Saturday, November 30, 2024

SONHO NOTURNO

 


A noite

cai como uma sombra

que tende a encobrir manchas e culpas.

No palco da vida, porém os homens não largam as suas máscaras

tentando ser os melhores atores.

O espetáculo nunca finda. Só os cenários mudam.

Tudo é fantasia.

No alto, a Lua procura fazer sua parte

colorindo como pode as sombras do mundo.

Talvez sejamos apenas o palhaço

que não consegue o riso nem os aplausos.   

Noite! O espetáculo vai além de suas cortinas

Deixa-nos dormir

e sonhar que o amanhã

há de transformar o circo

num lugar de riso e de felicidade.

Ilustração: Reescrevendo a Sua História.

Friday, November 29, 2024

Uma poesia de Luis Bravo

 


LAS COSAS QUE DEJAMOS PASAR

Luis Bravo

como el amor y la ausencia de ello
naciendo en lo que sostiene la mañana
con paso lento, con paso quebradizo
tu mano apretándome la muñeca
cuando no sabes explicarme
si tu pelo cae suave y curvo
o es una inquietud mayor la que has contemplado
en mi cuello al despertarte; un azul
ininteligible como si de hoja en hoja
se hubiera apoderado de esta casa.
Quisiera moverte con un difícil abrazo
las cosas que dejamos pasar
y hubiéramos pensado Después


que tenían solución, a tiempo
de ornamentar lo que nos salva, aun falso
el amago de amarnos más lejos.
Y allá en los árboles que se mueren
otra evasiva, otra vida y reposo
que no serán misericordes,
así debamos acostumbrarnos
pues el daño cometido triunfará.

AS COISAS QUE DEIXAMOS PASSAR

como o amor a ausência dele
nascendo no que sustenta a manhã
com passo lento, com passo quebradiço
tua mão apertando-me o pulso
quando não sabes me explicar

se teu cabelo cai suave e curvado

o que é uma inquietude maior do que há contemplado

em meu pescoço ao despertar-te; um azul

ininteligível como se de folha em folha

se houvesse apoderado desta casa.

Quisera comover-te com um abraço difícil

as coisas que deixamos passar

e teríamos pensado depois

 

que tinha solução, a tempo

de enfeitar o que nos salva, mesmo falso

a ameaça de nos amar cada vez mais.

E lá nas árvores que morrem

outra evasão, outra vida e repouso

que não serão misericordiosos,

assim devemos nos acostumarmos

porque o dano cometido triunfará.

Ilustração: Blog Gen Jurídico.

Uma poesia de Tim Jones

 


THE TRANSLATOR  
Tim Jones
Shutting out the torment and the fear
deep into the night's cold morning hours
I work on my translation.

Improbable, than in another tongue
such lines as these were born,
set down, are vivid on his page

and will not come across to mine.
Two ways to go: the forced rhyme
the flaccid filling phrase

or terse, unrhymed,
trying to capture the meaning
as if that could ever be known.

But something does translate-
a voice from bleak immensities
perfect from nights like these:

the wind's forgotten murmur,
the war that beggars language
speaking the creole of slaughter.

O TRADUTOR
Deixando fora o tormento e o medo

no mais profundo das horas frias da noite

Eu trabalho na minha tradução.

 

Improvável, que em outras línguas

nasceram linhas como essas,

tão assentadas, tão vívidas nesta página

 

como não serão as minhas.

Há dois modos de seguir:

a rima forçada a frase cheia e flácida

 

ou concisa, não rimada,

tentando capturar o significado

como se isto pudesse ser conhecido.

 

Porém alguma coisa traduz -

uma voz de imensidões sombrias

perfeita para noites como estas:

 

o murmúrio esquecido do vento,

a guerra que empobrece a linguagem

falando o dialeto da matança.

Ilustração: O Benedito. 

BALTASARIANDO

 


Ah! A imaginação, esta pantera indomável,

que gostaríamos de orientar na ilusão

de se pode refreá-la ou estimulá-la, mas não.

Ela se comporta como um tirano variável

Que nos agrada ou nos torna infelizes.

Algoz terrível, cruel com os tolos,

mas, se nos serve de algum consolo

nos promete aventura mesmo nos deslizes.

