Tuesday, October 29, 2024

Uma poesia de Kara van de Graaf

 


ABRACADABRA

By Kara van de Graaf

How many hours have I wasted

            trying to turn this into that, a rabbit

and a hat, a woman whose body

 

            can split into three separate pieces.

This is my idea of magic, hiding

            what exists in plain sight:

 

an overbite, a sparkle

            of gray hair at the temples, a sag

at the side of an arm. And still,

 

            what alarm when I see through

my own illusions, catch a glimpse

            of a woman transported

 

into a restaurant window who couldn’t,

            will never be me. I never had

a family, no children who would

 

            allow me to age backwards or see

my own face filtered through

            the lens of love. It’s hard

 

to adore something you never

            drug into existence yourself,

never saw fit to copy, each version

 

            brighter than the last, like a string

of knotted scarves you can pull

            forever out of a sleeve. It’s easier

 

to believe every iteration

            surpasses the past, that new flesh

refines itself, poreless and pink.

 

            But it’s only me standing

in the cabinet, hand over a lever, waiting

            to disintegrate in the dark.

ABRACADABRA

Quantas horas tenho jogado fora

 

            tentando tornar isso ou aquilo, num coelho

e um chapéu, uma mulher cujo corpo

 

pode se dividir em três peças separadas.

            Esta é minha ideia de mágica, esconder

o que existe da vista de todos:

 

uma mordida cruzada, um brilho

            de cabelos grisalhos nas têmporas, uma flacidez

na lateral de um braço. E ainda,

 

           que alarme quando vejo através

das minhas próprias ilusões, vislumbro

           uma mulher transportada

 

para a janela de um restaurante que não poderia,

          nunca ser eu. Eu nunca tive

uma família, nenhuma criança que me permitiria

 

envelhecer para trás ou ver

          meu próprio rosto filtrado

pelas lentes do amor. É duro

 

adorar algo que você nunca

          arrastou para sua existência,

nunca achou adequado copiar, cada versão

 

           brilhando mais que a última, como uma série

de lenços amarrados que você pode puxar

           para sempre de uma manga. É mais fácil

 

acreditar que cada iteração

           supera o passado, que a nova carne

refina a si mesmo, sem poros e rosa.

 

           Porém sou somente eu de pé

no armário, com a mão na alavanca, esperando

           para me desintegrar no escuro.

Ilustração: Play BPM.

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