Wednesday, May 31, 2017

Uma poesia de Lucille Clifton

CRUELTY                        
Lucille Clifton

cruelty. don’t talk to me about cruelty
or what i am capable of.

when i wanted the roaches dead i wanted them dead
and i killed them. i took a broom to their country

and smashed and sliced without warning
without stopping and i smiled all the time i was doing it.

it was a holocaust of roaches, bodies,
parts of bodies, red all over the ground.

i didn’t ask their names.
they had no names worth knowing.

now i watch myself whenever i enter a room.
i never know what i might do.

CRUELDADE

crueldade. não me fales de crueldade
ou do que sou capaz.

quando buscava as baratas que morriam eu as quis bem mortas
e as matei. Peguei-as com uma escova contra o seu ninho

e as esmaguei  e as fatiei sem aviso prévio
sem parar e sorrindo enquanto o fazia.

foi um holocausto de baratas, corpos,
restos de corpos, tudo vermelho por todo chão.

não me perguntem seus nomes.
não tinham nomes que se merecesse conhecer.

agora sempre me vigio ao entrar em uma quarto.
nunca sei o que posso chegar a fazer.

Ilustração: Qual a grande ideia?.


Uma poesia de Ernestina Elorriaga

-VIII-                                              
Ernestina Elorriaga

El mantel de hilo
tenía bordadas flores azules
palabras
                   agitado por sus manos
descendía estremeciendo el aire
las flores por momento
parecían quebrarse
                  quedar desordenadas
los brazos de mi madre repetían el movimiento
mis ojos la seguían
el mantel     los brazos
          los brazos      el mantel
las palabras

no sé
qué vientos precipitaron
el derrumbe de la nada sobre esa mesa.

-VIII-

A toalha de linho
tinha flores azuis bordadas
palavras
                    agitadas por suas mãos
desciam estremecendo o ar
as flores por um momento
pareciam quebrar-se
                   ficando desordenadas
os braços da minha mãe repetiam o movimento
meus olhos a seguiam
a toalha os braços
    os braços    a  toalha
as palavras

não sei
que ventos precipitaram 
o derramamento do nada sobre essa mesa.


Ilustração: Mozart Melo - Leiloeiro Oficial. 

Tuesday, May 30, 2017

Uma poesia de Aleyda Romero


A veces

Aleyda Romero                                           


 “Sucede que me canso de ser  hombre”                   Walking Around.. Pablo Neruda.                         

Sucede que me canso de ser mujer.                     
De mis dolores de siempre,                             
y mi amargura mensual.                                 
Me cansa la faena, la rutina, el apuro                 
por  las “cosas importantes”,                         
me cansa tener que llegar siempre a la misma hora,     
Salir atropellando sueños,                             
sobrevivir a dentellada limpia.                       
Me canso de ensordecer y enmudecer a veces,           
Me cansa la radio, la televisión…                     
estos años que se me vienen encima                     
sin ningún respeto, esta memoria que cavila           
con fechas y nombres que fueron importantes.           
La tristeza y hasta la felicidad                       
me aterra, puede ser un mal presagio.                 
No me cansa la sonrisa de aquel niño mío,             
Un libro, un atardecer, un poema, un buen amigo       
y  la visión de aquel ángel.                 


Às vezes

"Sucede que eu sou cansado de ser um homem"
Caminhando em torno .. Pablo Neruda.

Sucede que me canso de ser uma mulher.
De minhas dores de sempre,
e minha amargura mensal.
Me cansa a tarefa, a rotina, a urgência
pelas "coisas importantes"
me cansa ter de chegar sempre à mesma hora,
sair atropelando sonhos,
sobreviver à mordida limpa.
Me canso de ensurdecer e emudecer, às vezes,
me cansa o rádio, a televisão ...
estes anos que me vieram em cima
sem nenhum respeito, esta memória que paira
com datas e nomes que eram importantes.
A tristeza e até mesmo a felicidade
me apavora, pode ser um mau presságio.
Não me cansa o sorriso daquele filho meu.
Um livro, um pôr do sol, um poema, um bom amigo
e a visão daquele anjo.


Ilustração: Marcelo Simões – blogger. 