A imaginação tudo pode ser e prometer

e, na sua trajetória, vive para criar

o que se pode ser, fazer, crer ou ter

e só o senso e a prudência a pode temperar.

Ilustração: The Epoch Times.

Wednesday, November 27, 2024

Filha de Oxum

 


Quando toda de branco

danças com os girassóis nas mãos

e a pena vermelha no cabelo

tenho a ilusão 

de que o céu vira espelho

e o mundo gira no compasso da canção. 

Oxum ori yê yê ô

Ter um grande coração 

é bem melhor que ter grande beleza,

mas, meu amor, filha da água doce,

abençoada pela mãe do mar

tem as duas coisas, 

Oxum ori yê yê ô

O brilho próprio de ser rara,

mulher doçura, 

odara. 

Ilustração: Wix.com. 

Uma remessa de Ezra Pound

 


ENVOI

Ezra Pound
Go, dumb-born book,
Tell her that sang me once that song of Lawes:
Hadst thou but song
As thou hast subjects known,
Then were there cause in thee that should condone
Even my faults that heavy upon me lie
And build her glories their longevity.

Tell her that sheds
Such treasure in the air,
Recking naught else but that her graces give
Life to the moment,
I would bid them live
As roses might, in magic amber laid,
Red overwrought with orange and all made
One substance and one colour
Braving time.

Tell her that goes
With song upon her lips
But sings not out the song, nor knows
The maker of it, some other mouth,
May be as fair as hers,
Might, in new ages, gain her worshippers,
When our two dusts with Waller’s shall be laid,
Siftings on siftings in oblivion,
Till change hath broken down
All things save Beauty alone.

ENVOI

Vai, livro nascido mudo,

Diz a ela que me cantou uma vez aquela canção de Lawes:

Houvesse apenas uma canção

Como conheces os teus súditos,

Então haveria em ti causa que deveria tolerar

Até mesmo as minhas faltas que pesam sobre mim

E construiria suas glórias sua longevidade.

Diz a ela que derrama

Tal tesouro no ar,

Não contando nada além de que suas graças dão

Vida ao momento,

Eu as convidaria a viver

Como rosas, deitadas em âmbar mágico,

Vermelhas coberta de laranja e todas feitas

De uma substância e uma cor

Desafiando o tempo.

Diga a ela que vai

Com uma canção nos lábios

Mas não canta a canção, nem sabe

O criador dela, de alguma outra boca,

Que pode ser tão bela quanto a dela,

Pode, em novas eras, ganhar seus adoradores,

Quando nossas duas poeiras com as de Waller forem colocadas,

Peneiramento sobre peneiramento no esquecimento,

Até que a mudança posto abaixo

Todas as coisas, salvo a Beleza solitária.

Ilustração: Segredos do Mundo.

Outra poesia de Maria Auxiliadora Balladares

 


MATERIALIDAD

Maria Auxiliadora Balladares 

He lamido por largo tiempo
al cachorro
Parece que sólo así
sus músculos
se acostumbran al aire
y sus formas
dejan de ser arbitrarias

He golpeado
a los adultos
que se acercan a olfatearlo
o quieren tomarlo
en brazos
Nada nuevo hay
bajo el sol
a otras crías sus manazas

No quiero dormir
porque puede que la muerte
me someta
en el instante en que
mis ojos cierre
Tantas otras madres
recién paridas
reventadas de tanto abrirse
a la existencia
mueren cazadas
por la noche
aun cuando en el sueño
todo aparentara
ser apacible
y la vida
eterna

MATERIALIDADE

Eu lambi por muito tempo

o cachorro

Parece que só assim

seus músculos

se acostumam ao ar

e suas formas

deixavam de ser arbitrárias

 

eu golpeei

os adultos

que se acercavam para cheirá-lo

ou queriam tomá-lo

nos braços.

