te ver esposa, menina , mulher

a gemer, gritar, dizer 

que existe sim, 

que te guardastes tanto, 

de modo quase santo, 

a esperar por uma festa assim, 

a esperar tanto amor, 

a esperar por mim! 

DIRETOR SEM DIREÇÃO


Não há direção perfeita, 

nem perfeita tomada, 

ator que, por mais experiente, 

não perda o tempo da ação, 

quanto também se perdeu a direção. 

Às vezes, esqueço a cena,

a câmara, o som, o que desejo filmar.

É quando sinto que nada funciona bem 

e tudo se parece demais com a minha vida. 

Só falta, querida, para a tragédia se consumar

me avisar que não vai voltar, 

que já sabia,

que sou um desastre de direção,  

um fracasso certo de bilheteria.  

Ilustração: Geeks em Ação. 

Saturday, October 22, 2022

Uma poesia de Aline Mello

 


THE IMMIGRANT

Aline Mello

will become a pessimist                            eventually

trying to find what’s lost                           will ransack the house

the overstayed visa                                     the recipe book

the birth certificate                                     the first passport

nowhere                                                        to be found

the immigrant                                             will travel

drive with the windows down                  stop at the rest stops

always in search                                          trying to find more

of what made you leave                             because nothing can satisfy

the first time around                                  there is something that pushed you out

this is the horrible secret                           this is the terrible secret

the immigrant always an immigrant       there is no returning

 

 

 

O IMIGRANTE

irá se tornar um pessimista                       eventualmente

tentando encontrar o que perdeu               irá saquear a casa

o visto vencido                                            o livro de receitas

a certidão de nascimento                             o primeiro passaporte

nenhum lugar                                                 para ser encontrado

o imigrante                                                irá viajar

dirigir com as janelas abertas   parar nas paradas de                                                                                                                                    descanso

procurando sempre                                    encontrar mais

do que deixou                                            porque nada pode satisfazer

aceca da primeira vez,                               há algo que o empurrou para fora

este é o segredo horrível                           este é o segredo terrível

o imigrante sempre imigrante                   não tem retorno.

Ilustração: CDHIC.   

Uma poesia de David López Sandoval

 


TODOS ESOS ESPEJOS

David López Sandoval

Todos esos espejos  

en los que un día me miré,¿qué imagen
guardan de mí?, ¿qué parte de mi vida
rebalsan? ¿Qué ocasiones
cabrillean aún sobre sus ondas?

 

TODOS ESSES ESPELHOS

Todos esses espelhos

em que um dia me olhei que imagem

guardam de mim? Que parte da minha vida

revelam? Que ocasiões

resplandecem ainda sobre suas ondas?

Ilustração: Minilua.  

Wednesday, October 19, 2022

DE REPENTE....O DESEJO




Existe sempre algo que nos faz querer.

Cair no risco bobo de se desejar.


e como é bom sentir vontade de amar

quando a paixão nos pega

em qualquer lugar.

 

Quando sutilmente

Só há no pensamento

a ideia de que beijar

a mulher que se ama

é o único intento.

É simples assim...

Não existe explicação.

o amor é como o vento

que vem, de repente,

sussurrar 

que é hora de amar,

ser feliz e viver contente!!

Ilustração: Estante Diagonal. 

SONETO DO AMOR RECOMPOSTO

 


Ah! Meu amor, não sei do que você reclama!

Na vida não há, como se deseja, a perfeição,

O tudo andar nos trilhos é uma grande ilusão,

Pois, onde há o encanto há também a lama. 

 

Na vida existe a arte, a maldade, o desespero.

Somente nos romances o verdadeiro amor

Transcorre como uma sinfonia. De fato, a dor

É do cotidiano, de toda paixão, o real tempero.

 

Toda relação, por maior que seja a delicadeza,

Envolve renúncias, silêncios... a tristeza

Que só com doçura e o bem querer se supera.

 

A construção do amor é a morte de ideais,

E só temos certeza de que amamos muito mais,

Quando se recria a vida da forma que não era!

Saturday, October 15, 2022

Viver é preciso

 


Em tudo o que vivemos,

Há a vida real e a imaginada,

Que, quanto, mais desejada,

Parece menos com a que temos,

Que insiste em não nos dar nada,

Por ser tão difícil e errada.

 

Mas, a vida é verdadeira.

Para o mal ou para o bem,  

Podendo, ou não, explicar

Temos, de qualquer maneira,

De viver a vida que se tem

E não a que se vive a sonhar.

Ilustração: Medium. 

Uma poesia de Rafael Arévalo Martinez

 


MI VIDA ES UN RECUERDO

Rafael Arévalo Martínez

Cuando la conocí me amé á mí mismo.

Fué la que tuvo mi mejor lirismo,

la que encendió mi obscura adolescencia,

la que mis ojos levantó hacia el cielo.

 

     Me humedeció su amor, que era una esencia,

doblé mi corazón como un pañuelo

y después le eché llave á mi existencia.

 

     Y por eso perfuma el alma mía

con lejana y diluida poesía.

MINHA VIDA É UMA MEMÓRIA

Quando a conheci me amei a mim mesmo.

Foi a que teve meu melhor lirismo,

a que incendiou minha obscura adolescência,

a que levantou meus olhos até o céu.

 

Me umedeceu seu amor, que era uma essênai,

dobrou meu coração como um lenço

e depois se fez a chave da minha existência.

 

E por isto perfuma minha alma

com a distante e diluída poesia.

