Wednesday, January 22, 2025

SONHO DE UM DIA DE PANDEMIA



Viver tento

como se fosse ser eterno,

porém, já abdiquei

das vãs vaidades.

Dei meu único terno,

dois sapatos e uma chinela

e vivo, quase nu,

com uma bermuda

que não esconde a canela.

 

É um comportamento

fruto da pandemia-

diz um observador-

não sei se clínico ou cínico,

que não entende de amor.

De solidão menos ainda.

Todo o meu desprendimento

vem de que meu grande alento

é esperar que a minha linda-

quando tudo isto passar-

venha nos meus braços se aninhar.

 

 

Com os bares e as ruas fechadas,

atrás de um local aberto

examino as fachadas

dos bares que estão mais perto.

E só numa bodega de esquina

me sorri gentil menina

que para servir bebida

me dá uma boa acolhida.

 

O que era tão complicado

ficou simples de repente

beber sem ser incomodado

com um tira-gosto decente.  

E ela ainda provoca

dizendo em bom português

gostar muito de freguês

que bebe assim com amor

desafiando as ordens

do prefeito e do governador.

Ilustração: Meus livros, meus drinques e mais nada.

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