Viver tento
como se fosse ser eterno,
porém, já abdiquei
das vãs vaidades.
Dei meu único terno,
dois sapatos e uma
chinela
e vivo, quase nu,
com uma bermuda
que não esconde a canela.
É um comportamento
fruto da pandemia-
diz um observador-
não sei se clínico ou
cínico,
que não entende de amor.
De solidão menos ainda.
Todo o meu desprendimento
vem de que meu grande
alento
é esperar que a minha
linda-
quando tudo isto passar-
venha nos meus braços se
aninhar.
Com os bares e as ruas
fechadas,
atrás de um local aberto
examino as fachadas
dos bares que estão mais
perto.
E só numa bodega de
esquina
me sorri gentil menina
que para servir bebida
me dá uma boa acolhida.
O que era tão complicado
ficou simples de repente
beber sem ser incomodado
com um tira-gosto
decente.
E ela ainda provoca
dizendo em bom português
gostar muito de freguês
que bebe assim com amor
desafiando as ordens
do prefeito e do governador.
Ilustração: Meus livros, meus drinques e mais nada.
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