Poemas malcomportados, audaciosos, atrevidos na sua forma de falar, no seu querer dizer a verdade sem medo, sem pudores, sem velar uma linha sequer.
Poemas que batem de frente com a verdade, com a realidade, lembram e relembram o passado, sem jamais deixar de falar e até cultuar o presente.
São poemas que não fogem ao seu destino, viscerais que são falam do mundo em que vivemos de forma nada pueril, simplesmente porque eles querem a todo custo contar e gritar as verdades que estão por aqui escondidas em guetos, tentando fugir do medo e da fragilidade, mostrando que a palavra tem seu poder, sem comportamento indomável.
Tuesday, November 30, 2021
De "Poemas Malcomportados"
De "Cem Poesias em Cem Dias"
Outra poesia de Ralph Angel
TIDY
Ralph Angel
I miss you too.
Something old is broken,
nobody’s in hell.
Sometimes I kiss
strangers,
sometimes no one speaks.
Today in fact
it’s raining. I go out on
the lawn.
It’s such a tiny garden,
like a photo of a pool.
I am cold,
are you?
Sometimes we go dancing,
cars follow us back home.
Today the quiet
slams down
gently, like drizzled
lightning,
leafless trees.
It’s all so tidy,
a fire in the living
room,
a rug from Greece,
Persian rugs and pillows,
and in the kitchen,
the light
fogged with windows.
ARRUMADO
Eu também sinto falta.
Alguma coisa velha está
quebrada,
ninguém está no inferno.
Às vezes eu beijo
estranhos,
às vezes ninguém fala.
Hoje, de fato,
está chovendo. Eu saio no
gramado.
É um jardim tão pequeno,
como a foto de uma
piscina.
Estou com frio,
você está?
Às vezes nós vamos
dançar,
carros nos seguem na
volta para casa.
Hoje o sossego
bate no chão
gentilmente, como chuviscado
raio,
árvores sem folhas.
É tudo tão arrumado,
um incêndio na sala de
estar,
um tapete da Grécia,
Tapetes e travesseiros
persas,
e na cozinha,
a luz
embaçada das janelas.
Ilustração: Living
Gazette.
Uma poesia de Isabel Zapata
Razones
para no pisar a un caracol
Isabel
Zapata
Porque son machos y hembras al
mismo tiempo.
Porque su concha crece con ellos.
Porque Apicio los cocinaba con vísceras de pescado fermentadas.
Porque su baba quita las arrugas.
Porque su apareamiento dura tres horas.
Porque tienen veinte mil dientes microscópicos.
Porque el papa Pío V dijo que eran peces para poder comérselos en cuaresma.
Porque duermen siestas de una semana.
Porque Leonardo da Vinci los preparó con mantequilla y perejil.
Porque caminan con el estómago.
Porque crujen, pero saben amar sin rigidez.
RAZÕES PARA NÃO PISAR NUM CARACOL
Porque
são machos e fêmeas ao mesmo tempo.
Porque
sua concha cresce com eles.
Porque
Apicius os cozinhava com vísceras de pescado fermentadas.
Porque
sua baba apaga as rugas.
Porque o
seu acaslamento dura três horas.
Porque
têm vinte mil dentes microscópicos.
Porque o
papa Pio V disse que eram peixes para poder comê-los na quaresma.
Porque
dormem siestas de uma semana.
Porque Leonardo
da Vinci os preparou em manteiga e salsa.
Porque
caminha com o estomago.
Porque
rugem, mas sabem amar sem rigidez.
Ilustração:
Superinteressante.
