Meu amor,
sei que teus braços são longos,
todavia,
não tome como ironia,
não podem alcançar o céu.
Seja mais modesta, prática
e- como convém a uma rosa-
generosa :
Me abrace!
Ilustração: Pxfuel.
Meu amor,
sei que teus braços são longos,
todavia,
não tome como ironia,
não podem alcançar o céu.
Seja mais modesta, prática
e- como convém a uma rosa-
generosa :
Me abrace!
Ilustração: Pxfuel.
MIRRORS AT 4
A.M.
By Charles Simic
You must come to them sideways
In rooms webbed in shadow,
Sneak a view of their emptiness
Without them catching
A glimpse of you in return.
The secret is,
Even the empty bed is a burden to them,
A pretense.
They are more themselves keeping
The company of a blank wall,
The company of time and eternity
Which, begging your pardon,
Cast no image
As they admire themselves in the mirror,
While you stand to the side
Pulling a hanky out
To wipe your brow surreptitiously.
ESPELHOS ÀS 4 DA MANHÃ
Você deve ir até lado
deles
Em salas cobertas de
sombras,
Dar uma olhada furtiva no
seu vazio
Sem que eles percebam
Um vislumbre teu em
troca.
O segredo é,
Até a cama vazia é um
fardo para eles,
Um pretexto.
Eles são mais eles mesmos
mantendo
A companhia de uma parede
em branco,
A companhia do tempo e da
eternidade
Que, pedindo seu perdão,
Não lançam imagem alguma
Eles admiram a si mesmo no
espelho,
Enquanto ficas de lado
Puxando um lenço
Para enxugar sua testa sub-repticiamente.
Ilustração: Go Quadros.
EL DOLOR Y EL CANTO
Ernesto Delgado
Pongo mi dolor a cantarme:
lo encierro en mi oído y me duermo doliéndome. Cuando despierto la jaula está
abierta, pero no está abierta, es un canto que duele después, por eso no tiene
alas;
es solo un canto que duele después. Pero tú no tienes alas, tú solo
dueles.
Pongo mi dolor a
cantarme tu dolor con ese chillido de la demencia
que te escuché soltar en el alambre de la camilla.
Así, con ese chillido, entró la muerte en tus huesos como entra el aire en
diciembre por las paredes de los pobres.
Así, con ese chillido, caíste rígida y solemne, carcomida estatua.
Así cantan las hojas cuando el viento las arrastra por los patios.
Es el mismo canto que lanzabas entre las cucharas de aluminio
para que las sombras de la noche fueran cabizbajas hacia el fondo de la casa
con sus hocicos sucios por los huesos tirados en el portal de tus años.
Tú dejas mi oído abierto para que yo te escuche existir.
Por eso pongo mi dolor a
cantarme tu dolor.
Yo estoy lleno de pichones,
mi dolor pone huevos en tus muertes.
Tu canto y mi canto chocan, no se reconocen y se siguen buscando:
Desde siempre mi dolor cantó en tu oído y no lo reconocías,
desde siempre cantó junto al tuyo en la jaula de la vida.
Siempre cantó en tu cama de hospital, cantó hasta tener plumas,
hasta posarse en las alambradas con que me cercan y condenan.
Canta fuerte para que yo lo reconozca y encierre. Pero tu dolor no me deja
escucharlo.
A DOR E A CANÇÃO
Ponho minha dor a cantar para mim:
a encerro no meu ouvido e adormeço
dolorido. Quando desperto a gaiola está
aberta, porém não está aberta, é uma
canção que dói depois, por isto não tem asas;
É apenas uma música que dói depois. Porém
tu não tens asas, tu só
sente dor.
Por isto ponho minha dor a cantar tua
dor para mim com aquele grito de demência
que ouvi você soltar no fio da maca.
Assim, com aquele grito, a morte entrou
em seus ossos como o ar entra em dezembro pelas paredes dos pobres.
Assim, com aquele grito, você caiu
rígido e solene, uma estátua arruinada.
É assim que cantam as folhas quando o
vento as sopra pelos pátios.
É a mesma música que cantavas entre as
colheres de alumínio
para que as sombras da noite caíssem na
parte de trás da casa
com os focinhos sujos dos ossos jogados
no portal dos seus anos.
Tu deixas meu ouvido aberto para que eu te
escute existir.