Nada há nada de novo

sob o sol

para outras crias e suas grandes mãos

 

Não quero dormir

porque a morte pode

me conquistar

no instante em que

meus olhos se fecham

Tantas outras mães

que recém deram à luz

arrebentadas de tanto se abrir

para a existência

morrem caçadas

pela noite

ainda que no sonho

tudo aparentasse

ser gentil

e a vida

eterna

Monday, November 25, 2024

Tributo a Juanjo Dominguez


Seus dedos mágicos 

tocavam o corpo da guitarra

como se fossem memórias de Alhambra,

com a doçura de quem acaricia uma mulher 

e as notas que saltavam límpidas 

nos faziam acreditar na beleza de viver. 

Seus trémulos...Ah! Nas escalas duplas 

de três cordas nos faziam crer 

que nunca iríamos morrer!

Ilustração: Deezer. 


Uma poesia de Kenyatta Rogers

 


Ars Poetica

Kenyatta Rogers

After Amiri Baraka and Stefania Gomez

Poems are bullshit unless they are broken 
like a horse, like a dog kicked in the ribs, 
Like your favorite toy that’s missing an arm.

Love can make you feel used.
I want the poem that limps back to me.
Poems should hurt like love,
like ice water on your teeth
like a massage to smooth out a cramped muscle.

Give me the poem that’s like leather.
Give me the poem that smells like gasoline.
I want a poem that is a warning,
a poem that makes me check to see
if I left the shotgun by the door,
a poem that’s a runny nose, a sneeze, a poem
that’s the moment the sky turns green.

ARTS POÉTICA

Depois de Amiri Baraka e Stefania Gomez

Poemas são tolice a menos que sejam quebrados

como um cavalo, como um cachorro que levou um chute nas costelas,

como seu brinquedo favorito que falta um braço.

 

O amor pode fazer você se sentir usado.

Eu quero o poema que manca de volta para mim.

Poemas devem doer como amor,

como água gelada nos dentes

como uma massagem para suavizar um músculo contraído.

 

Dê-me o poema que é como couro.

Dê-me o poema que cheira a gasolina.

Eu quero um poema que seja um aviso,

um poema que me faça verificar

se deixei a espingarda na porta,

um poema que seja um nariz escorrendo, um espirro, um poema

que seja o momento em que o céu fica verde.

Ilustração: Um Mundo de Cor.

COMO FAZER ARTE

 


Se a clara do ovo manchou teu vestido novo... Penso.

É o sinal para iniciar a festa de um prazer imenso.

Ilustração: Depositphotos. 


Sunday, November 24, 2024

Arthur Rimbaud Sonho de Inverno

 


Rêvé pour l'hiver
Arthur Rimbaud
L'hiver, nous irons dans un petit wagon rose
Avec des coussins bleus.
Nous serons bien. Un nid de baisers fous repose
Dans chaque coin moelleux.

Tu fermeras l'oeil, pour ne point voir, par la glace,
Grimacer les ombres des soirs,
Ces monstruosités hargneuses, populace
De démons noirs et de loups noirs.

Puis tu te sentiras la joue égratignée...
Un petit baiser, comme une folle araignée,
Te courra par le cou...

Et tu me diras : " Cherche ! " en inclinant la tête,
- Et nous prendrons du temps à trouver cette bête
- Qui voyage beaucoup...
SONHO PARA O INVERNO  

No inverno iremos numa pequena carroça rosa

Com almofadas azuis.

Nós ficaremos bem. Um ninho de beijos loucos repousa

Em cada canto suave.

 

Tu fecharás o olho, para não ver, pelos vidros,

Fazendo caretas nas sombras das noites,

Essas monstruosidades ameaçadoras, população

De demônios negros e lobos negros.

 

Depois sentirás tua bochecha arranhada...

Um beijinho, como uma aranha maluca,

Vai correr pelo teu pescoço...

 

E me dirá: “Busque!, Busque!”, inclinando a cabeça,

- E nós tardaremos para encontrar este bicho

-Que viaja e viaja muito...

Ilustração: Clique Diário.

Saturday, November 23, 2024

Uma poesia de Annie Wenstrup


AS GIRL

Annie Wenstrup

At six being a girl meant Tinkerbell
nail polish and pointed, pink Barbie shoes.
Sequined fairy wands and slippers that fell
off my feet when I ran. Outside the blue
sky a backdrop for green grass, the sweet
gum tree that was home base. Everything caught
my eye and sparkled. Rain-freshened earthworms,
armored rollie-pollies, and firefly dots.
At night the television played the news.
Its cyclopean eye returned my stare.
The goat-like pupil reflected a parade
of women and girls like ewes. Fair
and lovely. I thought they were adored.
Later, I was not a girl anymore.

