Thursday, January 23, 2025

O Rio de Juan Bonilla

 

 

EL RÍO

Juan Bonilla

Si pudiera elegir, sería un río.

Siempre el mismo pero sin ser el mismo nunca.

Un río hundiéndose como daga en el mar

en el exacto instante repetido

en el que también nace sin testigo alguno

entre las grietas de una peña y se desliza como lágrima.

 

Y a cada instante ser también

hilo de agua solitario entre árboles pacientes

que levanta un rumor de agua nerviosa

o se ensancha orgulloso al paso de ciudades

por reflejar torres del oro y vanas catedrales,

o da de beber al ganado en un recodo

o se inventa piscinas para que se bañen los chavales.

 

No, nuestras vidas no son ríos:

ellos siguen naciendo cuando mueren,

siguen corriendo alegres, violentos,

o se remansan en los valles.

Si pudiera elegir sería un río, cualquier río.

Algo que siempre está naciendo,

algo que está pasando siempre,

algo que muere en cada instante.

O RIO

Se eu pudesse escolher, seria um rio.

Sempre o mesmo, porém, sem ser o mesmo nunca.

Um rio afundando como uma adaga no mar

no exato instante repetido

em que também nasce sem testemunha alguma

entre as brechas de uma pedra e desliza como uma lágrima.

 

E a cada instante ser também

fio de água solitário entre árvores pacientes

que levanta um rumor de água nervosa

ou alarga-se orgulhoso à passagem das cidades

por refletir torres de ouro e catedrais vãs,

ou dê de beber ao gado em uma curva

ou invente piscinas para as crianças se banharem.

 

Não, nossas vidas não são rios:

eles seguem nascendo quando morrem,

seguem correndo alegres, violentos,

ou descansam nos vales.

Se pudesse escolher, seria um rio, qualquer rio.

Algo que sempre está nascendo,

algo que está passando sempre,

algo que morre em cada instante.

Ilustração: Diário do Rio.

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