ABRACADABRA
By Kara van de Graaf
How many hours
have I wasted
trying to turn this into that, a rabbit
and a hat, a woman
whose body
can split into three separate pieces.
This is my idea of
magic, hiding
what exists in plain sight:
an overbite, a
sparkle
of gray hair at the temples, a sag
at the side of an
arm. And still,
what alarm when I see through
my own illusions,
catch a glimpse
of a woman transported
into a restaurant
window who couldn’t,
will never be me. I never had
a family, no
children who would
allow me to age backwards or see
my own face
filtered through
the lens of love. It’s hard
to adore something
you never
drug into existence yourself,
never saw fit to
copy, each version
brighter than the last, like a string
of knotted scarves
you can pull
forever out of a sleeve. It’s easier
to believe every
iteration
surpasses the past, that new flesh
refines itself,
poreless and pink.
But it’s only me standing
in the cabinet,
hand over a lever, waiting
to disintegrate in the dark.
ABRACADABRA
Quantas horas tenho jogado fora
tentando
tornar isso ou aquilo, num coelho
e um chapéu, uma mulher cujo corpo
pode se dividir em três peças separadas.
Esta
é minha ideia de mágica, esconder
o que existe da vista de todos:
uma mordida cruzada, um brilho
de
cabelos grisalhos nas têmporas, uma flacidez
na lateral de um braço. E ainda,
que
alarme quando vejo através
das minhas próprias ilusões, vislumbro
uma
mulher transportada
para a janela de um restaurante que não poderia,
nunca ser eu. Eu nunca tive
uma família, nenhuma criança que me permitiria
envelhecer para trás ou ver
meu
próprio rosto filtrado
pelas lentes do amor. É duro
adorar algo que você nunca
arrastou
para sua existência,
nunca achou adequado copiar, cada versão
brilhando
mais que a última, como uma série
de lenços amarrados que você pode puxar
para
sempre de uma manga. É mais fácil
acreditar que cada iteração
supera
o passado, que a nova carne
refina a si mesmo, sem poros e rosa.
Porém
sou somente eu de pé
no armário, com a mão na alavanca, esperando
para me desintegrar no escuro.
Ilustração: Play
BPM.
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