Monday, November 29, 2021
Vamos mais rápido com Guillaume Apollinaire
ALLONS PLUS VITE
Guillaume Apollinaire
Et le soir vient et les lys meurent
Regarde ma douleur beau ciel qui me l'envoies
Une nuit de mélancolie
Enfant souris ô soeur écoute
Pauvres marchez sur la grand'route
O menteuse forêt qui surgis à ma voix
Les flammes qui brûlent les âmes
Sur le boulevard de Grenelle
Les ouvriers et les patrons
Arbres de mai cette dentelle
Ne fais donc pas le fanfaron
Allons plus vite nom de Dieu
Allons plus vite
Tous les poteaux télégraphiques
Viennent là-bas le long du quai
Sur son sein notre République
A mis ce bouquet de muguet
Qui poussait dru le long du quai
Allons plus vite nom de Dieu
Allons plus vite
La bouche en coeur Pauline honteuse
Les ouvriers et les patrons,
Oui-dà oui-dà belle endormeuse
Ton frère
Allons plus vite nom de Dieu
Allons plus vite
VAMOS MAIS RÁPIDO
E a noite vem e os lírios
morrem
Olha a minha dor, belo
céu que me envias
Uma noite de melancolia
Sorriso de criança oh
irmã escuta
Pobres marcham pela
estrada principal
Ó floresta mentirosa que
surge com a minha voz
As chamas que queimam as
almas
Sobre o Boulevard de
Grenelle
Trabalhadores e patrões
Árvores de maio esta
renda
Então não sejas fanfarrão
Vamos mais rápido, em
nome de Deus
Vamos mais rápido
Todos os postes
telegráficos
Vão ali ao longo do cais
Nossa república sobre seu
seio
Coloque este buquê de
lírio do vale
Que fica melhor junto ao
cais
Vamos mais rápido, em
nome de Deus
Vamos mais rápido
Boca no coração Pauline tímida
Trabalhadores e patrões,
Sim-sim-sim bela adormecida
Teu irmão
Vamos mais rápido, em
nome de Deus
Vamos mais rápido
Ilustração: https://www.runtastic.com/.
Uma poesia de Sophie Robinson
WE TOO ARE
DRIFTING
Sophie Robinson
our tenderness being muttered up by other
people I lie awake twisting & stripped
of physical dwelling; hips with the same
feeling finding myself mumbling ‘I’m sorry
we jerked’ & your mouth is a place to go
a place where the human need for (relative)
peaceful sanctuary can collect itself –
suck me –nuzzle me – foster me–
we are
in our separate spaces mouths mouthing
along to the words of the film Patch Adams
& learning that returning to “home” as an
adult promotes restlessness; but let’s keep
kissing & dipping with friction against
the softness of ‘Hum Sweat Hum’, licking punk
I found myself dwelling in the conceptual
heart of nonsense breaking up, I have two
hands to cope with his death by values by
economix, we are locked in structure in
spite of our nylon surgings, them being
reduced to slits of marginal import &
we know better huh, & yes you the
eternal optimistic you turn to me & say
that it’s good to get perspective on a
perspective even when the sky’s so black
with clouds it looks like night (upon which
you would remark at least that we are less
visible under extreme conditions &
besides we have more fun after dark)
NÓS TAMBÉM ESTAMOS À DERIVA
nossa ternura sendo silenciada por outras
pessoas eu minto desperta torcida &
despojada
da morada física; as cadeiras com a mesma
sensação de falar-me a mim mesma murmurando ‘o
sinto
pegamos’ & tua boca é um lugar para ir
um lugar onde a humana necessidade de
(relativos)
santuários pacíficos pode reunir-se em si mesma
–
chupa-me – acaricia-me– acolhe-me–
estamos
em nossos espaços separados bocas murmurando
através das palavras do filme Patch Adams
& aprendendo que regressar à “casa” como
adultos promove a intranquilidade; porém sigamo-nos
beijando & molhando com fricção contra
a suavidade de ‘casa doce casa’, lamento punk
me encontro a mim mesma vivendo no coração
conceitual da ruptura sem sentido, tenho duas
mãos para lidar com esta morte por valores por
economia, estamos encerrados na estrutura
apesar de nossa demanda de nylon que se
reduz a retalhos de importação marginal &
nós sabemos melhor eh, & se tu a
eterna otimista voltas até mim & dizes
que isto é bom para tomar perspectiva
uma perspectiva inclusive quando o céu é tão
negro
com nuvens que brilham como a noite (sobre a qual
remarcarias que, pelo menos, somos menos
visíveis sob condições extremas &
ademais nos divertimos muito mais depois da escuridão)
Ilustração: https://cosmonerd.com.br/.
O sempre notável Ángel González
LA
VERDAD DE LA MENTIRA
Ángel
González
Al
lector se le llenaron de pronto los ojos de lágrimas,
y una voz cariñosa le susurró al oído:
—¿Por qué lloras, si todo
en ese libro es de mentira?
