Tuesday, November 19, 2024

Malhadinho, Meu Amor

 


A arquibancada se agita, estremece

e o mundo todo parece 

azul, azul, azul

igual ao céu onde as estrelas a dançar

com a lua vem saudar 

o boi mais lindo do lugar. 

É o Malhadinho em evolução

com sua batida e canção, 

meu amor, minha paixão.

Azul e branco como o mar

que me ensinou a amar 

com o toque do seu tambor. 

Azul, azul, azul, sua cor, 

Malhadinho, meu amor!


Monday, November 18, 2024

E, com vocês, Robert Desnos

 


DERNIER POÈME
Robert Desnos

J’ai rêvé tellement fort de toi,
J’ai tellement marché, tellement parlé,
Tellement aimé ton ombre,
Qu’il ne me reste plus rien de toi.

Il me reste d’être l’ombre parmi les ombres
D’être cent fois plus ombre que l’ombre
D’être l’ombre qui viendra et reviendra dans ta vie ensoleillée

ÚLTIMO POEMA

Tanto sonhei tão contigo,

Caminhei tanto, falei tanto,

Tanto amei tua sombra,

Que já nada me resta de ti.

 

Só me resta ser a sombra entre as sombras

Ser cem vezes mais sombra que a sombra

Ser a sombra que vem e volta na tua vida cheia de sol.

Ilustração: Adoro Cinema.

 

Um Poema de Amor de Joan Manuel Serrat

 

 

POEMA DE AMOR

Joan Manuel Serrat

El sol nos olvidó ayer sobre la arena
Nos envolvió el rumor suave del mar
Tu cuerpo me dio calor
Tenía frío
Y allí, en la arena
Entre los dos nació este poema
Este pobre poema de amor
Para ti

Mi fruto, mi flor
Mi historia de amor
Mis caricias

Mi humilde candil
Mi lluvia de abril
Mi avaricia

Mi trozo de pan
Mi viejo refrán
Mi poeta

La fe que perdí
Mi camino
Y mi carreta

Mi dulce placer
Mi sueño de ayer
Mi equipaje

Mi tibio rincón
Mi mejor canción
Mi paisaje

Mi manantial
Mi cañaveral
Mi riqueza

POEMA DE AMOR

 

O sol nos esqueceu ontem sobre a areia

Nos envolveu o rumor suave do mar

Teu corpo me deu calor

Tinha frio

E ali, na areia

E entre nós dois nasceu este poema

Este pobre poema de amor

Para ti

 

Minha fruta, minha flor

minha história de amor

minhas carícias

 

Meu humilde candieiro

Minha chuva de abril

Minha ambição

 

Meu pedaço de pão

Meu velho refrão

meu poeta

 

A fé que eu perdi

O meu caminho

E meu veículo

 

Meu doce prazer

Meu sonho de ontem

Minha bagagem

 

Meu tépido cantinho

Minha melhor canção

Minha paisagem

 

Meu manancial

Meu canavial

Minha riqueza

Ilustração: Blog Malu Pires.

Saturday, November 16, 2024

Outra poesia de Javier Almuzara

 


EXAMEN DE AMOR

Javier Almuzara

a Mercedes

Como voy para nota,
debo copiar de ti,
y, amando porque sí,
rendirme, sin derrota,

si aspiro a ser feliz.
Y solo es feliz quien
(obsérvese el matiz),
amado o no, ama bien.

En mi notable suerte,
tú me quieres mejor
de lo que sé quererte.
Y gracias a ese amor,

más que sobresaliente
matrícula de honor,
el mío es suficiente.

EXAME DE AMOR

para Mercedes

Como vou anotar,

devo copiar de ti,

e, amando porque sim,

render-me, sem derrota,

se aspiro ser feliz.

E só é feliz quem

(observe-se a nuance),

amado ou não, ama bem.

Na minha notável sorte,

tu me amas melhor

do que sei amar-te.

E graças a este amor,

mais que do sobressalente

matrícula de honra,

o meu é suficiente.

Ilustração: Sem Travas no Coração.

A Negação da Poesia de Paul Eluard

 


NÉGATION DE LA POÉSIE
Paul Eluard
J’ai pris de toi tout le souci tout le tourment
Que l’on peut prendre à travers tout à travers rien
Aurais-je pu ne pas t’aimer
O toi rien que la gentillesse
Comme une pêche après une autre pêche
Aussi fondantes que l’été

Tout le souci tout le tourment
De vivre encore et d’être absent
D’écrire ce poème

Au lieu du poème vivant
Que je n’écrirai jamais
Puisque tu n’es pas là

Les plus tenus dessins du feu
Préparent l’incendie ultime
Les moindres miettes de pain
Suffisent aux mourants

J’ai connu la vertu vivante
J’ai connu le bien incarné
Je refuse ta mort mais
j’accepte la mienne
Ton ombre qui s’étend sur moi
Je voudrais en faire un jardin

L’arc débandé nous sommes de la même nuit
Et je veux continuer ton immobilité
Et le discours inexistant
Qui commence avec toi qui finira en moi
Avec moi volontaire obstiné révolté
Amoureux comme toi des charmes de la terre.