Ilustração: Cursos CPT.

Uma poesia de Tobi Kassim

  


A BLIND SPOT, AWASH

Tobi Kassim

And if I give up on consequences

is that despair 

or passion? I can’t protect 

myself from either. The lantern swinging 

bearing down, pressing the dark 

to a sliver 

of shade at the edges of my field 

of vision. My body alight in 

the seat of this question and indecisive-

if to be moved through,

                         de-throated, 

the groove in the thoroughfare.

 

I felt reduced waking up

 

crumpled by the water, an amniotic curve

along the shore. My only shape

was having been carried,

left at rest. And everything

I thought I could lose—

when I followed the rushes back, resurfaced.

 

Wings tucked just so or grasses threaded

gently from ear to ear, rewiring their small

skulls. I understood the first mercy 

             of diving is blindness, those parachutes blooming

                        the drag that yanked me back

to my body, almost touching my lungs.

 

UM PONTO CEGO, INUNDADO

E se eu desistir das consequências

é aquele desespero

ou paixão? Eu não posso proteger

a mim mesmo de outros. A lanterna balançando

derrubando, pressionando o escuro

por uma lasca

de sombra nas bordas do meu campo

de visão. Meu corpo aceso com

a sede desta questão e indeciso-

se mover além,

                          degolado,

o sulco na via.

 

me sinto reduzido ao acordar

 

amassado pela água, uma curva amniótica

ao longo da costa. Minha única forma

estava sendo levada,

deixada em repouso. E tudo

Eu pensei que poderia perder-

quando eu segui os juncos de volta, ressurgiu.

 

Asas dobradas assim ou gramas enfiadas

suavemente de orelha a orelha, religando seus pequenos

crânios. Eu entendi a primeira misericórdia

              do mergulho é a cegueira, aqueles pára-quedas florescendo

                         o arrasto que me puxou de volta

para o meu corpo, quase tocando meus pulmões.

Ilustração: Dreamstime.

Wednesday, October 12, 2022

Canção do Amor Demais


Vem,

que te quero tanto que me dói.

O coração, o corpo, a alma dói.

Vem,

que meu sangue se esvai sem furo algum

com tanta saudade como não deve ter amor nenhum.

Vem, 

que este amor,

que é tão grande em mim,

doendo tanto assim, 

quer apenas, com tua flor, 

aprender o prazer de ser 

e florescer com  tanto amor 

para fazer, da cama, um jardim. 

Ilustração: O segredo. 

 

POR TRÁS DAS LUZES



Hoje tudo a todo instante

se deseja mostrar on-line.

Se o presidente coça o saco, 

se a primeira dama rasga a saia, 

se o primeiro ministro cospe, 

o velório do anônimo do momento,

da rainha no esquecimento,

se alguém que joga bem

larga o taco

e descobre que bom 

é mudar de buraco

ou se a CIA paga à AT&T

milhões para vigiar dados eletrônicos,

que criam a sensação de que seja capaz

de controlar espiões e grupos guerrilheiros

pagos para espiar também.

De fato sempre é preciso 

mostrar serviço

para justificar que existam agências, 

que nunca nos salvarão do perigo.

Mas a mídia, os políticos e os mafiosos, 

exigem o medo e os segredos

para que, de alguma forma,

se mantenha o povo crente 

de que está seguro, 

apesar das brumas do mundo escuro, 

da dark deep,

de que já andam entre nós 

os andróides 

e esta sensação angustiante

de que vem, em direção a nós,

um asteróide, 

porém, que as manchetes 

garantem que foi destruído,

mesmo ouvindo 

da explosão 

o imenso ruído!

Ilustração: Cinéfilos para Sempre. 

Monday, October 10, 2022

Versinhos sobre a beleza das tuas pernas

Até as moscas gostam das tuas pernas

e os carapanãs picar as adoram 

com a sofreguidão 

dos que amam as coisas gostosas.  

Elogio que são belas

e você me manda dormir

como se bêbado estivesse!

Mas, antes, sem poder usufruir

também delas,

sinto-me como um Van Gogh 

diante das telas

e faço esses versinhos bobos, 

que por aí irão circular, 

sobre tuas pernas

na esperança de que, pelo menos, 

nas palavras 

sejam eternas,

porque sou incapaz de pintar!

Uma poesia de Marwa Helal

 


the poem is a dream telling you its time

Marwa Helal

 

is a field 

             as long as the butterflies say 

                                                                       it is a field 

 
with their flight

 
                                         it takes a long time 

to see

                         like light or sound or language

                                                                                      to arrive

and keep 
                         arriving

 
 
                                       we have more

than six sense dialect

                                                                      and i

am still

              adjusting to time

 
                              the distance and its permanence

 
i have found my shortcuts

 
                             and landmarks

                                                          to place

 
where i first took form

                                                                                           in the field

 

O POEMA É COMO UM SONHO CONTANDO

é um campo

             sobre o qual as borboletas dizem

                                                                       é um campo

 com seus vôos

                                         tomam um longo tempo

para ver

                         como luz ou som ou linguagem

                                                                                 para  chegar

e guardar

                         a chegada

                                       nós temos mais

do que dialeto dos seis sentidos

                                                                      e eu

ainda estou

              ajustando-me ao tempo

                              à distância e sua permanência

eu encontrei meus atalhos

                             e marcos

                                                          dos locais

onde eu tomei forma pela primeira vez

                                                                                          no campo

Ilustração: Tavares, Lotes e Terrenos.