Monday, May 29, 2017

Uma poesia de Carmen Pallarés



Museo de curiosidades (sala once)
              
Carmen Pallarés                                              

                                                                    A Pedro Molina Temboury

Abre las puertas
—¡sésamo!— museo de curiosidades.
Lo más raro es el beso, lo más raro;
sus leyendas florales, sus familias,
la estupenda memoria de los niños.
Lo más raro es el viento, son
sus labios, sus labios que ahora besan
en los míos y en ellos van volviéndose
inocentes. Lo más raro es el alba,
un alba rubia, cormoranes que vuelven,
los dieciséis sentidos de la luna.

Abre las puertas, abre: lo más raro
es el «¡sésamo!», la noche
que entretiene sus goznes en el juego.
Lo más raro es mi calle de madera
(¿qué niño no imagina que ha muerto
en la batalla?) Lo más raro es el agua,
el sueño, el agua, el sueño que sí sabe
de manglares. Y los yelmos, las yemas
y las vides que vemos relucir,
remudarse, pasmar el cielo de repente.
Entonces es la espléndida compañía
de nadie. Lo más raro. Lo raro.

Museu de curiosidades (sala de onze)
               
                                                             A Pedro Molina Temboury
Abre as portas
-¡sésamo - museu de curiosidades.
O mais belo é o beijo, o mais belo;
suas lendas florais, suas famílias,
a estupenda memória das crianças.
O mais belo é o vento, são
os lábios, seus lábios que agora beijam
os meus e neles vão se tornando
inocentes. O mais belo é o amanhecer,
um nascer dourado, ambíguo, retornando,
os dezesseis sentidos da lua.

Abre as portas abertas, abre: o mais belo
é o “sésamo!" A noite
que entretém suas dobradiças no jogo.
O mais belo é a minha rua de madeira
(Que criança não imagina que foi morto
na batalha?) O mais belo é a água,
o sono, a água, o sono que se sabe
mangue. E os elmos,  as gemas
e vinhas que vemos brilhando,
remudando-se, pasmas no céu de repente.
Então é a esplêndida companhia  
de ninguém. O mais belo. Tão belo.

Ilustração: Museu do Frevo Levino Ferreira. 

Outra poesia de Damaris Calderón


UN GUSANILLO ESTETA

Damaris Calderón

La babosa(...)proclama que andar
por este mundo /significa/ ir dejando
pedazos de uno mismo/ en el viaje.
José Emilio Pacheco

Me celebro, me canto y me detesto como a nadie a mí mismo.
A los quince años hubiera matado, a los dieciséis me habría picado
las venas. Ahora en dúctiles formas sublimo la cobardía,
trazo un rastro para la posteridad que se borra implacablemente.
Gusto pensar que alguna vez pude ser un pájaro, pero,
es inútil negarlo, me arrastro.
De ahí comienza mi larga marcha, mi vuelo interminable a ras de tierra.
Modesto Sísifo, yo también cargo con mi piedra
desde mi nacimiento hasta la muerte. Devoro las plantas
con una avidez casi metafísica. Mi palabra: un hilo de baba
que imagino dorado. Despojado de la lírica, expulsado por siempre de la épica, no se me ha permitido otro acto heroico que morir bajo la única sombra que conozco: la brutal objetividad de una bota.

UM BICHO ESTETA

A lesma (...) proclama que andar
Por este mundo /significa ir deixando
pedaços de si mesmo/ na viagem.
José Emilio Pacheco

Me celebro, me canto e me odeio  como ninguém a mim mesmo.
Aos quinze anos havia matado, aos dezesseis me havia picado
as veias. Agora em dúcteis formas sublimo a covardia,
traço um rastro para a posteridade que se apaga implacavelmente.
Gosto de pensar que, alguma vez, poderia ser um pássaro, porém,
é inútil negá-lo, eu me arrasto.
Daí começa minha longa marcha, meu voo interminável ao rés da terra.
Modesto Sísífo, eu também carrego a minha pedra
desd’o nascimento à morte. Decoro as plantas
com uma avidez quase metafísica. Minha palavra: um fio de baba
que imagino dourado. Despojado da lírica, expulso  para sempre do épico,  não me foi permitido outro ato heroico que morrer sob a única sombra que conheço: a brutal objetividade de uma bota.


Ilustração: Daniel Schenker - WordPress.com. 