NEGAÇÃO DA POESIA

Tu me deste toda a preocupação, todo o tormento

Que podemos superar tudo através do nada

Eu poderia não ter te amado

Ó tu nada além da graça

Como um pêssego atrás de outro pêssego

Tão derretendo quanto o verão

 

Toda a preocupação, todo o tormento

De viver, todavia estando ausente

Para escrever este poema

 

Em vez do poema vivo

Que eu nunca escreverei

Já que tu não estás aqui

 

Os mais tênues desenhos de fogo

Preparam o fogo final

As menores migalhas de pão

Bastam para os moribundos

 

Eu conheci a virtude viva

Eu conheci o bem encarnado

Eu rechaço a tua morte, mas

eu aceito o meu

Tua sombra que se estende sobre mim

Quisera fazer nela um jardim


Desfeito o arco, pertencemos à mesma noite

E eu quero continuar tua imobilidade

E o discurso inexistente

Quem começa contigo e acaba em mim

Comigo voluntário obstinado, rebelde

Enamorado como tu dos encantos da terra.

Ilustração: Para Além do Agora.

Friday, November 15, 2024

Mais uma poesia de Alba González

 



Alba González

¿nacemos para morir o morimos para nacer?

todo lo que hacemos se destina a ser feliz
antes de que se nos acabe la oportunidad de serlo

¿y si realmente tuviésemos que rompernos un poquito
para entender de qué estamos hechos?

¿nuestras fragilidades nos hacen frágiles
o nos dan la oportunidad de unir las grietas con oro?

 

Nascemos para morrer ou morremos para nascer?

tudo o que fazemos se destina a ser feliz

antes que nos acabe a oportunidade de sê-lo

E se realmente tivéssemos que nos romper um pouquinho

para entender do que somos feitos?

 

Nossas fragilidades nos tornam frágeis

ou nos dão a oportunidade de colar as fissuras com ouro?

Ilustração: Linkedln.

Uma poesia de Franca Palmiere

 


IL GIORNO PARLA

Franca Palmiere

L’alba mi riconduce

al tuo respiro.

Il sole, al tuo volto

con lo sguardo acceso.

La pioggia alle lacrime

che mai hai versato.

Le raccoglierò

nel calice dei giorni

che non hai vissuto.

Ne farò perle

per un’ostrica inviolata.

Il giorno mi parla

con la tua voce profonda.

Conserverò ogni parola

per intrecciare ghirlande

sulla porta.

E quando sarai sulla soglia

i baci d’addio e d’incontro

ne attingeranno profumo.

Quei baci sottesi

nel saluto della sera

che attende una nuova luna.

La notte indovina il tuo corpo

e lo pone accanto al mio.

Ne cercherò i fianchi

per innalzarne colonne,

ritroverò braccia d’oro

per costruirne pagode,

seguirò in silenzio la tua bocca

per rientrare nel cuore della vita.

O DIA FALA

O amanhecer me reconduz

para sua respiração.

O sol, em seu rosto

com os olhos iluminados.

A chuva às lágrimas

o que que quer que tenha pago.

Vou coletá-las

no cálice dos dias

que não tem vivido.

Não farei pérolas

para uma ostra inviolável.

O dia fala comigo

com sua voz profunda.

Conservarei cada palavra

para tecer guirlandas

na porta.

E quando estás no limiar

na despedida e beijos de encontro

não vou extrair perfume.

Esses beijos sutis

na saudação da noite

que espera uma lua nova.

A noite adivinha seu corpo

e o põe ao lado do meu.

Não vou procurar os lados

para levantar colunas,

Encontrarei braços de ouro novamente

para construir pagodes,

Seguirei tua boca em silêncio

para voltar ao coração da vida.

Ilustração: Colégio Antônio Vieira.

Sim, René Daumal

 


Mémorables
René Daumal

Souviens-toi de ta mère et de ton père, et de ton premier mensonge dont l’indiscrète odeur rampe dans ta mémoire.

Souviens-toi de ta première insulte, à ceux qui te firent : la graine de l’orgueil était semée, la cassure luisait, rompant la nuit une.

Souviens-toi des soirs de terreur où la pensée du néant te griffait au ventre, et revenait toujours te le ronger, comme un vautour ; et souviens-toi des matins de soleil dans la chambre.
(...)