Por isto coloquei minha dor para cantar tua
dor para mim.
Estou cheio de pombos,
minha dor põe ovos em suas mortes.
Teu canto e o meu canto se chocam, não
se reconhecem e continuam se procurando:
Minha dor sempre cantou em teu ouvido e tua
não a reconheces,
desde sempre cantou junto ao teu na
jaula da vida.
Sempre cantou na sua cama de hospital,
cantou até ter penas,
até pousar nas cercas de arame com que
me cercam e me condenam.
Canta alto para que o reconheça e encerre.
Porém tua dor não me deixa ouvir.
Ilustração: Cantos para Missa-WordPress.
BE NOBODY’S DARLING
Alice Walker
Be nobody's darling;
Be an outcast.
Take the contradictions
Of your life
And wrap around
You like a shawl,
To parry stones
To keep you warm.
Watch the people succumb
To madness
With ample cheer;
Let them look askance at you
And you askance reply.
Be an outcast;
Be pleased to walk alone
(Uncool)
Or line the crowded
River beds
With other impetuous
Fools.
Make a merry gathering
On the bank
Where thousands perished
For brave hurt words
They said.
But be nobody's darling;
Be an outcast.
Qualified to live
Among your dead.
NÃO SEJA O QUERIDINHO DE
NINGUÉM
Não seja o queridinho de ninguém;
Seja um pária.
Pegue as contradições
da sua vida
envolva-se nelas
como um xale,
para aparar pedras
para manter seu calor.
Observe as pessoas sucumbirem
à loucura
com ampla alegria;
deixe-as olharem de soslaio para você
e você responda de soslaio.
Seja um pária;
fique feliz em andar sozinho
(não é legal)
Ou em alinhar os leitos lotados
dos rios
com outros impetuosos
tolos.
Faça uma reunião alegre
na margem
onde milhares pereceram
por corajosas e ferinas palavras.
Eles disseram.
Porém não seja o queridinho de ninguém;
Seja um pária.
Qualificado para viver
entre seus mortos.
Quando te disserem
que nunca leem poesias
canta uma música.
Quando te disserem
que não gostam de música,
não meditam
nem rezam,
então, não perca seu tempo.
Alguém assim
pode até se dizer teu irmão,
todavia é um ser humano
sem salvação.
Ilustração: Bing.
LEVIATÁN
Gata Cattana
Tú te has empeñado en buscarme
sin bombonas, a pulmón,
agua adentro una y otra,
día tras día, y ni rastro…
Primero, en el muelle,
con caña vulgar y paciencia,
mucha paciencia;
y luego, las redes, los barcos
y otros métodos sofisticados
que fuiste escogiendo
según los fracasos.
Y así, uno por uno,
todos los charcos,
las aguas pantanosas y los mares
que fueron allanados
en mi busca
te parecieron insuficientes
y seguías queriendo más,
sin importar las pérdidas
y las bajas.
Y da igual,por más velero o por más yate
que intentaras,
por más técnica avanzada,
yo nunca fui pez de orilla.
Hubieras necesitado un leviatán.
LEVIATÃ
Tu te hás empenhado em me
buscar
sem cilindros, nos pulmões,
água dentro de uma outra,
dia após dia, e nem um rastro...
Primeiro, no cais,
com bengala vulgar e paciência,
muita paciência;
e logo, as redes, os barcos
e outros métodos sofisticados
que fostes escolhendo
conforme os fracassos.
E assim, um por um,
todas as poças,
as águas pantanosas e os mares
que foram invadidos
na minha busca
te pareciam insuficientes
e seguias querendo mais,
sem importar as perdas
e as baixas.
E igualmente, por mais veleiros
ou iates
o que tentasses,
por mais técnica avançada,
eu nunca fui um peixe de praia.
Haverias necessitado de um
leviatã.
Ilustração: Fandom.
Não viva a esperar nada.
Viva simplesmente.
Seja surpreendido
por uma felicidade inesperada
ou suporte, como puder, infeliz pena.
Sorria apenas
e se livre da permanência da necessidade.
Deseje somente que a vida flua.
Que seu coração, tão pequeno,
tenha a resistência das estrelas
mesmo diante da desintegração,
no seu caso, de um desapontamento.
