era como entrar em
velocidade na contramão.
E, ao olhar para a cabine
do piloto,
reconheci, de pronto, o
cara louco
que, ontem, bebia vodca
como se fosse água.
Nem pensem que extravaso
alguma mágoa.
Não. Devo reconhecer que
devia ter descido,
mas, a vida, de qualquer
modo, é um perigo,
de forma que fiquei e
depositei minha confiança
na estatística, que me
informa que uma queda
é mais difícil do que
ganhar na loteria.
Agora, com este
descalabro, este balançar,
como se fosse bola de
pingue pongue,
sinto que errei, que fiz o
que não devia.
Talvez tenha sido o fato
de que esta companhia,
além de cumprir horários,
nunca perdeu uma nave,
esqueci que avião é
pesado, não é ave,
e o passado nada informa
sobre o futuro.
Na verdade, só nos resta
rezar,
principalmente, vendo o
medo, é duro,
que se vê no olhar da
comissária,
depois de falar com o copiloto.
Não é hora de procurar
culpados.
Mortos não culpam ninguém
e também nenhuma culpa
tem.
Vão passar anos
investigando
e, depois, numa breve
nota
dirão que foi erro humano
ou de manutenção.
Nada de chorar.
Encare as coisas com
isenção:
pegamos o voo errado.
É
muito azar!
Ilustração:
e-destinos.com.br.
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