COMO UMA MENINA

Aos seis anos, ser menina era esmalte de Sininho,

unhas polidas e pontudas, sapatos rosa da Barbie.

Varinhas de fada com lantejoulas e sandálias que caíam

dos meus pés quando eu corria. Lá fora, o céu azul

um pano de fundo para grama verde, a árvore de goma doce que era a base. Tudo pegava

meu olhar e brilhava. Minhocas refrescadas pela chuva,

blindados de bole-mexe e pontos de vaga-lumes.

À noite, a televisão passava as notícias.

Seu olho ciclópico retribuía meu olhar.

A pupila de cabra refletia um desfile

de mulheres e meninas como ovelhas. Belas

e adoráveis. Eu pensava que elas eram adoradas.

Mais tarde, eu não era mais uma menina. 

Ilustração: Revista Direcional Escola.

 


É sim Paul Eluard

 


COMME UNE IMAGE
Paul Eluard
XIV.
A l'assaut des jardins...
A l'assaut des jardins
Les saisons sont partout à la fois
Passion de l'été pour l'hiver
Et la tendresse des deux autres
Les souvenirs comme des plumes
Les arbres ont brisé le ciel
Un beau chêne gâché de brume
La vie des oiseaux ou la vie des plumes
Et tout un panache frivole
Avec de souriantes craintes
Et la solitude bavarde

COMO UMA FOTO

XIV. Num assalto aos jardins...

Num assalto aos jardins

As estações, por sua vez, estão em todas as partes

Paixão de verão pelo inverno

E a ternura dos outros dois

Lembranças como plumas

As árvores sob o céu roto

Um belo carvalho manchado pela bruma

A vida dos pássaros ou a vida das plumas

E tudo um brio frívolo

Com medos sorridentes

E a solidão tagarela

Ilustração: Pixabay.

Tuesday, November 19, 2024

Malhadinho, Meu Amor

 


A arquibancada se agita, estremece

e o mundo todo parece 

azul, azul, azul

igual ao céu onde as estrelas a dançar

com a lua vem saudar 

o boi mais lindo do lugar. 

É o Malhadinho em evolução

com sua batida e canção, 

meu amor, minha paixão.

Azul e branco como o mar

que me ensinou a amar 

com o toque do seu tambor. 

Azul, azul, azul, sua cor, 

Malhadinho, meu amor!


Monday, November 18, 2024

E, com vocês, Robert Desnos

 


DERNIER POÈME
Robert Desnos

J’ai rêvé tellement fort de toi,
J’ai tellement marché, tellement parlé,
Tellement aimé ton ombre,
Qu’il ne me reste plus rien de toi.

Il me reste d’être l’ombre parmi les ombres
D’être cent fois plus ombre que l’ombre
D’être l’ombre qui viendra et reviendra dans ta vie ensoleillée

ÚLTIMO POEMA

Tanto sonhei tão contigo,

Caminhei tanto, falei tanto,

Tanto amei tua sombra,

Que já nada me resta de ti.

 

Só me resta ser a sombra entre as sombras

Ser cem vezes mais sombra que a sombra

Ser a sombra que vem e volta na tua vida cheia de sol.

Ilustração: Adoro Cinema.

 

Um Poema de Amor de Joan Manuel Serrat

 

 

POEMA DE AMOR

Joan Manuel Serrat

El sol nos olvidó ayer sobre la arena
Nos envolvió el rumor suave del mar
Tu cuerpo me dio calor
Tenía frío
Y allí, en la arena
Entre los dos nació este poema
Este pobre poema de amor
Para ti

Mi fruto, mi flor
Mi historia de amor
Mis caricias

Mi humilde candil
Mi lluvia de abril
Mi avaricia

Mi trozo de pan
Mi viejo refrán
Mi poeta

La fe que perdí
Mi camino
Y mi carreta

Mi dulce placer
Mi sueño de ayer
Mi equipaje

Mi tibio rincón
Mi mejor canción
Mi paisaje

Mi manantial
Mi cañaveral
Mi riqueza

POEMA DE AMOR

 