Cubra-se com um carinho insensível, frio,
que sua alma encare com estoicismo,
talvez, mesmo com indiferença
a hora do lamento.
Certifique-se da razão
de que, mesmo a maior figura humana, ser tão pequena
na largura do espaço e do tempo.
Seja muito sensato.
Não viva a esperar nada.
Viva simplesmente
para ser surpreendido
talvez, por uma felicidade imprevista,
mas lembre-se que há dores na vida.
ABRACADABRA
By Kara van de Graaf
How many hours
have I wasted
trying to turn this into that, a rabbit
and a hat, a woman
whose body
can split into three separate pieces.
This is my idea of
magic, hiding
what exists in plain sight:
an overbite, a
sparkle
of gray hair at the temples, a sag
at the side of an
arm. And still,
what alarm when I see through
my own illusions,
catch a glimpse
of a woman transported
into a restaurant
window who couldn’t,
will never be me. I never had
a family, no
children who would
allow me to age backwards or see
my own face
filtered through
the lens of love. It’s hard
to adore something
you never
drug into existence yourself,
never saw fit to
copy, each version
brighter than the last, like a string
of knotted scarves
you can pull
forever out of a sleeve. It’s easier
to believe every
iteration
surpasses the past, that new flesh
refines itself,
poreless and pink.
But it’s only me standing
in the cabinet,
hand over a lever, waiting
to disintegrate in the dark.
ABRACADABRA
Quantas horas tenho jogado fora
tentando
tornar isso ou aquilo, num coelho
e um chapéu, uma mulher cujo corpo
pode se dividir em três peças separadas.
Esta
é minha ideia de mágica, esconder
o que existe da vista de todos:
uma mordida cruzada, um brilho
de
cabelos grisalhos nas têmporas, uma flacidez
na lateral de um braço. E ainda,
que
alarme quando vejo através
das minhas próprias ilusões, vislumbro
uma
mulher transportada
para a janela de um restaurante que não poderia,
nunca ser eu. Eu nunca tive
uma família, nenhuma criança que me permitiria
envelhecer para trás ou ver
meu
próprio rosto filtrado
pelas lentes do amor. É duro
adorar algo que você nunca
arrastou
para sua existência,
nunca achou adequado copiar, cada versão
brilhando
mais que a última, como uma série
de lenços amarrados que você pode puxar
para
sempre de uma manga. É mais fácil
acreditar que cada iteração
supera
o passado, que a nova carne
refina a si mesmo, sem poros e rosa.
Porém
sou somente eu de pé
no armário, com a mão na alavanca, esperando
para me desintegrar no escuro.
Ilustração: Play
BPM.
“I SHALL COME
BACK”
Dorothy Parker
I shall come back
without fanfaronade
Of wailing wind and graveyard panoply;
But, trembling, slip from cool Eternity-
A mild and most bewildered little shade.
I shall not make sepulchral midnight raid,
But softly come where I had longed to be
In April twilight’s unsung melody,
And I, not you, shall be the one afraid.
Strange, that from lovely dreamings of the dead
I shall come back to you, who hurt me most.
You may not feel my hand upon your head,
I’ll be so new and inexpert a ghost.
Perhaps you will not know that I am near,-
And that will break my ghostly heart, my dear.
“EU IREI VOLTAR”
Eu voltarei sem fanfarronice
Do choroso vento e
panóplia de cemitério;
Porém, tremendo,
deslizarei da fria Eternidade-
Uma pequena, suave e
muito confusa sombra.
Eu não farei um ataque
sepulcral à meia-noite,
Porém suavemente chegarei
aonde eu ansiava estar
No crepúsculo de abril na
não cantada melodia,
E eu, não você, serei o
único a ter medo.
Estranho, como os sonhos
adoráveis com os mortos
Eu voltarei para você,
que me feriu mais.
Você pode não sentir
minha mão na sua cabeça,
Eu serei tão novo e
inexperiente como fantasma.
Talvez você não saiba que
estou perto,-
E isto irá quebrar meu
coração fantasmagórico, minha querida.
TIEMPO DE AMOR
Luis Feria
Este tiempo de amor nunca termine.
No lo empañe el olvido con su óxido;
debe quedar intacto hasta la muerte
lo que nació inmortal como el sonido.
Este tiempo de luz alguien lo salve;
lo arranque alguien de este precipicio
al que se aboca ya desde que alienta.