MEMORÁVEIS

Lembre-se de sua mãe e de seu pai, e de sua primeira mentira, cujo odor indiscreto ainda se insinua na sua memória.

 

Lembre-se do seu primeiro insulto, àqueles que o fizeram: a semente do orgulho semeada, a ruptura brilhou, rompendo a noite una.

 

Lembre-se das noites de terror, quando o pensamento do nada arranhava seu estômago e sempre voltava para roê-lo, como um abutre; e lembre-se das manhãs ensolaradas no quarto.

(...)

Ilustração: Adoro Cinema.

Um Pouco Além dos Sentidos


Para captar o que existe

com os olhos abertos,

e os sentidos despertos,

até se percebe as formas, 

mesmo as de traços incertos 

e as que fogem às normas, 

medito e adormeço.

De olhos fechados, 

numa sonolência solerte, 

uma estranha teia teço

na qual vejo muito mais do que o possível-

a imaginação é algo incrível

e supera o visível: 

vê muito além do que se vê!

É necessário crer. 

Ilustração: Fatos Desconhecidos. 

Thursday, November 14, 2024

O tédio na poesia de Paul Eluard

 


Défense de savoir (II)

Paul Eluard

I. Ma présence n'est pas ici...
Ma présence n'est pas ici.
Je suis habillé de moi-même.
Il n'y a pas de planète qui tienne
La clarté existe sans moi.
Née de ma main sur mes yeux
Et me détournant de ma voie
L'ombre m'empêche de marcher
Sur ma couronne d'univers,
Dans le grand miroir habitable,
Miroir brisé, mouvant, inverse
Où l'habitude et la surprise
Créent l'ennui à tour de rôle.

DEFESA DO CONHECIMENTO (II)

I. Minha presença não está aqui...

Minha presença não está aqui.

Estou vestido de mim mesmo.

Não há mais planeta que o eu

A clareza existe sem mim.

Nascido da minha mão sobre meus olhos

E me desviando do meu caminho

A sombra me impede de marchar

Sobre a coroa do meu universo,

No grande espelho habitável,

Espelho brisa, movendo-se, ao inverso

Onde o hábito e a surpresa

Criam, por sua vez, o papel do tédio.

Ilustração: CNN Brasil.

Uma poesia de Javier Almuzara

 


LO INCONCEBIBLE

Javier Almuzara

Confieso a la afición
que si no fantaseo
es porque tengo, creo,
mucha imaginación.

¿Qué valdría un dragón
ante el escamoteo
por el que ahora me veo
ya dentro de un cajón?

A quien ama la vida
le asombra su expediente
de unánime homicida.

No he leído en Simbad
nada más sorprendente
que esa simple verdad.

O INCONCEBÍVEL

Confesso aos fãs

que se eu não fantasio

é porque tenho, creio,

muita imaginação.

Quanto valeria um dragão?

antes do engano

pelo que agora me vejo

já dentro de uma gaveta?

A quem ama a vida

o assombra seu histórico

de unânime homicida.

Eu não li Sinbad

nada mais surpreendente

do que essa simples verdade.

Ilustração: Tumblr.

LIÇÃOZINHA DOÍDA


Quando se juntam, ao mesmo tempo, 

a fome e a vontade de comer

e não se tem, neste momento, 

nenhum laivo de discernimento,

nem educação para comer,

se come até pedra como alimento.

E só muito depois de digerir

se aprende, com dor e sofrimento, 

que o que entrou tem que sair. 

Ilustração: A Gazeta.

 

Wednesday, November 13, 2024

É Rimbaud sim

 

 


DÉPART
Arthur Rimbaud
Assez vu. La vision s'est rencontrée à tous les airs.
Assez eu. Rumeurs des villes, le soir, et au soleil, et toujours.
Assez connu. Les arrêts de la vie.
- Ô Rumeurs et Visions !Départ dans l'affection et le bruit neufs !

PARTIDA

Suficiente já vi bastante. A visão foi encontrada em todos os ares.

Suficiente. Rumores das cidades, à noite e ao sol, e sempre.

Assaz comum. As paradas da vida.

- Ó Rumores e Visões! Partida em novos afetos e ruídos!

Ilustração: Clínica Bula.

Outra poesia de Alba González

 


Alba González

el problema
está
en que no estás
en que quiero que estés
aunque eso me destroce más

 

o problema

esta

em que não estás

em que quero estejas

ainda que isso me destrua mais

Ilustração: Psicólogos em São Paulo.

Tuesday, November 12, 2024

Poema da sombra perdida

 


Tanto te desejei.

Tão fortemente e sem noção de mim

Que amei tua sombra no jardim.

E nada ficou de ti, enfim.


