Sunday, November 05, 2023

Outra poesia de Cécile Coulon

 


Á VENDRE

Cécile Coulon

C´est un morceau de terre noire entre deux vallées

entretenues par des troupeaux de vaches,

de brebis et des orages furieux ;

c´est dans le poing fermé des falaises

un minuscule caillou en forme de maison

que les arbres et la montagne auront

bientôt avalé.

Un endroit comme un visage sans yeux

flanqué d´une pauvre route

où les hommes ont péri,

c´est peut-etre du feu de mon enfance

la dernière braise :

il n´y a plus de lumière blanche au plafond

ni de volets qui grincent aux fenêtres du salon,

c´est un carré d´argile irrégulier qui surplombe

un bras d´eau long comme une tige de coquelicot

vue du ciel.

Il faut marcher longtemps

pour atteindre la fontaine,

apporter à ta bouche séchée la source des rochers

et raviver la flamme

au cœur de ce morceau de terre tenu serré

dans la paume du soleil.

Nous sommes montés si haut pour, enfin, vivre hors du monde,

pour, enfin, s´approcher des oiseaux

et toucher les flocons

qu´il m´est impossible, à présent, de redescendre.

Les herbes ont tout dévoré,

la rambarde chancelante est couverte

de poussière et de toiles d´araignée ;

ils disent qu´il faudrait VENDRE

comme le reste

VENDRE

les bandes dessinées, la ferme, le lait, le terrain

le parc autour du petit manoir où nous enterré

le chien

VENDRE

mon corps, ma voix, la couleur de mes cheveux

tant qu´il est encore temps.

pendant qu´ils prennent de lourdes décisions

j´attends contre le vaisselier avec une cigarette

éteinte à la main

que je n´ose pas allumer

à cause de l´odeur, de la fumée ;

VENDRE

dehors le volcan voisin a mis ses laines d´hiver

il y a des taches noires dessus

et tandis qu´il s´agit, une fois encore,

de VENDRE,

je songe à ce morceau de terre entre deux vallées

où nous n´irons jamais ensemble.

À VENDA

É um  pedaço de terra negra entre dois vales
habitados por rebanhos de vacas,
de ovelhas e tempestades furiosas;
no punho cerrado dos rochedos
é um seixo minúsculo em forma de casa
que as árvores e as montanhas
de pronto haviam devorado.
Um lugar como um rosto sem olhos

onde os homens pereceram,

talvez seja o fogo da minha infância

a última brasa:

Já não há mais luz branca no teto

nem persianas rangendo nas janelas da sala,

é um quadrado de argila irregular que sobressai

um braço de água largo como um talo de papoula

vista do céu.

Há que andar muito tempo

para alcançar à fonte,
levar a tua boca seca o manancial das rochas
e reavivar a chama
no coração desse pedaço de terra sustentado,
apertado na mão do sol.
Subimos tão alto para, ao fim, viver fora do mundo,
para, ao fim, aproximar-se dos pássaros
e tocar os flocos,
que agora me é impossível descer.
A erva há devorado tudo,
a precária balaustrada se há coberto
de pó de  teias de aranha.
Eles dizem que teria que VENDER
que só me resta
VENDER

as histórias em quadrinhos, fazenda, leite, terra

o parque ao redor da pequena mansão onde enterramos

o cachorro

VENDER

meu corpo, minha voz, a cor do meu cabelo

enquanto ainda há tempo.

Enquanto eles tomam severas decisões.

Eu espero encostado na cômoda com um cigarro

extinto à mão

que não me atrevo a acender

por causa do odor, da fumaça;

VENDER

fora do vulcão vizinho vestiu sua lã de inverno
há posto sua roupa de inverno

e há manchas negras nela,

enquanto se trata mais uma vez

de VENDER,
Eu sonho   com este pedaço de terra entre dois vales
aonde nunca iremos juntos.

Ilustração: Sthe on Road.


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