O sol nos esqueceu ontem sobre a areia

Nos envolveu o rumor suave do mar

Teu corpo me deu calor

Tinha frio

E ali, na areia

E entre nós dois nasceu este poema

Este pobre poema de amor

Para ti

 

Minha fruta, minha flor

minha história de amor

minhas carícias

 

Meu humilde candieiro

Minha chuva de abril

Minha ambição

 

Meu pedaço de pão

Meu velho refrão

meu poeta

 

A fé que eu perdi

O meu caminho

E meu veículo

 

Meu doce prazer

Meu sonho de ontem

Minha bagagem

 

Meu tépido cantinho

Minha melhor canção

Minha paisagem

 

Meu manancial

Meu canavial

Minha riqueza

Ilustração: Blog Malu Pires.

Saturday, November 16, 2024

Outra poesia de Javier Almuzara

 


EXAMEN DE AMOR

Javier Almuzara

a Mercedes

Como voy para nota,
debo copiar de ti,
y, amando porque sí,
rendirme, sin derrota,

si aspiro a ser feliz.
Y solo es feliz quien
(obsérvese el matiz),
amado o no, ama bien.

En mi notable suerte,
tú me quieres mejor
de lo que sé quererte.
Y gracias a ese amor,

más que sobresaliente
matrícula de honor,
el mío es suficiente.

EXAME DE AMOR

para Mercedes

Como vou anotar,

devo copiar de ti,

e, amando porque sim,

render-me, sem derrota,

se aspiro ser feliz.

E só é feliz quem

(observe-se a nuance),

amado ou não, ama bem.

Na minha notável sorte,

tu me amas melhor

do que sei amar-te.

E graças a este amor,

mais que do sobressalente

matrícula de honra,

o meu é suficiente.

Ilustração: Sem Travas no Coração.

A Negação da Poesia de Paul Eluard

 


NÉGATION DE LA POÉSIE
Paul Eluard
J’ai pris de toi tout le souci tout le tourment
Que l’on peut prendre à travers tout à travers rien
Aurais-je pu ne pas t’aimer
O toi rien que la gentillesse
Comme une pêche après une autre pêche
Aussi fondantes que l’été

Tout le souci tout le tourment
De vivre encore et d’être absent
D’écrire ce poème

Au lieu du poème vivant
Que je n’écrirai jamais
Puisque tu n’es pas là

Les plus tenus dessins du feu
Préparent l’incendie ultime
Les moindres miettes de pain
Suffisent aux mourants

J’ai connu la vertu vivante
J’ai connu le bien incarné
Je refuse ta mort mais
j’accepte la mienne
Ton ombre qui s’étend sur moi
Je voudrais en faire un jardin

L’arc débandé nous sommes de la même nuit
Et je veux continuer ton immobilité
Et le discours inexistant
Qui commence avec toi qui finira en moi
Avec moi volontaire obstiné révolté
Amoureux comme toi des charmes de la terre.

NEGAÇÃO DA POESIA

Tu me deste toda a preocupação, todo o tormento

Que podemos superar tudo através do nada

Eu poderia não ter te amado

Ó tu nada além da graça

Como um pêssego atrás de outro pêssego

Tão derretendo quanto o verão

 

Toda a preocupação, todo o tormento

De viver, todavia estando ausente

Para escrever este poema

 

Em vez do poema vivo

Que eu nunca escreverei

Já que tu não estás aqui

 

Os mais tênues desenhos de fogo

Preparam o fogo final

As menores migalhas de pão

Bastam para os moribundos

 

Eu conheci a virtude viva

Eu conheci o bem encarnado

Eu rechaço a tua morte, mas

eu aceito o meu

Tua sombra que se estende sobre mim

Quisera fazer nela um jardim


Desfeito o arco, pertencemos à mesma noite

E eu quero continuar tua imobilidade

E o discurso inexistente

Quem começa contigo e acaba em mim

Comigo voluntário obstinado, rebelde

Enamorado como tu dos encantos da terra.

Ilustração: Para Além do Agora.