Y él respondió:
—Lo sé;
pero lo que yo siento es de verdad.
A
VERDADE DA MENTIRA
Ao
leitor se encheram de pronto os olhos de lágrimas,
e
uma voz carinhoso o sussurrou ao ouvido>
-Por
que choras, se tudo
neste
livro é de mentira?
E
ele respondeu>
-Eu
sei;
porém
o que eu sinto é de verdade.
Ilustração:
A mente é maravilhosa.
Sunday, November 28, 2021
TRIBUTO A UMA THURMAN
Ser Uma Karuna Thurman
não é destino para qualquer um.
Antes de mais nada
é indispensável ter pés, mãos e nariz grandes
sem perder o charme e a calma
e ter um olhar que traz o céu,
revela o mar e a alma,
mas pode ser o inferno
para quem não perceber
que se trata de alguém nascida
para vencer qualquer obstáculo.
Uma
é uma atriz sem limites,
uma diva.
Com um simples olhar,
como sua personagem,
é capaz de matar qualquer ilusão
de que não seja capaz de roubar
o seu coração! http://www.litteriseditora.com.br/
Ilustração: Warner Bros.
(De "Poemas Malcomportados", Editora Litteris (http://www.litteriseditora.com.br/.),2021).
Uma poesia de Ralph Angel
THIS
Ralph Angel
Today, my love,
leaves are thrashing the
wind
just as pedestrians are
erecting again the buildings of this drab
forbidding city,
and our lives, as I lose
track of them,
are the lives of others
derailing in time and
getting things done.
Impossible to make sense
of any one face
or mouth, though
each distance
is clear, and you are
miles
from here.
Let your pure
space crowd my heart,
that we might stay awhile
longer amid the flying
debris.
This moment,
I swear it,
isn't going anywhere.
ESTE
Hoje meu amor,
As folhas sacodem o vento
assim como os pedestres
estão erguendo de novo os edifícios desta monótona
cidade proibida,
e nossas vidas, conforme
eu as perco,
são as vidas de outros
descarrilando no tempo e
fazendo as coisas.
Impossível sentir
qualquer rosto
ou boca, embora
cada distância
seja clara e você esteja
a milhas
daqui.
Deixo sua pureza
de espaço reinar no meu
coração,
para que possamos ficar
mais um pouco no meio dos
destroços do voo.
Este momento,
eu juro,
não vai a lugar nenhum.
Ilustração: https://br.freepik.com/.
XLIV
São essas coisas tão simples,
que ninguém vai entender,
que me fazem ver
como viver contigo é tão bom.
O beijo pela manhã,
a discussão sobre o que teremos na
refeição,
as visões diferentes sobre a vida,
esta tua forma tão louca e tão
querida
de, às vezes, me dizer
como devia ser melhor.
Ainda que saiba
que não tem jeito
procuras ensinar ao velho papagaio
novos truques
com a obsessão das boas professoras
e me castigas com beijos,
enquanto bebemos vinho
e me dizes
que serei teu último homem –
o que não acredito –
e que com outro
não poderá mais ser feliz
zombando do tamanho
do meu nariz.
Ilustração: Feche a porta quando sair: coisas simples.
Outra poesia de Manuel Machado
MELANCOLÍA
Manuel Machado
Me siento, a veces,
triste
Como una tarde del otoño
viejo;
De saudades sin nombre,
De penas melancólicas tan
lleno...
Mi pensamiento, entonces,
Vaga junto a las tumbas
de los muertos
Y en torno a los cipreses
y a los sauces
Que, abatidos, se
inclinan... Y me acuerdo
De historias tristes, sin
poesía... Historias
Que tienen casi blancos
mis cabellos.
MELANCOLIA
Me sinto, às vezes,
triste
Como uma tarde de um
outono velho;
De saudades sem nome,
De penas melancólicas tão
pleno...
Meu pensamento, então,
Vaga junto aos túmulos
dos mortos
E em torno dos ciprestes
e dos salgueiros
Que, abatidos, se
inclinam...E me recordo
De histórias tristes, sem
poesia...Histórias
Que põem quase brancos
meus cabelos.
Ilustração: https://medium.com/.