Que alguien corte la amarra y vaya suelto
del tiempo, a la deriva, hasta la playa donde
no lo fulmine el rayo a pesar suyo,
no lo desgaste el tiempo como a un día.
TEMPO DE AMOR
Que este tempo de amor nunca termine.
Nem o esquecimento o empane com
seu óxido;
deve permanecer intacto até a
morte
o que imortal como o som foi nascido.
Este tempo de luz, alguém o
salve;
o arranque alguém deste precipício
ao qual se avoca desde que respira.
Que alguém corte a amarra e que
se vá solto
do tempo, à deriva, até à praia
onde
não o fulmine o raio apesar dele
mesmo,
não o desgaste tempo como a um
dia.
Ilustração: Tempo e Amor.
Ainda creio que há esperança
enquanto o barco não foi a pique.
Nem importa se na tempestade dança
ou se não há solução que se identifique.
A questão toda é só de usar a bússola,
manter a calma, aquietar a alma
e acertar o prumo e a direção,
pois com muito pouco se consola,
quem, até agora, só ouve imprecação.
O que se espera não é o grito louco
nem a pancada feroz da voz, da mão.
O que se quer é de tanto pão, um pouco,
e, vez por outra, mais carne no feijão.
CULPABLES
Gata Cattana
Aquella noche
no existe ya
más en el brillo
de tus ojos
cuando me miran,
cómplices…
En el cosquilleo
del secreto.
Estábamos hechos
de la plenitud
de sabernos débiles,
más de carne que nunca.
A sabiendas del pecado.
Culpables, culpables, culpables…
Temblando de miedo
y de pudor,
al descubrirnos
con la manzana
en la boca.
CULPADOS
Aquela noite
já não existe mais
mais no brilho
dos teus olhos
quando me olhavam
cúmplices…
Nas cócegas
do segredo.
Estávamos
cientes da plenitude
de nos sabermos débeis,
mais de carne do que nunca.
Conhecendo o pecado.
Culpados, culpados, culpados...
Tremendo de medo
e de pudor,
ao nos descobrirmos
com a maçã
na boca.
Ilustração: Linkedin.
GHOSTS
Ella Wheller
Wilcox
There are ghosts in the room.
As I sit here alone, from the dark corners there
They come out of the gloom,
And they stand at my side and they lean on my chair
There’s a ghost of a Hope
That lighted my days with a fanciful glow,
In her hand is the rope
That strangled her life out. Hope was slain long ago.
But her ghost comes to-night
With its skeleton face and expressionless eyes,
And it stands in the light,
And mocks me, and jeers me with sobs and with sighs.
There’s the ghost of a Joy,
A frail, fragile thing, and I prized it too much,
And the hands that destroy
Clasped its close, and it died at the withering touch.
There’s the ghost of a Love,
Born with joy, reared with hope, died in pain and unrest,
But he towers above
All the others-this ghost; yet a ghost at the best,
I am weary, and fain
Would forget all these dead: but the gibbering host
Make my struggle in vain-
In each shadowy corner there lurketh a ghost.
FANTASMAS
Há fantasmas na sala.
Enquanto estou aqui
sentado sozinho, lá dos cantos escuros
Eles saem da escuridão,
E ficam ao meu lado e se
apoiam na minha cadeira
Há um fantasma da esperança
Que iluminou meus dias
com um brilho fantasioso,
Na mão dela está a corda
Que estrangulou sua vida.
A esperança foi morta há muito tempo.
Porém seu fantasma vem
esta noite
Com seu rosto esquelético
e olhos inexpressivos,
E fica na luz,
E zomba de mim, e zomba
de mim com soluços e suspiros.
Há o fantasma da alegria,
Uma coisa frágil, frágil,
e eu a prezava tanto,
E as mãos que destroem
Apertaram seu fecho, e
ele morreu murchando ao toque.
Há o fantasma de um amor,
Nascido com alegria,
criado com esperança, morto em dor e inquietação,
porém ele se eleva acima
Todos os outros- este
fantasma; ainda um fantasma na melhor das hipóteses,
Estou cansado e feliz
Queria esquecer todos
esses mortos: porém a hoste balbuciante
Faz minha luta ser em vão-
Em cada canto escuro me
vigia um fantasma.
Ilustração: Vida Boa.