Friday, May 26, 2017

DIVA ALVINEGRA



Quando lúdica te inventaram
assim preta, assim branca,
assim cambiante,
não sabiam da chama que acendiam,
do incêndio que fariam adiante
o mundo inteiro agitar. Nem pretendiam,
nem esperavam o que virá doravante.
No momento, porém, em que existes;
que és assim, sonho, fogueira de desejos,
não sei te olhar sem pensar em beijos,
nem viver sem ter os olhos tristes.
E, quando distante, das tuas rotações,
que põem fogo nas minhas ilusões,
criando tentações que não se acabam
acredito que, de fato, és só figura
embora insista em seguir na minha procura.
Nem me pareces que sejas verdadeira-
e o mundo é? És energia, frequência.
Minhas vibrações, mera consequência
de que tudo no mundo é brincadeira.  

Ilustração: Prince Cristal (https://princecristal.blogspot.com.br/). 

Outra poesia de Alfredo Buxán



Días perdidos
 Alfredo Buxán

Sólo vuelvo a sentir que soy yo mismo
cuando me roza el hombro la mañana
del sábado y me descubre el cansancio
de los días pasados sin conciencia
de haber estado vivo entre las cosas.

Cuando llegue la hora, cuando llegue,
¿deberán figurar en el recuento
o no tienen valor los días muertos?

Dias Perdidos

Somente volto a sentir que sou eu mesmo
quando me roça o ombro a manhã
de sábado e me descobre o cansaço
dos dias passados sem consciência
de haver estado vivo entre as coisas.

Quando chegar a hora, quando chegue,
deverão figurar na contagem
ou não têm nenhum valor os dias mortos?


Ilustração: Mundo Obscuro Zine - blogger

Outro poema de Harryette Mullen

 
Harryette Mullen                               
just as I am I come
knee bent and body bowed
this here’s sorrow’s home
my body’s southern song

cram all you can
into jelly jam
preserve a feeling
keep it sweet

so beautiful it was
presumptuous to alter
the shape of my pleasure
in doing or making

proceed with abandon
finding yourself where you are
and who you’re playing for
what stray companion


Justo como eu venho
joelho dobrado e corpo curvado
isto aqui é a casa da tristeza
meu corpo é a música do sul

encha tudo o que você pode
com geléia
preserve um sentimento
guarde-o doce

tão bonito que foi,
cheio de presunção, mudar
a forma do meu prazer
na obra ou no fazer

proceder com abandono
achando-se a si mesmo onde está
e com quem está jogando,
o seu companheiro de rua

Ilustração: EBC 

Rearrumando um poema de Harryette Mullen

go on sister sing your song       
Harryette Mullen

go on sister sing your song
lady redbone señora rubia
took all day long
shampooing her nubia

she gets to the getting place
without or with him
must I holler when
you’re giving me rhythm

members don’t get weary
add some practice to your theory
she wants to know is it a men thing
or a him thing

wishing him luck
she gave him lemons to suck
told him please dear
improve your embouchure

Vá maninha cante sua canção

Vá lá maninha cante sua canção
dama de casaco vermelho senhora ruiva
passe todo o dia como uma chuva
ensaboando a sua núbia.

ela atinge o melhor lugar
com ou sem ele, o cimo,
devo me esgoelar
com você me dando ritmo

os membros não se cansam da confraria
ponha prática na sua teoria
ela procura saber se é, para os homens, uma coisa
ou é apenas dele uma coisa

desejando-lhe sorte pura
dá-lhe os limões para chupar
e diz, por favor, querida, ao falar
melhore sua embocadura


Ilustração: nathypasini.wordpress.com

E, novamente, Raúl Gómez Jattin

  

Raúl Gómez Jattin

Gracias, señor
Por hacerme débil
Loco
Infantil
Gracias por estas cárceles
Que me liberan
Por el dolor que conmigo empezó
Y no cesa
Gracias por toda mi fragilidad tan flexible
Como tu arco
Señor amor.

Graças, senhor

Graças, senhor
por me fazer fraco
louco
infantil
graças por estas prisões
que me libertam
pela dor que comigo começou
e não cessa
graças por toda a minha fragilidade tão flexível
como o teu arco
senhor amor.


Ilustração: Dayana Menezes - WordPress.com