Wednesday, March 04, 2020

ELEGIA À PORTO VELHO ANTIGA



Na noite enluarada, doce, feita para o amor           
escuto os teus ruídos.
Aqui um carro em louca disparada.
Ali os latidos de cães vadios.
Longe uns gemidos inconfundíveis de prazer
e, em qualquer canto, uma canção de alegria
que, em outros versos, canta
    o eterno encanto
                de tuas madrugadas.


Há, em tudo que se passa, um pouco
daquilo que tu és:
ruas vazias, becos longínquos,
bares abertos, bocas molhadas,
facas, revolveres, ouro, lama, prata
e o gosto, muito humano, de viver
que transmite o teu calor escaldante
mesmo quando a chuva cai.
Em todo canto a mesma indagação.
A mesma perplexidade sobre o sentido
                                                das coisas,
embora tu não tenhas perguntas
                              nem respostas:
Tu és o mistério e o paradoxo.

E, quando despertas, na manhã,
Porto Velho, resplandecente de luz,
rodeada de verde, cercada
de uma floresta de água,
sinto que a poeira que te veste
tem qualquer coisa de divina, de celeste,
                                            de irreal....
Como um véu transparente que cobre
o rosto da mulher amada.

Ilustração: Bing.

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