Ainda assim atrás de tua sombra

Mil vezes iria, se preciso,

Para ser uma sombra na tua sombra

E gozar, por um momento, teu sorriso. 

Ilustração: SIC Notícias. 

Mais uma poesia de Pierre Reverdy

 



SOLEIL
Pierre Reverdy
Quelqu’un vient de partir
Dans la chambre
Il reste un soupir
La vie déserte

La rue
Et la fenêtre ouverte

Un rayon de soleil
Sur la pelouse verte.

SOL

Alguém acabou de sair

No quarto

Permanece um suspiro

A vida deserta

 

A rua

E a janela aberta

 

Um raio de sol

Sobre a grama verde.

Ilustração: Pixnio.

Um poema de James Cervantes

 


   A PHOSPHORESCENCE

James Cervantes

 

I discovered phosphorescence one day

clearing pine needles from an acre plot

in the mountains. I raked and scratched

large piles, then became obsessed with the base

of one tree, raking harder and deeper until black,

matted clumps of needles came up to reveal a glow.

Fire, I thought, afraid for the forest. But no smoke,

no burn smells. There could be light without fire,

like that moment of warmth I mistook for fire,

a gentle touch on your arm that was light

and would be no more than that.

UMA FOSFORESCÊNCIA

Eu descobri a fosforescência um dia

limpando agulhas de pinheiro de um terreno de um acre

nas montanhas. Eu varri e arranhei

grandes pilhas, então fiquei obcecado com a base

de uma árvore, varri mais forte e mais fundo até que aglomerados pretos

e emaranhados de agulhas surgiram para revelar um brilho.

Fogo, pensei, com medo pela floresta. Mas sem fumaça,

sem cheiro de queimado. Poderia haver luz sem fogo,

como aquele momento de calor que confundi com fogo,

um toque suave no seu braço que era luz

e não seria mais do que isto.

Ilustração: 123 Tatuagens.

Luis Bravo, pois

 


LATIF (cuerpos sutiles)

Luis Bravo

el alto palacio en el estanque

junto a las nubes que pasan como peces

agua en la que desde antiguo todo se ve:

ella misma telar del gran magín.

LATIF  (corpos sutis)

o palácio alto na lagoa

junto das nuvens que passam como peixes

a água na qual desde os tempos antigos tudo se vê:

ela mesma tear da grande imaginação.

Ilustração: ArchDaily.

Monday, November 11, 2024

MÔNICA ME BEIJOU

 


Eu tô bem.

Eu tô bem. 

Mônica me beijou

quando nos encontramos.

E quis me fazer feliz

dizendo que não mudei nada.

Senti intensamente a pancada. 

Tempo, seu ladrão de ilusões!

Não é o que ela diz.

É o que não faz mais. 

Eu tô bem. 

Eu tô bem. 

Tô em paz. 

Mônica me beijou, 

meu rapaz. 

Com o mesmo jeitinho 

como alguém 

que beija o pai. 

Ai! Ai! Ai!

Ilustração: Psicologia on-line. 

Uma poesia de Alba González


 

Alba González

la primera persona


que me rompió el corazón


fui yo

 

A primeira pessoa

que partiu meu coração

fui eu

Ilustração: Nossa Clínica. 

 

Sunday, November 10, 2024

Uma poesia de Thomas Moore

 


 

      AT THE MID HOUR OF NIGHT

Thomas Moore

 

At the mid hour of night, when stars are weeping, I fly
To the lone vale we loved, when life shone warm in thine eye;
And I think oft, if spirits can steal from the regions of air,
To revisit past scenes of delight, thou wilt come to me there,
And tell me our love is remembered, even in the sky.

Then I sing the wild song ’twas once such pleasure to hear!
When our voices commingling breathed, like one, on the ear;
And, as Echo far off through the vale my sad orison rolls,
I think, oh my love! ’tis thy voice from the Kingdom of Souls,
Faintly answering still the notes that once were so dear.

NA MEIA HORA DA NOITE

Na meia hora da noite, eu voo, quando as estrelas estão a chorar

Para o vale solitário que amávamos, quando a vida brilhava no calor de teus olhos;

E eu penso muito, se os espíritos podem roubar das regiões do ar,

Para revisitar cenas passadas de deleite, tu virás até mim de lá, ao léu

E me dirás que nosso amor é relembrado, até mesmo no céu.

Então eu canto a selvagem canção que era um prazer serem ouvidas!

Quando nossas vozes se misturavam na respiração, como uma só, no ouvido;

E, como o eco distante pelo vale minha triste oração há rolado,

Eu penso, oh meu amor! é a tua voz vinda do reino das almas,

Respondendo fracamente ainda às notas que uma vez foram tão queridas.

Ilustração:Bruna Stamato.